quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

O voo turbulento da Kodak - PARTE I E II

EFE - 19/01/2011 PARTE II

Empresa entrou com um pedido voluntário de 'proteção' ao Capítulo 11 da lei de falência nos EUA e pretende reforçar a liquidez



A centenária companhia fotográfica Eastman Kodak apresentou perante um tribunal de Nova York um pedido de quebra concordata para reorganizar seus negócios, informou a própria empresa nesta quinta-feira através de comunicado em seu site.

Em comunicado, a Kodak informou que "a companhia e suas subsidiárias nos EUA entram com pedido voluntário de 'proteção' ao Capítulo 11 da Lei de Falências dos Estados Unidos". Com esta solicitação, a Kodak pretende reforçar a liquidez nos Estados Unidos e no exterior, rentabilizar a propriedade intelectual não estratégica, solucionar a situação dos passivos e concentrar-se nos negócios mais competitivos.
A Kodak, fundada em 1888 e com sede em Rochester (Nova York), dedicou a maior parte de seus investimentos durante os últimos anos à área digital e a materiais de alta tecnologia, responsáveis por 75% de sua receita em 2011.
O pedido de concordata é um revés para o presidente executivo, o espanhol Antonio Perez, que assumiu o cargo de executivo-chefe da Kodak em 2005. Ele havia trabalhado por 25 anos na Hewlett-Packard Co., ajudando a contabilizar mais de US$ 7 bilhões em valor de mercado para a HP. Na Kodak, contudo, não conseguiu repetir o feito.
O Conselho de Administração acredita que esta solicitação é um passo necessário para garantir o futuro da empresa. A companhia comunicou que firmou um acordo creditício com o Citigroup para um aporte de US$ 950 milhões, a devolver em 18 meses, o que permitirá aumentar sua liquidez.
Após o pedido de concordata, porém, esta linha de crédito estará sujeita a aprovação judicial. Em seu comunicado, a Kodak assinalou que, apesar do pedido de concordata, tem capacidade suficiente para gerir seus negócios e prestar serviços a seus clientes "normalmente".
A empresa espera pagar dívidas e salários a seus funcionários e dar continuidade a programas de relacionamento com clientes. Por outro lado, as filiais fora dos Estados Unidos não estão sujeitas a estes procedimentos e cumprirão todas as obrigações com seus provedores.
A quebra da companhia já era esperada pelo mercado, e os rumores sobre esta possibilidade fizeram as ações da sociedade caírem até 30% no último dia 4, chegando a valer US$ 0,46, de modo que nos últimos 12 meses acumulou desvalorização de 91,53%. Ontem, as ações de sociedade fecharam a US$ 0,55, com uma recuperação de 3,77%.

PARTE I

EFE - Nov/2011 -

 

A antiga líder mundial do mercado fotográfico aposta nas impressoraspara voltar ao azul e enfrenta o ceticismo do mercado, que já especula se a empresa sobreviverá





Perez, que foi nomeado CEO em 2005, recusou-se a tecer comentários para esta matéria, citando o período de silêncio antes que os próximos relatórios de rendimentos sejam anunciados, em 3 de novembro. Os funcionários da companhia negaram que a Kodak esteja considerando abrir falência.
O porta-voz da Kodak disse que Perez está perseguindo as impressoras de jato de tinta porque a companhia ''descobriu um tesouro’' na tecnologia desse mercado em sua unidade de pesquisas e desenvolvimento e que o negócio está ''bem posicionado para sucesso futuro’'. ''Nossa estratégia corporativa está focada nas vantagens principais da junção entre a ciência de materiais e a ciência da imagem digital’', disse o porta-voz Christopher Veronda em um e-mail. ''Estamos diretamente nesse cenário’'.
Em adição a isso, os funcionários da Kodak dizem que suas impressoras jato de tinta são apenas parte de uma estratégia de virada, que também inclui um foco em impressoras comerciais, embalagens e softwares corporativos.
Mass os críticos da diretoria da Kodak estão impacientes. Gregg Abella, um dos diretores da Investment Partners Asset Management, disse que já estava cansado de ouvir Perez dizer que a companhia iria virar a mesa em um ou dois anos. E questionou por que a junta diretora da Kodak não foi mais firme, no direcionamento de Perez para um curso de ação diferente.
''Como a junta tem ouvido esse cara pelos últimos seis anos e não fez nada à respeito?'', disse Abella. ''Quando você compra ações ou cotas de uma companhia da Fortune 500, existe uma expectativa de que a diretoria irá responder às condições de deterioração financeira antes que se torne nada mais do que uma opção de compra em sua propriedade intelectual’'.
Chris Whitmore, o analista que tachou a estratégia das impressoras da Kodak como 'chicotada’, diz que a companhia ainda não se recuperou de seu primeiro deslize: seu fracasso em adotar completamente as câmeras digitais, depois do colapso das vendas do produto de assinatura da Kodak, que era seu filme fotográfico da caixinha amarela.
''A grande história aqui é que seu mercado principal – o mercado da caixinha amarela – foi canibalizado pelas câmeras digitais, que ironicamente foram inventadas por eles mesmos’', diz Whitmore, que trabalha no Deutsche Bank Securities. Perez é o último em uma linha de CEOs da Kodak que vêm tentando reconstruir a companhia, depois que sua dominância no mercado dos filmes foi corroída por concorrentes mais ágeis e pela tecnologia digital. Um antigo executivo da Hewlett-Packard, que perdeu seu alto cargo na empresa para Carly Fiorina, Perez apresentou uma estratégia que incluía o fechamento das fábricas de filmes e o reposicionamento da companhia. Ele arrendou o portfólio de patentes da companhia, o que gerou US$ 1,9 bilhão de 2008 a 2010, para financiar seus esforços para uma virada.
E Perez colocou dinheiro em mercados que ele acreditou que com o tempo gerariam dividendos, incluindo as impressoras de jato de tinta para o consumidor final, na verdade enfrentando seu antigo empregador, a HP. Perez rejeitou o modelo 'lâmina de barbear’ tradicional, usado pela maioria dos fabricantes de impressoras, que oferece impressoras relativamente baratas – e gera lucros na venda das tintas. Em vez disso, a Kodak cobrou preços um pouco maiores por suas impressoras e vendeu suas tintas relativamente mais barato.
''Nós acreditamos que isso nos dará a oportunidade de romper com o modelo de negócios da indústria e chamar atenção para a principal insatisfação do consumidor: o preço da tinta’', disse Perez à Businessweek, em 2007. Até hoje, a unidade de impressoras para consumo da Kodak capturou aproximadamente 6% do mercado dos Estados Unidos, segundo a firma de pesquisa de mercado IDC. Em contraste, a HP lidera aproximadamente 60% do mercado, valor que, espera-se, permaneça relativamente estável ou que entre em declínio.
''Em termos de tecnologia, acredito que o produto seja bom’', disse Marco Boer, vice-presidente da IT Strategies, uma companhia de pesquisa de mercado de impressão digital. ''Mas isso irá salvar a Kodak? Mesmo que as impressoras fossem um sucesso fenomenal, não tenho certeza se qualquer companhia conseguiria crescer no mercado com rapidez suficiente para superar os declínios nos outros ramos da Kodak’'. Ken Luskin, desapontado investidor na Kodak que comanda a Intrinsic Value Asset Management, disse que a estratégia de virada de Perez foi a história de como ''uma companhia foi colocada no chão pelas necessidades de ego de apenas um homem’'. ''Ele disse, 'Eu vou esfregar isso na cara da Hewlett-Packard’. E é por isso que a companhia está fazendo tudo isso’', disse Luskin.
Mas Mark Kaufman, analista do Rafferty Capital, é mais otimista sobre as perspectivas da Kodak. Ele disse que a companhia possui tecnologia melhor que a de seus concorrentes, tanto para as impressoras comerciais quanto as de consumo. Mais ainda, ele disse que a venda proposta pela Kodak de algumas de suas patentes poderia gerar mais de US$ 2 bilhões e deixar a companhia em uma situação que permitiria sua venda ou prosperar por si mesma.
''Eles podem ser capazes de conseguir por si mesmos por causa de sua tecnologia superior’', disse.
Poucos questionariam o fato de que Perez tem enfrentado uma tarefa anormalmente formidável. Em 2005, ano da nomeação de Perez para o cargo, a empresa relatou perdas de quase US$ 1,3 bilhão.
A Kodak foi criada pelo inventor George Eastman no final do século 19. Ela rapidamente se tornou um nome familiar, comercializando filmes fotográficos com o slogan, ''Você aperta o botão, nós fazemos o resto’'. A Kodak prosperou usando a mesma estratégia 'lâmina de barbear’, vendendo câmeras a preços baixos e fazendo dinheiro com os filmes.
Em 1975, um cientista da Kodak inventou a primeira câmera digital do mundo, que era mais ou menos do tamanho de uma torradeira. Naquela época, a Kodak controlava aproximadamente 90% do mercado de filmes e 85% das vendas de câmeras nos Estados Unidos, segundo pesquisadores de Harvard. Mas o sucesso fenomenal da Kodak com os filmes também iria se tornar a sua ruína, fazendo com que seus gerentes tornassem-se complacentes e lentos na adaptação às mudanças.
Quando a Fuji começou a roubar o mercado dos filmes da Kodak nos anos 1970, os executivos da Kodak ignoraram os alertas internos, porque ''não acreditavam que o público americano compraria outro filme’', segundo 'Changing Focus: Kodak and the Battle to Save a Great American Company’, de Alecia Swasy. Em um notório incidente ocorrido no começo dos anos 1990, Kay R. Whitmore, CEO da empresa na época, dormiu durante uma reunião com o fundador da Microsoft, Bill Gates.
Na época, estava claro que a Kodak precisava realizar mudanças significativas para continuar relevante, com seu mercado dos filmes em franco declínio. Durante a década anterior, a companhia adquiriu empresas que produziam analisadores de sangue 'in vitro’, disquetes, aspirinas e a Lysol, em uma tentativa de reverter o declínio, segundo as pesquisas de Harvard.
''Vamos encarar a realidade’', disse Ulysses Yannas, corretor da Buckman, Buckman & Reid, que vem acompanhando a Kodak por quatro décadas – e aplaude os esforços de Perez. ''Essa companhia foi muito, muito mal gerenciada no decorrer dos anos 1960, 1970, 1980 e 1990. Ela era conduzida como se fosse um serviço público’'.
Perez jurou virar a mesa da companhia até 2008. Enquanto isso ainda não aconteceu, os funcionários da Kodak observam que três quartos do lucro da companhia agora provêm de produtos digitais. Uma década atrás, a maioria de sua renda ainda vinha dos filmes. Somando-se a isso, no trimestre mais recente, as áreas de maior crescimento da Kodak cresceram 22%, lideradas pelo aumento de 48% das rendas vindas das impressoras de consumo.''Continuamos focados em nossa estratégia de nos tornar uma companhia digital rentável e sustentável’', disse o porta-voz Veronda via e-mail.

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