terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Analistas erram previsões econômicas feitas em 2011


Autor(es): FERNANDO NAKAGAWA
O Estado de S. Paulo - 03/01/2012
 

Projeções para a balança comercial, feitas nos primeiros meses do ano, foram as mais distantes dos números reais

A realidade ganhou de goleada do mercado financeiro em 2011. Pelo menos esse foi o placar da disputa entre as previsões dos analistas na primeira pesquisa Focus do ano passado na comparação com a evolução dos indicadores no decorrer de 2011. A pior derrota foi, de longe, a aposta para o superávit comercial: o número final foi quase quatro vezes maior que o previsto.
A comparação entre as previsões do mercado feitas um ano atrás com os dados efetivos ou as últimas estimativas mostram que, na média, analistas erram bastante as apostas para a economia. O pior equívoco aconteceu no comércio exterior. Há 12 meses, analistas previam saldo comercial positivo em US$ 8 bilhões. Conhecido ontem, o número final foi 272% maior: US$ 29,8 bilhões.
Na inflação, a expectativa para o IPCA aumentou 23% - ou 1,23 ponto - no decorrer de 12 meses. Na primeira segunda-feira de 2011, as 80 instituições financeiras ouvidas previam IPCA de 5,32%. Mas, com o aumento dos preços acima do esperado nos meses seguintes, tiveram de ajustar os números para cima e terminaram com a aposta em 6,55%. O dado efetivo será conhecido na sexta-feira.
Outro número que mudou bastante foi a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Doze meses atrás, a expectativa de expansão era de 4,5%. Ontem, a previsão marcava 2,87%. Ou seja, um terço menor. Culpa da indústria, cuja aposta despencou dos 5,3% no começo do ano para o tímido patamar de 0,78%. Os números da produção industrial e do PIB serão conhecidos nos próximos meses.
Nas instituições financeiras, analistas dizem que, em 2011, parte dos erros pode ser atribuída aos efeitos inesperados e desdobramentos da crise internacional. Além disso, no campo interno, a inesperada redução do juro em agosto não estava no radar e pegou muita gente de surpresa.
Por outro lado, é preciso reconhecer que o mercado chegou mais perto quando o tema é a evolução do Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M): a expectativa original era de 5,54% e o indicador teve alta de 5,10% no ano. Ou seja, um erro "para melhor" - já que a inflação veio menor que o previsto.
Em pesquisa recente, o economista Emilio Chernavsky chamou a atenção para a qualidade das previsões na pesquisa do BC. "Os resultados das previsões divulgadas no relatório Focus não foram particularmente favoráveis", diz Chernavsky, doutor em teoria econômica pela USP.
No artigo Quão boas são as previsões do relatório Focus?, o economista afirma que há "um panorama pouco animador das previsões elaboradas no Brasil mesmo por instituições que aplicam grandes volumes de recursos humanos e financeiros no mais sofisticado instrumental econômico disponível". Segundo Chernavsky, com exceção da taxa de câmbio, balança comercial e dívida pública, os erros médios dos economistas alcançaram níveis superiores a 40% do comportamento efetivo dos dados "chegando por vezes a mais de 100%".
Inflação. O mercado consolidou a aposta de que a inflação vai estourar a meta em 2011. Pesquisa divulgada ontem pelo BC mostra que a expectativa para o IPCA subiu pela terceira semana seguida e passou de 6,54% para 6,55%, acima do teto permitido pelo governo. Além do pessimismo com os preços, analistas reforçaram a previsão de que a desaceleração da economia será mais forte que o imaginado. O esperado descumprimento em 2011 é bem diferente da previsão para a inflação em 2012. Economistas dizem que, com a economia mais lenta, a inflação vai desacelerar. Na pesquisa do BC, a aposta para o IPCA caiu pela quinta semana seguida, para 5,32%.

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