Quando sairam os rumores dava para perceber que isso seria bem mais uma manobra do governo para tentar maquiar a inflação. Contudo aqui vai um aviso: os EUA usaram o mesmo expediente nos período pré-crise, em meados dos anos 2000 ou um pouco mais para frente, modificando a forma de cáculo da inflação e reduzindo-a. E deu no que deu...
Autor(es): Por Arícia Martins, Francine De Lorenzo e Sergio Lamucci | De São Paulo
Valor Econômico - 12/01/2012
A ponderação atualizada do Índice de Preços ao Consumidor Amplo
(IPCA), divulgada ontem pelo IBGE, deverá de fato tirar de 0,2 a 0,4
ponto percentual da inflação em 2012, confirmando os cálculos
realizados pelos analistas quando se tornaram conhecidos os novos pesos
do indicador, baseados na Pesquisa de Orçamento Familiar (POF)
2008-2009. Perderam espaço os serviços, que subiram 9% em 2011 e devem
continuar a pressionar a inflação neste ano, ao mesmo tempo em que
ganharam terreno os bens duráveis, que tiveram deflação de 1,56% no ano
passado e tendem a segurar os preços novamente em 2012. Com isso, os
economistas mantiveram em geral as suas projeções para a inflação deste
ano, que variam, em sua maioria, entre 5% e 5,5%.
Segundo cálculos do economista Bruno Surano, da Votorantim
Corretora, o peso dos serviços, considerando a composição antiga
utilizada pelo Banco Central (ver texto sobre a mudança nesta página),
caiu marginalmente entre dezembro e janeiro, de 24,8% para 23,6%. O
percentual é muito próximo ao que Surano havia estimado em novembro,
quando foi divulgada a nova POF que será a nova base para o IPCA a
partir deste mês, e, portanto, não altera sua projeção de 5,3% para o
IPCA em 2012, com alta de 8% nos serviços (no conceito antigo).
O economista-sênior do Bradesco Daniel Weeks manteve a estimativa de
alta de 5,3% para o IPCA em 2012. Nas contas do Bradesco, os serviços,
no conceito antigo, caíram de 24,84% para 23,66%, enquanto os duráveis
subiram de 7,87% para 11,54%. Com isso, perdeu peso o grupo que mais
pressionou a inflação em 2011 e ganhou espaço o que mais ajudou a
segurar os preços. Weeks espera alta de 8% nos serviços e queda de 0,2%
em duráveis este ano. A nova ponderação divulgada pelo IPCA, diz,
ficou dentro do que o banco esperava. A projeção do indicador em
janeiro foi mantida em 0,5%.
Com a atualização de ontem, a LCA Consultores estima que a
participação de serviços passou para 22%, colocando em revisão suas
estimativas para este ano, de 4,9%. "A maior dificuldade está em itens
como telefone com internet e TV por assinatura com internet, porque não
há histórico", diz o economista Francisco Pessoa, da LCA. Segundo ele,
a atualização divulgada ontem pelo IBGE corrobora as estimativas da
consultoria de que, com a nova ponderação do IPCA, o indicador teria
subido 6,1%, e não 6,5% em 2011.
Para o economista Fabio Ramos, da Quest Investimentos, o IPCA de
2011 poderia ter tido um alívio de ao menos 0,2 ponto percentual
aplicando-se a nova ponderação. "Isso ocorre por causa da perda
relativa de peso dos serviços e do ganho dos duráveis."
Nos cálculos de Tatiana Pinheiro, do Santander, o peso do grupo
serviços no IPCA, sem considerar as alterações metodológicas do BC,
caiu para 22,9% a partir de janeiro. Na mesma comparação, a
participação de duráveis subiu de 7,5% para 10,5%. "Essa nova
ponderação é muito mais favorável à inflação do que a antiga, já que
fatores de pressão agora têm menos importância e itens que ajudam
ganharam peso", comenta Tatiana, que espera inflação de 5,5% em 2012,
com inflação de serviços correndo, no mínimo, a 7%.
Como principal fator que reduziu o peso de serviços, a economista
destaca o item educação, cuja participação caiu de 7,21% para 4,37%
entre o IPCA de dezembro e a nova ponderação que valerá a partir deste
mês. "Essa mudança faz sentido", sustenta Tatiana.
Ela aponta que, entre as POFs de 2003 e 2009 - período marcado pelo
avanço do programa Bolsa Família - houve maior entrada de estudantes na
escola pública do que na particular, já que esse é um dos requisitos
para se ter acesso ao benefício e a renda média do trabalhador, apesar
de ter subido, ainda não permite a troca do ensino público pelo
privado.
Apesar de contribuir para um IPCA pouco menor em 2012, neste início
de ano o grupo educação deve despontar como uma das principais pressões
sobre o indicador. Segundo projeções do Banco Votorantim, o índice
oficial de inflação deve subir 0,60% em janeiro e avançar para 0,62% em
fevereiro, puxado pelos reajustes de mensalidades escolares. "Educação
pressiona mais a inflação no começo do ano, mas como o peso desse
grupo caiu, haverá uma compensação", afirma a economista Cristiane
Quartaroli, que prevê elevação de 5,20% no IPCA neste ano.
Além de educação, mais quatro grupos ficaram com peso menor no IPCA a
partir da nova ponderação. Embora o grupo alimentação e bebidas tenha
tido a participação reduzida de 23,4% para 23,12%, continuará
respondendo pela maior parte do índice. As outras quedas foram
observadas em vestuário, de 6,94% para 6,66%; despesas pessoais, de
10,54% para 9,94%; e comunicação, que passou de 5,25% para 4,96%.
Em sentido contrário, cinco grupos viram seu peso na inflação subir,
com destaque para os transportes, que passaram de 18,69% para 20,54%;
seguido por habitação, que avançou de 13,25% em dezembro para 14,61%
este mês; saúde e cuidados pessoais, que passou de 10,76% para 11,09%; e
por artigos de residência, que cresceram de 3,9% em dezembro para
4,67% em janeiro. (Colaborou Rafael Rosas, do Rio)
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