sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Nova ponderação do IPCA confirma inflação menor

Quando sairam os rumores dava para perceber que isso seria bem mais uma manobra do governo para tentar maquiar a inflação. Contudo aqui vai um aviso: os EUA usaram o mesmo expediente nos período pré-crise, em meados dos anos 2000 ou um pouco mais para frente, modificando a forma de cáculo da inflação e reduzindo-a. E deu no que deu...


Autor(es): Por Arícia Martins, Francine De Lorenzo e Sergio Lamucci | De São Paulo Valor Econômico - 12/01/2012

A ponderação atualizada do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgada ontem pelo IBGE, deverá de fato tirar de 0,2 a 0,4 ponto percentual da inflação em 2012, confirmando os cálculos realizados pelos analistas quando se tornaram conhecidos os novos pesos do indicador, baseados na Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) 2008-2009. Perderam espaço os serviços, que subiram 9% em 2011 e devem continuar a pressionar a inflação neste ano, ao mesmo tempo em que ganharam terreno os bens duráveis, que tiveram deflação de 1,56% no ano passado e tendem a segurar os preços novamente em 2012. Com isso, os economistas mantiveram em geral as suas projeções para a inflação deste ano, que variam, em sua maioria, entre 5% e 5,5%.
Segundo cálculos do economista Bruno Surano, da Votorantim Corretora, o peso dos serviços, considerando a composição antiga utilizada pelo Banco Central (ver texto sobre a mudança nesta página), caiu marginalmente entre dezembro e janeiro, de 24,8% para 23,6%. O percentual é muito próximo ao que Surano havia estimado em novembro, quando foi divulgada a nova POF que será a nova base para o IPCA a partir deste mês, e, portanto, não altera sua projeção de 5,3% para o IPCA em 2012, com alta de 8% nos serviços (no conceito antigo).
O economista-sênior do Bradesco Daniel Weeks manteve a estimativa de alta de 5,3% para o IPCA em 2012. Nas contas do Bradesco, os serviços, no conceito antigo, caíram de 24,84% para 23,66%, enquanto os duráveis subiram de 7,87% para 11,54%. Com isso, perdeu peso o grupo que mais pressionou a inflação em 2011 e ganhou espaço o que mais ajudou a segurar os preços. Weeks espera alta de 8% nos serviços e queda de 0,2% em duráveis este ano. A nova ponderação divulgada pelo IPCA, diz, ficou dentro do que o banco esperava. A projeção do indicador em janeiro foi mantida em 0,5%.
Com a atualização de ontem, a LCA Consultores estima que a participação de serviços passou para 22%, colocando em revisão suas estimativas para este ano, de 4,9%. "A maior dificuldade está em itens como telefone com internet e TV por assinatura com internet, porque não há histórico", diz o economista Francisco Pessoa, da LCA. Segundo ele, a atualização divulgada ontem pelo IBGE corrobora as estimativas da consultoria de que, com a nova ponderação do IPCA, o indicador teria subido 6,1%, e não 6,5% em 2011.
Para o economista Fabio Ramos, da Quest Investimentos, o IPCA de 2011 poderia ter tido um alívio de ao menos 0,2 ponto percentual aplicando-se a nova ponderação. "Isso ocorre por causa da perda relativa de peso dos serviços e do ganho dos duráveis."
Nos cálculos de Tatiana Pinheiro, do Santander, o peso do grupo serviços no IPCA, sem considerar as alterações metodológicas do BC, caiu para 22,9% a partir de janeiro. Na mesma comparação, a participação de duráveis subiu de 7,5% para 10,5%. "Essa nova ponderação é muito mais favorável à inflação do que a antiga, já que fatores de pressão agora têm menos importância e itens que ajudam ganharam peso", comenta Tatiana, que espera inflação de 5,5% em 2012, com inflação de serviços correndo, no mínimo, a 7%.
Como principal fator que reduziu o peso de serviços, a economista destaca o item educação, cuja participação caiu de 7,21% para 4,37% entre o IPCA de dezembro e a nova ponderação que valerá a partir deste mês. "Essa mudança faz sentido", sustenta Tatiana.
Ela aponta que, entre as POFs de 2003 e 2009 - período marcado pelo avanço do programa Bolsa Família - houve maior entrada de estudantes na escola pública do que na particular, já que esse é um dos requisitos para se ter acesso ao benefício e a renda média do trabalhador, apesar de ter subido, ainda não permite a troca do ensino público pelo privado.
Apesar de contribuir para um IPCA pouco menor em 2012, neste início de ano o grupo educação deve despontar como uma das principais pressões sobre o indicador. Segundo projeções do Banco Votorantim, o índice oficial de inflação deve subir 0,60% em janeiro e avançar para 0,62% em fevereiro, puxado pelos reajustes de mensalidades escolares. "Educação pressiona mais a inflação no começo do ano, mas como o peso desse grupo caiu, haverá uma compensação", afirma a economista Cristiane Quartaroli, que prevê elevação de 5,20% no IPCA neste ano.
Além de educação, mais quatro grupos ficaram com peso menor no IPCA a partir da nova ponderação. Embora o grupo alimentação e bebidas tenha tido a participação reduzida de 23,4% para 23,12%, continuará respondendo pela maior parte do índice. As outras quedas foram observadas em vestuário, de 6,94% para 6,66%; despesas pessoais, de 10,54% para 9,94%; e comunicação, que passou de 5,25% para 4,96%.
Em sentido contrário, cinco grupos viram seu peso na inflação subir, com destaque para os transportes, que passaram de 18,69% para 20,54%; seguido por habitação, que avançou de 13,25% em dezembro para 14,61% este mês; saúde e cuidados pessoais, que passou de 10,76% para 11,09%; e por artigos de residência, que cresceram de 3,9% em dezembro para 4,67% em janeiro. (Colaborou Rafael Rosas, do Rio)

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