segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Acordo europeu ratifica cenário-base do Copom

Autor(es): Angela Bittencourt | De São Paulo
Valor Econômico - 31/10/2011

O novíssimo acordo para tentar resgatar a zona do euro da crise da dívida atropelou a ata do Comitê de Política Monetária (Copom), mas não o Banco Central (BC). O acordo e a ata foram divulgados no mesmo dia. À primeira vista, a sombria avaliação do cenário externo feita pelo BC não contemplou o resultado do encontro dos líderes europeus que prevê turbinar o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (EEFS, na sigla em inglês) e aplicar desconto de 50% na dívida grega. Na prática, porém, o acordo europeu já está incorporado à visão do BC de que a economia global continuará crescendo devagar e provocando efeitos na atividade doméstica. Sem o acordo, a Europa iria para o abismo. E aí sim a perspectiva do BC, de expansão lenta da economia internacional, seria sepultada pela expectativa de recessão à frente.
A Europa no "purgatório" é o cenário básico do BC. Dos Estados Unidos nada indica que vem surpresa. E a evidência mais clara foi dada pelo Federal Reserve (Fed), o banco central americano, que "chutou o balde" por cerca de dois anos. Há quase três meses, o Fed alterou profundamente seu comunicado, após decidir manter a taxa básica, em praticamente zero por "pelo menos até meados de 2013". Portanto, Europa e Estados Unidos ratificam a ideia de que a economia global vai ter pelo menos dois anos difíceis à frente.
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Essa perspectiva, que estava clara para o governo brasileiro em agosto, foi reforçada na ata da última reunião do Copom divulgada na semana passada, em que o BC manteve a indicação de que as condições monetárias terão ajustes moderados. Essa perspectiva, entendida pelo mercado como sinal de corte da taxa Selic em 0,50 ponto percentual por reunião, sugere que o "ritual" da política monetária está sendo cumprido.
A defasagem entre medidas adotadas pela autoridade monetária e seus efeitos vem se confirmando. As ações de política monetária tomadas no fim do ano passado e início deste ano - medidas macroprudenciais focadas na desaceleração do crédito ao consumidor e elevação do juro básico - afetaram a atividade no terceiro trimestre e devem atenuar a inflação neste quarto trimestre, quando o mercado de trabalho também dá sinais de arrefecimento.
Nos próximos meses, as expectativas do mercado e de formadores de preços devem pesar favoravelmente para os lados do BC, uma vez que a inflação - acumulada em 12 meses e a mensal - "mudará de padrão". O índice em 12 meses cairá e a variação mensal tende a retornar ao padrão histórico, deixando para trás as altas expressivas observadas nos últimos meses de 2010 e início de 2012. O processo é lento e a "limpeza" das estatísticas de inflação deve estar concluída em maio de 2012, com a divulgação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de abril. Isso não quer dizer que a inflação do primeiro trimestre do ano que vem deixará de ser pressionada. Esse comportamento "já está na conta" da política monetária.
A volta da inflação a um "padrão histórico" deverá esgotar efeitos inflacionários decorrentes do segundo programa de alívio monetário (Quantitative Easing - 2) anunciado por Ben Bernanke, presidente do Fed, em agosto do ano passado. Naquele momento, a inflação brasileira em 12 meses estava cravada no centro da meta, em 4,49%. E, três meses depois, essa taxa já superava 5,6%. O QE2 levou a uma corrida para as commodities e a uma dose muito mais elevada de pressões inflacionárias.
Isso não quer dizer que não havia pressão de demanda em função da atividade doméstica forte. Certamente havia, mas essa pressão sofreu um "ataque frontal" da política monetária com medidas que levaram ao arrefecimento e ao encarecimento do crédito ao consumidor. Se a inflação acumulada em 12 meses rondar 5,3% entre o primeiro e o segundo trimestre de 2012, como projetam alguns, o IPCA pode cair até o centro da meta, de 4,5%, até o fim do ano. A possibilidade não deve ser descartada.

domingo, 30 de outubro de 2011

Jogo da Rodada

O jogo da Rodada de hoje foi o superclássico Grêmio e Flamengo.
A goleada de virada da equipe gaúcha foi proporcionada sobretudo pelo feeling do treinador gremista Celso Roth. Logo veremos porque.
O Grêmio atua no 4-2-3-1. A linha de meio campo é composta por Fernando e Gilberto Silva, que ora atua de zagueiro, dando lugar a Adilson no meio, mais ágil e jovem. A linha de três meias composta por Escudero pela esquerda, Douglas pelo meio (mas com toda liberdade de circular por todo campo, já que é ele quem dá o tom do meio campo de Grêmio) e Marquinhos joga pela direita dessa tríade. André Lima na frente.
O Flamengo busca a melhor formação mas conta com o azar a seu favor. Jogou no esquema 4-4-2 e conforme eu havia previsto nesse blog, o Luxemburgo vem desenhando um novo estilo ao rubro-negro.
Os problemas somam-se no Flamengo e explicam sua decaída no campeonato. Thiago Neves não tem características de organização e distribuição de bola, ele é muito mais um meia atacante. Dessa forma o Famengo se recente de um organizador de jogo no meio campo. Apostou-se em Bottinelli para essa função, só que o hermano machucou-se e só deve voltar a jogar ano que vem. Renato Abreu não tem mais a juventude a seu favor para atuar como organizador e auxiliar a marcação e o elenco do Flamengo não possui peças com essa característica, ou seja, volantes com boa saída de bola.
Aliais, os volantes do Fla são um capítulo a parte, Aírton deve ser devolvido no fim do ano e Willames negociado, mas ambos tem no passe a suas maiores deficiências.
Diante desse quadro Luxemburgo escalou no meio o novato Thomás, promessa rubro negra que despontou nas seleções de base e na Copa São Paulo de Juniores.
Também conforme antecipado aqui Renato Abreu tornou-se efetivamente volante ao lado de Airton nesse jogo, o que deve ser uma constante até o fim do campeonato.
O Grêmio atacava mas sofria com os contra-ataques rubro negro. Thiago Neves aparecia sozinho quase sempre, principalmente pela direita do seu ataque e Thomás apresentava-se com a organização necessária ao time, junto com a boa saida de bola de Renato como volante. Apesar das boas tentativas gremistas a defesa flamenguista safava-se bem até o momento, com atuação novamente destacada de Alex Silva. Só que o Grêmio tinha liberdade dentro da área adversária e isso custaria caro a equipe carioca.
Após fazer dois tentos a zero o Flamengo viu André Lima empatar ainda no primeiro tempo, em jogada dentro da área.
No segundo tempo vem o divisor. Roth pôs um jogador em cima do zagueiro Wellington, que já havia falhado no primeiro gol, pela esquerda do Flamengo, Douglas e André lima caíam por ali. O Flamengo também sofre com o mesmo problema que o acometeu em vários jogos do campeonato: algum jogador, hoje o Douglas, entre os volantes e a zaga, nas costas dos volantes, com liberdade para trabalhar o jogo.
Na esquerda, ora André Lima ora Douglas levavam perigo e foi por lá que saiu outro dos gols do Grêmio com Douglas.
Foi também pela esquerda e em cima novamente de Wellington que Miralles, que entrou no segundo tempo, acertou belo chute e decretou a goleada gremista.
O Grêmio tem muita correria no ataque e força física, mas faltam jogadas de linha de fundo e alguém para ajudar Douglas no meio. Deixa a desejar também na marcação, afora os gols perdidos por Deivid, o que não é novidade, o Flamengo teve algumas boas chances e outras partidas podem ser menos afurtanadas para a equipe gremistas se não trabalhar uma recomposição mais rápida da defesa e uma compactação maior do meio campo.
O Fla tem qu treinar muito a saida de bola. Parece que o time também está no limite do cansaço, já que não conseguiu marcar pressão no segundo tempo como fez no primeiro e também não conseguiu se movimentar para sair da marcação que o Grêmio impôs no segundo tempo. Muita conversa com o zagueiro Wellington para ajuda-lo e com o meia Thomás, muito futebol tem esse garoto, pode vingar.
Por fim os homens de frente chegando mais na marcação na intermediaria de defesa e os volante ficando na faixa da meia lua da grande área podem resolver boa parte dos problemas do Flamengo.
Até amanhã pessoa, com mais economia
ou Futebol
Aquele abraço!!!

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Lençol que forra bolsos falta nas macas

Autor(es): Maria Cristina Fernandes
Valor Econômico - 28/10/2011
Passou quase desapercebida pela classe média, embora diga respeito à saúde de 145 milhões de brasileiros que usam exclusivamente o SUS, a manifestação nacional de médicos da última terça-feira.
A pauta dos manifestantes não inclui a reedição da CPMF mas é cristalina na argumentação de que a vida não tem preço mas a medicina tem um custo.
A explosão de consumo no Brasil corta lençóis infectados de hospitais de excelência para forrar o bolso de calças jeans. A mesma classe C que enche as sacolas é atendida em hospitais em que macas sem lençóis são o menor dos problemas.
As imagens de pacientes entubados no chão ou sentados segurando o próprio soro são comuns aos telespectadores. Os números apresentados pela pauta dos manifestantes são menos conhecidos.
Nos últimos dez anos, segundo o Conselho Federal de Medicina, o SUS perdeu 203 mil leitos. Em 20 Estados, o número de leitos disponível é menor do que o recomendado pelo Ministério da Saúde. Centenas de hospitais Brasil afora descredenciaram-se da rede pública e passaram a atender a pacientes de planos privados de saúde.
Consulta pediátrica é remunerada no SUS por R$ 2,50
A tabela de honorários do SUS para os procedimentos médicos é uma parte da explicação. O Sistema Único de Saúde paga R$ 2,50 por consulta de um pediatra de hospital público. Por um parto normal que leva dois dias de internação e ocupa dois obstetras e um anestesista a tabela prevê o pagamento de R$ 175,80. Um paciente que chegue a um hospital para se tratar de um acidente vascular cerebral fica internado durante uma média de sete dias. O SUS prevê que o neurologista que fica a cargo deste paciente receba R$ 9,40 por dia.
Não surpreende, portanto, que os concursos públicos para médicos custem a preencher suas vagas enquanto a classe média alta se orgulha em pagar R$ 900 por uma consulta com "meu médico".
Em discurso que fez na aula inaugural do curso de Medicina do campus de Garanhuns da Universidade de Pernambuco no mês passado, a presidente da República Dilma Rousseff disse ter por meta acrescentar 4,5 mil médicos aos 16,5 mil que as faculdades jogam anualmente no mercado.
Creditar a crise na saúde à ausência de médicos é mais ou menos como atribuir os gargalos da infraestrutura ao apagão de engenheiros.
É só observar a curva da Selic nas últimas décadas para entender por que o mercado financeiro virou o grande empregador de engenheiros no país.
Da mesma forma, basta examinar a tabela de honorários do SUS para entender por que sobram médicos na rede privada e faltam na pública. São Paulo, por exemplo, o Estado melhor aparelhado de hospitais privados, tem, proporcionalmente, mais médicos que o Canadá. Os 20 mil habitantes de Oiapoque (AP), cidade a 500 km da capital, contam com apenas dois médicos. No Estado inteiro registram-se apenas cinco psiquiatras para uma população de mais de 600 mil habitantes.
O Conselho Federal de Medicina argumenta que os médicos só serão melhor distribuídos pelo território nacional quando tiverem uma carreira de Estado, assim como o Judiciário ou o Ministério Público. É a esta diferença, e não apenas a um salário de entrada na magistratura em média três vezes mais alto que os R$ 1.946 da média nos hospitais do setor público, que Aloísio Tibiriçá atribui o fato de que há sempre um juiz em pequenas comarcas do interior mas faltam médicos.
A carreira de Estado vai de encontro à transformação de hospitais públicos em fundações adotadas em vários Estados e objeto de um projeto de lei que tramita no Congresso Nacional.
Os manifestantes da terça não defendem a aprovação de um novo imposto para a saúde. Preferem a redução da Selic e o aumento da arrecadação. Como todos os militantes do setor, Aloísio Tibiriçá saca de pronto a numeralha: a cada ponto a menos na Selic o Tesouro economiza R$ 10 bi. Com o corte de três pontos a Saúde teria o que precisa - se a torcida do Corinthians também não quisesse o mesmo.
Militam pela regulamentação da emenda 29, que prevê o mínimo de recursos que União, Estados e municípios devem aplicar na saúde. Defendem o projeto que tramita no Senado e não o da Câmara. O primeiro prevê a elevação de gastos até 10% do PIB. O da Câmara não aumenta gastos, apenas coíbe o desvio de recursos da saúde para outras rubricas.
Adam Przeworski, cientista político polonês radicado nos Estados Unidos e professor da Universidade de Nova York fez recentemente um palestra em São Paulo. Analisou os dados de vários países tentando explicar por que a globalização não tinha sido capaz de reduzir a desigualdade. Fincou o pé no argumento de que políticas públicas que universalizam oportunidades na educação e na saúde são muito mais eficazes na redução da pobreza do que as políticas de redistribuição de renda que não proporcionam as condições de uma melhoria continuada.
Ao chegar no caso brasileiro, Przeworski pediu desculpas aos dois últimos presidentes que estabilizaram a moeda e expandiram o Bolsa Família para afirmar que o programa mais eficaz na redução da pobreza no Brasil foi o SUS, criado pela Constituição de 1988, em pleno governo José Sarney.
Foi a partir do SUS que o Brasil reduziu a mortalidade e aumentou a longevidade. As crianças sobreviventes passaram a ter pais com mais tempo de vida para lhes prover uma melhor subsistência.
Com o envelhecimento da população, porém, cresceram as doenças crônicas, mais caras no diagnóstico e tratamento. Com o aumento da violência, os serviços de emergência e de UTI, presentes hoje em apenas 10% dos municípios, também passaram a ser mais demandados.
Tanto os que envelhecem sem franco acesso à assistência médica quanto as vítimas de violência são majoritariamente recrutados entre os mais pobres, usuários do SUS. A precarização de seu atendimento é, portanto, a ameaça mais latente para que o sistema, de revolucionário programa social, passe a contribuir para o retrocesso das condições de vida da população.

Adesão da Grécia ao euro foi um erro, diz presidente da França

O Estado de S. Paulo - 28/10/2011
Declaração de Nicolas Sarkozy escancarou a fragilidade da União Europeia, logo após acordo para socorrer país

Menos de 24 horas depois de ajudar a acertar um calote organizado da Grécia, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, rompe um tabu e declara que a adesão de Atenas ao euro foi "um erro" e que o país "não estava pronto" para a moeda única.
Esse foi o primeiro reconhecimento público de um chefe de Estado europeu sobre o assunto, escancarando a fragilidade da união monetária.
O "erro" agora será corrigido com um verdadeiro esquema de tutela montado pela União Europeia (UE) para controlar cada passo da Grécia a partir de agora e garantir que, até 2020, as reformas e medidas de austeridade se traduzam em uma redução do déficit em um terço.
Pelo acordo, até os recursos obtidos com a privatização em Atenas irão diretamente aos cofres europeus, sem passar pelas autoridades gregas. Para a oposição e sindicatos em Atenas, o acordo de ontem significará uma década de recessão.
Segundo Sarkozy, a adesão ao euro "foi um erro porque a Grécia entrou com dados econômicos falsos". O presidente, em entrevista a tevês francesas, alertou que a UE não teve outra alternativa senão a de encontrar uma solução para a Grécia. "Se o euro tivesse explodido na quarta-feira pela noite, toda a Europa e o mundo teriam explodido."
O perdão de 100 bilhões da dívida grega, porém, não virá de graça para Atenas. Em uma exigência de Berlim, a UE passará na prática a controlar a economia grega a partir de agora para garantir a implementação das reformas, que já levaram milhões de pessoas às ruas.
Ontem, a chanceler Angela Merkel anunciou que uma delegação permanente seria instalada em Atenas para supervisionar as reformas que a Grécia terá de realizar para continuar recebendo dinheiro. "Precisamos de um sistema de supervisão permanente", disse Merkel, que indicou que a delegação da UE seria estabelecida "sem data para sair". "Haverá um regime reforçado de supervisão para que a Grécia cumpra suas obrigações", disse. Ontem, um dos jornais de oposição trazia em sua capa um desenho com tanques alemães invadindo a Grécia.
A tutela é ampla: 15 bilhões arrecadados com a venda de estatais gregas irão diretamente aos fundos da UE e nem sequer passarão pelos cofres de Atenas. Ontem, o primeiro-ministro grego, George Papandreou, admitiu que o plano exigirá ainda a nacionalização de todos os grandes bancos do país, num valor de 30 bilhões.
Segundo ele, o maior controle da economia nacional pela UE era inevitável. Mesmo assim, preferiu comemorar o acordo por ter tirado dos gregos o peso da dívida. / J.C.

"Pacote da UE vai na direção certa, mas não basta"

Autor(es): Por Daniela Machado | De São PauloValor Econômico - 28/10/2011


Ainda que seja um passo na direção correta, o pacote anunciado pelos líderes europeus está longe de garantir o fim da crise na região. Para Barry Eichengreen, economista da Universidade da Califórnia, em Berkeley, e ex-consultor do Fundo Monetário Internacional (FMI), é insuficiente a exigência de que os bancos alcancem um nível de 9% de capital de melhor qualidade até junho de 2012, o que demandaria uma recapitalização estimada em € 106 bilhões. Além disso, não há garantias de que o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (EFSF, na sigla em inglês) conseguirá ser ampliado até a quantia almejada de € 1 trilhão ou mesmo que a participação de países emergentes como a China e o Brasil nessa alavancagem se viabilize.
Valor: Como o senhor avalia as medidas anunciadas pelos líderes europeus, considerando principalmente o acordo pelo qual bancos privados e seguradoras aceitarão perdas de 50% com a dívida grega?
Barry Eichengreen: É um passo na direção certa, mas não suficiente. Nas melhores circunstâncias, a dívida grega ainda atinge 120% do Produto Interno Bruto (PIB), o que é muito alto. E mesmo isso assume que a participação dos investidores privados será de 100%, o que não vai acontecer.
Valor: E a recapitalização dos bancos europeus atingidos pela crise, vai funcionar?
Eichengreen: É também um passo na direção correta, mas também não suficiente. Nove por cento de capital [de melhor qualidade] é muito baixo. Os testes de estresse que balizaram a medida incluíram cenários realistas para os preços de bônus mas não incluíram uma recessão mais profunda da Europa, que também está ocorrendo. Os bancos vão elevar seus níveis de capital cortando empréstimos e investimentos, o que vai afetar o crescimento europeu à frente.
Valor: Há obstáculos para que a Europa consiga alcançar o plano de alavancar o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira?
Eichengreen: É improvável que funcione a ideia de usar o fundo para garantir aos investidores compensação pelos primeiros 20% de perdas com novos bônus, em caso de uma reestruturação, porque as perdas quando há reestruturação de dívida soberana são sempre superiores a 20%. Ter esperança de que os chineses ou mesmo o Brasil contribuam com recursos para o veículo de propósito específico junto com o EFSF é irrealista. Não está claro por que os governos brasileiro ou chinês deveriam ao menos considerar isso como um investimento sensível.
Valor: Quão essencial seria essa participação de países emergentes para o plano?
Eichengreen: Isso ajudaria muito. Alguém tem que comprar todos os bônus que Itália e Espanha emitirão no próximo ano. Mas, sem reformas adicionais, não está claro por que os mercados emergentes deveriam ver tais compras de bônus como atrativas. Os bancos europeus irão se desfazer de parte de suas divisões e ativos com o objetivo de elevar os níveis de capital; então os mercados emergentes são os compradores lógicos de parte desses negócios.
Valor: As medidas ajudam a resolver os desequilíbrios fiscais da Europa, que estão na origem dos problemas? Como garantir disciplina fiscal para evitar novas crises?
Eichengreen: Os governos na Europa avançaram bem em cortar seus déficits orçamentários. Vejo os problemas de amanhã relacionados a bancos fracos e baixo crescimento econômico. Os desequilíbrios fiscais foram os problemas de ontem.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Convocação da Seleção

Mano Menezes acaba de convocar a seleção. Valendo-se do fato do campeonato brasileiro estar em sua reta final o técnico preferiu somente utilizar jogadores que atuam fora do Brasil.
A convocação no geral não tem surpresas.
Neto do Fiorentina e Diego Alves do Valencia foram os goleiros. São ótimos goleiros, Diego Alves inclusive já a algum tepo vem se destacando no espanhol. Contudo, creio que eles dois disputaram apenas uma vaga de terceiro reserva com Rafael do Santos, com o Victor do Grêmio se voltar a boa fase e talvez até com o Fábio do Cruzeiro, esse mais remotamente. As vagas de titular e 1° reserva parece estar asseguradas por Júlio César (contundido) e Jeferson.
As laterais do Brasil tem uma certa atipicidade. Daniel Alves foi chamado como sempre e Fábio do Manchester para sua reserva. Na esquerda agora vem o pulo do gato: Marcelo, titular inconteste, terá dois reservas, Alex Sandro, ótimo lateral campeão da Libertadores pelo Santos e atualmente no Porto e Adriano, do Barcelona. Eis a questão, o Bracelona joga com Abidal na esquerda ou as vezes até com alguma improvisação de outro jogador, isso quando não atua no 3-4-3, coisa que é rara mas já aconteceu esse ano. Além disso, a frente do Adriano está o Maxswel, lateral brasileiro que foi da Inter de Milão e que atua muito mais que o Adriano. Sabe-se que o Sandro Rossel, presidente do clube catalão é amigo amissíssimo de quem? Advinha??? Ele mesmo, o Senhor dos Anés do futebol do Brasil, Ricardo Teixeira! Não há como provar coisa alguma, mas que é no mínimo estranho é...
No meio os nomes velhos conhecidos, Lucas Leiva, Fernandinho, Luís Gustavo, que faz temporada irretocável com o Bayer Munich e Sandro ex internacional atualmente no Tottenham - ING., e Elias são os volantes; Hernanes, Bruno César (esse mesmo que foi do Corinthians e joga agora no Porto), Dudu do Dínamo de Kiev, William do Shaktar e kaká voltando a seleção são os armadores.
Completando a lista temos Hulk, Jonas e Kleber, companheiro de Hulk no ataque do Porto.
A algum tempo e eu já havia aqui destacado isso, o técnico da seleção vem mesclando jogadores jovens, como é o caso nessa vez de Kleber, Alex Sandro, Fábio, Luís Gustavo, Rafael, etc, todos em idade olímpica, com jogadores com real potencial de seleção digamos assim, creio eu que para dar mais rodagem ao jogadores, ambientarem-se, perderem o nervosismo e observarem o modo de trabalho, além de ser oportunidades de Mano ver como portam-se nos treinamentos e jogos.
Outro ponto é o esquema tático que vem naturalmente se formatando na seleção, algo que também falei em posts ateriores, o Brasil possui jogadores que caem como uma luva a formação do 4-2-3-1, o que seria muito mais proveitoso acredito do que insistir num esquema ao qual os jogadores não estão acostumados, que não é simples e que demanda tempo de treinamento, coisa que a seleção não tem.
O 4-2-3-1 ficaria com o time base em cima dessa convocação com a zaga titular e os laterais titulares, Lucas e Gustavo (eu prefiro o Sandro ao Lucas mas o Lucas é homem de confiança do treinador) na cabeça de área, na linha de três meias Hulk pela direita, Kaká ao centro e Willian ou Dudu pela esquerda e Jonas no Comando, sem contar as diversas possibilidade com Hernanes de volante ou de meia centralizado no lugar de Kaká, ou ainda Bruno César nessa mesma posição, Elias pode jogar em qualquer função no meio campo, igualmente fernandinho em quase todas, Dudu e Willian em qualquer posição na linha de três meias, enfim, as possibilidades são muitas.
E quando se fala numa convocação incluindo os brasileiros poderiamos ter o Neymar ou o Ronaldinho ou ainda o Robinho pela esquerda, o Ronaldinho até pelo meio quem sabe, O Pato tanto pelo meio quanto pela direita, ainda tem o Kleber na frente ou o Fred ou o Leandro Damião para ser o avante. Paulinho ou Cristian também poderiam jogar tranquilamente como volantes, enfim, inúmeras possibilidades.
Vamos aguardar para ver o que vai dá!
Abraços galera

É o novo-desenvolvimentismo?

O novo-desenvolvimentismo é definido como um conjunto de propostas de reformas institucionais e de políticas econômicas por meio das quais as nações de desenvolvimento médio buscam alcançar o nível de renda per-capita dos países desenvolvidos. Essa estratégia de "alcançamento" baseia-se explicitamente na adoção de um regime de crescimento do tipo export-led, no qual a promoção de exportações de produtos manufaturados induz a aceleração do ritmo de acumulação de capital e de introdução de progresso tecnológico na economia. A implantação dessa estratégia requer a adoção de uma política cambial ativa, que mantenha a taxa real de câmbio num nível competitivo no médio e longo-prazo, combinada com uma política fiscal responsável que elimine o déficit público e controle o ritmo de expansão dos gastos de consumo e de custeio do governo de forma a permitir um aumento sustentável do investimento público. A manutenção da taxa real de câmbio num patamar competitivo no médio e longo-prazo exige não só a adoção de uma política cambial ativa, como também uma política salarial que promova a moderação salarial ao vincular o aumento dos salários reais ao crescimento da produtividade do trabalho. A combinação entre política fiscal responsável e moderação salarial se encarregaria de manter a inflação a um nível baixo e estável, permitindo assim que a política monetária seja utilizada para a estabilização do nível de atividade econômica, ao mesmo tempo em que viabiliza uma redução forte e permanente da taxa real de juros.
Modelo brasileiro cria uma verdadeira escolha de Sofia entre aceleração da inflação e desindustrialização
O regime de política macroeconômica (RPM) adotado nos últimos anos tem muito pouco em comum com o modelo "novo-desenvolvimentista". Em primeiro lugar, o novo RPM permitiu um aumento considerável dos gastos primários do governo federal, os quais aumentaram em quase 3 p.p com respeito ao PIB desde 2008. Embora o superávit primário tenha se mantido num patamar suficiente para garantir uma modesta redução da relação dívida pública/PIB, a forte expansão dos gastos primários do governo sinalizou a realização de uma política fiscal eminentemente expansionista no período 2008-2010. De fato, conforme o multiplicador do orçamento equilibrado de Haavelmo, um aumento proporcional nos gastos do governo e nos impostos faz com que a demanda agregada aumente exatamente na mesma magnitude que os gastos do governo.
A política salarial teve por objetivo induzir um crescimento do salário real acima da produtividade do trabalho. Isso se deve à regra de reajuste do salário mínimo, que vinculou o aumento do salário mínimo no ano t com a inflação ano t-1 e o crescimento do PIB do ano t-2. Essa regra de reajuste de salário mínimo, além de aumentar o grau de indexação da economia brasileira ao atrelar o reajuste de um preço básico da economia à inflação do ano anterior, resulta num aumento do salário mínimo real a um taxa muito superior ao crescimento médio do PIB per-capita e, portanto, da produtividade do trabalho, supondo constante a taxa de participação. Dado o "efeito farol" do salário mínimo sobre a estrutura de salários relativos, o resultado final foi um aumento do salário real médio acima do crescimento médio da produtividade do trabalho.
No que se refere à dinâmica da taxa real de câmbio, verifica-se entre setembro de 2008 e abril de 2011, uma forte valorização da taxa real efetiva de câmbio, apesar das tentativas do governo de controlar essa valorização por intermédio da política de acumulação de reservas internacionais, bem como pela introdução de controles à entrada de capitais na economia brasileira.
A ineficácia da política cambial brasileira deve-se, em parte, à timidez dos controles de capitais adotados; mas fundamentalmente deveu-se a inconsistência do RPM adotado no Brasil nos últimos anos. Com efeito, a combinação entre política fiscal expansionista e elevação do salário real acima da produtividade do trabalho resultou numa trajetória ascendente da taxa de inflação, a qual impediu a continuidade do processo de redução da taxa de juros. A manutenção da taxa de juros em patamares elevados a nível internacional atuou como um enorme atrator de capitais especulativos, num contexto de liquidez mundial abundante devido às operações de relaxamento quantitativo do Fed, o banco central americano, induzindo a apreciação da taxa real de câmbio, o que contribuiu para acelerar a deterioração do saldo da conta de transações correntes e o processo de desindustrialização da economia brasileira.
O RPM brasileiro não permite a obtenção simultânea de uma taxa de inflação estável e um nível competitivo para a taxa real de câmbio. Isso cria um dilema para o governo na condução diária do RPM. A forte expansão da demanda agregada doméstica num contexto de elevação do salário real acima da produtividade do trabalho resulta na aceleração da taxa de inflação, caso o governo decida impedir a valorização da taxa real de câmbio resultante dessa combinação de políticas. Por outro lado, se a decisão do governo for manter a inflação estável, a taxa de juros deverá ser mantida em patamares elevados, induzindo assim uma forte entrada de capitais externos, que irá produzir a continuidade da apreciação da taxa real de câmbio.
Em resumo, o RPM brasileiro não se baseia no "modelo novo-desenvolvimentista", pois cria uma verdadeira escolha de Sofia entre aceleração da inflação e desindustrialização.
José Luis Oreiro é professor do departamento de Economia da Universidade de Brasília.

Onde a coisa pega

Brasil S.A - Antônio Machado
Correio Braziliense - 27/10/2011

Tanto quanto a crise externa, inépcia da gestão pública é o grande desafio, e Dilma está ciente.
Se a substituição do ministro do Esporte, Orlando Silva, pode ser a oportunidade de o PCdoB tentar refazer a imagem abalada pelas denúncias de se locupletar com repasses de dinheiros públicos para organizações não governamentais (ONGs) que orbitam o partido, para o governo Dilma Rousseff o desafio é muitas vezes maior.
A suspeita de corrupção não é ameaça direta ao governo, ainda que renda artigos críticos na imprensa e manifestações desaforadas da oposição. O problema para a presidente é constatar as deficiências de seu ministério. Se ele mal consegue gerir sem polêmicas o arroz com feijão do gasto corrente de suas atividades, o que esperar dos programas com alguma complexidade, como, no caso do Ministério do Esporte, o leque de obras para a Copa do Mundo e as Olimpíadas.
Até hoje os flagrantes de perversões já atingem cinco ministérios e outros tantos órgãos públicos e empresas estatais, expressando a falta de compromisso de seus dirigentes, muitos deles nomeados por interesse de partidos e grupos aliados por tais circunstâncias ao governo. À falta de projeto aglutinador da coalizão no poder, tais indicados se julgam devedores apenas de quem os indicou, o tal do QI, prestando-se prioritariamente a arrumar meios de atendê-los.
Isso já tipifica uma transgressão, embora considerada normal pela maioria dos caciques políticos, e se agrava quando os ocupantes de cargos com acesso a verbas fiscais as usam em proveito próprio — o que tem se tornado corriqueiro e é difícil de reprimir, já que um ambiente degradado tende a corromper a ordem e bagunçar a gestão.
Diante dessas exigências da administração do fluxo cotidiano das funções do governo, do planejamento dos investimentos de interesse nacional e dos problemas sempre difíceis da política econômica, os exemplos de malversação do dinheiro público, por maiores que sejam os valores desviados e a habitualidade, são o menor dos problemas.
De atentados à honestidade nenhum governo é imune. Nem as sólidas democracias escandinavas. São raros, mas não incomuns. Mas, exceto em situações de cleptocracia disseminada, a corrupção eventual não aliena o futuro de nenhum país. Já os equívocos rotineiros, ainda que pequenos, e a administração inepta estão para a economia como os hábitos não saudáveis praticados ao longo da vida: o organismo se enfraquece aos poucos e os custos são cada vez maiores.
Estruturas redundantes
No atacado, constatam-se custos, por exemplo, quando são criadas estruturas redundantes, como a Empresa de Pesquisa Energética, um órgão de estudos que em outros tempos eram feitos pelo Ministério de Minas e Energia ou mesmo pela estatal Eletrobras. O ministério é minguado e negociado com algum partido, ficando a nova estrutura resguardada de influências políticas. Convenhamos, é disfuncional.
Mais ainda a rede de agências regulatórias criadas no governo FHC para gerir os interesses públicos dos setores privatizados e que, numa piscada, proliferaram como capim. O governo Lula entendia, no início, que elas esvaziavam os ministérios. O que fez? Devolveu às pastas o poder político, mas as manteve, incluindo-as no bolo das composições com os partidos. Resultado: onde antes havia uma pasta cuidando de tudo, hoje há ela, a agência e mais a estatal da área.
Emaranhado de absurdos
Não é à toa que projetos não andam e, quando saem do papel, não é suficientemente clara a responsabilidade de ninguém, em resumo, do governo, pois há várias cabeças subordinadas a muitos interesses. Nem com superpoderes se controla esse emaranhado.
As coisas levam a absurdos, como a construção de hidrelétrica sem reservatório, o caso das usinas do Rio Madeira e de Belo Monte, de ineficiência energética flagrante, atendendo leis ambientais que o governo propôs e aplica — e ainda assim tais projetos elaborados a mando do governo suscitam contestações. É conforme o ditado: todo mundo grita e ninguém tem razão. Só que, no caso, não falta pão.
Qualificados pelo dedo
A presidente tem ciência dessas inépcias ou não teria formado uma comissão para propor ações para modernizar o governo. O difícil é esperar grandes avanços com ministros sem outra qualificação que o dedo indicador de alguém da base de apoio ao governo no Congresso.
Não só. Desde o fim dos governos militares, os governos perdem os quadros mais preparados e há muitos anos deixaram de prepará-los, inclusive com formação em universidades de ponta no exterior. Tais práticas fazem diferença, e quem sempre a fez, como Banco Central, Petrobras e BNDES na atual gestão, não por acaso são os centros de excelência do setor público. Dilma sabe. Mas precisa também fazer.
A inépcia é contagiosa
A melhoria da gestão pública se faz urgente, até para diminuir a carga dos poucos que entregam o que a presidente lhes pede, além dela mesma, e os riscos do voluntarismo — sequela de ambientes sob tensão. A inépcia pode ser contagiosa. Por duas vezes em 90 dias, por exemplo, áreas do governo acharam que têm asas. Voaram quando impuseram a vigência imediata do novo IPI sobre carros importados.
O Supremo Tribunal Federal fez valer o prazo de 90 dias entre a decisão e o inicio de vigência. Voltaram a voar quando a Receita quis enfiar na medida provisória que desonera tributos nos termos da política industrial mudanças que levariam ao oposto. O governo recuou temendo uma derrota no Congresso. São as asas da soberba.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

OCDE alerta para riscos na América Latina

Autor(es): Por Assis Moreira | De Bruxelas
Valor Econômico - 26/10/2011

Enquanto um pacote para conter a crise da zona do euro é esperado para hoje em meio a temores de que possa não ser suficiente, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) alerta para os riscos que um aprofundamento da turbulência europeia trará para o Brasil e o resto da América Latina.
A entidade que reúne os países ricos avisa que um aprofundamento da crise da zona do euro poderá "reverter dramaticamente" mais o fluxo de capitais de curto prazo para os emergentes da América Latina, causar grandes oscilações de câmbio, afetar comércio exterior e preços domésticos.
Segundo os dados das contas externas divulgados ontem pelo Banco Central, o endividamento externo de curto prazo total do Brasil em setembro somava US$ 47,343 bilhões, o equivalente a 15,9% do total da dívida externa no período. Boa parte desse volume está nas mãos dos bancos: são US$ 44,370 bilhões com vencimentos de dívida no curto prazo, 31,78% do endividamento geral do segmento (US$ 139,670 bilhões).
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Além disso, uma desaceleração da economia da China, afetada pela fragilidade das economias desenvolvidas, poderá provocar também efeito "altamente nefasto" para as exportações do Brasil e de vários países da região. E ter efeito de deprimir os preços internacionais das commodities, elevando o déficit nas contas correntes e reduzindo o chamado "espaço fiscal", ou seja, do dinheiro em caixa pelos governos. Os líderes europeus continuam divididos sobre o pacote para conter a crise, e a inquietação crescia ontem nas capitais europeias sobre a possibilidade de um acordo final não ser alcançado esta noite, podendo causar ainda mais panico nos mercados.
O Valor apurou que, em relatório sobre "Perspectivas para a América Latina 2012", a ser divulgado na sexta-feira em Assunção (Paraguai), a OCDE destaca também o contraste entre a boa situação fiscal da América Latina e o alto nível de endividamento público na União Europeia.
Entre 2000 e 2007, a dívida pública nos países da América Latina declinou cerca de 15 pontos percentuais em média. A diferença entre receita e despesas fiscais passou de déficit de 2,4% para superavit de 0,4% do PIB no período Ou seja, o Brasil e o resto da região fizeram um grande esforço e reduziram déficit e dívida.
Já os desenvolvidos se endividaram até o pescoço e causam hoje riscos para a economia mundial. Esta semana, a divida pública dos países da UE superou os € 10 trilhões. Chega a 300% do PIB se incluídas as dívidas de famílias e empresas. Até o fim do ano a Europa tem que refinanciar € 1 trilhão.
Com o impacto da situação nos desenvolvidos, o relatório projeta queda no crescimento no PIB da América Latina. Depois do avanço de 5,9% em 2010, a expectativa é de expansão de 4,4% este ano e de 4,1% em 2012.
A OCDE nota que o baixo nível de poupança doméstica e a consequente dependência da América Latina de capital externo fazem a região atrair recursos em larga escala graças a diferenciais significativos nas taxas de juros, com essa situação causando pressões cambiais e inflacionárias que afetam a coletividade das exportações, sobretudo manufaturados.
A entidade sugere o que o Brasil já vem fazendo: controle de capital com aplicação, por exemplo, de taxação sobre transações financeiras de curto prazo, para atacar capital especulativo, focando o estímulo nos investimentos diretos estrangeiros de longo prazo.
O Instituto Internacional de Finanças (IIF), que representa os maiores bancos do mundo, em estudo enviado ontem a seus membros, confirma deterioração substancial das condições nos mercados financeiros. Projeta agora "recessão leve" na zona do euro. E nota que a falta de confiança sobre a capacidade de as autoridades apresentarem uma solução positiva para a crise da zona do euro é evidente na forte alta dos spreads de CDS.
Os líderes da zona do euro, em todo caso, prometem acabar as incertezas hoje à noite com um "pacote ambicioso", em meio a inquietações crescentes de que a Itália pode ser o próximo a ter de ser socorrido com bilhões de euros depois da Grécia, Irlanda e Portugal.
A expectativa é de um pacote que force o setor privado a aceitar voluntariamente perder cerca de 60% do valor atual dos bônus gregos, o que eleva a dívida grega, o que eleva à anulação da dívida a mais de 80%. Além de necessidade de recapitalização dos bancos em mais de € 100 bilhões. E alavancangem do EFSF, o fundo europeu de socorro, para mais de € 1 trilhão.
No cenário em que tudo isso funcione e resulte em tranquilização da crise na Europa, o mais provável é de o Brasil voltar a sofrer de excesso de liquidez, conforme Paulo Nogueira Batista Júnior, diretor executivo pelo Brasil e mais oito países no Fundo Monetário Internacional. Ou seja, se a crise aguda for debelada, o real provavelmente voltará a ser uma moeda atraente. Daí porque é importante uma redução gradativa do juro e manter uma politica fiscal forte, na sua opinião.

Orlando Silva deixa o comando do Ministério

Poder On Line

Portal IG em  26/10/2011

 
O ministro do Esporte, Orlando Silva, está virtualmente fora da pasta.
Ele a cúpula do PCdoB acabam de acertar com o ministro Gilberto Carvalho e a presidenta Dilma Rousseff o script da sua saída do comando do Ministério do Esportes.
O cargo vai ficar com o PCdoB, mas o nome ainda não foi fechado.

Sinais de recessão

Correio Braziliense - 25/10/2011
 Londres — A crise de dívida da Zona do Euro pode já ter empurrado a economia do bloco de volta à recessão, de acordo com uma pesquisa feita com empresas. O índice Markit para gerentes de compras, que mede a atividade empresarial de milhares de fabricantes e companhias do setor de serviços, caiu para 47,2 neste mês, ante leitura anterior de 49,1 —pouco abaixo da marca de 50, que divide crescimento econômico de contração. O número ficou abaixo da estimativa de 19 economistas consultados pela Reuters, que previam leitura de 48,8. A empresa de pesquisa Markit, que fez o levantamento, informou que o dado é consistente com um declínio trimestral de 0,5 por cento do Produto Interno Bruto (PIB).
"No todo, esse é um relatório muito fraco, destacando o fato de que a Zona do Euro está voltando novamente à recessão", disse o economista-chefe do ING Financial Markets para a região, Peter Vanden Houte. "É pouco provável que o progresso a passos de tartaruga na resolução da crise de dívida europeia altere esse quadro em breve", acrescentou. "(O relatório) definitivamente sugere recessão a partir deste ponto", completou o chefe de pesquisa global no Lloyds Banking Group, Jeavon Lolay.

Expectativas racionais, para que te quero

Antonio Delfim Netto
Valor Econômico - 25/10/2011
Dizemos, em sua versão mais pretensiosa, que um agente econômico tem "expectativas racionais" quando conhece a distribuição futura de probabilidades de qualquer variável do seu modelo, obtida (condicionada) pelas informações que ele dispõe no presente. Por exemplo, num sistema por hipótese não "viesado" de escolha aleatória, a probabilidade de selecionar qualquer número entre um e mil é exatamente 1/1000.
O problema é que o mecanismo é, por definição, "não viesado" quando empiricamente, num número de experimentos (que tende ao infinito), todos os algarismos de um a mil revelam a mesma frequência. Num exemplo tão simples como esse ficam evidentes as dificuldades lógicas de definição da "expectativa racional".
Os economistas são mais modestos. Na utilização do conceito de "expectativa racional", constroem modelos lineares envolvendo as variáveis econômicas e supõem conhecer não a distribuição probabilística de cada uma delas, mas apenas a sua média, baseando-se no "verdadeiro" modelo da realidade e na informação que dispõem no presente.
Eles têm lutado com esse problema desde que começaram a formalizar e, portanto, tornar mais evidentes as hipóteses envolvidas nos seus modelos. Se trata, no fundo, de fazer alguma conjectura sobre o futuro opaco, que se recusa a revelar-se antes de se tornar presente. Nessa busca de "antecipar o futuro" e tornar mais úteis os seus modelos, os economistas foram construindo diferentes mecanismos de "expectativas" e estudando as suas consequências.
A primeira hipótese, muito usada nos anos 20 e 30 do século passado, quando estava na moda o estudo empírico das curvas de procura de bens agrícolas, foi que o preço esperado para o futuro era igual ao preço do período anterior. No nível microeconômico, isso produziu a famosa dinâmica do "cobweb", em que preços e quantidades oscilavam, mas que, com restrições convenientes, terminavam num "equilíbrio".
A surpresa veio quando construíram, com a mesma hipótese, um modelo macroeconômico dinâmico elementar com "erros" (surpresas) na demanda global e na fixação dos salários para determinar o nível do PIB e a taxa de inflação. O PIB flutuava aleatoriamente em torno do objetivo desejado, mas a taxa de inflação era positiva e constante (a menos de uma variação aleatória de média zero) e independente da política monetária! Era evidente que a hipótese original (preços esperados para amanhã iguais aos de hoje) não se sustentava, porque os agentes não continuariam a utilizá-la quando verificassem uma taxa de inflação constante.
Isso levou à substituição da formação das expectativas. A nova sugestão foi supor que a taxa de inflação seria constante. A surpresa ainda maior foi que o modelo mostrava que, agora, para manter o PIB no nível desejado, era preciso não uma taxa de inflação constante, mas uma taxa de inflação permanentemente crescente!
Ficou óbvio que esses estranhos resultados obtidos a partir de modelos extremamente simples eram produto dos erros sistemáticos sobre a formação das expectativas dos agentes. No nível do desespero, os economistas fizeram uma hipótese heroica: suponhamos que conhecemos o futuro, ou seja, que sabemos qual é o preço de amanhã! É a isso que chamamos "expectativas racionais": conhecemos o preço médio de amanhã através das informações que dispomos hoje, o que equivale a eliminar os "erros" (surpresas) na equação da demanda global.
Tudo tornou-se claro. Com o futuro revelado, o modelo dá a resposta que estávamos esperando: o PIB se estabiliza no limite superior, o que dispensa a política fiscal e monetária. Esta última determina apenas o nível de preços. Os economistas aprenderam o truque e nunca mais o abandonaram. Com alguma arte e engenho sobre a formação das expectativas, podem obter, matemática e rigorosamente, o resultado que desejam. É o Santo Graal que procurávamos há séculos, comprado baratinho ao preço trivial de supor que conhecemos o futuro.
Não há, portanto, o que estranhar nas conclusões espantosas em passado não muito afastado de alguns nobelistas: as políticas econômicas quando antecipadas são absolutamente ineficazes quando conhecemos o futuro. De qualquer forma é mais do que evidente que ninguém discute a necessidade de se introduzir nos modelos alguma expectativa sobre o futuro opaco e de como a política econômica pode ajudar a formá-la.
Talvez esta seja a única mensagem duradoura das "expectativas racionais": uma hipótese sobre o futuro é indispensável para entender o presente!
Antonio Delfim Netto é professor emérito da FEA-USP, ex-ministro da Fazenda, Agricultura e Planejamento. Escreve às terças-feiras

Calote e abandono do euro beneficiariam Grécia, diz professor de Harvard

Jeffrey Miron acredita que calote seria boa opção para a Grécia como também para toda a União Europeia


BBC Brasil | 26/10/2011 07:35

Na esperança de receber ajuda da União Europeia, o Parlamento grego adotou novas medidas de austeridade – cortes no serviço público, aumento de impostos e endurecimento nas negociações com os sindicatos. A população reagiu com protestos violentos e greves. Ainda está por se ver como a União Europeia irá responder a isso.

A questão que se coloca para a Grécia é se ela segue nesse caminho – medidas de austeridade que pouco fazem para conter o deficit, seguidas de ajuda europeia suficiente apenas para evitar o default – ou se finalmente admite o óbvio: que deveria dar calote em sua dívida soberana, abandonar o euro e seguir seu próprio rumo.
Se a Grécia der um calote, o país conseguirá alívio imediato do pagamento dos juros sufocantes de sua dívida, ficando com um deficit primário relativamente modesto, que exclui o pagamento das altas taxas de juros com as quais o país se depara agora.
Nesse cenário, a pressão por austeridade diminuiria. Isso permitiria à Grécia escolher políticas que incentivem o crescimento, ao invés daquelas que até encolhem o deficit mas retardam o crescimento por causa das altas taxas (de juros).
Restaurando a competitividade
Ao abandonar o euro e adotar uma moeda com valor apropriado, a Grécia poderá restaurar sua competitividade internacional. Isso significa maior oferta de empregos, tanto de fontes domésticas quanto estrangeiras.
O lado negativo do calote é que a Grécia deve perder, temporariamente, acesso ao mercado internacional de crédito (ainda que se torne um lugar muito mais seguro para investimentos do que é neste momento).

Ficar sem empréstimos internacionais por alguns anos não é um desastre. Isso pode inclusive incentivar cortes no gastos dispendiosos do governo.
O risco maior do calote é que uma vez passada a crise a Grécia diminua a pressão para a resolução dos problemas fundamentais de sua economia: o capitalismo de compadrio, um código fiscal bizantino, o excesso de regulamentação e o inchaço da máquina do governo.
Se a Grécia fracassar nas reformas necessárias, sofrerá em breve uma desaceleração no seu crescimento e uma outra crise, a despeito das medidas que tome agora.
Primeiro passo
O default não é uma panaceia para a Grécia, assim como declarar falência não é garantia de que alguém endividado terá de volta a saúde financeira: depende das ações a serem tomadas após o calote.
Mas o default é um primeiro passo necessário para que a Grécia consiga respirar e estabelecer sua política econômica de forma tranquila e racional. Muitas pessoas, empresas e países já se recuperaram de falências e calotes.
Para os credores europeus, o default grego pode apresentar dois lados negativos: a perda de pagamentos futuros e um risco maior de calote em outros países, como a Itália.
Ainda assim, os riscos têm sido exagerados. É pouco provável que a Grécia honre suas dívidas em um futuro próximo e só o fará se os países ricos lhe derem dinheiro para tanto.
Mensagem correta
Será mais fácil lidar com o risco de calote em outros países se a Europa deixar de injetar dinheiro nos países em situação pior e direcionar sua ajuda aos países que ainda podem ser salvos. O calote grego reduziria as incertezas, o que facilitaria, mais do que impediria, uma solução ordenada de outros países endividados.

Para o contribuinte europeu, o default grego trará outro benefício: irá enviar uma mensagem aos credores que emprestam em meio ao risco, o que os fará serem mais cuidadosos no futuro.
A realidade fundamental é que a Grécia e boa parte da Europa fizeram empréstimos e consumiram muito nas últimas décadas. Alguém tem de pagar.
O defaulf fará com que isso ocorra rapidamente, impondo perdas àqueles que ganharam nos tempos de fartura. Isso é o correto.
*Jeffrey Miron é professor da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, e membro do Instituto Cato. Também é autor do livro Libertarianism, from A to Z.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

As piores razões

Dora Kramer
O Estado de S. Paulo - 25/10/2011

O ministro do Esporte foi mantido no cargo e, segundo reza a versão oficial, sua permanência depende da capacidade dele de estancar a enxurrada de denúncias sobre as atividades do ministério e substituir o noticiário negativo por uma agenda positiva, cujo primeiro item seria debater com o Congresso a Lei Geral da Copa.
Quer dizer, se o assunto corrupção sair de cena, tudo bem: fica o dito pelo não dito. O problema não é a notícia, mas o efeito que ela produz ou deixa de produzir.
Os convênios fantasmas, o descontrole na distribuição de recursos, o favorecimento a empresa da família, os assessores que ensinam o denunciante qualificado como "bandido" o caminho das pedras para se safar de punições por fraudes cometidas no próprio ministério, os repasses de verbas para beneficiar correligionários do PC do B, a assinatura de contratos com gente inidônea, nada disso é levado em conta.
Na ótica do governo, expressa pelo secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, a presidente Dilma Rousseff não pode "entrar na onda" nem embarcar no "clima de histeria".
Vai analisar as coisas com calma e esperar que surjam provas (um recibo de próprio punho?) contra o ministro para decidir se Orlando Silva é, ou não, uma pessoa ética, profissional, moral e tecnicamente capaz de conduzir o ministério que estará à frente da organização da Copa de 2014 e da Olimpíada de 2016. Essas são as razões oficiais. No paralelo, são outros e mais variados os motivos pelos quais Orlando Silva por ora fica.
Fica porque a presidente não quer atritos com a "base", reabrindo a temporada de demissões de ministros.
Fica porque Lula aconselhou o PC do B a vestir a "casca grossa" e deu aval como defensor junto a Dilma.
Fica porque não interessa ao governo ver explodir uma briga de "famiglias" entre PT e PC do B, por conta das digitais do governador petista Agnelo Queiroz (DF) - antecessor e ex-chefe de Orlando Silva - nas atividades suspeitas do Ministério do Esporte que fizeram o procurador-geral da República pedir ao Supremo Tribunal Federal uma investigação conjunta.
Fica porque o PC do B é, considerando a questão sob o aspecto ideológico, "da casa", diferentemente de partidos como PMDB e PR.
Fica porque os atritos com a Fifa e a CBF servem como um ótimo álibi na construção de uma tese conspiratória.
Fica, sobretudo, porque o governo aposta na possibilidade - bastante plausível - de que o assunto canse a caia no vazio.
Em resumo, Orlando Silva fica pelas piores razões: não por suas qualidades, mas pelos defeitos de um sistema torto e viciado. De uma sistemática de alianças que captura as melhores intenções que porventura tenha um governante para torná-lo refém (na hipótese mais generosa) de uma lógica, em si, corrupta.
Sendo assim, é difícil conferir credibilidade e confiabilidade à dita disposição da presidente da República de, a partir de janeiro, montar uma equipe à semelhança da imagem de eficiência administrativa e rigor ético que ela busca transmitir ao público.
Se Lula tem hoje liberdade para afiançar a permanência de ministros sob o argumento da luta de preservação de espaços políticos, por que deixaria de ter daqui a três ou quatro meses?
Se ameaças entre partidos valem agora, deixariam de valer a partir da virada do ano?
Se a presidente receia desagradar a seus aliados com imposição de regras mais limpas em outubro, em que bases sustentar a veracidade de um presumido destemor a ser adquirido em janeiro?
Se critérios de competência e idoneidade não prevaleceram na escolha do primeiro ministério da presidente, difícil crer que prevalecerão para o segundo em condições exatamente iguais.
Tempo ao tempo. O governador Geraldo Alckmin está batendo o martelo com os pré-candidatos tucanos à Prefeitura: as prévias no PSDB serão no primeiro trimestre de 2012.
A escolha inicialmente seria no fim deste ano, mas Alckmin acha que o cenário político, notadamente de alianças, estará mais nítido em janeiro ou fevereiro.

União Europeia sob ataque

Correio Braziliense - 25/10/2011
Primeiro-ministro britânico, David Cameron, sufoca revolta de correligionários que pregam a saída do país do bloco
Londres — A crise de dívida na Zona do Euro, que aflige países europeus no continente, começa a criar problemas do outro lado do Canal da Mancha. O primeiro-ministro britânico, David Cameron, enfrentou ontem a maior rebelião em seu partido desde o início do seu governo, quando dezenas de parlamentares conservadores manifestaram apoio a um referendo que pode tirar a Grã-Bretanha da União Europeia (UE). Esse debate já dividiu os conservadores na década de 1990, e Cameron se mostrava desesperado para evitá-lo desde que assumiu a liderança do partido, há seis anos.
Com a ajuda do Partido Trabalhista, de oposição, Cameron conseguiu derrotar a proposta por 483 votos a 111. Mas 80 membros do Partido Conservador, o mesmo do primeiro ministro, votaram a favor da moção. A revolta dos conservadores colocou em xeque a autoridade do líder na condução de um assunto com grande potencial para continuar causando tensões dentro da coalizão governamental, que inclui o Partido Liberal-Democrata, pró-Europa.
O tema também provoca atritos com os países vizinhos, que estão às voltas com a mais grave crise das últimas décadas na união monetária formada por 17 dos 27 países da União Europeia. A Grã Bretanha não participa da Zona do Euro, já que manteve sua antiga moeda, a libra, mas tem se envolvido cada vez mais no debate para tirar os sócios da crise e nem sempre tem sido bem recebido. No domingo passado, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, fez uma queixa direta a Cameron numa reunião de cúpula da UE. "Você diz que detesta o euro, não quis adotá-lo e agora quer interferir em nossas reuniões. Estou cansado de que você nos critique e nos diga o que fazer", disse o presidente francês, segundo relato feito por diplomatas à imprensa britânica.
Para os rebeldes conservadores, este seria o momento mais conveniente para a Grã-Bretanha abandonar ou renegociar os termos da sua participação na UE. Para os "eurocéticos", a soberania britânica foi abalada pelas seguidas transferências de poder para Bruxelas, onde fica a sede do bloco, e a crise da Zona do Euro é uma oportunidade para que a Grã Bretanha recupere sua autonomia.
O chanceler William Hague, ele próprio um "eurocético" conservador, disse, porém, que a proposta do referendo vai "completamente contra a política do governo". "Ela criaria uma incerteza econômica adicional neste país, num momento econômico difícil", afirmou o ministro à BBC. Os partidários da permanência britânica no organismo diplomático lembram que 40% do comércio do país é com a Zona do Euro e que deixar o bloco poderia prejudicar a economia e os investimentos estrangeiros.
Dilma critica indefinição
A presidente Dilma Rousseff conversou ontem com o primeiro-ministro do Canadá, Stephen Harper, sobre a próxima reunião do G-20, grupo formado pelas 20 maiores economias do mundo, marcada para 3 e 4 de novembro, na França. Segundo o porta-voz da Presidência, Rodrigo Baena, Dilma lamentou as indefinições dos europeus no enfrentamento da crise da Grécia e manifestou o temor de que ela contagie outros países, mas disse que o Brasil está preparado. "A presidente disse que é importante manter a responsabilidade fiscal, combater a inflação e preservar as reservas. Mas o principal é buscar crescimento sustentável, com desenvolvimento social, distribuição de renda e emprego", afirmou Baena.

Mercado já prevê inflação na meta

O Estado de S. Paulo - 25/10/2011
É a primeira vez desde 16 de setembro que a previsão fica no limite máximo de 6,5%

Diante dos sinais de que os preços têm subido menos que o esperado nas últimas semanas, analistas voltaram a trabalhar com a hipótese de que a inflação pode ficar dentro da meta em 2011. Pesquisa do Banco Central divulgada ontem revela que a estimativa para o IPCA em 2011 caiu de 6,52% para 6,5%, exatamente no limite máximo da meta determinada pelo governo.
Essa é a primeira vez desde 16 de setembro que o mercado prevê inflação na meta em 2011. A preocupação era crescente desde meados de agosto. Nesse período, a inesperada redução do juro acelerou o processo e todas as estimativas de preço passaram a apontar sistematicamente para cima.
Na pesquisa divulgada ontem, porém, a previsão para a inflação neste ano apresentou a primeira queda desde 12 de agosto. Para 2012, tendência idêntica: após sete semanas seguidas de aumento, a aposta para o IPCA caiu ligeiramente de 5,61% para 5,60%.
"Ainda é muito cedo para falar em reversão efetiva da trajetória da inflação. Mas o fato é que o cenário conta agora com a influência positiva do IPCA-15 menor que o previsto e também com a leitura de que a economia já roda em ritmo mais fraco que o imaginado, o que ajuda a reduzir as pressões sobre os preços", diz o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa.
Perdendo força. Na semana passada, foi divulgado que o IPCA-15 - prévia do índice usado na meta de inflação - teve alta de 0,42% em outubro, abaixo da previsão do mercado de 0,45%. Alguns economistas chegaram a projetar alta de até 0,50%.
O número menor animou analistas, que encararam o dado como um sinal de que a remarcação de preços pode estar, finalmente, perdendo força.
Além disso, dados relativos à atividade econômica - como produção e emprego - têm apontado para desaceleração mais rápida que o imaginado originalmente. "Cresce a percepção de que a atividade econômica pode, inclusive, ter desempenho negativo no terceiro trimestre. Ou seja, parar de crescer", diz Rosa.
Os números da pesquisa Focus também apontam para a atividade mais lenta: a previsão de expansão da economia em 2011 caiu pela terceira semana seguida, de 3,42% para 3,30%. Para 2012, a aposta de crescimento recuou de 3,60% para 3,51%.
"Mesmo assim, ainda não é possível afirmar que o Banco Central acertou ao iniciar o processo de corte de juros em agosto. Ainda que o IPCA-15 tenha subido menos, há segmentos como o de serviços em que os preços seguem em forte tendência de aumento", diz o economista-chefe da SulAmérica. Nos serviços, a alta segue alimentada pelo aumento da renda e alavancada pelo crédito em expansão.
A LCA Consultores tem preocupação semelhante com os serviços. "A dinâmica da inflação corrente sugere que o Banco Central ainda continuará enfrentando bastante ceticismo em relação à aposta de convergência da inflação para o centro da meta em 2012", diz a consultoria em relatório aos clientes.

Comentários: O BC causou muita reverberação no mercado quando reverteu os juros. De certo isso iria acontecer, muita gente apostou errado e perdeu muito com isso, principalmente os bancos. Ocorre que não é o rabo que abana o cachorro, então o BC brasileiro não deve se guiar pelo mercado e sim o mercado ser guiado pelo BC, como agora vem ocorrendo.
Outro ponto é o possível risco que o BC teria assumido ao apostar na queda da inflação, oras, quanto maior a informação menor o risco e temos que supor que o BC possui uma quantidade de informação bem maior que qualquer dos demais agentes não?
É a famosa assimetria de informação!
Ponto para o Tombini!!!

A lei inédita de Lavoisier

Autor(es): Roberto Luis Troster
Valor Econômico - 24/10/2011

No século XVIII, o proeminente francês enunciou a máxima: "Na natureza nada se cria, nada perde, tudo se transforma" - é conhecida como a lei de Lavoisier de conservação das massas. Conhecido como o pai da química moderna, fez também contribuições importantes na biologia e ajudou a criar o sistema métrico. Tem outra, inédita, a lei de desperdício de riqueza que diz: "Na economia, quando não se cria e não se transforma, se perde muito". Experimentos empíricos dela abundam, o Brasil está repetindo alguns que vão comprovar sua validade.
Um é a reintrodução do populismo inflacionário, uma experiência em três etapas. Na primeira, com os preços subindo mais rapidamente, há uma queda artificial dos juros, a redução dos salários reais, do aumento de margens das empresas e de mais empregos e mais lucros, é a fase atual, a da satisfação. A segunda etapa começa com a disputa pela recuperação da remuneração dos trabalhadores e do aumento da pressão dos preços, com a economia mais vulnerável a choques de oferta. Termina na terceira, que é a de juros mais altos e menos crescimento, a da amargura. Resumidamente, troca-se crescer um pouco a mais no presente, por bem menos no futuro. Também é conhecido como miopia inflacionária ou ilusão de crescimento.
Em vez de estimular a demanda, a prescrição, numa economia aberta, é fomentar a oferta, a produção
Há dezenas de casos em que momentos de complacência são seguidos de apertos posteriores. No Brasil, nas décadas de 1960 a 1990, alguns episódios ilustram o ponto. A atual curva de juros mostra que o mercado antecipa novas reduções na taxa básica de juros, mas que a mesma deve subir a partir do ano que vem e, este ano, as projeções de crescimento do PIB caíram e as da inflação subiram. São números que mostram o efeito oposto ao objetivado pelos condutores da economia.
Outro teste que tem o resultado conhecido, é fazer manifestações, artigos e abaixo assinados para baixar a Selic. São bem intencionados, mas comprovadamente, não alcançam seus objetivos. Se tivessem algum efeito, considerando a quantidade de protestos contra os juros altos no Brasil, observar-se-iam aqui as taxas mais baixas do mundo. Não é o que acontece. É primordial baixar os juros, mas o foco tem que ser mais ambicioso, de reduzi-los definitivamente.
Diminuir as taxas deveria ser um dos objetivos mais importantes da política econômica brasileira. Seus efeitos são perniciosos, concentram a riqueza, encarecem o crédito, postergam investimentos e desestimulam o crescimento. São centenas de bilhões de reais jogados fora com juros altos. Todavia, é um fato comprovado na economia que uma taxa de juros muito abaixo do nível de equilíbrio tem o mesmo efeito de uma acima do patamar neutro, restringe o potencial de crescimento da economia. Reduzir demais é economizar um pouco no presente, para desperdiçar muito mais à frente.
Com uma dinâmica fiscal parecida com a de outros países, o valor dos juros no Brasil é várias vezes mais alto aqui. O custo do crédito, apesar da sofisticação do sistema, é o segundo maior do planeta. Sua redução traria mais crescimento, estabilidade e lucros mais sólidos e duradouros para os bancos.
O foco das ações para baixar os juros deveria se um conjunto de medidas para reduzir a taxa neutra. Uma poderia ser a remoção do entulho inflacionário do sistema financeiro. Um exemplo, aumentar o prazo para creditar rendimentos da poupança, o mesmo foi diminuído para a cada trinta dias, na época de inflação alta, para preservar o patrimônio do pequeno poupador; atualmente, seu efeito é perverso, estimulando gastos com juros altos. Tornando-o trimestral, ou semestral, motivaria a postergação das decisões de consumo, aumentando a potência da política monetária. Falta ao país uma política de juros consistente com a nova dinâmica econômica e os novos tempos.
Falta ao país uma política de baixar os juros de maneira definitiva que inclua uma política de crédito mais sensível ao custo de captação dos bancos e menos condicionada à liquidez do mercado, a redução da cunha de intermediação, à melhoria do quadro institucional, a eliminação dos créditos tabelados e a mais transparência na gestão da política monetária. Anunciar que a meta é 4,5% e praticar 6,5%, sem um choque de oferta, gera incertezas desnecessárias que pressionam os juros de prazos mais longos.
Outra política com o resultado sabido é a de incentivar o consumo interno numa economia aberta. Não dá certo. O que acontece é um aumento nas importações de bens de consumo e uma pressão no custos dos serviços, com um resultado pífio na atividade econômica e efeitos indesejáveis na balança comercial e na inflação. O Brasil não é mais uma economia fechada, são outros tempos. Em vez de estimular a demanda, a prescrição, numa economia aberta, é fomentar a oferta, a produção.
Um exemplo emblemático é o café. Um dos melhores para tomar no Brasil é fabricado na Suíça, por uma multinacional que têm várias plantas industriais aqui. Apesar do clima melhor, da mão de obra mais barata, dos custos de transporte e da proximidade do plantio, a empresa, conhecida pela excelência de sua gestão, decide fabricar as capsulas a dez mil quilômetros de distância para vender aqui. Acontece algo parecido com a pimenta, uma das mais vendidas aqui é americana, com grãos brasileiros, ou com o chocolate, feito com cacau baiano na Bélgica.
A causa é que a política econômica não tem como objetivo prioritário melhorar as condições empresariais do país. Ilustrando o ponto, nas 182 Metas do Centenário Brasil 2022, apenas uma trata de reformar. É irônico, mas seu objetivo é mudar algo fora do Brasil o Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Há uma obsolescência nas normas para produzir gerando dezenas de milhares de empregos para burocratas, advogados, contadores e despachantes. São custos que tiram a competitividade do país. No ranking empresarial do Banco Mundial, divulgado esta semana, o Brasil caiu seis posições e está em 126º lugar. A melhor ginga do mundo tem que conviver com uma das piores burocracias.
O desenvolvimentismo tem um nome lindo, teve sua importância na metade do século passado, mas não serve mais para o Brasil do século XXI. Propõe obras públicas, que há cinquenta anos geravam empregos e atualmente aumentam a importação de máquinas pesadas. Culpa o resto do mundo pelos problemas internos, com isso consegue Ibope, mas não crescimento.
Atualmente, vive-se um momento bom, há um potencial a ser usufruído. Não se deve desperdiçar riquezas. É hora de adequar a política econômica, o país não pode ficar refém de uma visão ultrapassada.
Roberto Luis Troster, doutor em economia pela USP, foi economista chefe da Febraban, da ABBC e professor da PUC-SP, USP e Mackenzie. E-mail: robertotroster@uol.com.br

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Fechar a torneira

Autor(es): José Roberto de Toledo
O Estado de S. Paulo - 24/10/2011
 

Cai, não cai. Nesse futuro intransitivo do ministro está se resumindo a novela do Ministério do Esporte. É minimizar o problema para não resolvê-lo. Reportagens do Estado têm mostrado que a ação à margem do interesse público vai muito além de atos individuais. Trata-se de um projeto partidário, executado há dez anos pelo PC do B nas beiradas do poder petista. Qual filiado opera o duto é quase irrelevante.
O que ocorre no Esporte transcende se alguém recebeu dinheiro sujo na garagem ou não. O problema é ser aceitável - para presidentes, governadores e prefeitos - que um partido instrumentalize programas de governo para sustentar seus filiados, inchar seus quadros e forrar seus cofres. Mesmo que de modo burocraticamente legal.
O "esporteduto" descrito pelos repórteres Daniel Bramatti e Júlia Duailibi fornece a infraestrutura para que o dinheiro público ajude a aumentar o poder da agremiação. O exemplo é do PC do B, mas vale para outros partidos médios e pequenos que se coligam a legendas maiores. Funciona esquematicamente assim:
1) O pequeno partido se alia a uma sigla com força eleitoral. Em troca de tempo de TV para o candidato majoritário aliado, o partido ganha o comando de uma pasta e/ou de órgãos com poder de ordenar despesas: pode ser no governo federal, estadual ou municipal;
2) Com a caneta na mão, o partido e seu burocrata de plantão priorizam programas com capilaridade. É importante que a sua execução seja descentralizada e a verba seja distribuída para centenas de localidades. Os valores unitários baixos e a transferência do dinheiro para prefeituras e ONGs afastam a fiscalização e maximizam o impacto político-eleitoral do projeto;
3) Os recursos beneficiam desproporcionalmente as cidades onde o partido atua. Pode ser via prefeitos, ou através do secretário municipal que comanda a área do projeto. Quando nenhuma dessas condições de apresenta, "terceiriza-se" o gasto através de uma ONG especialmente criada ou adaptada para atender às demandas do projeto;
4) Dirigentes ou militantes do partido comandam a aplicação do dinheiro destinado ao projeto, selecionando prestadores de serviços e contratando gente. Novos militantes são cooptados para o partido por causa dos benefícios gerados pelo projeto na localidade;
5) Os militantes devolvem parte do que recebem ao partido na forma de contribuições periódicas. Com mais militantes, dinheiro em caixa e poder político, o partido consegue aumentar sua bancada de deputados e, por tabela, seu tempo de TV e sua cota no fundo partidário. Reforça assim seu cacife para negociar apoio na próxima eleição e reiniciar o ciclo.
Esse é o caminho legal, garagens à parte.
No caso do PC do B, o canal é o Ministério do Esporte. Um dos patinhos feios da administração federal, desdenhado pelos maiores partidos depois que foi desmembrado do Turismo no início do governo Lula, seu orçamento vem crescendo em relação ao total do Orçamento-Geral da União e em proporção ao PIB desde que os comunistas assumiram seu comando, em 2003.
Em 2010, foram pagos mais de R$ 800 milhões só do orçamento do ministério. Mas as verbas federais para o esporte incluem ainda R$ 160 milhões de patrocínios de empresas estatais, R$ 190 milhões da Lei de Incentivo ao Esporte (via isenção fiscal de empresas) e R$ 370 milhões de dinheiro repassado das loterias federais. Somando tudo, dá cerca de R$ 1,7 bilhão, segundo levantamento da associação Contas Abertas.
No poder, o PC do B priorizou dois programas: Esporte e lazer na cidade e Segundo tempo. O valor anual pago pelo primeiro saltou de R$ 38 milhões para R$ 286 milhões em sete anos. O segundo, foi de R$ 13 milhões em 2003 para R$ 173 milhões em 2010 - ou seja, foi multiplicado por 13 em 8 anos.
Nesse período, conta o repórter João Domingos, o PC do B saltou de 34 mil para mais de 100 mil filiados. Fez dois senadores, 14 deputados federais, 18 deputados estaduais, 42 prefeitos, 200 secretarias de esportes e 608 vereadores. Ou seja, cresceu na última década o que não conseguiu nos 80 anos anteriores de sua existência.
A questão, portanto, é maior do que a permanência de Orlando Silva no Ministério do Esporte. Enquanto a reforma política não vem, mais importante que demitir ou não o ministro é fechar a torneira de "esporteduto".

EUA devem ser rebaixados por outra agência de risco, diz Merrill

reuters
Em domingo 23/10/2011, às 18:14

Por Walter Brandimarte
NOVA YORK (Reuters) - Os Estados Unidos irão provavelmente perder a sua classificação triplo A de outra importante agência de classificação de risco até o fim do ano, devido à preocupação com o déficit do país. A previsão é do Bank of America Merrill Lynch.
O estopim para isso seria a provável recusa do Congresso em aprovar um plano factível de longo prazo para reduzir o déficit. A pesquisa do banco norte-americano foi publicada na sexta-feira.
O segundo rebaixamento da agência Moody's ou da Fitch, se seguiria ao feito pela Standard & Poor's em agosto, por conta do déficit orçamentário e do aumento da dívida. De acordo com a Merrill, um segundo rebaixamento será um golpe adicional para a já problemática economia dos EUA.
"As agências de risco apontaram com ênfase que novas quedas na classificação poderiam vir se o Congresso não apresentasse um plano factível de longo prazo" para reduzir o déficit, disse no relatório o economista da Merrill Ethan Harris.
"Assim, esperamos pelo menos um rebaixamento de classificação no fim de novembro ou início de dezembro", acrescentou.
A comissão do Congresso formada para tratar do déficit precisa superar o impasse e chegar a um acordo até 23 de novembro. Sem ele, haverá um corte automático de gastos de 1,2 trilhão de dólares, a partir de 2013.
Esses cortes serão mais um peso sobre a já frágil economia dos Estados Unidos, segundo a Merrill. No mesmo relatório, o banco reduziu suas previsões de crescimento dos EUA para 1,8 por cento em 2012 e 1,4 por cento em 2013.
 

Deu errado

Nas Entrelinhas - Alon Feuerwerker
Correio Braziliense - 24/10/2011
A ideia de terceirizar serviços públicos para organizações não governamentais pode ter sido movida a boas intenções, mas deu errado. Transformou-se em ralo para drenar dinheiro público e reforçar maus hábitos na política

As ONGs (organizações não governamentais) estão em xeque. A cada novo episódio de rolo com dinheiro público revela-se a deformação de um mecanismo nascido benigno: transferir recursos oficiais para as ONGs executarem ações complementares às do Estado.
Os fatos reforçam a atualidade do velho ditado de que as boas intenções lotam o inferno. A intenção na origem era boa. Comparadas à máquina estatal, as ONGs ganham em agilidade e foco, permitem a mobilização rápida e flexível de conhecimentos específicos indispensáveis.
Essa é a teoria. Na prática, o universo das ONGs é fonte recorrente de notícias sobre irregularidades e desvios.
Pululam as maneiras espertas de contornar normas e regulamentos, os expedientes para prevalecer o interesse privado e espúrio sobre o público. É sempre complicado generalizar, mas o número de casos nebulosos e escândalos permite o diagnóstico de um problema sistêmico.
Pode-se argumentar que o modelo é bom, que os problemas devem ser tratados como tal, que generalizar é perigoso e injusto, que os erros não devem servir de pretexto para condenar o sistema como um todo.
É uma argumentação razoável, desde que venha acompanhada da proposta de solução. Qual é então o remédio para extirpar os focos de problema?
Uma estrutura de vigilância capaz de controlar a destinação do dinheiro público que vai para as ONGs? Aí seria o absurdo ao quadrado.
Pode-se imaginar qual deveria ser o tamanho dessa estrutura para funcionar a contento. Para monitorar milhares de ONGs sem deixar espaço ao malfeito. Ou pelo menos para minimizar o risco.
Provavelmente seria uma máquina gigantesca, uma megaburocracia para corrigir uma estrutura cujo objetivo inicial era fugir da burocracia. Aí não dá.
E por que não submeter então as ONGs às mesmas regras rígidas aplicáveis à despesa pública propriamente dita? Nas compras e contratações, para evitar que a maior flexibilidade abra portas e janelas ao erro.
Bem, nesse caso a pergunta é imediata. Para que então as ONGs? Por que não fazer a coisa por meio do Estado e ponto final?
É um beco sem saída. Na verdade, o impasse é produto de uma deformação estrutural. De um antagonismo conceitual.
As organizações não governamentais surgiram como novidade para dar expressão à sociedade civil, às novas formas de protagonismo, às correntes sociais à margem dos partidos políticos, do Estado e das instituições tradicionais.
Eram novos atores, organizados para inocular vida à fossilizada política institucional, um oxigênio muito bem vindo.
Finalmente, a política deixaria de ser monopólio dos profissionais e as demandas coletivas teriam novos canais de expressão.
Mas, para que fosse efetivamente assim, um detalhe seria imprescindível. As ONGs deveriam buscar os meios de sobrevivência na sociedade, e não no Estado. Mas simplesmente não aconteceu.
Na prática, os governos, partidos e políticos acabaram tecendo cada um sua rede-satélite de ONGs, financiada com os recursos da atividade político-estatal e orientada a facilitar a reprodução do poder de quem a sustenta.
Bem ao contrário do que deveria ser. E quando uma boa ideia resulta no contrário da intenção original, está na hora de avaliá-la com rigor e tomar providências.
Sem comércio
A eleição argentina de ontem teve um detalhe que merece ser olhado com carinho por aqui. O tempo igual de televisão para os candidatos.
Não se trata de simplesmente copiar, mas de pelo menos refletir sobre. O tempo de tevê nas eleições brasileiras acabou virando só um comércio.
Um foco de parasitismo, chantagem e rolos financeiros.
Soluções há. Uma é impedir que o partido transfira o tempo a outro. Não quis lançar candidato próprio? Seu tempo será repartido entre os demais.
O que não dá, assim como no caso das ONGs, é continuar como está.

Jogo da Rodada II

O Jogo da Rodada II é o Inter e Corinthians que ocorreu no Beira Rio. Por atuar fora de casa e com um jogador a menos na maior parte do jogo e principalmente pela forma como foi o gol, com falha do goleiro, o Corinthians deve comemorar o empate.
O Timão veio com seu esquema tradicional, o 4-2-3-1, com Ralf e Paulinho na contenção; Willian, Alex e Danilo na linha de três meias com Danilo a esquerda e Alex pelo meio e o "Levezinho" Liédson a frente.
O Inter veio com esquema semelhante com Bolatti e Guiñazu de volantes, Andrezinho a esquerda, D'Ale ao centro e Oscar a direita; Jô no ataque.
O alvinegro começou melhor o jogo, marcando a saída de bola e congestionando o meio campo. O Inter não conseguia articular as jogadas, perdendo as bolas e proporcionando contra-ataques do adversário. Contudo, logo antes do meio da primeira etapa o Inter já havia se tornado melhor no jogo. Parece que esquema encaixou e os meias, sobretudo D'Alessandro conseguia jogar e fazer o jogo fluir. Andrezinho e Oscar também articulavam e davam suas escapadas pelos lados de campo. Tão semelhante os esquemas das equipes eram que da mesma forma que Paulinho, Bolatti também tinha liberdade e com frequência aparecia como elemento surpresa no ataque colorado.
O fator de desequilíbrio foi a expulsão do lateral dos paulistas. Se antes disso o Inter já havia perdido gols a partir daí o domínio colorado se intensificou.
No intervalo Dorival promoveu uma substituição para aproveitar a vantagem numérica, saindo Bolatti e entrando João Bravo, para jogar a frente de Guiñazu ao invés de ao lado com a função de auxiliar D'Alessandro na armação e aparecer na frente. Em seguida Ilsinho, que joga pelo mesmo lado de campo, substituiu Oscar. Como é um jogador mais agudo e menos cerebral que Oscar, Ilsinho entrou para dar mais gás a equipe do Sul do Brasil. Pelo lado do Corinthians Weldinho recompôs a zaga no lugar de Willian e depois Jorge Henrique entrou no lugar do "Levezinho", que voltando de contusão estava visivelmente fora de ritmo, com Jorge podendo além de marcar bem contragolpear em velocidade.
O Inter dominava as ações e desperdiçava as oportunidades que tinha. D'Alessandro, se mantiver a regularidade, pode levar os colorados mais acima na tabela e o elenco do Inter é muito bom. Leandro Damião faz muita falta para empurrar a bola para dentro. Jô, o atacante que jogou, apesar de meio desengonçado é bom jogador, forte, bom cabeceio, mas precisa de mais tempo para se adaptar e não creio que renda muito jogando pela esquerda ou direita na linha de três meias como vinha sendo escalado.
Pelo lado dos paulistas é preciso dar mais tempo de recuperação a Liédson, que já a algum tempo joga no sacrifício. Alex a meu ver deveria atuar na esquerda e aproximando-se de Danilo que, pelo meio, rende muito mais. Nos momentos de inversão o que pode ocorrer é Danilo aparecer como falso 9, como já fez em outros jogos, mesmo o Corithians com um atacante de ofício, e abrir espaço para Alex armar pelo meio.
Outro ponto muito interessante, houve muito ruído quando Tite barrou Chicão no Corinthians. Muito chegou-se a dizer sobre a possível traição de Tite ao jogador que mais o defendia perante a torcida, mas do meu ponto de vista não tem nada a ver o "c... com a calças". Ele deve primar pela melhor formação da equipe e se ele julga sacar algum jogador, pode ser o capitão, pode ser o papa, o treinador tem não só o direito como o dever de fazer. Agora, como a decisão se mostrou acertada, os críticos calam-se ou evocam outras questões.
Falar é fácil demais!
Punido no fim, o Inter viu dois pontos escapulirem entre os dedos e justamente com gol de um ex-craque seu, Alex. O habilidoso meia, liberado por Tite para jodar mais avançado com a saída de Liédson, cavou a expulsão do D'Ale e converteu a falta em gol para desespero dos colorados.
O Corinthians tá no páreo do título. Para o Inter só resta brigar pela libertadores.
Abraços galera!!

domingo, 23 de outubro de 2011

Jogo da Rodada I

O primeiro jogo da rodada de hoje é o derby da cidade de Manchester: os "red devils" (United) contra os "sky blues" (City).
O título poderia bem ser goleada histórica. Após quase 1 ano e meio sem sequer empatar nos seus domínios o Old Trafford  "O Teatro dos Sonhos". O United viu sua invecibilidade ser pulverizada pelos rivais por 6X1.
O reds jogam no 4-4-1-1 com Anderson e Fletcher, Alback na esquerda e Nani na direita . Na frente Rooney fazendo e ligação e Ashley Young na frente.
Os sky vieram armados por Mancini com um um 4-4-2 clássico, com uma linha de quatro no meio campo com Yaya e Barry pelo meio, Silva pela direita e Milner pela esquerda, "Super Mário" e Kun Aguero na frente.

O United não conseguiu suplantar o miolo de zaga dos blues. Apesar de começarem bem, os reds não conseguiam articular as jogadas pelos flancos e afunilando as jogadas ocorreu o que ocorre com uma bola batida na parede, bate e volta. Com Rooney pouco inspirado e Chicharito no banco o United viu o City tomar conta do jogo aos poucos.
David Silva dá o tom do meio campo do City. Ele é o cérebro da equipe, é quem pensa o jogo, marca, organiza e distribui a bola para o ataque, além de atacar claro. Cai pelos dois lados e pelo centro, a depender do jogo, da opção do técnico e da escalação da equipe. Nesse jogo, apesar de postar-se mais na esquerda, Silva circulou por toda intermediária adversária e também pela direita do seu ataque, onde saíram ótimos lances quando encostou no veloz Milner. Junto com ele um dos irmãos Toure, Yaya, traz técnica aliada a força no meio e chega com potência no ataque. Pela direita Milner deu uma canseira danada na zaga do United.
A expulsão do zagueiro Evans fez toda a diferença no jogo, apesar do City já estar vencendo e melhor no jogo antes disso. Ferguson tentou algo arrojado, mas que lhe custou a goleada. Tirou Anderson e Nani, recompôs a zaga e colocou Chicharito no comando de ataque, puxando Ashley Young para o lugar de Nani e, pasmem, Rooney para a cabeça diaria.
Com a zaga mal protegida por uma frágil linha de quatro jogadores de marcação o que se viu foi um baile de contra-ataques dos sky, contra uma defesa que pouco podia fazer contra Silva e Toure jogando como gostam e Balotelli em dia inspirado.
Pior para o United que sofre o maior revés contra o rival municipal em todos os tempos.
Essa goleada sem dúvida põe o Manchester City no seleto grupo dos times grandes do futebol inglês e porque não da Europa.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Os cavalos correm

Nas Entrelinhas - Alon Feuerwerker
Correio Braziliense - 21/10/2011
Quase um ano depois da eclosão tunisiana, comprova-se: o melhor que as potências tinham a fazer era tentar pegar a onda. E parecem ter apostado nos cavalos certos. Pelo menos os cavalos delas continuam correndo

Saddam Hussein foi arrancado da toca por soldados dos Estados Unidos para acabar morto na forca após um julgamento organizado pelos iraquianos. Muamar Kadafi nem sequer conseguiu receber o ritual do colega mesopotâmico: acabou sumariamente eliminado na captura.
Talvez por ter sido capturado pelos compatriotas, e não por forças estrangeiras.
Nem lhe deram o direito a um simulacro de julgamento, daqueles rápidos, tipo o oferecido a Nicolae Ceausescu. O destino foi buscar Kadafi ali mesmo. Sem misericórdia.
Dirão, com certa dose de razão, que o líbio recebeu o tratamento que provavelmente dispensaria a um inimigo em situação similar.
E a página foi virada.
Ter o fim de Muamar Kadafi é o risco dos líderes empenhados em fundir sua pessoa e as instituições. Reduzem muito a chance de sobrevivência física fora do poder.
A mudança política acaba exigindo a eliminação de quem personifica o Estado. Para marcar a passagem a uma nova era.
E para evitar a perpetuação de um conflito entre polos irreconciliáveis. A coisa mudou pouco desde os primórdios da humanidade. Para subjugar uma tribo é necessário neutralizar seu chefe. De uma maneira ou de outra.
Há situações nas quais é possível fazer a transição com o líder vivo, e um bom exemplo foi a "humanização" do imperador japonês no desfecho da Segunda Guerra Mundial.
Mas em geral não dá. Mostrar a cabeça cortada do comandante adversário continua sendo a maneira mais eficaz de convencer os seguidores dele à rendição.
É provável que Kadafi soubesse do risco de acabar sumariamente eliminado, e talvez por isso tenha prometido lá atrás caçar os adversários de casa em casa. Para ele foi sempre um jogo de tudo ou nada.
Ou eles, ou ele.
O poder absoluto tem disso. Ainda mais quando se transforma em cleptocracia hereditária. Não espanta que desencadeie, na contracorrente, uma violência igual, de sinal trocado.
Violência já descrita um dia como a parteira da História. Constatação cuja atualidade as revoluções árabes mostram todos os dias.
A próxima parada do trem é na estação de Damasco, se a composição não acabar desviada para o Iêmen. Mas a ordem das estações é o de menos.
A partir do momento em que optou por — ou foi forçado pelos apoiadores a — reprimir sanguinariamente os compatriotas, Bashar al Assad contratou para si um destino pouco glorioso.
A dúvida é se terminará caçado em algum buraco ou se vai correr antes para um braço amigo. Como fez o líder da Tunísia. Nessa escolha, o problema de Assad — ou um dos problemas — talvez seja a escassez de amigos.
Firmes mesmo com ele, nesta altura, só o Irã e o Hezbollah.
Quem vai bem, nas circunstâncias, é o chamado Ocidente. Cujo inevitável fracasso na abordagem das revoltas árabes foi previsto, como diria Mark Twain, talvez um pouco cedo demais.
Quase um ano depois da eclosão tunisiana, comprova-se: o melhor que as potências tinham a fazer era tentar pegar a onda. E parecem ter apostado nos cavalos certos. Pelo menos os cavalos delas estão correndo.
Enquanto outros já foram sacrificados.
O mundo árabe vive seu terceiro ciclo de rupturas em menos de um século. Começou com a queda do Império Otomano ao fim da Primeira Guerra Mundial (1914-18) e a formação de monarquias absolutistas patrocinadas pelo colonialismo.
Um modelo que entrou em colapso após a Segunda Guerra Mundial (1939-45) com a descolonização. Em boa parte dos países árabes os monarcas foram substituídos por oficiais nacionalistas, com tintas de socialismo.
Agora a História faz a nova varrição. E quem vem por aí? A única força alternativa organizada ali e dotada de visão de mundo com começo, meio e fim: o Islã.
O mundo precisará conformar-se com a ascensão do Islã naquele pedaço. Na hipótese otimista, será um Islã democrático. Na pessimista, degenerará em novas tiranias, que conduzirão aqueles povos a novos fracassos.
Mas é um debate até certo ponto vazio de significado prático. O que tiver que ser, será. Isso foi bem compreendido pelos profissionais em Washington, Londres, Paris, Roma.
Gente que por dever de ofício precisa prestar mais atenção à defesa dos seus interesses materiais que às próprias idiossincrasias.