terça-feira, 30 de outubro de 2012

As gerações perdidas

Autor(es): Jeffrey D. Sachs
Valor Econômico - 30/10/2012
 

O sucesso econômico de um país depende do ensino, capacitação e saúde de sua população. Quando a população jovem é saudável e dispõe de boas escolas, pode encontrar emprego, dignidade e ser bem-sucedida na adaptação às flutuações do mercado de trabalho mundial. As empresas investem mais, sabendo que seus funcionários serão produtivos. Muitas sociedades pelo mundo, no entanto, não cumprem a tarefa de assegurar assistência médica básica e ensino satisfatório para cada nova geração de crianças que surge.
Por que essa tarefa de proporcionar ensino não é cumprida em tantos países? Alguns, simplesmente, são pobres demais para oferecer escolas razoáveis. Os próprios pais podem não ter gozado do ensino adequado, o que os deixa incapazes de ajudar os filhos além do primeiro ou segundo ano de escolaridade, de forma que o analfabetismo e falta de conhecimento matemático básico são transmitidos de uma geração à outra. A situação é mais complicada em grandes famílias (de seis ou sete filhos), porque os pais investem pouco na saúde, nutrição e ensino de cada filho.
Os países ricos, no entanto, também fracassam na tarefa. Os Estados Unidos, por exemplo, permitem cruelmente o sofrimento das crianças mais pobres. As populações pobres vivem em bairro pobres, com escolas pobres. Os pais frequentemente estão desempregados, doentes, divorciados ou até presos. As crianças ficam presas em um contínuo ciclo geracional de pobreza, apesar da afluência da sociedade em geral. Com demasiada frequência, as crianças que crescem na pobreza acabam tornando-se adultos também pobres.
Os EUA estão quase com o pior grau de mobilidade social entre os países de alta renda. As crianças pobres provavelmente continuarão pobres; as crianças nascidas ricas provavelmente serão adultos ricos. Essa imobilidade equivale a um profundo desperdício de talentos humanos.
Um notável novo documentário, "The House I Live In" (a casa onde moro, em inglês), mostra que a história dos EUA, em consequência de políticas desastrosas, é ainda mais triste e cruel do que essa. Há cerca de 40 anos os políticos americanos declararam uma "guerra às drogas", aparentemente para combater o uso de cocaína e outras drogas causadoras de dependência. Como o filme mostra claramente, contudo, a guerra às drogas tornou-se uma guerra contra os pobres, especialmente os de grupos minoritários pobres.
De fato, a guerra contra as drogas levou ao aprisionamento em massa da população jovem, masculina e pertencente a minorias. Atualmente, há 2,3 milhões de pessoas presas* nos EUA, sendo que um número substancial é de pobres que foram presos por vender drogas para sustentar seu próprio vício. Como resultado, os EUA possuem o maior índice de aprisionamento - alarmantes 743 presos para cada 100 mil pessoas!
O filme descreve um mundo de pesadelo, em que a pobreza de uma geração é passada para a seguinte, com a cruel, dispendiosa e ineficiente "guerra às drogas" facilitando o processo. Pessoas pobres, frequentemente afro-americanas, não conseguem encontrar empregos ou voltam do serviço militar sem capacitação ou contatos profissionais. Caem na pobreza e voltam-se para as drogas.
Em vez de receber assistência social e médica, são presos e transformados em criminosos. A partir daí, passam a entrar e sair do sistema prisional e têm poucas chances de alguma vez vir a conseguir um emprego legal que lhes permita sair da pobreza. Suas crianças crescem sem um pai em casa - e sem esperança e apoio. As crianças de usuários de drogas muitas vezes também se transformam, elas próprias, em usuárias; elas também frequentemente acabam na cadeia ou sofrem violências ou mortes precoces.
O mais insano em tudo isso é que os EUA não perceberam o óbvio - e por 40 anos. Para quebrar o ciclo de pobreza, um país precisa investir no futuro das crianças, não na prisão de 2,3 milhões de pessoas, muitas por crimes não violentos, sintomas de pobreza.
Muitos políticos são cúmplices dessa insanidade. Brincam com os medos da classe média, especialmente com o medo da classe média diante de grupos minoritários, para perpetuar esse mau direcionamento dos esforços sociais e dos gastos governamentais.
O ponto central é o seguinte: os governos têm um papel singular a desempenhar para assegurar que todos os jovens de uma geração - tanto as crianças pobres como as ricas - tenham oportunidades. Uma criança pobre dificilmente sairá da pobreza vivida por seu pai ou mãe sem programas governamentais fortes e eficientes que apoiem um ensino de alta qualidade, assistência médica e nutrição satisfatória.
Essa é a genialidade da "social-democracia", filosofia em que Escandinávia foi pioneira, mas que também foi adotada em muitos países em desenvolvimento, como a Costa Rica. A ideia é simples e forte: todas as pessoas merecem uma oportunidade e a sociedade precisa ajudar todos a ter essa oportunidade. Ainda mais importante, as famílias precisam de ajuda para criar crianças saudáveis, bem nutridas e escolarizadas. Os investimentos sociais são altos, financiados por impostos elevados, que os ricos pagam de verdade, em vez de driblá-los.
Esse é o método básico para interromper a transmissão intergeracional de pobreza. Uma criança pobre na Suécia tem benefícios desde o começo. Os pais da criança têm garantia de licença maternidade/paternidade para ajudar a criar o filho. O governo, então, oferece creches de alta qualidade, possibilitando à mãe - sabendo que o filho está em um ambiente seguro - voltar a trabalhar. O governo assegura que todas as crianças tenham vaga em pré-escolas, para que estejam prontas para entrar na escola formal a partir dos seis anos. E a assistência médica é universal, para que a criança possa crescer saudável.
A comparação entre EUA e Suécia é, portanto, reveladora. A partir de dados e definições comparáveis fornecidos pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), os EUA têm um índice de pobreza de 17,3%, quase o dobro do observado na Suécia, de 8,4%. O índice de aprisionamento é dez vezes maior que o da Suécia, de 70 presos a cada 100 mil. Os EUA são mais ricos, na média, do que a Suécia, mas a diferença de renda entre os mais ricos e os mais pobres nos EUA é amplamente maior do que na Suécia. E os EUA tratam seus pobres de forma punitiva, em vez de apoiá-los.
Uma das chocantes realidades dos últimos anos é que os EUA estão quase com o pior grau de mobilidade social entre os países de alta renda. As crianças pobres provavelmente continuarão pobres; as crianças nascidas ricas provavelmente serão adultos ricos.
Essa imobilidade intergeracional equivale a um profundo desperdício de talentos humanos. Os EUA pagarão o preço no longo prazo a menos que mudem de rumo. Investir nas crianças e jovens traz o mais elevado dos retornos que uma sociedade pode almejar, tanto em termos econômicos como humanos. (Tradução de Sabino Ahumada)
* 1.usa.gov/TQelyy
Jeffrey D. Sachs é professor de economia e diretor do Instituto Terra, da Columbia University. É também assessor especial do secretário-geral das Nações Unidas no tema das Metas de Desenvolvimento do Milênio.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Emergentes precisam derrubar tabus

Autor(es): Manoj Pradhan
Valor Econômico - 25/10/2012
 

Mesmo com todo o mistério que a atual transição política da China está revelando ser, a nuvem de incerteza sobre o rumo da sua economia é ainda mais intrigante. A necessidade de reequilíbrio agora é algo conhecido universalmente. As necessidades de crescimento da China1 precisam ser guiadas pelo consumo. De fato, o crescimento dos países emergentes em geral precisa vir de fontes mais sustentáveis (e, portanto, domésticas). Bem menos conhecidos, são os três dilemas que esse reequilíbrio levantará.
Primeiro, o dilema que a China enfrentará: essa orientação ao consumo2 poderia aumentar o custo do capital para investimentos, em um momento no qual o investimento é necessário para a urbanização e para lidar com as mudanças demográficas. Por quê? Um consumo maior significa que as famílias terão de economizar menos. A poupança das famílias chinesas, no entanto, representa uma fonte cativa e barata de capital, graças aos juros dos bancos comerciais, que em termos reais giram em torno a zero.
Para encontrar um melhor retorno sobre o investimento, o capital terá de mover-se para o interior da China, que é a chave para a próxima fase de crescimento da China. Caso uma parte da mão de obra que migrou para a China litorânea siga o capital e volte ao interior, o resultado vai ser uma pressão prolongada de alta nos salários no litoral - boas notícias para o consumo, más notícias para o investimento. À medida que os fatores demográficos mudarem, vai ser necessário um maior investimento em tecnologias que economizem mão de obra, para produzir mais com menos funcionários e para sustentar um número crescente de dependentes.
Segundo, o dilema que os países emergentes enfrentarão: provavelmente há uma relação de troca entre incentivar o crescimento no curto prazo e buscar as reformas que incentivarão o crescimento de longo prazo. A maioria das economias de países emergentes3 tem espaço para afrouxamento monetário e a maioria também tem espaço de manobra fiscal. Valer-se de um afrouxamento generalizado, no entanto, tende a (temporariamente) revigorar o modelo atual. Em 2009, a China elevou os investimentos, a Índia elevou seu consumo e os exportadores de commodities tornaram-se ainda mais dependentes das commodities - o que deixou essas economias em desequilíbrio ainda maior. Os países emergentes precisam resistir a esse impulso.
Terceiro, o dilema que o modelo de crescimento dos países emergentes vai enfrentar: que não haja disponibilidade de demanda externa, com a ressalva de que adotar uma estratégia voltada à demanda doméstica também traz riscos, como explicado em artigo de Dani Rodrik, de Harvard. O setor industrial em uma economia de mercado emergente, mostra o professor Rodrik, é justamente o setor que pode convergir em direção a seu homólogo4 em economias avançadas. Se o crescimento baseado em exportações é coisa do passado, então, é improvável que o setor industrial cresça rapidamente, o que deixa em risco a equiparação com as economias avançadas. Os países emergentes, então, se veem presos entre a incerteza em torno da demanda externa e entre o risco à convergência do setor industrial, decorrente do crescimento baseado na demanda doméstica.
Há alguma solução para restaurar o crescimento? Pode haver. Para levá-la adiante, no entanto, as autoridades dos países emergentes precisarão derrubar alguns de seus tabus. Primeiro, a política industrial, não a política macroeconômica, precisa ser a pedra angular da iniciativa de reequilíbrio. A macroeconômica pode beneficiar todos, mas não pode redirecionar recursos dentro de uma economia com a eficiência que a política industrial teria. A limitação é que a política industrial depende da capacidade das autoridades para escolher os investimentos "certos".
Segundo, as oportunidades geradas pela política industrial deveriam ser financiadas, em sua forma ideal, via déficits em conta corrente. Captar dinheiro das economias avançadas para financiar investimentos com os altos retornos que só as economias de países emergentes podem oferecer é algo natural; exportar o excesso de poupança para as economias avançadas em troca de retornos parcos, não.
Por fim, esses déficits em conta corrente (se tolerados pelos motivos corretos) não deveriam ser vistos como fator de agravamento da estabilidade macroeconômica. O que parece ligar a vulnerabilidade macroeconômica aos atuais déficits em conta corrente é apenas a experiência passada. Essa é uma visão muito simplista, em um mundo no qual as economias com déficits em conta corrente possuem reservas internacionais substanciais, enquanto economias superavitárias possuem necessidades de captação externa considerável. A macroestabilidade5 decorre do crescimento sustentado - nem mais nem menos.
Nem tudo, no entanto, é pessimista. Há garantia de certo otimismo moderado. As reformas da Índia e México, algumas reformas no Brasil e a rejeição de um orçamento insuficientemente reformista do presidente Vladimir Putin na Rússia são bons sinais, embora a aplicação de fato dessas mudanças continue sendo uma preocupação-chave. Além disso, o que o modelo do professor Rodrik não captura é motor de longo prazo de equiparação com as economias avançadas - as melhorias socioeconômicas. Por essa métrica, ainda há espaço de sobra para convergência, mas os países emergentes vão precisar, primeiramente, destrinchar os empecilhos a seu crescimento, para que esses programas de melhoria socioeconômica possam ser financiados. Tudo isso, entretanto, será de pouco alívio até que o mistério em torno da transição política e econômica da China seja esclarecido. (Tradução de Sabino Ahumada).
Manoj Pradhan é economista especializado em países emergentes no Morgan Stanley.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Crescimento sem mudança estrutural?

Autor(es): José Luis Oreiro
Valor Econômico - 23/10/2012
 

Nos últimos dois meses se observou um certo aumento, ainda que tímido, do otimismo com respeito à perspectiva de crescimento da economia para o ano de 2013. Com efeito, os dados mais recentes parecem sugerir uma retomada do crescimento da produção industrial, condição sine qua non para a obtenção de taxas de crescimento mais robustas para o Produto Interno Bruto (PIB).
A partir dos dados da média móvel dos últimos 12 meses da produção física da indústria de transformação (figura), a tendência polinomial (ordem 6) da série de tempo sugere que o ciclo mais recente de queda da produção industrial está se esgotando, e o cenário mais provável para os próximos meses é de expansão do quantum produzido.
A equipe econômica do governo tem utilizado os dados mais recentes da produção industrial para alardear o retorno da economia brasileira a uma trajetória de crescimento acelerado a partir de 2013. Comenta-se que a economia brasileira voltará a crescer a uma taxa entre 4% a 4,5% ao ano de forma sustentada e sem pressões inflacionárias relevantes. Sendo assim, o Brasil retornaria ao padrão de crescimento vigente durante a "era Lula", afastando assim o risco de um retorno ao padrão de crescimento do tipo "voo da galinha", vigente durante o período FHC.
Ciclo de queda da produção industrial está se esgotando. Expansão é o cenário para os próximos meses
Não compartilho do otimismo da equipe econômica do governo. Isso porque a obtenção de uma taxa de crescimento entre 4% a 4,5% ao ano de forma sustentada, sem a ciclotimia do "stop-and-go", requer não apenas a adoção de medidas anticíclicas como tem sido feito pela equipe econômica, mas a adoção de um conjunto de medidas de política econômica que permitam a ocorrência de uma mudança estrutural na economia brasileira. Mais especificamente, o crescimento acelerado e sustentado do PIB exige a reindustrialização da economia brasileira.
No início do governo Lula em 2003, a economia brasileira apresentava uma taxa de desemprego próxima a 12% da força de trabalho. Nessas condições, o PIB pode crescer durante vários anos a uma taxa superior ao limite dado pela soma da taxa de crescimento da população e a taxa de crescimento da produtividade do trabalho, soma esta denominada de "taxa natural de crescimento" pelo economista britânico R. F. Harrod. Enquanto existir um "exército industrial de reserva", o crescimento do PIB a uma taxa superior a natural não irá pressionar o mercado de trabalho a ponto de induzir o surgimento da espiral salários-preços. Nesse contexto, a economia poderá crescer de forma acelerada, sem pressões inflacionárias relevantes.
Entre 2003 e 2010, a taxa de desemprego caiu de 12% para cerca de 5% da força de trabalho enquanto o crescimento da economia se acelerava de 2,5% ao ano (média FHC) para cerca de 4% ao ano (média Lula). A redução do desemprego acompanhada por aceleração do crescimento é sinal claro que, durante a era Lula, a taxa de crescimento do PIB foi maior do que a natural.
Mas qual seria o valor da taxa natural de crescimento da economia brasileira? A taxa de crescimento da população encontra-se atualmente em torno de 1,3% ao ano. Essa taxa pode ser considerada como uma variável exógena e, dentro de certos limites, independente da performance da economia. A taxa de crescimento da produtividade do trabalho na economia como um todo é uma variável endógena que depende, em grande medida, da taxa de crescimento da produtividade do trabalho no setor industrial. Esta, por sua vez, depende da taxa de crescimento da produção industrial com base na assim chamada "lei de Kaldor-Verdoorn". Segundo estimativas de Nassif, Feijó e Araujo (2012)1 o coeficiente de KV para a indústria brasileira no período 1990-2010 é 0,521. Sendo assim, se considerarmos um cenário no qual a participação da indústria no PIB se mantém constante ao longo do tempo - de tal forma que a taxa de crescimento do PIB seja igual a taxa de crescimento da produção da indústria - e que a taxa de crescimento da produtividade do trabalho no setor não industrial é igual a taxa de crescimento da produtividade do trabalho na indústria; então a taxa natural de crescimento (g) será dada por g = 0,0272, ou seja, 2,7% ao ano!!!
Esses números apontam para a ideia de que um crescimento sustentado a taxas robustas da economia brasileira não é possível sem mudança estrutural. Em outras palavras, a produção física da indústria terá que crescer a uma taxa maior do que o PIB (ou seja, a participação da indústria no PIB deverá aumentar) para que a aceleração resultante do ritmo de crescimento da produtividade do trabalho, na indústria e fora dela, viabilize um aumento da taxa natural de crescimento da economia brasileira.
Em suma, a retomada do crescimento a taxas robustas e de forma sustentada ao longo do tempo exige um aumento da participação da indústria no PIB, ou seja, a reindustrialização da economia brasileira. Sem mudança estrutural a economia brasileira estará condenada a repetir a ciclotimia do "voo da galinha" vigente durante a era FHC.
1 Nassif, A; Feijó, C; Araujo, E. (2012). "Structural Change and Economic Development: is Brazil catching up or falling behind?". Anais do V Encontro Internacional da Associação Keynesiana Brasileira.

domingo, 21 de outubro de 2012

O que REALMENTE acontece quando mais de 50% dos votos são nulos!!!

Município de Sergipe pode ter nova eleição para prefeito

A eleição para prefeito em aproximadamente 90 cidades não terminou com a coleta e contagem de votos em 7 de outubro.
Levantamento do Congresso em Foco, com base em dados divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), aponta que pelo menos 87 municípios, espalhados por 23 estados, correm o risco de ter um novo pleito. Isso por causa do alto número de votos anulados na corrida para as prefeituras.
Em Sergipe, o município de Aquidabã pode ter nova eleição.
No município, foram anulados 51,04% dos votos.
O resultado final ainda depende de julgamento no Tribunal Superior Eleitoral.

por NE NOTÍCIAS, da redação

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

O cachimbo que entorta a boca

Autor(es): Miguel Jorge
Valor Econômico - 15/10/2012

A propósito da política de proteção da indústria brasileira, que a presidente Dilma Rousseff acaba de defender em discurso na ONU, algumas considerações parecem, no mínimo, oportunas. À parte a discussão sobre se o Brasil é protecionista ou pratica "iniciativas legítimas de defesa comercial", como definiu a presidente, a questão central é que nossa indústria tem baixa competitividade.
Isso, não somente por questões cambiais, mas por fatores estruturais, entre os quais estão, de um lado, a alta carga tributária, a péssima qualidade da infraestrutura, a baixa produtividade da mão de obra e os custos do trabalho e de financiamento. São os explosivos ingredientes do chamado "custo Brasil", que torna nossa produção mais cara do que em outros países e potencializa os problemas de baixa competitividade.
Mas, de outro lado, é preciso não perder de vista o fato de que o setor tem uma péssima herança dos tempos de mercado fechado e protegido. Dos anos 1970 até 1990, era proibido importar tudo e esse gigantesco protecionismo garantiu à indústria uma enorme zona de conforto, que não exigiu modernização, uma vez que não havia concorrência externa e se dispunha de um grande mercado interno.
Quando o protecionismo prevalece, as indústrias tendem a se acomodar e deixam de investir em modernização
Desse período, o país herdou uma indústria automotiva sucateada até os anos 1990, o atraso tecnológico decorrente da Política Nacional de Informática dos anos 1970 e um passado de hiperinflação, até hoje na memória da população adulta. Resumindo: as restrições impostas aos produtos importados na fase protecionista retardaram o desenvolvimento empresarial no Brasil.
A partir do fortalecimento do real e da abertura da economia às importações, ficaram evidentes as graves deficiências produtivas de uma relevante parcela das indústrias. A abertura econômica teve impacto modernizante em alguns setores, que registraram importantes avanços tecnológicos, mas grande parte das indústrias ficou menos competitiva por várias razões e uma delas decorre, exatamente, da zona de conforto gerada pelo excesso de protecionismo.
Não por acaso, costuma-se dizer que o uso do cachimbo entorta a boca.
Quando o protecionismo prevalece, as indústrias tendem a se acomodar e deixam de investir em modernização, tecnologia e produtividade. Em vez de oferecer produtos de qualidade internacional, trabalham com custos altos e produtos ruins, comparativamente aos internacionais. Resultado: ineficiência em vez de produtividade, conspirando contra o crescimento do país.
A verdade é que continuamos pouco afeitos à competição e o governo, ao trilhar o caminho do protecionismo (ou das "iniciativas legítimas de defesa comercial", como diz a presidente), pouco tem feito para reverter este cenário.
Vale lembrar algumas das medidas mais recentes, voltando há pouco mais de um ano, quando foi anunciado o decreto que aumentou em 30 pontos percentuais o IPI sobre veículos importados - e olhe que, isso para proteger uma indústria, toda multinacional, de importações de apenas 5,9% do total do mercado de automóveis!
De lá para cá, foram sobretaxados os tênis asiáticos de alta performance, impostos limites ao desembarque de carros mexicanos e continuam em análise pedidos de salvaguarda a diversos setores, como o têxtil e o de vinhos.
No início de setembro, o governo brasileiro anunciou a elevação das tarifas de importação de 100 produtos, entre eles pneus, químicos, móveis, petroquímicos e material de construção. A tarifa média de 12%, já bem acima da média mundial, passou para 25%. E outra lista, com mais uma centena de produtos, está sendo preparada para outubro.
Os aumentos ficam abaixo do teto de 35% estabelecido junto à OMC, mas em vários casos a restrição é duplicada, porque a "iniciativa legítima de defesa comercial" vale também para mercadorias já protegidas por medidas antidumping.
A curto prazo, a restrição aos importados funciona às mil maravilhas para os setores protegidos, mas prejudica os consumidores, pois a concorrência reduz o poder de monopólio das empresas locais, e por extensão, os preços. Em um prazo mais longo, no entanto, a proteção contra a competição dos importados desestimula a economia brasileira como um todo, além de reduzir a eficiência e a competitividade do país.
Não nos enganemos: a queda na produtividade reduz a capacidade de as empresas de absorverem aumentos de custos sem repassá-los aos preços. Se os salários aumentam mais que a inflação, como vem acontecendo, fica mais evidente ainda a necessidade de se aumentar a produtividade e a competitividade da indústria.
Para isso, não basta desvalorizar o real, baixar os juros ou adotar "iniciativas legítimas de defesa comercial", porque o crescimento da produtividade não se dá em um passe de mágica. Ao contrário, é uma construção realizada passo a passo, ao longo do tempo.
Essa construção exige investimentos em novas máquinas e equipamentos, que não apresentam cenário de retorno vantajoso no curto prazo, e na formação e treinamento da mão de obra, e exige redução dos vários impostos que estrangulam a produção. Também exige grandes investimentos em pesquisa tecnológica e em inovação.
A exposição à concorrência externa obriga nossas empresas a reduzirem custos, investir no processo de inovação e realizar alianças estratégicas. Essa busca de adequação aos padrões internacionais gera ganhos de qualidade e de produtividade, com reflexos na queda do nível geral de preços dos produtos. A concorrência internacional incentiva o desenvolvimento das empresas, gerando um nova dinâmica nas relações empresariais.
Veja-se o exemplo de nossa agricultura. Na última década, sua produtividade cresceu o dobro da média mundial, ou quatro por cento ao ano, segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O rendimento de algumas culturas, como milho, arroz e trigo, aumentou bem mais do que em países produtores tradicionais, como Estados Unidos, Canadá, Japão e Rússia.
A soja, por exemplo, é um caso de absoluto sucesso. Começou a se espalhar pelo Brasil, a partir do sul, ao longo dos anos 60, e hoje, graças a um forte avanço tecnológico, caminhamos para produzir oitenta milhões de toneladas e ser o maior exportador mundial.
O setor não se acomoda: seu desafio continua sendo explorar novos limites para garantir mais produtividade e sustentabilidade. E a indústria?
Miguel Jorge, jornalista, foi ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior no governo Lula (2007-2010).

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Proibido no Brasil, New Fiesta diesel vence maratona de economia de combustível

Legislação brasileira não permite o uso de motores a diesel em carros de passeio

Por Fabiana Pimentel 


SÃO PAULO - Um Ford New Fiesta acaba de vencer uma maratona de economia de combustível. O modelo é equipado com motor ECOnetic 1.6 TDCi a diesel.
De acordo com o resultado da "ALD Automotive/Shell FuelSave MPG Marathon", realizada na Inglaterra, o veículo atingiu a marca de 46,25 km/l em um percurso de 600 km.
Ford-Fiesta-Facelift_Salao de Paris O veículo venceu por uma diferença de 2,5 km/h em relação ao segundo colocado. O evento é realizado anualmente com a intenção de testar o consumo dos veículos de produção.
Resultado
O carro sofreu algumas alterações para ficar econômico, entre elas, melhorias na calibração, nas relações de transmissão e no sistema inteligente de recarga da bateria.
Outro fator que também contribuiu para a vitória do New Fiesta foi o sistema Start-Stop, que desliga o motor quando o carro está parado no trânsito e religa automaticamente quando o motorista tira o pé do freio.
Para a Ford, o resultado destaca a eficiência do motor diesel e como mostra a influência do modo de dirigir no rendimento de combustível. Em comparação com o consumo oficial de 36,39 km/l, no decorrer da prova o Fiesta ECOnetic teve um desempenho 27% mais econômico

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Eleições 2012 - João e Armando, Os Cavaleiros das Trevas Ressurgem - II

Com um pequeno atraso chega a coluna complementar sobre os eleitos das capitais do Estado.
Nesse post falaremos dos pontos que aproximam e dos que afastam Armando Batalha de João Alves.
Imagino que o 1º ponto e principal é a questão da "limpeza": Armando é "ficha-suja", enquanto João possui passe livre politicamente. São 2 carreiras conturbadas, mas a de Armando não se compara a de João.
O namorado da futura gestora de São Cristóvão possui uma história pra lá de conturbada. Reza a lenda que o mesmo chegou à velha cap sem nenhuma posse e lá trilhou um caminho de sucesso político e financeiro. Vereador, conseguiu alçar-se ao cargo de prefeito e lá permaneceu por 2 mandatos. Foi nessa época também, coincidência ou não, que seu patrimônio foi alavancado. Saiu do nada para virar um grande empresário. Segundo uma ex-esposa em entrevista a grande jornal grande parte de suas posses estão em nome de "testas-de-ferro", entre terrenos, aptos, casas, veículos, fazenda, pousada, postos de gasolina, entre outros bens difíceis de mapear. Tornou-se Deputado, mas não conseguiu concorrer a reeleição por conta de centenas de processos da época de prefeito. Muitas ações de improbidade administrativa, escandalos com relação a leilões, dinheiro da educação, saúde, licitações e mais uma boa quantidade de processos diversos por mau uso do erário. Curiosamente possui apenas, segundo declaração à justiça eleitoral, 2 casas e 1 veículo modelo Veraneio. Pobrezinho...
A seu favor muitos apontam sua capacidade política e um bom 1º mandato como prefeito. Resta apenas torcer para outro bom mandato, através da sua namorada.
João Alves possui uma história um pouco menos conturbada. É conhecido por muitos por ser um grande gestor e homem de trabalho. Engenheiro renomado, publicou diversos livros e na política esteve aliado fortemente a ditadura militar. Foi prefeito biônico de Aracaju e Governador do Estado por 3 mandatos, além de ter sido Ministro do Interior de José Sarney. Pesa contra ele algumas acusações de privilegiar sua construtora enquanto ocupante de cargo público, de mau uso do dinheiro público em obras "faraônicas" e projetos duvidosos no interior do Estado (Chapéu de Couro entre outros) característica notadamente da Ditadura e de problemas afins que desembocaram na prisão de parentes próximos pela Polícia Federal.
Como pontos positivos é reconhecido por ser um grande administrador público, com destaque na área de segurança e infraestrutura.
Mais um que vale torcer para que faça uma boa gestão.
É esperar para ver.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Favoritos ao Nobel de economia 2012

Os Favoritos para ganhar o Nobel de economia deste ano, que sai segunda próxima são:

Sir
Anthony B. Atkinson
Professor Pesquisador do Departamento de Economia
Universidade de Oxford,
Oxford, Inglaterra R.U.
Por estudos de desigualdade de renda e contribuições para o estado do bem-estar e economia do setor público
-e-
Angus Deaton S.
Professor de Relações Internacionais da
Dwight D. Eisenhower e professor de Economia e Assuntos Internacionais
Escola Woodrow Wilson
Princeton University
Princeton, New Jersey, EUA
Pela a pesquisa empírica sobre renda, consumo e poupança, pobreza e saúde e bem-estar.


Stephen A. Ross
Professor da
Franco Modigliani de Economia Financeira e Professor de Finanças
O MIT Sloan School of Management
Massachusetts Institute of Technology
Cambridge, Massachusetts, EUA
Por sua teoria de precificação de arbitragem e outras contribuições fundamentais para o financiamento.

Robert J. Shiller
Professor de Economia da Arthur M. Okun, da

Fundação para a Pesquisa em Economia
Cowles e Professor de Finanças
O Centro Internacional de Finanças
Universidade de Yale
New Haven, Connecticut, EUA
Por contribuições pioneiras à volatilidade do mercado financeiro e da dinâmica de preços de ativos.


Reuters, 2012 

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Eleições 2012 - João e Armando, Os Cavaleiros das Trevas Ressurgem

As eleições desse ano foram marcadas pela volta de velhas lideranças ao poder em 2 dos principais municípios de Sergipe. A 1º capital do Estado viu a esperta articulação de Armando Batalha, vencedor das eleições através de sua mulher, posta de última hora em seu lugar na candidatura, Rivanda Farias. João Alves venceu ainda no 1º turno em AracajuTown e retorna, como Armando, para sua 5º passagem em cargo eletivo.
Aparentemente 2 casos diferentes mas que no detalhe tem muito em comum.
No interior Armando aproveitou-se da falta de aliança adversária. Três candidatdos aparentemente dividiram o mesmo eleitorado (Wanderlê, Carlos Vilão e Betinho) e o fator que muitos apontavam como decisivo para a derrota dele no pleito anterior, o adversário único, dessa vez (a falta desse) o levou a vitória. A isso aliou-se a administração medíocre do prefeito atual. Na capital João aproveitou-se da falta de peso político do jovem Valadares. Faltou alguém mais cascudo para disputar com o octagenário político.
Em comum com Armando, além das 4 passagens por cargos eletivos, algo que deveria ser proibido diga-se de passagem, João também parece polarizar os votos de uma população desiludida. O eleitorado, nos parece, comporta-se como em um jogo de ping-pong, de um lado para o outro, polarizando a disputa entre a suposta esquerda de inclinações centristas representada por Marcelo Déda e a direita tradicional, encabeçada por João. Nesse momento as pessoas acusaram o insusesso do PT em Aju, trazendo João, um político historicamente rejeitado no interior, mas com boa aceitação na capital. Com Armando a coisa é parecida na questão mais geral: também ele foi beneficiado pelo insatisfação da população com o atual gestor municipal, que havia vencido o último pleito, justamente o qual Armando saiu derrotado, mas que desta vez soube capitalizar isso em seu favor.
Ou seja, o que se vê é o povo votando na oposição ciclicamente, seja ela quem for, alternando "velhas lideranças ultrapassadas" ou famílias no poder com apostas em "tábuas de salvação" quando as velhas lideranças se mostram desgastadas. Como dificilmente os gestores vão suprir as expectativas o povo então retorna frustado a opção anterior, trazendo mais do mesmo para a administração, até que surja alguém que seja carismático suficiente para ser catapultado ao status de liderança municipal ou mais, como foi o caso do atual governador.


Amanhã os ponto específicos que aproximam e afastam os candidatos vencedores de Aracaju e de São Cristóvão.

See you

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Defesa da Tese de Mestrado

A quem interessar possa: Defesa da tese de Mestrado "A Crise do Subprime, o Efeito-Contágio e os Mercados Imobiliários do Brasil e dos Estados Unidos". Terá lugar no NUPEC - UFS em frente a DiD. I e é aberto a comunidade, começando hoje às 20:30 hs.

Irracionalidade financeira: por que fazemos o que sabemos que é errado?

Especialistas explicam porque, apesar de conhecer a teoria, muitos não conseguem fazer o planejamento financeiro funcionar

Por Equipe InfoMoney 
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SÃO PAULO - Gastar menos do que ganha, evitar pagar contas em atraso, olhar taxas de juro, poupar, investir... Na teoria, falar de planejamento financeiro é bem fácil. No entanto, na prática nem sempre é assim.
Apesar de comprometido em elaborar um orçamento que pudesse ajudá-lo a entender melhor os seus gastos e, eventualmente, auxiliar no equilíbrio das contas, o jornalista Fernando Borri, de 22 anos, passou a organizar o seu orçamento com um planejamento financeiro em meados do ano passado. Apesar de colocar tudo no papel, as contas nunca fecham no final do mês.
irracionalidade financeira “O planejamento não funciona por minha causa mesmo”, se culpa Borri. “Preciso aprender a controlar melhor os gastos e a diferenciar vontades de necessidades”, completa.
O analista de sistemas Rubens Yokomizo, de 29 anos, sente a mesma dificuldade em planejar as finanças e culpa, principalmente, o consumismo exagerado e as compras sem planejamento. “Acredito que muitos dos meus erros sejam fruto do consumismo e do imediatismo em adquirir um produto sem planejamento. Isso deve afetar diretamente minhas contas”.
Não planejar compras e não controlar gastos são, de fato, algumas das causas do fracasso de um planejamento financeiro. Mas, se eles sabem exatamente onde está o problema, por que não conseguem corrigir o erro e rever os hábitos em prol da saúde financeira? 
Razão x Emoção
De acordo com Tahira Hira, especialista em finanças pessoais e professora da Universidade de Iowa, nos Estados Unidos, apesar de ser correto afirmar que, quanto mais sabemos sobre determinado assunto, melhores são as nossas decisões a respeito, quando se trata de dinheiro, muitas pessoas não usam todo o conhecimento para conter determinados comportamentos. “Muitas forças sociais e psicológicas influenciam nossas atitudes e muitas decisões são tomadas sob essas influências”, revela.
A psicanalista Vera Rita de Mello Ferreira, autora de livros como “A Cabeça do Investidor” e “Psicologia Econômica – estudo do comportamento econômico e da tomada de decisão”, completa afirmando que a decisão de planejar é baseada na razão, mas o que interfere no dia a dia da organização das finanças é a emoção.
“O planejamento é feito pelo lado racional, mas o que interfere é o lado emocional, o lado impulsivo, de fazer as coisas sem pensar”, argumenta. “O planejamento financeiro é furado pelas ações do momento, impulsivas, que enxergam outro pedaço da situação, da realidade, do quadro. Assim, fica muito fácil esquecer qualquer tipo de planejamento feito anteriormente”, finaliza.
Segundo a psicanalista, o planejamento é baseado no longo prazo, enquanto as “furadas” têm como objetivo o curto prazo. “E como a gente está sempre presente no curto prazo, porque é agora que a vida acontece, a probabilidade de fazer coisas que contemplem o curto prazo sempre é maior”, explica. “Assim, se a pessoa conseguisse perceber a diferença dos prazos e das necessidades, respirasse fundo antes de tomar qualquer atitude e mirasse no futuro, conseguiria conter ações impulsivas”, ensina. “Mas isso é difícil, são poucas as pessoas que conseguem”, pondera.
Por outro lado, segundo o especialista em economia comportamental Dan Ariely, autor dos livros “Previsivelmente irracional” e “O lado bom da irracionalidade”, é possível usar a emoção sem destruir o orçamento. “Apesar de a emoção levar, normalmente, a ações impensadas quando o assunto é planejamento financeiro, ela tem o lado bom de colocar a pessoa para imaginar o futuro, o que pode motivar ações mais planejadas”, opina. Segundo ele, essa é uma maneira de usar o lado racional e o emocional juntos em prol do planejamento.
Armadilhas
Se você tiver mais informações sobre o jeito que a sua cabeça funciona, reconhecendo determinadas ciladas, fica mais fácil identificar certas atitudes que influenciam, negativamente, no sucesso do planejamento financeiro. “Com informações você tem um pouco mais de possibilidade de ‘se pegar no pulo’”, explica Vira Rita.
Entre as armadilhas está o que se chama, na psicologia econômica, de contas mentais.
De acordo com essa teoria, do economista comportamental Richard Thaler, costumamos separar nosso dinheiro em contas distintas (corrente, de investimentos, gastos futuros) e, muitas vezes, imaginamos que a nossa renda é suficiente para muito mais gastos do que ela realmente comporta.
Segundo Vera Rita, existem diversas situações do nosso dia a dia que nos levam a realizar contas mentais, como basear o planejamento no salário bruto e não líquido e superestimar o limite do cartão de crédito.
No primeiro caso, por exemplo, a pessoa que tem um ganho bruto - antes dos descontos - de R$ 5.000; na hora de preparar o orçamento, utiliza esse valor como base, sem levar em conta que, na realidade, receberá, líquido, pouco mais de R$ 4.000 - descontando INSS e IR. Essa diferença pode causar um grande estrago nas contas.
Com relação ao cartão de crédito, por conta da possibilidade de comprar em diversas parcelas, muitas vezes sem juros, o consumidor se perde nas contas, realizando cálculos inexistentes. O grande erro, nessa hora, é sempre considerar o limite como valor disponível, sem calcular as parcelas que estão pendentes e subtraí-las do total.
Outra armadilha é, segundo a psicanalista, a falácia dos custos irrecuperáveis. Como ela mesma exemplifica, é o famoso “já que...”.
“A pessoa fura um pouco o planejamento e isso a deixa superdesconfortável. É tão chato ter esse sentimento que ela pode incorrer na falácia do ‘já que eu já me descontrolei, então vou continuar gastando’”, afirma. “É igual a dieta: ‘já que comi um bombom, vou comer a caixa inteira de chocolate’”, compara.
De acordo com a psicanalista, muitas vezes essas atitudes são tomadas de forma inconsciente. No entanto, tendo ciência de que as armadilhas existem, fica mais fácil tomar cuidado na hora de planejar e calcular, tornando o seu orçamento o mais real possível.
 Driblando o emocional“Uma das minhas crenças fundamentais sobre dinheiro é que tudo se resume a autocontrole: fazer as coisas certas e prevenir-se de fazer as coisas erradas”. A frase é do planejador financeiro Robert Brokamp, conselheiro do The Motley Fool, companhia americana de soluções financeiras.
Mas como driblar o emocional e exercitar esse autocontrole em prol do sucesso do planejamento financeiro? A resposta pode estar na força de vontade!
De acordo com Brokamp, o professor de psicologia da Florida State University, Dr. Roy Baumeister, defende que a força de vontade pode ser aprimorada e exercitada com o objetivo de melhorar as finanças pessoais. “Ela funciona como um músculo, ou seja, quando exercitada, se torna mais forte”, revela. Baumeister é coautor do livro “Willpower: rediscovering the greatest human strength (Força de vontade: redescobrindo a maior força das pessoas). Em entrevista publicada no GetRichSlowly.org, Baumeister disse que, para aumentar a força de vontade e o autocontrole, é importante trabalhar sobre os hábitos, e começar pelos mais fáceis.
Tahira Hira completa: “Devemos conhecer a nós mesmos, nossas forças, nossas fraquezas e, principalmente, como elas interferem em nossas finanças. A partir daí, devemos tomar medidas específicas para combater as fraquezas e complementar as forças”, ensina.
Nessa mesma linha, Vera Rita de Mello Ferreira e Dan Ariely dão algumas dicas:
  • Deixe cartões e talões de cheque em casa – “Na hora que apenas o lado emocional estiver dominando, não terá o que fazer, porque não terá dinheiro para comprar”, diz Vera Rita.
  • Coloque um recado na carteira com o seu objetivo – Lembre da viagem para a Europa no final do ano, da reforma da casa, do carro novo etc. “Você se cutuca para ver se foca no longo prazo e deixa de lado os desejos de curto prazo”, afirma a psicanalista.
  • Compartilhe planos e objetivos – “Quando alguém de fora está de olho, fica mais fácil atingir determinados objetivos”, provoca.
  • Conte até cem ou saia da loja e dê uma volta antes de comprar - “O adiamento tira o quente da jogada e dá uma chance de pensar de novo”, aconselha Vera Rita.
  • Torne o planejamento prazeroso – “Poupe para gastar e não para fazer o dinheiro crescer”, ensina Ariely. “Aprendendo a gastar e se permitindo isso, fica mais fácil pensar no futuro”, completa. 
“A ideia aqui é primeiro criar uma estrutura para controlar o comportamento. Depois de um tempo, ficará mais fácil se comportar de forma responsável”, conclui Tahira.