quinta-feira, 31 de maio de 2012

Amistosos do Brasil

       O Brasil conseguiu uma boa vitória sobre os EUA. Apesar disso há ainda muito que corrigir.
       Os americanos jogam num 4-1-4-1, "à inglesa", jogam o basicão, mas fazem com eficiência. Ultrapassagens e jogadas pelas laterais em velocidade, chegada em bloco ao ataque, toque de bola e defesa razoavelmente postada. Dempsey, ainda fora das melhores condições, joga um bom futebol, armando por dentro na linha do meio campo. Outro bom de bola é o meia Landon Donovan, que joga armando a equipe pela direita e teve ótima passagem pelo futebol inglês. No mais é só bola aérea e jogadas para o interessante e isolado atacante Gomez que se vira (as vezes bem) como pode.
Pelo lado do Brasil temos alguns problemas e algumas boas surpresas. O 4-3-3 ( ou 4-2-3-1, como preferir) quando ataca se transforma num 4-2-4, com bastante marcação por pressão no ataque e congestionamento na intermediária da defesa. O problema é quando pegar uma seleção de mais qualidade e a bola passar com toques rápidos por essa 1º linha de marcação se haverá velocidade de retorno, compactação e consgestionamento do meio campo.
Rafael foi bem, apesar de eu particularmente ter ressalvas, uma pequenina falha, mas fez grande jogo e espetaculares defesas. As laterais são casos opostos: as duas sofreram com os ataques estadunidenses mas o desempenho da direita foi uma surpresa desagradável, incluindo bolas nas costas, problemas de cobertura, posicionamento na bola aérea e muito pouco apoio ao ataque, o Danilo precisa melhorar muito e deverá perder a vaga para o Fábio. Marcelo na esquerda é incostentável, um dos melhores do mundo se não o melhor, um dos poucos laterais que marca por dentro, dispensa comentários.


A zaga em geral precisa treinar posicionamento e pegar ritmo, Juan precisa ganhar cancha e ainda não está no pronto para a seleção principal, talvez nem para olímpica e Thiago Silva (na minha opinião e de muita gente o melhor zagueiro do mundo) não precisa de comentários.
A tarde falamos do meio campo e do ataque.

Mudança de patamar

Autor(es): Por Luiz Sérgio Guimarães | Para o Valor, de São Paulo
Valor Econômico - 31/05/2012

Quanto vai ser o juro real de 2012? Os analistas consultados semanalmente pelo Banco Central projetam, para os padrões brasileiros, uma taxa apavorante: 3,40%. Esperam uma Selic média no ano de 8,72% e um IPCA de 5,17%. As expectativas para os próximos doze meses são ainda mais assustadoras, porque o juro básico será menor e a inflação maior: como o swap de 360 dias ronda os 8% e o IPCA previsto vai a 5,5%, o juro real cede a 2,37%.
As projeções metem medo porque sugerem que o Brasil, o eterno paraíso do juro alto, está entrando em uma zona desconhecida, impregnada de assombrações. Taxas reais tão baixas vieram para ficar ou são devaneios dos quais logo o país acordará?
O que os analistas sabem é que a era do juro sidéreo ficou para trás. Muito lentamente, a sociedade vem percebendo que as taxas cavalares do passado não são um fato da vida. O declínio, sim, tem jeitão de inevitável. Basta comparar: estudo feito pelo economista César Locatelli, sócio da F2 Formação Financeira, a pedido do Valor, mostra que a média do juro real foi de 21,65% ao ano no primeiro mandato de FHC, caiu para 10,24% no segundo, subiu a 11,27% no primeiro governo Lula e despencou para 5,58% no segundo. E no primeiro ano de Dilma escorregou para 4,80%.
A parte mais ressabiada dos economistas com o arrojo demonstrado pelo governo Dilma em trazer os juros brasileiros, não só a taxa básica, mas também as do crédito, para patamares civilizados - comparativamente aos demais emergentes - é composta pelos da linha ortodoxa.
Para eles, o governo mostra um nítido "viés inflacionista" e pode estar abandonando duas pontas do tripé que vem dando muito certo: política monetária apertada, câmbio flutuante e superávit fiscal. Das três variáveis, a intocada é a última. As duas primeiras estariam rachadas: a política de juros já não persegue mais com o afinco de gestões anteriores a meta central de inflação e o governo, no início do ano, puxou deliberadamente o dólar para combater o "tsunami monetário" identificado pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. Para a ala dos menos ortodoxos, o BC não está derrubando os juros na marra. E o câmbio continua flutuando, só deixou de fazê-lo numa única direção, a da apreciação do real.
José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, diz que a direção da política monetária do BC é correta e oportuna. O que pode suscitar discussão é a velocidade de queda da Selic. "O BC está certo, mas como atingiu degraus inesperados muito rapidamente, o mercado fica inquieto", afirma. A expectativa dele é que o ritmo de baixa não será desacelerado. A definição do que é ou não parcimonioso depende da realidade. O que foi considerado ousado no passado pode ser visto como cauteloso hoje. Para Lima Gonçalves, a Selic chegará logo aos 8% e estabelecerá um teto para o juro básico.
O quanto cairá abaixo disso depende dos efeitos da conjuntura externa. O piso nominal da Selic tem um limitador fixado pelo juro real. Haverá perigo se cair abaixo de 2,5%. O cenário mais provável lá fora é de ruptura do euro e da persistência do dilema fiscal americano. Quem vai determinar se o mundo entrará em recessão ou em depressão será a China, cuja política econômica emite sinais vacilantes. Uma recessão global derruba os preços das commodities brasileiras compensando o impacto danoso sobre a inflação da alta do dólar.
"Os efeitos da conjuntura externa sobre o país propiciam um espaço generoso ao declínio da Selic. O BC não está forçando a barra", diz o sócio-diretor da LCA Consultores, Fernando Sampaio. O número mágico com o qual o mercado trabalha é 8%. Mas há muita controvérsia sobre como e quando a Selic chegará lá. Para Sampaio, esses 8% cabalísticos não demarcam nem piso nem teto da taxa básica. Pode descer mais se houver uma ruptura na Europa, com a queda sendo moderada por outros estímulos ao crescimento, no caso, medidas destinadas a minorar o impacto de uma recessão. Como também a taxa poderá voltar a 12% no ano que vem se o sinal inflacionário piscar no vermelho. "Hoje o BC preocupa-se nitidamente com a atividade, mas não será irresponsável em sua missão de combater a inflação. A pecha que alguns colocam nele de descaso com a inflação é imprecisa e exagerada. Estão se esquecendo que no início do governo Dilma tudo foi feito, da alta da Selic às medidas macroprudenciais, para esfriar a economia e segurar a inflação, com muito sucesso", diz Sampaio.
Não há, na sua visão, um plano para a derrubada da Selic. Se houvesse, o esforço que está sendo feito para reduzir os spreads bancários seria contraditório, pois ele age justamente para frear a queda do juro básico. Se o governo conseguir diminuir consideravelmente a diferença entre os juros de captação dos bancos e os dos empréstimos, os primeiros já não precisarão cair tanto. Já se a Selic tombar muito, os spreads se manterão intactos mesmo que se reduza o custo do crédito. Não resta dúvida, porém, que é necessário reduzir os juros. Com o pagamento anual de juros sobre a dívida, de cerca de 5% do PIB, o governo libera recursos para investimento.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

A verdade

Autor(es): Renato Janine Ribeiro Valor Econômico - 28/05/2012  

O Brasil sempre lidou mal com sua história. Nossas rupturas não são para valer, mesmo quando deveriam ser. Mudamos tudo para manter tudo como estava, na célebre frase do romance de Lampedusa, "O Leopardo". Ou "façamos a revolução antes que o povo a faça", como disse o governador de Minas Gerais, Antonio Carlos, em 1930. Daí que nossas mudanças fiquem truncadas.
Vejamos os grandes acontecimentos de nossa história. A independência foi proclamada pelo príncipe herdeiro de Portugal, a conselho do pai ("Pedro, toma essa coroa antes que um aventureiro lance mão dela"). A abolição foi assinada pela princesa regente do Império. A República foi proclamada por Deodoro, que o imperador fizera marechal. A revolução de 1930 foi liderada por Getúlio Vargas, ex-ministro da Fazenda do presidente que ele depôs. A ditadura Vargas foi derrubada em 1945 por Gaspar Dutra, ex-ministro da Guerra do presidente que ele depôs. A segunda ditadura caiu em 1985, colocando na presidência José Sarney, que um ano antes chefiava o partido do regime.
Com tudo isso, como "passar o Brasil a limpo"? Cada coisa ruim de nossa história - a colônia, a escravidão, o despotismo, a fraude eleitoral da oligarquia, o golpe militar de 1964 - sai de cena derrotada, mas na hora de mudar não se vai adiante. Não se cobra, não se conserta, não se renova.
Não precisamos ter medo da verdade nem da Comissão
A Comissão de Verdade é a tentativa, simbólica e mais que simbólica, de ir além disso. O Brasil demorou a criar a sua. Vários países já o tinham feito. Finalmente o fizemos. Pela primeira vez em nossa história, tratamos o passado vergonhoso de maneira consequente. Se ele é infame, por que calá-lo? Se foi repudiado nas ruas, por que não apurar o que ele efetivamente foi? Vá lá uma anistia, mas anestesia e amnésia por quê?
O Supremo Tribunal decidiu não rever a anistia autoconcedida pelos mesmos que violaram leis humanas e acima do humano. Mas como perdoar, sem antes saber quem e o que está sendo perdoado?
Na verdade, a lógica da Comissão é a mesma da lei do governo FHC, que manda indenizar as vítimas da ditadura. É também a lógica das ações afirmativas, que o Supremo recentemente validou por unanimidade.
Em todos esses casos se reconhece que quem mandava no Brasil agiu mal - fosse o regime militar, fosse a oligarquia escravagista. Essa ação má e injusta causou vítimas e danos. Ora, numa linha de ação consistente mas inédita em nosso país, desde a iniciativa citada do presidente Fernando Henrique o Estado brasileiro explicitamente condena a ação má desses grupos e, consequência lógica também nova entre nós, busca reverter os resultados igualmente maus que produziram. Essa a razão, por exemplo, de compensar os afrodescendentes para que seu terrível ônus histórico, que os situou nas camadas subalternas da sociedade, seja temporária e instrumentalmente convertido em bônus.
Isso também exige trabalhar a memória. Mentiras e silêncios precisam ser substituídos pela verdade.
Uma tradição forte que nos vem da Grécia antiga celebra o bem, o belo e o verdadeiro. Essa trindade de valores deveria andar junta. A verdade sobre o passado exige expor o que nele representa o mal. Só assim produziremos algo do bem. Tratando-se de uma história construída a partir do poder, tem que ser revelado o mal exercido com e pela dominação. Quando passamos, gradualmente, à democracia, a contínua linha histórica baseada na exclusão e na opressão não deve subsistir. Mas não basta distribuir renda. É preciso abrir o pensamento, a compreensão do passado, a construção do futuro. Nada disso se fará com a mentira ou a ignorância.
Pessoalmente, não defendo a revisão da anistia. Mas isso porque a verdadeira discussão é sobre a memória. Notem que já esquecemos os presidentes da ditadura. O último governante que lembramos com admiração, antes dos recentes, foi Kubitschek, que a ditadura cassou; antes dele, Getúlio, cuja herança ela quis liquidar. Contra o mal na política, a verdade é o que há de mais precioso. Só precisa ter medo dela quem tem razões para temê-la. É bom separar o joio, raro, do trigo, abundante. Dezenas de milhares de oficiais das nossas Forças Armadas, que nada têm a ver com a tortura, só podem se sentir bem ao se demarcarem da minoria que, um dia, agiu contra a honra da farda.
O Brasil ganha, desenvolvendo um processo de mudança consistente, pelo qual não só reduz a pobreza medida em poder de compra mas também, e sobretudo, revisa a fundo os significados atribuídos pela sociedade ao que são liberdade e opressão, crescimento econômico e exploração do outro, florescimento da pessoa e sua escravização ou humilhação.
Isso não ocorre só no Brasil. Um século atrás, três por cento da população mundial, se tanto, tinham direitos humanos em ampla escala. Hoje, mesmo não sendo otimista, essa proporção terá passado a trinta, talvez quarenta por cento no mundo. Falta muito. Mas nunca tanta gente - incluindo mulheres, povos de cor, como os chamava Sukarno, minorias comportamentais, como homossexuais - desfrutou de direitos como esses. Essa multiplicação por dez do porcentual de seres humanos respeitados, em cem anos, é um avanço que nunca antes ocorreu - e nunca mais ocorrerá, nessa dimensão. Se e quando todos os habitantes do mundo tiverem reconhecidos seus direitos humanos, o avanço a partir de hoje será uma multiplicação por dois ou três, não por dez, que foi o que conseguimos nas últimas gerações. Ora, para realizar este processo, é preciso acabar com a mentira. Saber o que foram (ou, infelizmente, ainda são) a tortura e a opressão extrema é uma condição para se construir um mundo melhor.
Renato Janine Ribeiro - é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

O futuro dos bancos centrais

Autor(es): Jairo Saddi Valor Econômico - 28/05/2012  

Sir Mervyn King, governador do Banco da Inglaterra há mais de uma década, numa conferência em Plymouth, questionado sobre o que seria a boa atividade de um banqueiro central respondeu: "boring is best" ("ser chato é o melhor"). Inflação e metas monetárias sob controle, crescimento econômico sem precedentes, enfim, realmente, os banqueiros centrais só poderiam realmente achar que a melhor opção de ação seria aquela que fosse previsível, consistente, contínua e, portanto, a mais chata.
É desnecessário lembrar a diferença que uma crise mundial faz a esse tipo de mentalidade. Nos últimos quatro anos, a atividade dos bancos centrais pode ter sido tudo, menos chata... Aliás, as grandes injeções de liquidez e de estímulo monetário são provas vivas disso. Segundo Philipp Hilderand, ex-presidente do Banco Nacional da Suíça, em artigo no "Financial Times" (12 de maio 2012, p. 11), eles agiram com coragem e determinação e impediram o sistema econômico mundial de naufragar, o que os aproximou do status de heróis públicos. Muitos, contudo, não concordam - por exemplo, Martin Wolf alega, no mesmo Financial Times (2 de maio, p. 9), que não se pode dar crédito a alguém por um evento hipotético, em que há muitas premissas falsas no processo de resgate. Em resumo, há muito ainda a indagar sobre o futuro dos banqueiros centrais.
Caberia aqui um primeiro comentário fundamental: o futuro será incerto, com a única certeza de que ele não será monótono, ao contrário, será bem agitado. Bancos centrais terão que administrar o paradoxo da estabilidade financeira e monetária com riscos e volatilidades crescentes. E terão cada vez mais aspectos controversos a gerenciar, que praticamente não existiam até antes da crise, já que perseguir baixa inflação e uma meta monetária definida era consenso universal sobre suas funções, assim, o impacto de suas decisões será sentido cada vez mais na economia. Além disso, nunca se discutiu a solidez dos bancos centrais, mas, com seus balanços inchados de ativos mais problemáticos, isso parece cada vez mais próximo.
Conciliar estabilidade e risco será na verdade o grande desafio da sociedade financeira pós-crise 2008.
Nesse panorama, verifica-se que será preciso administrar melhor as intervenções microscópicas. Prover liquidez - função de prestamista de última instância e que desde o século XIX é reconhecida como uma das funções clássicas de qualquer banco central -, irá requerer muito mais atenção. O risco de uma intervenção prematura, aumentando o risco de moral hazard, só não é pior do que a intervenção tardia, na qual o remendo sempre será mais difícil. No entanto, impactos fiscais só são sentidos muito tempo depois e, inevitavelmente, com elevados custos. Resta saber se tais desafios institucionais terão o necessário apoio político, nem sempre disponível quando mais se precisa dele.
Ademais, há evidente pressão para que os bancos centrais deixem de se ocupar apenas com a inflação e passem a se concentrar também no crescimento econômico e no desenvolvimento nacional. Ou, em outras palavras, como assegurar a estabilidade monetária e o padrão de compra do valor da moeda com políticas que muitas vezes são expansionistas além da estabilidade do sistema financeiro e dos meios de crédito? Aliás, conciliar estabilidade e risco é o grande desafio da sociedade financeira pós-crise 2008. E, com tudo o que houve, não há como não aceitar o fato de que o sistema financeiro tem uma propensão natural ao risco: deixado ao léu, a chance de bobagem é realmente elevada.
Finalmente, há a credibilidade. Bancos centrais têm na credibilidade seu maior ativo. Credibilidade pode ser definida como qualidade daquilo em que se pode crer ou se toma como verdade, implicando julgamentos de confiança e segurança. Um banco central que não goze de credibilidade faz com que os agentes econômicos superestimem as taxas corretivas de preços, de moeda, de inflação e de câmbio, e, principalmente, a taxa de juros. Quanto menos confiável a ação do banco central, maior a taxa de juros oferecida ao mercado, para que seus títulos ou aqueles que oferece sejam detidos, sob o risco de a moeda fluir para outros ativos ou mesmo para o consumo.
Ao contrário, bancos centrais com credibilidade acabam gerando moedas fortes. Não impõem um prêmio ou um risco por suas operações, por não estarem enfrentando vieses inflacionários. Paradoxalmente, maior credibilidade dá-lhes o instrumental necessário à condução das políticas monetárias mais restritivas no curto prazo, em épocas de crise e de tormenta, se assim for necessário.
Jairo Saddi, pós-doutor pela Universidade de Oxford, professor de direito do Insper

terça-feira, 22 de maio de 2012

Bancos europeus temem uma avalanche de saques

Autor(es): David Enrich, Sara Schaefer e Charles Forelle | The Wall Street Journal, de Londres
Valor Econômico - 22/05/2012

Mesmo com o Banco Central Europeu (BCE) tendo injetado mais de 1 trilhão de euros (US$ 1,28 trilhão) em centenas de bancos do continente - na forma de crédito barato com vencimento em três anos -, o sistema financeiro da região continua exposto ao risco de que levas de clientes saquem seus depósitos de instituições consideradas frágeis.
Esse risco ganhou destaque na semana passada, quando num único dia o volume de saques em bancos gregos atingiu mais de 700 milhões de euros. A corrida aos bancos, uma reação à probabilidade cada vez maior de que a Grécia deixe a zona do euro, é uma dramática escalada em relação aos dois anos anteriores, quando o fluxo de fundos sacados do combalido sistema bancário do país e depositados no exterior foi lento, ainda que constante.
Agora, o medo entre um número crescente de governantes, investidores e analistas é que o sistema bancário de outros países da periferia da Europa possam viver crise parecida. Nesse caso, tudo indica que governos e bancos centrais teriam de sair de novo em socorro das instituições mais abatidas.
Se a Grécia deixar zona do euro, é quase certo que proíba correntistas de bancos de transferir fundos para fora do país. Isso poderia levar clientes em países em crise como Espanha e Portugal a pensar "se aconteceu na Grécia, pode acontecer aqui", disse Philippe Bodereau, diretor de pesquisa de crédito europeu na gestora de fundos de renda fixa Pimco.
Na semana passada, a boataria sobre o suposto êxodo de clientes de um grande banco espanhol colocou autoridades públicas e executivos do setor na incômoda posição de ter de negar que havia uma fuga de depósitos. No Reino Unido, correntistas sacaram cerca de 200 milhões de libras (US$ 316,4 milhões) do braço britânico do Banco Santander SA na sexta-feira. Na quinta, a classificação de crédito do banco foi rebaixada em meio a dúvidas sobre sua exposição aos problemas na Espanha. Os saques representam apenas 0,2% do total de depósitos do Santander U.K. PLC.
Dois meses atrás, o sistema bancário europeu parecia imune à possibilidade de uma crise de liquidez. O imenso programa de crédito do BCE, instituído no final de 2011 para evitar a escassez de recursos, injetou nos bancos dinheiro suficiente para a rolagem de dívidas a vencer por 2012 inteiro. Mas a volta do temor de que a Grécia deixará o euro e a crescente fragilidade dos bancos espanhóis puseram um rápido fim à lua de mel.
Depois de três meses de normalidade, os bancos europeus foram, de novo, basicamente banidos do mercado de crédito. Graças aos empréstimos do BCE, até podem enfrentar essa rejeição. Mas estão menos preparados para uma fuga em massa de depósitos, dizem analistas e investidores.
Para tentar conter essa ameaça, alguns dirigentes da União Europeia vêm estudando um plano pan-europeu de garantia a depósitos de correntistas, segundo pessoas a par do assunto. Tal plano complementaria garantias nacionais já estabelecidas. Não se sabe ao certo até que ponto a ideia já avançou.
Uma razão para o temor de investidores e analistas é que grande parte dos depósitos bancários na Espanha, em Portugal e na Itália pode, basicamente, ser sacada a qualquer instante. Não há muito que impeça um correntista nervoso de transferir a poupança de um banco num país da União Europeia para outra instituição nos 27 países do bloco.
Cerca de 30% do total dos recursos de pessoas físicas e jurídicas da Espanha estão em depósitos à vista, o que significa que podem ser sacados quando o cliente bem entender, segundo o Banco da Espanha. Na Itália, cerca de 48% dos depósitos domésticos podem ser sacados rapidamente; em Portugal, 21% dos depósitos de pessoas físicas, de acordo com dados dos respectivos bancos centrais.
Um analista do Citigroup, Stefan Nedialkov, calculou na semana passada que bancos na Irlanda, Itália, Portugal e Espanha poderiam rapidamente perder entre 90 bilhões de euros e 340 bilhões de euros em depósitos caso a Grécia deixe a zona do euro. Só na Espanha a sangria iria de 38 bilhões de euros a 130 bilhões de euros. As estimativas são baseadas, em parte, nos saques ocorridos na Argentina na crise logo depois de 2000.
A cifra equivale a quase 10% de todos os depósitos nos países em questão. Uma corrida aos bancos dessa dimensão normalmente teria consequências catastróficas. Sem dinheiro, certas instituições entrariam em colapso. Até o mais forte dos bancos teria de limitar drasticamente o crédito e se desfazer de ativos para poupar escassos recursos.
Nedialkov avalia, contudo, que a debandada não terminaria necessariamente em catástrofe. A seu ver, o BCE provavelmente sairia em socorro dos bancos com uma nova injeção de crédito barato através do mecanismo LTRO - para rolagem da dívida a longo prazo.
A saída seria polêmica, pois alimentaria o temor de que o sistema bancário europeu se torne permanentemente dependente de linhas de crédito do banco central e incapaz de se manter sozinho. Mas, já que a alternativa pode ser uma catástrofe financeira, "acho que a maioria das pessoas preferiria o LTRO", disse Nedialkov.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Santos e Fluminense e os duelos de titãs!!!

O Santos passou fácil, como era de se esperar, pelo Bolívar da Bolívia. Só que talvez nem o mais fanático torcedor santista pudesse espera uma goleada tão grande quanto a que ocorreu na Vila Belmiro: 8 x 0, com direito a show de PH Ganso com gol de letra e boa atuação de Neymar. Realmente o time boliviano é muito fraco tática e tecnicamente, e sem o doping da altitude fica realmente muito complicado.
O outro jogo entre brasileiros na noite foi a classificação do Fluminense diante do Internacional. O Flu veio na sua velha proposta do 4-2-3-1 contra o Inter que também joga no 4-2-3-1. O Fluminense se ressentia de um de seus melhores homens, enquanto o Inter do seu cérebro, Wellington Nem e D'Alessandro respectivamente, ambos contundidos.
 O jogo começou truncado e nervoso, com muito bate rebate e congestionamento no meio campo de parte a parte. Mas assim que a defesa tricolor cochilou saiu o gol do Inter, uma mistura de faro de gol do seu artilheiro Damião com uma bola que a meu julgamento era razoavelmente defensável, sem ser frango do goleiro, além do espaço dado pela zaga tricolor.
A partir disso as equipe puseram a bola no chão e o jogo ganhou em criatividade. Mesmo assim os gols que saíram (virada do Flu) depois foram de jogadas de bola parada. Os gols pareciam repeteco e demonstraram que não pode ocorrer num time que quer ser campeão, tomar 1 gol de bola parada já é péssimo, 2 então nem se fala. O bom elenco do Inter parece não ser tão bom na zaga: Moledo não é nenhum craque e Índio já tem 36 anos!
No 2º tempo Abel tirou Deco, que pouco fez em campo e pôs mais 1 volante para fazer um espelho da marcação na equipe colorada: um 4-2-3-1 colorado contra um 4-3-2-1 tricolor, com os meias do Inter batendo de frente com os volantes do Flu, o que deu certo até Dorival colocar Jajá e recuar Tinga para volante, mantendo o esquema, e depois colocar Dagoberto e Jô, formando uma espécia de 4-1-3-2, só com Sandro Silva de volante. Dagoberto começou a jogar nas costas do Jean, rapidamente alertado por Abel Braga.
O final foi de muita desorganização e bolas alçadas na área por parte do Inter. Infelizmente, como já falei em outra ocasião neste mesmo blog, tentar ganhar o jogo na raça geralmente não leva a equipe a vitória. Atuar de forma organizada mesmo perdendo ou precisando fazer algum resultando (coisa que equipes como a Universidade do Chile por exemplo fazem muitíssimo bem) aproxima muito mais da vitória.
Infelizmente mais essa eliminação pode custar o cargo de Dorival Júnior

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Atlético de Madri Campeão!!!


Falcão comemorando 1 dos seus gols na vitória da sua equipe sobre o Atlétic 
de Bilba na final da Liga Europa.



             O Atlético de Madri se sagrou campeão com extrema superioridade ao seu rival Atletic de Bilbao.
O time basco tem uma proposta de futebol muito bem definida elo seu super técnico "el loco" Bielsa, um futebol que lembra algo do Barcelona, com toques de 1º, posse de bola e muitas trocas de posições, um futebol muito coletivo, mas que tem em seu núcleo não um camisa 10 vindo de trás ou em diagonal como Messi, mas um camisa 9 de 1,95m, jogando como pivô ou resolvendo sozinho lá na frente e cobiçado por Barcelona e outras grande equipes, o Fernando Llorente.
            O time de Madripossui um futebol um pouco menos vistoso digamos assim. Quando seu técnico chegou em dezembro do ano passado, o também argentino Diego Simeone, a equipe vinha de uma campanha muito ruim. O que o argentino fez foi construir uma defesa sólida com Miranda e Felipe Luís pela esquerda, 2 volantes dando muita proteção e liberando os ótimos jogadores que tem no ataque: Arda Turan, Adrian, Diego e o espetacular Radamel Falcão Garcia (o Sr. Liga Europa), que ontem fez mais 2 belíssimos gols e se sagrou o 1º "bi artilheiro" na história da Liga.
O Bilbao não conseguiu furar a retranca e o congestionamento que os madrilenhos impuseram no seu meio campo e o brasileiro Miranda mais uma vez esteve muito bem, conseguindo anular o mais perigoso jogador basco, Llorente.
            Após 2 belos gols de Falcão Garcia ainda no 1º tempo, o jogo arrefeceu, com o muro erguido pelo Atlético de Madri em sua defesa e a saída em contra ataques velozes, que surtiram efeito no 2º tempo, quando o brasileiro Diego, novamente em grande fase após passagens conturbadas no Wofsburg e na Juve, selou a vitória com gol em grande jogada.
             Festa espanhola na final da Liga Europa. Festa madrilenha para os campeões do Atlético de Madri. Onde se esperava uma barbada, na Champions, o embate espanhol tão esperado não aconteceu. Chegou de forma genérica então...

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Impasse político eleva risco de Grécia deixar o euro e dar calote



Autor(es): Por Assis Moreira | De Genebra
Valor Econômico - 09/05/2012
 

A persistente instabilidade política na Grécia aumenta os riscos de o país abandonar a zona do euro até o fim do ano, concordam analistas que, desta vez, minimizam o impacto sobre a moeda comum europeia.
A expectativa é que os gregos voltem às urnas para nova eleição no mês que vem, depois do fiasco dos dois grandes partidos tradicionais, o Nova Democracia (de centro-direita) e o Pasok (socialista), em chegar a um acordo ou obter apoio da esquerda para formar um governo amplo, dito de "salvação nacional".
Mas há um claro risco de que nova eleição não tenha, de novo, um vencedor claro. E, mesmo se os partidos favoráveis aos acordos de austeridade com a troika - Fundo Monetário Internacional (FMI), União Europeia (UE) e Banco Central Europeu (BCE) - conseguirem uma pequena maioria, a piora nas condições econômicas da Grécia manterão enormes incertezas sobre o futuro do pacote de socorro, cuja continuidade implica a implementação de 77 medidas de austeridade pelo país.
Assim, a UE poderá se defrontar proximamente com o cenário que alguns temem: aceitar atenuar as condições impostas aos gregos para ajustar a sua economia ou deixar de apoiar o país, o que significaria na prática excluí-lo da zona do euro.
O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, foi enfático ontem, em Bruxelas, ao afirmar que um país como a Grécia deve aplicar o plano de rigor "ou é a falência".
Também, pela primeira vez, um dos membros da diretoria do Banco Central Europeu (BCE), Joerg Assmussen, levantou sem rodeios a possibilidade de saída da Grécia da zona do euro, algo que até agora o banco se recusava a reconhecer publicamente.
"A Grécia precisa estar atenta ao fato de que não há alternativa ao programa de reformas se quiser continuar como membro da zona do euro", afirmou ele, em entrevista ao jornal econômico alemão "Handelsblatt".
Em meio ao impasse político atual, dois meses depois de ter forçado a maior reestruturação de títulos de dívida soberana, conseguindo abatimento de € 107 bilhões, a Grécia enfrenta de novo o risco de ser o primeiro país desenvolvido a dar calote.
Na semana que vem, os ministros da zona do euro devem se reunir para decidir sobre a liberação de nova parcela da ajuda para a Grécia. Um dia depois, dia 15, o país precisa pagar € 450 milhões para investidores privados que não aceitaram a redução do valor de seus títulos gregos. No dia 18, o país terá que devolver € 3,4 bilhões ao Banco Central Europeu (BCE), que comprou títulos da dívida grega no auge da crise. E, no fim de junho, Atenas terá de novo que pagar ao BCE mais € 3,3 bilhões.
Nesse cenário, "as chances de outro calote grego em semanas ou meses aumentaram", diz Ben May, economista-chefe para a Europa da consultoria Capital Economics. "Isso não resultaria automaticamente em saída da zona do euro nem da UE. Mas a Grécia estaria sob enorme pressão de autoridades e talvez, mais importante, dos mercados, para abandonar a moeda comum."
Enquanto cresce o descontentamento popular e a perda de confiança nos líderes políticos gregos, expressos na eleição de domingo passado, o atual chefe do governo, o tecnocrata Lucas Papademos, terá que lutar muito para convencer os europeus a liberar a nova parcela de ajuda.
Para o Rabobank, da Holanda, não há como os contribuintes dos principais países da Europa aceitarem manter transferência de recursos para a Grécia, para deixar o governo de Atenas retornar ao "business as usual".
Segundo o banco holandês, depois que o BCE injetou mais de € 1 trilhão de liquidez na zona do euro, o mercado está sinalizando que uma saída para a Grécia "não mais representa uma ameaça sistêmica tão grande para a Europa".
Para o economista Tobias Blattner, da consultoria Daiwa Capital, em Londres, o risco de a Grécia sair da zona do euro até o fim do ano é ilustrado na pressão para começar a implementar, a partir de junho, mais medidas de austeridade equivalentes a € 12 bilhões ou 5,5% do PIB, para 2013 e 2014.
Se uma coalizão pró-planos de socorro ganhar o poder em junho e as autoridades da zona do euro fizerem tudo o que podem para manter a Grécia na união monetária, Atenas poderá lutar ainda dentro da zona do euro por algum tempo, diz Ben May. "Mas, pelo momento, pensamos que a Grécia deixará o euro até o fim de 2012 ou mesmo antes."
O mercado de dívida soberana para a Grécia fechou em maio de 2010. A partir daí, o país ficou cada vez mais dependente dos empréstimos do FMI e da UE. A dívida pública aumentou para € 360 bilhões ao final de 2011, dos quais € 73 bilhões são com FMI e UE.
Cerca de 75% dos gregos dizem querer continuar na zona do euro.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Operação Valquíria


Autor(es): Andre Guilherme Pereira Perfeito Valor Econômico - 08/05/2012

No início de 2011 fiz um exercício democrático curioso. Convencido que estava que era possível baixar os juros no país, entre outros motivos por conta das taxas baixas nos Estados Unidos até final de 2014 pelo menos, escrevi uma carta à então recém-empossada presidente Dilma. Não usei nenhum canal especial, entrei na internet, descobri o endereço do Palácio do Planalto e da Granja do Torto e enviei o e-mail. O título era Operação Valquíria e nela descrevia o que acreditava ser a estratégia correta para derrubar os juros de vez a patamares civilizados. Não esperava obter resposta, só queria exercer um direito de cidadão. Espero que achem minha carta por lá agora.
Na Operação Valquíria, o ponto de ruptura seria a alteração da caderneta de poupança. Mas imaginava à época que, antes de destruir este piso, seria necessário fazer outros movimentos para evitar a volta dos juros. Tal qual o plano do coronel Stauffenberg para eliminar Hitler, matar o ditador era apenas uma etapa do processo e, na verdade, matar o Führer era a parte mais fácil; o difícil era impedir que o alto comando SS ao seu redor assumisse o controle, tornando o que era ruim ainda pior.
Acredito que estamos num momento parecido. Jogar os juros para baixo não é exatamente um mérito ainda da economia brasileira, e nem a parte mais difícil, mas antes de tudo uma consequência colateral das circunstâncias mundiais. Da mesma maneira que os escravos foram libertados nessas bandas tropicais por pressões irremediáveis do Império Britânico, os juros caem aqui sob a sinalização externa do custo do dinheiro em nada nas principais praças mundiais. A queda dos juros é, por assim dizer, um subproduto, e talvez não permanente, da crise mundial.
Jogar os juros para baixo não é exatamente um mérito ainda da economia brasileira, e nem a parte mais difícil
São três os eixos fundamentais para contornar de vez a ameaça dos juros altos no país. Dois são relativamente simples de entender.
O primeiro é a indexação. O governo tem que varrer de vez do mapa a utilização de índices como o IGP-M dos reajustes de contratos. Num país traumatizado pela inflação e que insiste lembrar-se do dragão enjaulado divulgando todo mês nada menos que 11 índices diferentes - entre IPCA, IPCA-15, IGPs do primeiro e do segundo decêndio, 10, M, DI e mais quatro quadrissemanas da FIPE, isso sem contar os IPC-S semanais, faça chuva ou faça sol -, criar mecanismos de desindexação é fundamental. Num país com a inflação sob certo controle a negociação é livre, é assim que o jogo funciona.
Sobre os títulos do governo cabe um comentário recorrente, referente ao segundo eixo da Operação Valquíria. O uso indiscriminado de LFTs, uma necessidade em épocas de inflação galopante, torna-se hoje um cadáver fétido na administração da dívida pública. Este é apenas o exemplo mais crucial das distorções do nosso mercado financeiro, a lista se estende.
No Brasil, o Estado arrecada muito, mas também transfere demais. A Constituição de 1988 criou um sistema amplo de previdência e de direitos ao cidadão e por estes canais o Estado gasta boa parte dos seus recursos. Mas o principal gargalo não é a previdência e sim o pagamento de juros à sociedade.
Anos de juros em patamar tão alto geraram distorções terríveis e uma delas foi justamente a carga tributária elevada. Se desde o segundo reinado temos um piso de 6% na taxa de juros isso quer dizer que as distorções por aqui são antigas e reveladoras de nossa formação como país. E como se paga juros tão altos? Somente arrecadando muito também.
Como antes os juros ganhos na ciranda financeira compensavam parte das perdas tributárias, as empresas iam bem. Vamos supor uma indústria de bens duráveis alguns anos atrás, é evidente que ela auferia na produção deste bem, mas também ganhava no seu financiamento; não por acaso todas as montadoras fizeram seus próprios bancos e o verdadeiro negócio do varejo popular é vender crédito caro.
Cortar os juros de fora para dentro está revelando anos de distorção econômica e o resultado líquido é uma economia grande, mas deformada pelo dinheiro caro e pela tributação alta. Antes os problemas ficavam submersos, agora o mar recuou e os destroços apareceram.
Um exemplo é o esforço do governo no câmbio. A justificativa válida é que o real forte está matando a indústria. O argumento tem algum fundamento. Se o governo quer transferir renda da sociedade para a indústria - que é o que está sendo feito, e não há nada errado nisso - o melhor seria fazer de maneira direta cortando impostos.
Este é o momento crucial de um projeto que começou no governo Itamar Franco com a criação do real, quando Fernando Henrique Cardoso era ministro da Fazenda, amadureceu com a dobradinha Lula-Meirelles e, agora, com Dilma e Tombini, pode se cristalizar de vez no país.
Matar o ditador é fácil, difícil mesmo é acabar com a ditadura. Está na hora de uma Operação Valquíria nestes trópicos, se não for Valquíria pode ser um nome indígena. A Polícia Federal tem nomes muito criativos para suas operações; perguntem ao delegado.
Andre Guilherme Pereira Perfeito é economista-chefe da Gradual Investimentos.

Impasse com os europeus

O Brasil atingiu bons níveis de exportação, sobretudo entre 1998 e 2004, por fatores como câmbio e aumento da diversificação geográfica, ganhos em market-share e benefícios pelo aumento dos preços dos bens comercializados. A crise financeira, contudo, mitigou a expansão brasileira, e não resta dúvida que o país precisa voltar a atuar diplomáticamente tentando abiscoitar novos mercado e fechar novos acordos. E logo!!!


Autor(es): Rubens Barbosa
O Globo - 08/05/2012
 

A crise econômica na Europa, com a queda do crescimento e o aumento do desemprego, não impediu entendimentos ou o início de negociações comerciais da União Europeia (UE) com os EUA, Índia, Canadá, Vietnã, Coreia.
O mesmo não acontece com as negociações com o Mercosul.
Na última reunião entre o Mercosul e a UE, em março último, os grupos de trabalho avançaram nos textos sobre regras (concorrência, defesa comercial, solução de controvérsias, compras governamentais, investimentos, regras de origem, barreiras técnicas, medidas sanitárias), continuando pendente a troca de ofertas de produtos.
A decisão de Bruxelas de manter os subsídios agrícolas na UE até 2020 e a posição do governo uruguaio de rever a decisão de negociação conjunta dos países do Mercosul poderão representar dificuldades adicionais para a retomada desses entendimentos.
Existe uma série de questões pendentes que compõem o estágio atual do contencioso com a UE, e que de alguma forma deverão ser examinadas visando a um acordo de livre comércio.
Em sentido mais amplo, nosso principal contencioso com a UE diz respeito às barreiras concentradas nas exportações de produtos agrícolas, seja por picos tarifários, seja por razões sanitárias ou fitossanitárias, como as da resolução 61. Dentre os irritantes com a UE, cabe mencionar a questão dos subsídios agrícolas. As últimas estimativas da OCDE mostram que o apoio recebido por produtores europeus sobe a mais de 20% do valor da produção, em comparação com 5% no Brasil. Como se sabe, subsídios agrícolas constituem um dos itens mais sensíveis no âmbito das negociações Mercosul-UE.
Sempre fui cético a respeito das perspectivas de conclusão dos entendimentos visando a um acordo comercial amplo e abrangente com a UE por dificuldades políticas nos principais países do velho continente. Nunca acreditei que eles pudessem aceitar as condições do Mercosul na área agrícola como contrapartida para as concessões nos setores industriais e de serviço de interesse europeu.
Se os entendimentos do Mercosul com a UE são difíceis, a grave crise entre a Argentina e a Espanha, em virtude da nacionalização da empresa de petróleo Repsol, torna sua conclusão ainda mais problemática. A Argentina cancelou recente visita de alto funcionário europeu, e a próxima reunião negociadora, que se realizaria em Buenos Aires, não foi marcada e teve de ser transferida para o Brasil.
Caso as negociações com a UE não prosperem, o Brasil continuará a ser um dos poucos países a não ampliar sua rede de acordos de livre comércio. Nos últimos doze anos, o Brasil negociou apenas um acordo comercial em vigor, com Israel. Os dois outros assinados com o Egito e com a Autoridade Palestina ainda não entraram em vigor e têm pouca relevância comercial.
A situação ficará ainda pior para o Brasil se a UE e os EUA formalizarem nos próximos anos um acordo comercial estendendo preferências na área agrícola para os EUA. Isso afetará a competitividade dos produtos agrícolas no mercado europeu e acarretaria a perda de espaço para os dos EUA. Por outro lado, o já anunciado desaparecimento do SGP, que beneficia cerca de 15% das exportações brasileiras para a Europa, tornará ainda mais difícil o acesso de produtos manufaturados naquele mercado.
No difícil contexto político, agravado pela decisão argentina e a reação espanhola, o Mercosul, para avançar os entendimentos, não terá alternativa, senão repetir com a UE o que foi feito com Israel e com a Comunidade Andina de Nações: formalizar um acordo quadro Mercosul-UE, que incluiria normas comerciais, e aprovar, como propõe o Uruguai, a negociação de listas individuais, separadas, de produtos, com regras de origem e salvaguardas rígidas. Os países-membros do Mercosul, no futuro, poderão negociar a convergência da Tarifa Externa Comum, a qual, aliás, não está sendo respeitada por ninguém pelas sucessivas e crescentes exceções.
O Brasil não pode continuar sem uma estratégia de negociação comercial e permanecer assim à margem da tendência global de abertura de mercado via acordos de livre comércio.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Argentina, a marginalizada

Infelizmente o texto é escrito com correção e parece que nossos vizinhos do prata estão a caminho de ruir.
E pior, ainda é possível que não haja mudanças na exploração petrolífera argentina,  o que só o tempo dirá...



Autor(es): Luiz Felipe Lampreia
Valor Econômico - 07/05/2012
Cerca de 20 anos atrás, um importante ministro argentino surpreendeu um embaixador recém-chegado do Brasil, dizendo-lhe que "a Argentina é pródiga em três coisas: carne, trigo e em tomar atitudes insanas". A decisão de expropriar 51% da YPF, maior empresa energética argentina, braço da empresa espanhola Repsol é um desses gestos. Somada à sua desconsideração em relação aos credores estrangeiros e ao crescente e arbitrário protecionismo que desrespeita todas as regras mundiais e regionais, a decisão tomada pela presidente Cristina Fernández de Kirchner leva a Argentina para mais perto de ser considerado internacionalmente como um país sem lei.
Quaisquer que sejam seus benefícios e popularidade no curto prazo, gestos de tal gravidade sempre implicam graves consequências de longo prazo. Em particular, criam o risco de isolar um país dos principais fluxos de crédito, investimento e comércio - ou seja, todas as atividades que geram oportunidade econômica e prosperidade.
Maus governos são sempre orientados por seu anseio de um surto imediato na popularidade, independentemente dos custos futuros. Governos argentinos vem fazendo disso um hábito desde que Juan Domingo Perón chegou ao poder em 1946.
Com efeito, como resultado da decisão de Cristina, a Argentina agora se encontra em ostracismo internacional nos mercados de energia e financeiros. Impossibilitada de prover qualquer investimento ou recursos tecnológicos e know-how para explorar as reservas da YPF, seu governo precisará convidar outros para preencher o vazio financeiro e tecnológico criado pela exclusão forçada da Repsol. Mas qualquer empresa internacional que participe da exploração dos bens expropriados da Repsol poderá enfrentar sérios problemas legais.
A Petrobras, gigante brasileira no setor energético e uma das maiores companhias do mundo, foi publicamente convidada a expandir sua produção na Argentina mediante novos investimentos. A Petrobras, com os seus interesses em todo o mundo, nunca poderia aceitar esse convite, especialmente em vista de seu esforço para obter o financiamento de que necessita para explorar as imensas reservas brasileiras de petróleo no mar.
Comenta-se que a Sinopec, segunda maior empresa petrolífera chinesa, manteve discussões com a Repsol para adquirir uma parte substancial de seus ativos na Argentina. Agora, todas as alternativas estão fora de questão. Como disse à Reuters uma fonte chinesa não identificada, "essa é uma situação complicada para qualquer empresa, tendo em vista as medidas tomadas pelo governo. Para mim, seria suicídio político permitir a uma empresa chinesa prospectar os direitos de controle sobre a YPF, após o anúncio de estatização".
A Repsol foi severamente prejudicada pela ação de Cristina, tendo perdido cerca de 50% de sua capacidade produtiva e um terço de sua receita. O governo da Espanha, indignado, promete vigorosa retaliação, e com certeza terá o apoio político da União Europeia. Mas é difícil imaginar que medidas poderão efetivamente levar Cristina a reconsiderar [sua decisão]. Afinal de contas, uma vez que tudo isso era previsível, e que os investidores estrangeiros agora ficarão mais reticentes em entrar no mercado, ela claramente calculou que os benefícios políticos superariam largamente os custos econômicos.
Mas isso depende muito de a estatização resultar em aumento da produção. Parece claro que isso não acontecerá, a menos que o governo decida injetar enormes recursos fiscais na YPF à custa de outras necessidades prementes. Uma vez que isso é improvável, é inevitável uma escassez no suprimento.
O petróleo desperta grande fascínio popular. Para países que o possuem em abundância, é um dos pilares mais sólidos e centrais de nacionalismo. E é, em toda parte, o motivo real ou imaginário de muitas guerras - o "ouro negro" que alimenta e desperta a cobiça. Para aqueles governantes que não se importam se suas vitórias são de Pirro, é também um recurso de fácil acesso para manipular a imaginação pública com as teorias da conspiração e posturas patrióticas.
O governo de Cristina tem emitido sinais de que está determinado a continuar em seu curso errático, não apenas criando caos na economia, mas também marginalizando o país aos olhos da comunidade internacional. Mas decisões como essa, que por vezes parecem começar bem, invariavelmente, terminam mal.
Pessoalmente, estou profundamente entristecido com o fato de a Argentina ter enveredado nesse terreno de erros e ilusões. É um grande país, com pessoas sofisticadas e extremamente bem-sucedidas em todos os campos. Para o Brasil, não pode haver satisfação em ver um vizinho tão próximo distanciar-se do direito internacional e envolver-se em aventuras perigosas, em última instância em detrimento de seu próprio povo. (Tradução de Sergio Blum.)
Luiz Felipe Lampreia foi ministro de Relações Exteriores do Brasil no governo de FHC (1995-2001).