segunda-feira, 18 de março de 2013

Em dez anos, renda dos que têm ensino superior cresceu só 0,7%


Autor(es): Por Arícia Martins | De São Paulo
Valor Econômico - 18/03/2013

O rendimento médio real dos trabalhadores com ensino superior foi o que menos cresceu na última década nas seis principais regiões metropolitanas do país, mas ao mesmo tempo deu a principal contribuição para o aumento da renda da população ocupada no período. Segundo cálculos do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a alta de apenas 0,7% da remuneração dos ocupados com esse nível de escolaridade entre 2003 e 2012 foi responsável por mais de 60% do avanço total dos salários nos últimos nove anos, descontada a inflação.


O rendimento médio real dos trabalhadores com ensino superior foi o que menos cresceu na última década nas seis principais regiões metropolitanas do país, mas ao mesmo tempo deu a principal contribuição para o aumento da renda da população ocupada no período. Segundo cálculos do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV) com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a alta de apenas 0,7% da remuneração dos ocupados com esse nível de escolaridade entre 2003 e 2012 foi responsável por mais de 60% do avanço total dos salários nos últimos nove anos, descontada a inflação.
De acordo com o IBGE, a renda real nas regiões analisadas pela Pesquisa Mensal de Emprego (PME) cresceu 27,2% no período. Rodrigo Leandro de Moura, pesquisador do Ibre-FGV, trabalhou em seus cálculos com uma alta de 25%, porque nem todos os entrevistados informam seu nível de estudo. Deste total, 15,5 pontos percentuais foram gerados pela população ocupada com formação universitária. Na outra ponta, a faixa que reúne os trabalhadores sem instrução e com menos de oito anos de estudo - que viu seus rendimentos saltarem 37% de 2003 a 2012 - contribuiu negativamente, com menos 2,6 pontos, para a variação da renda total na mesma comparação.
"A renda da economia cresceu não porque a renda de quem tem ensino superior cresceu, mas porque aumentou a proporção de trabalhadores com essa formação. Quando a população fica mais educada, ela passa a ganhar mais", explica o pesquisador do Ibre. Os profissionais com 11 anos ou mais de estudo representaram 62% da população economicamente ativa (PEA) no ano passado, ante 45,8% em 2003. Em igual período, a fatia de pessoas sem instrução ou com menos de oito anos de estudo na PEA recuou de 34% para 21%.
O movimento de escolarização da força de trabalho, diz Moura, puxou para cima o rendimento dos ocupados, já que, mesmo com ganho real ínfimo se comparado a categorias que têm seus salários reajustados de acordo com o mínimo, a remuneração de um trabalhador com mais anos de estudo já parte de uma base maior. Ele nota que, a despeito do avanço real de quase 40% na última década, o rendimento médio do segmento menos qualificado pesquisado pelo IBGE foi de R$ 952,67 em 2012, menos de 25% dos R$ 4098,08 recebidos, em média, por quem tem curso superior no ano passado.
Mesmo assim, especialistas afirmam que nem sempre o bacharelado é garantia de um salário mais alto, o que explica o baixo ganho real dos ocupados com esse título. Em 2012, quando o avanço médio de 4,1% do rendimento real foi recorde da nova série da PME, os profissionais com ensino superior viram sua renda subir só 0,4%. "Houve uma grande ampliação da oferta de cursos superiores com baixa qualidade, e o reflexo disso são muitas pessoas que não trabalham em ocupações associadas à sua formação", diz o diretor-técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Clemente Ganz Lúcio.
Segundo Lúcio, o fraco aumento real dos salários de formados não invalida a análise de que há um gargalo de mão de obra qualificada. O que puxa para baixo o avanço médio desses rendimentos, diz o diretor do Dieese, é o descompasso entre o excesso de pessoas formadas em áreas menos demandadas pelo mercado, enquanto a procura por outras profissões cresce muito mais, sem que a oferta acompanhe esse movimento. "É muito difícil que um tecnólogo ou um engenheiro não receba ofertas de bons empregos, mas 70% dos formados são de humanas."
O coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper e professor associado da FEA-USP Naercio Menezes Filho afirma que há falta de profissionais formados em setores específicos, e até mesmo de trabalhadores dos quais são exigidos apenas nível médio completo (caso dos técnicos), mas as matrículas que mais cresceram junto à expansão da chamada "nova classe C" foram destinadas aos cursos de administração, direito e pedagogia, entre outros, mais baratos e com conteúdo menos técnico.
Pesquisa do Insper em parceria com a Brasil Investimentos & Negócios (BRAiN) aponta que essas e outras profissões, como turismo e enfermagem, tiveram reduções salariais na última década devido à expansão da oferta. Por outro lado, carreiras como medicina, odontologia, quase todas as engenharias e economia, entre outras, foram bem mais valorizadas.
"A pessoa que se forma em administração, por exemplo, vai ser pouco mais valorizada do que alguém que tenha segundo grau completo", diz João Saboia, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o que, em sua visão, não quer dizer que o apagão de mão de obra qualificada não exista. Para ele, a política de valorização do mínimo ainda é a principal explicação para a diferença entre o avanço da renda de trabalhadores menos e mais qualificados.

Comentários do Blogueiro: O governo Lula implantou um novo modelo de ocupação do 3º grau na educação. Em outras palavras, resolveu abarrotar as universidades, difundiu o ensino a distância e levou a cabo Prouni, FIES e etc. Modo incorreto de gerir a educação. Assumindo um custo político elevado, o governo deveria, numa solução radical, óbvio, abrir mão das gerações anteriores e investir na geração atual com melhorias a partir das creches e pré-escolares em geral. Em seguida, melhorar nível a nível, ensino fundamental, série  a série, e repetir no médio para aí sim buscar, com a oferta qualificada vindoura do ensino básico, expansão e melhorias do ensino superior e do técnico.
Entretanto, e é importante que se diga, o texto sugere que "a reforma da casa pelo telhado" está surtindo efeito. Excelente então!!!

quinta-feira, 14 de março de 2013

O café, a conta e a nota

 
 
Comentários do blogueiro: O texto mostra nitidamente uma peculiaridade nociva que permeia o pensamento de grande parte dos brasileiros: a noção de sonegar por conta da má utilização dos recursos! Sem dúvida, a utilização dos impostos no Brasil é precária, mas um erro nunca justificou outro. É como vingar um homicídio com outro.
Outra falácia comum na mídia é a questão de uma das maiores cargas tributárias do mundo. Dinamarca, Noruega, Islandia, Finlândia, Reino Unido, Suécia tem cargas entre 40% e 50% do PIB em impostos, então por o Brasil entre as maiores cargas tributárias do mundo é muito vago. Maior quanto? 15º?
Um exemplo de texto medíocre, mas que vale para o exercício de observação da ausência de fundamentos sólidos e dos discursos comumente utilizados na mídia em geral.

Autor(es): Luciana Brafman
O Globo - 12/03/2013
Entre os muitos mistérios que tenta decifrar no Rio, o que mais intriga um amigo europeu diz respeito àquilo que não pedimos após o "cafezinho e a conta". Executivo, morador da cidade há dois anos, ele simplesmente não entende por que ignoramos o hábito de solicitar ao garçom a nota fiscal. Acostumado com as benesses sociais do Velho Continente (até a crise, pelo menos), tem um raciocínio linear e racional: quanto mais impostos o empresário recolhe, mais dinheiro o governo brasileiro tem para investir em saúde, educação, estradas, segurança... Sua lógica não permite entregar ao privado o que deveria ir para o público.
Após constatar que, das três mesas que pediam a conta ao nosso redor, nenhuma quis a nota, nos resta tentar explicar o enigma ao estrangeiro: 1) Arcamos, os brasileiros, com uma das mais altas e crescentes cargas tributárias do mundo, de 36% do PIB; 2) Enforcados pelos impostos, ainda assim não há garantias de segurança, estradas, escolas e hospitais públicos de boa qualidade; 3) Estamos cansados de ver a riqueza que produzimos escorrer pelo ralo da corrupção e do mau uso do dinheiro público. O europeu, no entanto, não se conforma, pois acredita que um simples pedido de nota fiscal tem o poder de desencadear um ciclo positivo a partir de maior conscientização e cobrança. É, pode ser. Não são poucas as mudanças que partiram recentemente de mobilizações populares. A Lei da Ficha Limpa, por exemplo, no campo político.
Na área econômica, a questão tributária e o destino dos recursos precisam mesmo de uma pressão, pois estão na encruzilhada do que deve ser o próximo passo da trajetória do país após a redemocratização dos anos 1980. Em meados da década de 1990, começamos a domar a inflação, cuja taxa média era de 764% ao ano, e temos conseguido, governo após governo, um significativo avanço socioeconômico, representado por ícones como a "nova classe média". Taxas de desemprego ao redor de 5% e redução da miséria confirmam a escalada. Mas, agora, o novo capítulo que se escreve tem o título de Infraestrutura, que requer investimentos. O PIB de 2012 revela que a taxa de investimentos segue baixa, de apenas 18,1% do PIB, bem atrás de todos os Brics. Uma vergonha, pois, como sabe cada contribuinte, sobretudo nesta época de Leão, recursos não faltam. As notícias também são insistentemente reveladoras do nó em portos, aeroportos, hidrelétricas... Sem falar na burocracia, outro delírio que assombra o amigo da Europa.
Ao rodar por Nova York e Londres em busca de investidores estrangeiros para financiar um pacote de US$ 235 bilhões em infraestrutura, a equipe econômica se viu frente a frente com banqueiros e empresários céticos quanto à capacidade do país de tirar projetos do papel. Assim como a inflação foi a vilã de gerações de brasileiros, a péssima infraestrutra personifica agora a figura do Mal. Somente após vencer esta etapa, o Brasil terá um ambiente de negócios favorável.
A tática da nota fiscal me pareceu, de início, insuficiente. Até porque já é expressiva a soma de tributos paga pelos empresários. Mas o interessante é a oportunidade de mudar a cultura. A bandeira tem o peso da conscientização, com a pressão e a cobrança subsequentes. Afinal, se entendermos o cafezinho como símbolo da produção, e a conta como representação das despesas, a exigência da nota pode perfeitamente passar a simbolizar o retorno de nossos tributos, na forma de investimentos. A outra opção é esperarmos, sentados, pelo governo.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Existe uma cura para a doença brasileira?

Autor(es): Edmar Bacha
Valor Econômico - 11/03/2013


Há tempos o Brasil é conhecido como a terra dos contrastes. Hoje em dia, o contraste maior é entre uma economia que exibe pleno emprego e rápida ampliação da classe média, o que gera sensação de bem-estar na população e explica a popularidade do governo e uma outra economia, que padece de baixo crescimento e inflação elevada, o que sugere descontinuidade e crise num futuro não distante. Como romper com esse contraste e colocar o país na rota do desenvolvimento pleno?
No fim da década passada o Brasil parecia haver entrado numa fase de crescimento sustentado com inflação sob controle. Era o que sugeria tanto a trajetória favorável da economia desde 2004 como sua rápida superação da crise mundial de 2008-09. Entretanto, os "pibinhos" e a alta inflação a partir de 2011 nos indicam que a euforia econômica do período 2004-2010 teve caráter temporário, sendo explicada por fatores de natureza cíclica que se teriam esgotado em 2011.
De fato, entre 2004 e 2011, o país foi beneficiado por uma bonança externa de dimensões talvez únicas em nossa experiência histórica. Essa bonança, de quase 10% do Produto Interno Bruto (PIB), foi gerada por uma explosão dos preços das commodities que exportamos e por um extraordinário influxo de capitais estrangeiros. Ela não somente gestou mas também financiou um enorme aumento da demanda interna, que se materializou num maior crescimento do investimento e do PIB. Esse crescimento pôde se manifestar sem pressões inflacionárias devido à apreciação do câmbio e à maciça incorporação de mão de obra ao processo produtivo.
Não há caminho para o primeiro mundo que não passe pela integração econômica com o resto da comunidade global
Desde 2011, houve um arrefecimento do impulso externo: os preços das commodities pararam de crescer e em alguns casos se reduziram; o influxo de capital externo reduziu-se em função do maior risco do cenário internacional e também das barreiras à entrada criadas pelo governo brasileiro. A disponibilidade de mão de obra diminuiu e o câmbio se depreciou. Voltamos então aos "pibinhos" e à inflação elevada do período anterior a 2004.
Os diagnósticos correntes sobre a doença brasileira de elevada inflação e baixo crescimento enfatizam corretamente o baixo investimento e a alta carga tributária. Menor presença no debate tem tido um terceiro fator tão ou mais importante que esses: a reduzidíssima participação do comércio exterior na atividade econômica do país. Trata-se de uma questão de natureza estatística, pois o Brasil destoa dos demais países do mundo mais nesse quesito do que na taxa de investimento ou na carga tributária. É também uma questão de economia política: uma maior integração do país no comércio internacional induziria uma redução da carga tributária e uma maior taxa de investimento. Consideremos os argumentos a respeito.
De acordo com o World FactBook da CIA, o PIB brasileiro em 2012 foi o 8º maior do mundo. Entretanto, o valor de nossas exportações de mercadorias ocupou apenas a 24ª posição. Essa discrepância entre PIB e exportações é uma anomalia brasileira, pois a Comunidade Europeia ocupou o 1º lugar tanto em termos de PIB como de exportações. Os EUA ocuparam o 2º lugar em termos de PIB e o 3º em exportações. A China ocupou o 3º lugar em termos de PIB e o 2º em exportações. O 8º maior exportador do mundo é a Coreia do Sul, cujo PIB ocupa a 13ª posição no ranking mundial. Ou seja, países ricos ou bem-sucedidos em fazer a transição para o primeiro mundo são grandes exportadores. O que não acontece com o Brasil.
Quadro igualmente deprimente se revela quando olhamos os valores das importações. Nos dados do Banco Mundial, a parcela das importações de bens e serviços no PIB do Brasil é de apenas 13%, o menor valor entre todos 176 países considerados pelo banco. Na Coreia do Sul, a parcela das importações no PIB é 54%. Na Alemanha, 45%. Na China, 27%. Mesmo os EUA com sua economia gigantesca importa 18% do PIB, quase 40% a mais do que o Brasil.
Ou seja, vivemos no país mais fechado do mundo, embora a Coreia do Norte seja um concorrente. Segundo a CIA, a participação das exportações no PIB da Coreia do Norte é mais ou menos equivalente à do Brasil.
A evidência mundial é contundente: não há caminho para o primeiro mundo que não passe pela integração econômica com o resto da comunidade internacional. Esse é o grande desafio que o país enfrenta. Para ultrapassarmos a armadilha dos países de renda média que fracassaram na travessia para o desenvolvimento pleno (como a Argentina), é imperativo formular uma estratégia para que a indústria brasileira participe das cadeias produtivas globalizadas.
Essa estratégia terá diversas dimensões, inclusive na área dos acordos comerciais. Internamente, a principal medida será o abandono do protecionismo sobre insumos ao processo produtivo, o qual se manifesta em altas tarifas às importações, elevados requisitos de conteúdo nacional e normas técnicas absurdas (como a adoção de um padrão para os vergalhões de aço distinto daquele adotado nos principais países industriais). Trata-se de implantar, de forma pré-anunciada, uma progressiva mas substancial redução das tarifas de importação, dos requisitos de conteúdo nacional e das normas técnicas e burocráticas protecionistas.
O anúncio dessas medidas deverá por em marcha três outros processos. Primeiro, haverá uma antecipação de aumento das importações, o que provocará uma depreciação da taxa de câmbio. A proteção diferenciada que antes se exercia pelas tarifas às importações e outros mecanismos transformar-se-á numa "proteção cambial" horizontal, beneficiando os setores e atividades com maior vocação exportadora. Em segundo lugar, o governo se verá pressionado a efetivamente reduzir a carga tributária sobre as empresas, de forma a dar-lhes melhores condições de competir com os produtos estrangeiros. Em terceiro lugar, a perspectiva de poder importar bens de capital e insumos mais baratos e de integrar as indústrias brasileiras às cadeias produtivas internacionais levará a uma expansão do investimento privado para adaptar as empresas brasileiras a essa nova realidade econômica.
Edmar Bacha é economista e coorganizador e coautor de "O Futuro da Indústria no Brasil: Desindustrialização em Debate" (Civilização Brasileira, 2013

quinta-feira, 7 de março de 2013

Análise: Fatores que balizam decisão apontam para direções opostas


A definição atual da trajetória dos juros é das mais complexas que o Copom teve que resolver até agora.

A deliberação está fundamentada em três fatores: o inflacionário, o crescimento e o político.
A questão é que eles não apontam numa só direção, tornando impossível uma decisão inequívoca.
O objetivo inflacionário é fazer o IPCA terminar o ano em 4,5% ou convergir para esse número. No ano passado, terminou em 5,84% e tem acelerado nos últimos meses, o que prescreveria um aumento de juros.
Apesar de alguns indicadores apontarem que parte da pressão inflacionária atual é causada por fatores conjunturais que não são afetados pela ação do Banco Central, a recomendação, apesar de não tão categórica, é na direção de elevar a taxa Selic.
A segunda variável é o impacto dos juros no crescimento da economia. Há sinais de retomada neste ano.
Quando a autoridade monetária aumenta a taxa, corre o risco de esfriar esse movimento. Se espera para subir, e a inflação continua a acelerar, o impacto final pode ser pior. Não há como saber com precisão. Isso dificulta mais a decisão.
O terceiro fator, e o mais determinante, é o político: o risco de o governo ficar refém das decisões do Copom, que deixam de ser assuntos técnicos a serem definidos pelo Banco Central e tornam-se uma questão ideológica, defendida até pela presidente da República.
Baixar os juros é um objetivo meritório que deve ser perseguido. Considerando que há uma eleição no ano que vem, o ideal seria não ter que subir a taxa até lá.
Entretanto, se a atual tendência permanecer e, na véspera do pleito, os preços estiverem disparando, teria sido melhor elevar os juros rapidamente mais cedo.
Não é uma escolha fácil, entre uma medida antipática agora e o risco de uma mais dura no futuro.
A popularidade de baixar juros altos é uma unanimidade, mas houve pouco progresso na tentativa de eliminar suas causas, como melhorias na dinâmica fiscal e reformas institucionais. Muita energia foi gasta apenas no sintoma: baixar a taxa Selic.
A monotonia e a miopia sempre dominaram o debate sobre a política monetária no Brasil, onde só se olha para a Selic. Nelson Rodrigues, que escreveu "Em futebol, o pior cego é o que só vê a bola", com certeza diria o mesmo a respeito dos juros básicos.
ROBERTO LUIS TROSTER é coordenador do curso de banking da Fipe-USP.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

PMDB quer diretoria na Petro: mais um passo para a deterioração da empresa?

Principal aliado do PT (Partido dos Trabalhadores) tem interesse em nomear o deputado Mauro Lopes, eleito em Minas Gerais; empresa ainda possui bastante cunho político, diz Carlos Müller, da Geral Investimentos

Por Felipe Moreno - Infomoney




SÃO PAULO - A diretoria da área internacional da Petrobras (PETR3; PETR4) virou motivo de cobiça em Brasília. Vago, o cargo virou sonho de consumo do PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro) - principal aliado do PT (Partido dos Trabalhadores) -, que tem interesse em nomear o deputado Mauro Lopes, eleito em Minas Gerais, segundo reportagem do Valor Econômico.
Para o mercado, esse seria mais um passo de deterioração da estatal - que vem sofrendo há meses com a ingerência política sobre o que seriam as melhores práticas gerenciais possíveis para a petrolífera, derrubando as cotações. Desde que assumiu a presidência, Dilma Rousseff tem tentado nomear um quadro mais técnico que seu antecessor, Lula, substituindo o antigo presidente da companhia, Sergio Gabrielli - filiado ao PT - por Maria das Graças Foster, que iniciou a sua carreira na empresa como estágiaria.
Por isso mesmo, surge a dúvida: o que o governo deverá fazer em relação a cobiça de seus aliados? "Díficil dizer, eu acredito que, pelo perfil dela, pelo histórico, a preferência é que seja um nome técnico, mas a gente não tem como saber o que virá adiante", avisa Carlos Müller, analista-chefe da Geral Investimentos. Nomes técnicos especulados pela notícia do Valor são José Lima de Andrade Neto, atual presidente da BR Distribuidora, e o outro é Irani Varella, ex-diretor de Serviços da Petrobras entre 1999 e 2001.
Maria das Graças Foster tem perfil mais técnico, mas possui limitações (Reuters)
Maria das Graças Foster tem perfil mais técnico, mas possui limitações (Reuters)
Eleições de 2014
O principal fator para fazer com que Dilma venha a ceder é a eleição presidencial de 2014. "A gente vai ver muita costura política ainda por conta disso", alerta o analista, chamando a atenção para o fato de que as estatais podem ser usadas para atingir os objetivos de governabilidade.
Atualmente, a base governista passa por um impasse: os dois maiores partidos aliados, o PMDB e o PSB (Partido Socialista Brasileiro) querem maior participação no governo e mais cargos. O PMDB se interessa por cargos de segundo ou terceiro escalão, como a diretoria da Petrobras, enquanto o PT avalia permitir que Eduardo Campos, governador de Pernambuco pelo PSB, seja candidato a vice-presidente na chapa de Dilma.
Atualmente, esse posto é ocupado por Michel Temer, do PMDB. O partido não tem interesse em mudar isso - ao menos não facilmente. É possível que Campos, bastante influente e popular no nordeste, seja um candidato próprio pelo PSB em 2014 - algo que o PT quer evitar. Com a situação política delicada, cresce a importância dos cargos das estatais, ministérios e secretarias como forma de se conseguir apoio político desses partidos.
Empresa ainda tem cunho político
Há vozes no mercado que acreditam que a situação da Petrobras é injusta com a nomeação de Graça Foster para a presidência e a adoção de uma postura mais pragmática em relação à empresa. Müller discorda. "A Graça Foster pode ser bastante técnica, faz o que pode, mas tem as suas limitações", diz.
Ele salienta que a empresa continua sendo usada como meio de controlar a inflação. "A Dilma tem um perfil bastante técnico, mas se a gente observar que o reajuste dos combustíveis veio depois da queda do preço de energia, percebemos que a empresa ainda tem bastante cunho político", afirma.  
A esperança do analista fica no longo prazo - já que se atualmente a Petrobras é usada para segurar a inflação e estimular a economia nacional, é possível que ela volte a buscar maior eficiência geracional quando o cenário se estabilizar. "Mas, por enquanto, a Petro não deve ter um perfil semelhante ao de uma empresa privada. O cenário continua bastante complicado, não espero que isso mude no curto prazo", finaliza o analista.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Luxemburgo foi mais pragmático que o Abel!

O Grêmio demonstrou a força do seu time contra o Fluminense. É bem verdade que Luxemburgo tem uma quantidade grande de jogadores recem incorporados ao elenco, mas o mandatário do Grêmio (Fábio Koff) pôs R$ 20 milhões na mão do Luxa e vai querer resultados. E rápido!
O time de Luxemburgo fez bem o dever de casa, ou melhor, de fora de casa. Seu time joga num 4-4-1-1 interessante, com veterano Zé Roberto em excelente forma e com ampla liberdade de articular por todo campo, mas sempre com funções, principalmente de marcação, fechando o lado esquerdo, já que Elano rende pela direita, e infiltrando vindo de trás num elemento nada surpresa. Duas tradicionais linhas de 4 compactas, em teoria sempre, na pratica ainda não, formaram o ferrolho gremista contra o pragmatismo da equipe de Abel Braga.
O ponto chave foi as inversões constantes entre Hernan Barcos e Eduardo Vargas. Luxemburgo foi muito feliz na composição tática para saída de Barcos de perto da área e entrada de Vargas projetado contando com a precisão nos lançamentos do grandalhão atacante em lances que resultaram diretamente em 2 gols da equipe do Grêmio e definiram o jogo.
O Fluminense apático viu que não pode vencer os jogos na hora que quiser. Com sua articulação muito bem marcada o tricolor carioca abusava de cruzamentos infrutíferos ou buscava seu velocista Wellington Nem sem muito sucesso.
Surpreendente, ao menos para mim, foi a atuação destacada da zaga do Grêmio, especialmente do zagueiro Cris, que havia falhado decisivamente conta o Huachipato. Dessa vez se mostrou bem seguro nas coberturas e atento nos combates 1 contra 1. André Santos também não foi mal na defesa e se destacou no apoio.
Para quem já apostava numa queda precoce do Grêmio, até do Luxembrugo porque não, a coisa mudou de figura. Parece que o profexô ainda tem lenha pra queimar.

Em cinco anos, governo de MT tira R$ 661 mi de verba para estradas para gastar em obras da Copa


Vinícius Segalla
Do UOL, em São Paulo


O governo do Estado de Mato Grosso vem retirando desde 2009 verbas de um fundo estadual criado para custear obras de manutenção e melhoria de rodovias e para investir em projetos habitacionais e realocando este dinheiro nos cofres da Secopa-MT, secretaria que toca as obras que estão sendo construídas para o Mundial de 2014.
De 2009 a 2013, o Fethab (Fundo Estadual de Transportes e Habitação) já cedeu R$ 660,8 milhões à Secopa, de acordo com dados da Secretaria da Fazenda do Estado de Mato Grosso.
Neste ano, dos R$ 640 milhões que o fundo deverá arrecadar, R$ 131 milhões irão para a Secopa, que está construindo, entre outras empreitadas, a Arena Pantanal, estádio para 43,6 mil orçado em mais de R$ 500 milhões e que, após a Copa, quando será utilizado em quatro partidas, ficará à disposição do futebol mato-grossense. No ano passado, a final do Campeonato Mato-Grossense, entre Cuiabá e Luverdense, atraiu um público de 1.621 pessoas.
O Estado de Mato Grosso possui cerca de 27 mil quilômetros de estradas estaduais. Desses, apenas 20%, ou 5,4 mil quilômetros, são asfaltados. As verbas do Fethab são utilizadas para pavimentar as rodovias estaduais. Em 2012, somente 150 quilômetros de rodovias foram asfaltadas pelo governo estadual.
Os recursos do Fethab são oriundos de contribuição imposta aos produtores agrícolas e deveria ser utilizado integralmente na melhoria de estradas e construção de habitações. Isso porque, quando foi constituído, a missão do fundo era melhorar as estradas do Estado para que seus produtos agrícolas - a maior riqueza de Mato Grosso - pudessem ser transportados com maior eficiência, reduzindo seu preço.
Em setembro do ano passado, o grupo intersetorial Movimento Pró-Logística apresentou aos produtores rurais e entidades ligadas ao setor um projeto chamado "Corredores Estaduais do Agronegócio". A análise apontou 120 trechos de rodovias estaduais que seriam fundamentais para o escoamento da produção de Mato Grosso. O projeto considerou as cadeias de produção da soja, milho, pecuária bovina, madeira e insumos agrícolas. Só nestes trechos são mais de dez mil quilômetros que precisariam de investimentos em pavimentação e recuperação. Aparentemente, porém, esta não é a prioridade da Secopa.

Obras para a Copa de 2014200 fotos

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Arena Pantanal atingiu 62% de sua conclusão em fevereiro de 2013 Portal da Copa/Divulgação

De ilegal a legal
Em dezembro do ano passado, faltando duas semanas para o fim do ano legislativo, o governo estadual encaminhou à Assembleia Legislativa um projeto de lei que tramitou em caráter de urgência urgentíssima. Foi um projeto para alterar a Lei Complementar 360/2009, tornando legal, retroativamente, todos os desvios de verbas do Fethab para os cofres da Secopa, que vinham sendo à contrariedade das normais estaduais.
O projeto ainda previa que, a partir de então, o Executivo poderia sempre tirar até 30% dos recursos do Fethab e de outros fundos para gastar onde bem entendesse. Foi aprovado, e o que era ilegal, tornou-se legal. Poucas foram as vozes na Assembleia que se levantaram contra a manobra do Executivo.
A deputada Luciane Bezerra (PSB) foi uma delas. "O governo não pode usar esta Casa para legitimar atos que cometeram na ilegalidade. É isso que nós, parlamentares, estamos aprovando hoje!", disse, à época da tramitação do projeto de lei, a parlamentar. Foi voto vencido.
A Secopa informa que não gastou até agora todo o dinheiro da Fethab que caiu em seus cofres, e que é possível que devolva parte desses recursos. De acordo com o secretário da pasta, Maurício Guimarães, até agora, foram gastos R$ 156 milhões da Fethab, a maior parte na Arena Pantanal.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

O atropelamento do Espanyol pelo Barcelona na La Liga

O Blog volta neste novo ano também com futebol.
O jogo analisado é o ocorrido no domingo último, Barcelona e Espanyol.
A equipe do Espanyol, que tem por mascote o periquito, encontra-se em situação bastante decadente. Rondando a zona do rebaixamento, a equipe pena por conta do seu fraco elenco é já é possível prever o sofrimento dos torcedores espanyois, muito embora o campeonato esteja apenas no começo.
A equipe tentava barrar os grenás ora com uma linha de 5 jogadores na zaga e outra de 4 no meio campo, ora num 4-1-4-1, ou até mesmo com 6 na zaga e 3 no meio.
Demonstrou muito pouca organização ofensiva, praticamente não exigiu defesas de Valdes. Os destaques positivo do time, se é que pode-se dizer isso, são o bom e velho português Simão Sabrosa, que apesar dos 33 anos ainda pode dar um caldo e o campeão mundial pela Espanha o regular lateral esquerdo Capdevilla.
Com relação a equipe catalã podemos ressaltar a mudança mais perceptível na forma de jogo da equipe na era Vilanova. Guardiola marcou era trazendo de volta o futebol total da década de 1970. Tito por certo encontrou uma equipe funcionando e colocou em prática seus ajustes. Com ele o Barça é mais vertical e menos móvel, seus jogadores guardam mais posição, Messi faz menos jogadas de facão "direita-centro" e atua bem mais como um 9, flutuando menos no costado do meio campo adversário, enquanto o meio do time roda menos. O jogo agora é ligeiramente menos burocrático e até agora mais eficiente, já que o Barcelona faz mais gols (toma mais é bem verdade). Outro ponto interessante é a redução da compactação da equipe: a maior elasticidade permite menos lances em bloco e mais bolas esticadas e viradas de jogo, explorando bem as laterais. Sofre a parte defensiva, mais exposta, já que surge um delay com relação a chegada na marcação (daí possivelmente o aumento no número do gols sofridos).
Numa analogia pouco convencional poderíamos comparar a equipe de Pep a um maquinário de engrenagens de tamanhos semelhantes e grudadas, todas girando sem parar e uma movimentando a outra, enquanto a equipe de Tito estaria mais para um conjunto de correias e polias de tamanhos diversos, que giram sim, mas mais distantes e em diferentes frequências.
Messi foi discreto apesar de decisivo como sempre, talvez pelo ritmo de treino do jogo, Iniesta jogou bem e Fábregas gastou a bola.
Vamos ver como se sairão os Grenas na Champions...

Governo acelera a criação de estatais que não geram receita

 06/01/2013 - 04h00



A prática de criar estatais foi ressuscitada pela administração petista e acelerada pela presidente Dilma Rousseff, mas a maior parte das novas empresas está longe de fazer jus a essa qualificação.
Diretorias de novas estatais são ocupadas por indicação política
Andre Borges /Folhapress
Sede da Hemobrás, em Braília, única das estatais criadas nos governos petistas que deu os primeiros passos para gerar receita
Sede da Hemobrás, em Braília, única das estatais criadas nos governos petistas que deu alguns passos para gerar receita
Levantamento feito pela Folha mostra que, em uma década, os governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma deram à luz dez estatais, quatro delas nos últimos dois anos --não foram incluídas na conta subsidiárias de empresas preexistentes, como a CaixaPar, o Banco Popular e a recém-lançada Infraero Serviços.
Da lista, apenas uma já deu os primeiros passos rumo à geração de receitas suficientes para financiar seus investimentos e operações: a Hemobrás, fundada em 2004 para fabricar e vender medicamentos derivados do sangue.
As demais ou não saíram do papel ou são mantidas com recursos da arrecadação de tributos como uma repartição pública.
Aprovada por lei no mês passado, a EPL (Empresa de Planejamento e Logística) já está classificada pelo Ministério do Planejamento entre as estatais dependentes do Tesouro Nacional, ao lado de outras cinco criadas nos governos do PT.
TREM-BALA
A EPL tomou o lugar da Etav, uma breve empresa criada no ano anterior exclusivamente para viabilizar o trem-bala nacional --e que, de um orçamento de R$ 166 milhões, desembolsou apenas R$ 3 milhões com salários e despesas administrativas.
Também necessitam do dinheiro do contribuinte a EPE (Empresa de Pesquisa Energética), a EBC (Empresa Brasil de Comunicação), o Ceitec (Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada), a EBSERH (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares) e a Amazul (Amazônia Azul Tecnologias de Defesa).
A maior delas, a EBC, não é propriamente uma novidade: surgiu em 2007 a partir de uma ampliação da antiga Radiobrás. No ano passado, segundo dados preliminares, ela gerou cerca de R$ 70 milhões em receitas com os serviços de radiodifusão, mas suas despesas ultrapassaram os R$ 400 milhões.
Criado em 2008 para fabricar chips eletrônicos, o Ceitec informou uma receita de R$ 300 mil no ano passado com a venda de seus produtos para a iniciativa privada. A legislação considera microempresas aquelas com receita anual até R$ 360 mil.
Outras duas estatais estabelecidas por lei nos últimos anos ainda não existem na prática: a PPSA, concebida para explorar o petróleo do pré-sal, e a ABGF, apelidada de Segurobras, para garantir obras de infraestrutura.
LEGADO ESPORTIVO
O caso mais inusitado é o da Brasil 2016, ou Empresa Brasileira de Legado Esportivo, criada no final do governo Lula para desenvolver projetos ligados à Olimpíada do Rio de Janeiro. Descartada antes de esboçar qualquer iniciativa, ela foi incluída no Programa Nacional de Desestatização.
Mesmo sem nunca ter entrado em operação, registrou como único gasto em seu balanço R$ 110 mil para remunerar conselheiros.
A Hemobrás, até agora, é a única incluída no orçamento federal de investimentos, que reúne as empresas utilizadoras de recursos próprios, como a Petrobras, a Eletrobras e os bancos públicos.
Ela recebeu aportes do Tesouro Nacional para a abertura de uma fábrica em Pernambuco, ainda não concluída. De um orçamento de R$ 264 milhões em 2012, R$ 50 milhões foram investidos até outubro.



Por: GUSTAVO PATU
BRENO COSTA
DE BRASÍLIA





Comentários do Blogueiro: Bom, como muitas coisas na vida e na economia as estatais são uma faca de "dois legumes". São importantes para consecução de escala em determinados negócios ou em alguns dos chamados monopólios naturais, enfim, em setores os quais se mostrem necessários investimentos que ainda débeis ou inexistentes por parte da iniciativa privada não suprem as necessidades nacionais, regionais ou mesmo locais. Diante disso a injeção de capital feita pelo governo é altamente salutar, mais que isso, no limite pode se tornar um pilar importante da economia nacional, como é o caso dos bancos (CEF, BB, BNDES, Banese), Petrobrás, entre outros.
No reverso da moeda temos iniciativas do governo que servem apenas como cabide de emprego ou para manipulação de setores que em geral redundam em distorções para a economia, modificações oportunas em resultados de agregados econômicos ou apenas desvios de verbas. Exemplos no Brasil não faltam, sem contar as empresas que simplesmente não conseguem operar na azul mesmo após anos, muito investimento e proteção do governo contra a concorrência.
No caso da reportagem parece que está ocorrendo investimentos de base, então é até certo ponto natural que haja investimento e que as empresas operem no vermelho. 
O problema é: por quanto tempo?