terça-feira, 20 de novembro de 2012

Vereadores grátis




 Comentários do Blogueiro: Obvio que o projeto não irá resolver todos os problemas do Brasil na seara política, mas pode ser bastante interessante para mitigar os candidatos "especializados em vencer eleições". Na esteira de melhorias institucionais, políticas e de governança esse projeto pode servir como instrumento de mudanças importantes na esfera municipal, por vezes a mais difícil de ser atingida por mudanças significativas. Deve vingar, com o perdão do trocadilho infame, se não como projeto, mas ao menos dando um gostinho de revanche ao povo.



Aloysio Nunes Ferrira: relator

Ao que tudo indica, o cargo de vereador caberá mesmo aos altruístas apenas. Aquela Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que prevê o fim da remuneração a legisladores de municípios com até 50 000 habitantes (Mais detalhes em: O fim do salário de vereador) já tem relator e parecer quase pronto.
Cyro Miranda, autor da PEC, está vendendo otimismo. Diz que o relator do projeto na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, Aloysio Nunes Ferreira, deve entregar seu parecer até o fim do mês, e com poucas alterações no texto original.
Segundo Cyro, Aloysio planeja incluir somente a previsão de uma ajuda de custo de um ou dois salários mínimos para cobrir custos, como transporte e alimentação. E Eunício de Oliveira já avisou: assim que receber o relatório, põe o projeto em votação na CCJ, o que pretende fazer antes do recesso.
Os vereadores que passem a economizar desde já.
Por Lauro Jardim, Veja.com

Radar on-line

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Por que demoramos tanto para perceber que as finanças saíram do controle?

Especialistas explicam mecanismos da mente que nos fazem "ignorar" sinais de problemas financeiros e dão dicas para que dificuldades sejam identificadas mais facilmente


Por Tabata Pitol 


SÃO PAULO - A pedagoga Cristina Queirós levou um susto quando se deu conta de que estava devendo mais de R$ 70 mil. Sem saber ao certo como as finanças chegaram a esse estágio – uma vez que não havia comprado bem de grande valor –, ela só percebeu o tamanho do problema ao pedir R$ 10 mil ao marido para pagar contas em atraso.
“Eu não sabia que estava devendo tanto. Sabia que tinha cartões de crédito e empréstimos em atraso, mas não sabia o real valor das minhas dívidas. Achei que R$ 10 mil seriam suficientes. Mas meu marido quis que eu mostrasse tudo o que estava devendo antes de me emprestar o dinheiro, e só quando coloquei tudo no papel percebi que estava muito mais endividada do que imaginava”.
previdência - orçamento - dívidas
O ideal é, mês a mês, parar para avaliar o orçamento e se questionar se os gastos são maiores ou menores que os ganhos
Cristina não é um caso raro entre os brasileiros. Muitas pessoas só percebem que as finanças saíram do controle quando já estão muito endividadas. “Infelizmente a própria biologia do ser humano explica por que ele demora tanto para perceber que está em problemas financeiros. Preferimos fingir que não estamos vendo. Acreditamos nas contas de cabeça que nunca são exatas. Nomeamos de dissonância cognitiva o processo que nos leva a duvidar do óbvio, a negar todos os sinais de que algo não está indo bem”, conta o economista pela PUC-SP e especialista em investimentos e métodos quantitativos pela FGV, Richard Rytenband.
O planejador financeiro Valter Police completa: “Não é uma coisa que se faz de propósito, mas a pessoa vai deixando passar. Parece impossível engordar 100 kg sem se dar conta, não é? Mas a televisão está cheia de programas com pessoas que chegaram à obesidade mórbida sem procurar um médico, fazer uma dieta ou começar um programa de exercícios. O mesmo acontece quando o assunto é dinheiro”.
Buscando soluções
No entanto, o fato de ser algo recorrente não significa que devemos considerar como normal. “Temos que assumir nossas responsabilidades e nossos atos. Nos endividamos excessivamente porque descuidamos das finanças. A culpa é nossa e só nós podemos impedir que a situação se agrave cada vez mais”, afirma Police. Para ele, nada é mais eficaz do que colocar, na ponta do lápis, os gastos e ganhos para evitar o endividamento.
O consultor afirma que o ideal é, mês a mês, parar para avaliar o orçamento e se questionar se os gastos são maiores ou menores que os ganhos, e se está se pagando muitos juros. “Avaliando todos os meses a pessoa vai perceber se a situação está saindo do controle e aí é hora de parar e cortar os gastos supérfluos. Não é uma coisa gostosa de fazer, ninguém gosta de constatar que tem um problema, que não está dando conta. Mas quanto mais se deixa passar, pior vai ficar. Então, embora seja dolorido, quanto antes identificar o problema, melhor. Os juros no Brasil são altíssimos e podem elevar uma dívida rapidamente”, revela Police.
Patrícia Santos é um exemplo. Não imaginava que os meses que ficou sem pagar o cartão de crédito, o cheque especial e o financiamento do carro popular, após ficar desempregada, resultariam em uma dívida de quase R$ 50 mil. “É muito difícil você descobrir que deve R$ 50 mil e não ter um patrimônio nesse valor. Não tinha ideia de que devia tanto até os avisos de cobrança começarem a chegar. Minha dívida era de roupas, passeios e o carro, que não custava mais do que R$ 20 mil, mas ainda não estava quitado. Não sei como cheguei a esse ponto sem perceber, mas sei que os juros ajudaram bastante. Precisei pegar empréstimos de familiares, vender o carro, e paguei primeiro o que cobrava mais juros”, conta a publicitária.
Hábitos perigososAlém de observar e avaliar atentamente os gastos, os especialistas afirmam que há vários sinais de que uma pessoa vai enfrentar um problema financeiro. “Tem gente que se engana. Já ouvi clientes dizendo que gastaram muito em determinado mês porque tiveram um acidente de carro. Isso acontece, claro. Mas é por isso que é fundamental ter seguro e plano de saúde. Também já ouvi a justificativa: tive um imprevisto, o IPVA (Imposto de Propriedade de Veículos Automotores). Ora, todos sabemos que IPVA não é imprevisto. Então, o primeiro passo é parar de se enganar e assumir que você está descontrolado”, garante Police.
Rytenband completa: “é preciso saber identificar problemas e comportamentos de risco. Uma pessoa estourada no cheque especial, pagando 10% de juros ao mês, e que tem dinheiro na poupança - mas não o usa para quitar essa dívida - tem dificuldades para identificar comportamentos de risco. É comum a pessoa alegar que não quer mexer na poupança, “pois aquele é o único dinheiro que ela tem”, mas manter um investimento que rende 0,5% ao mês e continuar pagando 10% de juros certamente vai levá-la à falência”.
Mas, para o planejador financeiro da Police Consultoria, o sinal mais claro de um provável problema é o aumento no nível de endividamento. “É fácil perceber. Uma pessoa que não pegava dinheiro no banco e que, de repente, começa a entrar no cheque especial, passa a considerar o limite do cheque parte do salário. Quem vez ou outra pega um empréstimo no caixa eletrônico e depois começa a pegar um empréstimo para pagar outro vai enfrentar sérios problemas. A mesma coisa com o cartão de crédito: primeiro a pessoa compra no cartão e paga a fatura. Depois começa a parcelar as compras no cartão, aí para de pagar o total da fatura, em seguida começa a parcelar itens como supermercado no cartão e, por fim, pega empréstimo para pagar o cartão. É um caminho longo com sinais que podem ser percebidos se a pessoa estiver atenta às mudanças no seu comportamento”.
De fato, Cristina admite que faltou atenção aos seus gastos e comportamentos. “Foi preciso levar um grande choque para perceber que eu estava descontrolada. Percebi que gastava muito dinheiro com mimos para os meus filhos, sempre usando a desculpa de que eles mereciam tudo de melhor. Realmente merecem, mas já entendi que tenho que dar a eles o que meu orçamento permite. Mesmo tendo essa consciência é difícil controlar. Meu marido está me ajudando para que eu não cometa os mesmos erros. Felizmente, eu pude contar com o dinheiro que ele poupava para pagar as dívidas, senão eu ainda estaria pegando empréstimos, fazendo novas dívidas, tanto para tentar quitar o que estava devendo, quanto para consumir ainda mais”.
Valter elogia a atitude de Cristina. “A família precisa estar perto nesse momento. Aliás, eu defendo que o orçamento deve ser feito e avaliado por todos da família. Não adianta um se controlar e os outros gastarem demais. Manter os gastos dentro de um limite deve ser um compromisso de toda a família”.
O motivo que levou Cristina a se endividar é o mesmo que leva muitas pessoas aos problemas financeiros: comprar por achar que merece.
“Todo mundo, quando vai comprar algo mais caro, usa essa afirmação: eu mereço, trabalho tanto. Provavelmente mereça mesmo, mas esses agrados podem trazer uma grande dor de cabeça. A verdade é que quem não atingiu a independência financeira não deveria se dar ao luxo de ter algumas coisas. Carrão e casa de praia não são sinônimo de uma boa situação financeira. Ao contrário, são bens que trazem despesas e podem comprometer muito o orçamento de uma pessoa. É preciso ter cuidado ao proferir a frase ‘eu mereço’”, alerta Richard Rytenband.
Independência financeiraO economista explica que, para evitar definitivamente os problemas, o caminho é óbvio: atingir a independência financeira (conseguir que os lucros - gerados por bens e investimentos - paguem todas as despesas mensais), para que a pessoa não precise de fontes externas de renda, nem mesmo do salário.
“Sei que isso não é fácil, mas é possível. O problema é que a mentalidade das pessoas está errada. Por exemplo, as pessoas não têm que poupar com o objetivo de ter uma reserva para a aposentadoria, o ideal é adotar hábitos que levem a conquistar a independência financeira antes, para ter rendimentos durante a aposentadoria. Mas, para conseguir isso, é preciso ter investimentos e uma sobra constante. É fato: só vai se dar bem quem gasta menos do que ganha”, afirma o professor, que completa: “e também é importante saber que não é possível conquistar esse patamar apenas poupando. Para conseguir isso é preciso investir, já que a poupança apenas evita que o dinheiro perca seu poder de compra”, aconselha Rytenband.
Teste rápidoRichard Rytenband elaborou um teste para você identificar se é candidato a problemas financeiros. Se você identificar, em seu comportamento, pelo menos três atitudes das cinco descritas a seguir, pode enfrentar dificuldades se não alterar rapidamente sua forma de agir. 
1 - Gasta tudo que tem ou mais do que tem.
2 – Tem qualquer forma de dívida, principalmente cartão de crédito e cheque especial.
3 - Não tem o hábito de investir.
4 - Não é “útil” para a sociedade: sem utilidade social, se a pessoa ficar desempregada, não consegue se reposicionar. Sem ganhos, não há como atingir a independência financeira. É fundamental investir em si próprio para se tornar útil.
5 – Não tem consciência de que o dinheiro perde valor ao longo dos anos – sem essa consciência, a pessoa deixa o dinheiro em investimentos muito conservadores, que não trazem lucro.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Autoridades cancelam obras urbanas da Copa em Manaus e anunciam feriado em dias de jogos

Vinícius Segalla. 14/11/2012
Do UOL, em São PauloProjeto do monotrilho de Manaus
  • Projeto do monotrilho de Manaus
O Ministério do Esporte ainda não sabe, ou ainda não informou a população, mas as autoridades do governo do Estado do Amazonas e da Prefeitura de Manaus já desistiram de construir, em tempo para a Copa do Mundo de 2014, as duas obras de mobilidade urbana que se comprometeram a executar para o Mundial.
Em janeiro de 2010, o governo estadual comprometeu-se a construir uma linha de monotrilho, atualmente orçada em R$ 1,3 bilhão (sendo R$ 600 milhões de verbas federais). Já o município de Manaus assumiu a obrigação de fazer um sistema de corredores de ônibus integrado (BRT, ou Bus Rapid Transit), no valor de R$ 290 milhões (sendo R$ 200 milhões dos cofres da União).

MANAUS NÃO ESTÁ SOZINHA

  • Divulgação Das cinco cidades-sede da Copa do Mundo de 2014 que incluíram em seu planejamento oficial para o evento a construção de linhas de trem de superfície, quatro não deverão entregar as obras antes do início do Mundial de futebol, em junho de 2014. São elas: Brasília, Cuiabá (foto), Manaus e São Paulo.
O plano de construir os modais foi aprovado pelo Ministério das Cidades, e assim passou a constar na chamada Matriz de Responsabilidades da Copa, por serem consideradas intervenções essenciais para que a capital amazonense pudesse ser uma das sedes da Copa de 2014. A tal matriz, que sofre atualizações trimestrais, via de regra corrigindo para cima o custo dos empreendimentos e empurrando para frente a data de entrega das obras, ainda prevê as duas obras de mobilidade de Manaus.
No dia 1º deste mês, porém, o governador do Amazonas, Omar Aziz (PDT), e o prefeito eleito de Manaus, Artur Neto (PSDB), informaram a população que já não pensam mais em construir os sistemas de transporte a tempo para a Copa.
“Não teremos tempo para concluir esses projetos até 2014. Tanto o monotrilho, quanto o BRT, dificilmente teriam condições de serem concluídos até a Copa", afirmou o governador, no que foi endossado pelo prefeito eleito de Manaus: "Dialogamos sobre a implantação ao longo de quatro anos de um sistema de transporte de massa moderno".
E, para que o trânsito na cidade não fique caótico em dia de jogos, o governador tem a solução: "A capacidade da Arena da Amazônia é de 42 mil pessoas, isso cabe facilmente no Sambódromo (onde acontecem eventos todos os anos na cidade). As pessoas vão, estacionam e ninguém reclama da mobilidade. No dia da Copa, se decreta feriado municipal e não vai ter problema na mobilidade".
As autoridades só não comentaram o motivo de não terem tempo hábil para construir o que prometeram. Em novembro de 2011, o UOL Esporte já anunciava o cenário que agora é oficial
É em virtude da falta de planejamento conjunto entre as duas esferas administrativas e de uma série de erros e irregularidades apontados reiteradamente desde 2010 por Controladoria Geral da União, Procuradoria Federal e Ministério Público Estadual que a cidade chegará a 2014 sem nenhuma das duas obras.
Na segunda quinzena de novembro do ano passado, o MPF (Ministério Público Federal) afirmou ter disposição e embasamento técnico para anular a concorrência pública aberta pelo governo do Estado para a construção do monotrilho, cuja planta prevê a ligação do centro com a região norte da cidade. A manifestação também foi assinada por promotores estaduais.
À época, os procuradores federais vinham alertando há mais de um ano o governo estadual de que a concorrência pública em curso para a construção da obra estava "eivada de irregularidades".
"Diante da insistência dos gestores públicos em descumprir a recomendação e seguir com o processo de licitação para o monotrilho, o MPF/AM destaca que o projeto básico da obra não atende a vários requisitos da Lei de Licitações (Lei 8.666/93), o que implica na nulidade da concorrência pública, ainda que o processo seja concluído", informou nota da Procuradoria.

OS ESTÁDIOS VÃO ESTAR PRONTOS, MAS A QUE PREÇO?

  • Divulgação Dos R$ 6,7 bilhões aplicados até agora nas obras dos 12 estádios para a Copa do Mundo de 2014, R$ 4 bilhões foram investimentos do governo federal, e apenas R$ 612 milhões vieram da iniciativa privada, ou 10.94% do total.

Mas o governo prosseguiu. Por irregularidades, o processo levou mais de um ano. Quando saiu, não conseguiu obter a excelência técnica para convencer a Caixa Econômica Federal a liberar os recursos. Paralelamente, o governo percebia que não tinha dinheiro para pagar todas as desapropriações necessárias. E assim seguiu a vida, até a desistência oficial de honrar o que se assinou.
Já em relação ao BRT, a Controladoria Geral da União detectou problemas no projeto em fevereiro de 2011. O órgão de controle federal apontou que a obra do BRT da prefeitura e a do monotrilho estadual passavam, em muitos pontos, pelas mesmas localidades, chegando até a ter pontos de parada previstos exatamente no mesmo local, o que seria impossível de operacionalizar, visto que as obras não estavam sendo construídas ou pensadas integradamente. Assim, a Caixa também não liberou o empréstimo para a obra municipal.
O governo amazonenense, até por pressão do prazo para a construção, reduziu seu plano inicial do monotrilho a ser entregue até a Copa dos originais 39 quilômetros para menos da metade, ou 15,5 quilômetros. Os valores envolvidos na empreitada, porém, não tiveram semelhante queda.
mas agora isso tudo não é mais prioridade. Estado e município irão sentar e pensar juntos em um plano de mobilidade urbana moderno e eficiente para Manaus. Não para a Copa, claro. Para a Copa, é só decretar feriado.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

A crítica impertinente

Antonio Delfim Netto
Valor Econômico - 13/11/2012
 

Todos os leitores do Valor são "ipso facto", bem informados. Sabem que o mandato de Mervyn King, o atual Governador do "The Bank of England" está terminando e que o banco e o Tesouro de Sua Majestade estão à procura, com anúncios públicos no mundo, de um substituto.
No dia 9 de outubro na London School of Economics, para comemorar o 20º aniversário da introdução do sistema de "metas inflacionárias" na Inglaterra, King deu uma aula interessante sobre a história do sistema, seus fundamentos intelectuais, suas vantagens e seus problemas. Refletiu sobre o período da "grande moderação" (1997-2007) e a valorização da libra de 25% contra outras moedas, "não inteiramente explicável", para revelar numa espécie de lamento: a tardia descoberta que a estabilidade dos preços não é condição suficiente para a estabilidade do sistema financeiro. Na última frase da humilde e extraordinária confissão, King engole em seco a prepotência que costuma dominar alguns pseudos cientistas monetários e entrega a sua mensagem: "Entendemos menos do que gostaríamos sobre como funciona a economia." E completou: "O desafio para melhorar nosso entendimento e desenvolver novas ideias é para vocês - a próxima geração de estudantes e acadêmicos na London School of Economics e noutros lugares. Vão em frente."
A leitura das reflexões de um competente economista, suportado pelo "crème de la crème" dos profissionais do departamento de pesquisa econômica do Banco da Inglaterra, é um antídoto às proposições apodíticas de analistas mais afoitos, que costumam afirmar o que deveriam demonstrar. Outro dia um deles discorreu com toda a segurança a respeito "dos efeitos sobre o consumo privado das despesas do governo" usando implicitamente um modelo muito conhecido. Ignorou, sob os olhos embevecidos do entrevistador que outro modelo, também respeitável sugere conclusão oposta. Trata-se, obviamente, de um problema empírico, mas o pior é que não há método econométrico que decida definitivamente a questão. Ao contrário do que se poderia pensar, a afirmação não é falta de conhecimento, mas produto do domínio da "antipatia" à política governamental.
É o caso, por exemplo, da pergunta intrigante se o Brasil está abandonando o famoso "tripé" da política econômica adotada em 1999, depois de termos nos socorrido às pressas do Fundo Monetário Internacional, e que não nos poupou de voltar a ele em 2002: 1º) política fiscal responsável que mantenha relativo equilíbrio e produza um superávit primário que reduza a relação dívida líquida/PIB a alguma coisa parecida com 30% do PIB; 2º) meta inflacionária de 4,5% (+ ou - 2%) e ainda; 3º) um sistema de câmbio flutuante. No período de 1999-2011 isso produziu: taxa de crescimento médio do PIB 3,4%; taxa de inflação média anual de 6,8%; déficit em conta corrente acumulado US$ 188 bilhões. Esses números estão longe de razoáveis quando comparados com outros países emergentes. Onde nossa diferença é significativa, é no esforço de "inclusão" social visto no gráfico 1 e na convergência da relação dívida líquida/PIB vista no gráfico 2, que têm tudo a ver com a política social feita sob o controle da política fiscal. O último mostra, aliás, a importância exagerada que se dá aos pequenos "desvios" entre o superávit primário programado e o efetivamente realizado, diante da tendência clara de queda da relação dívida líquida/PIB. O pecado do governo é tentar mistificá-los com a contabilidade "criativa" que lança dúvida sobre sua credibilidade. Mesmo usando o conceito de dívida bruta/PIB (59%), a situação é confortável. A aritmética preocupante é que o custo da dívida líquida é pouco sensível às variações da taxa Selic, uma vez que as reservas e os imensos créditos ao BNDES já somam um quarto da dívida bruta/PIB e rendem muito menos.
A crítica à política econômica do governo é bem-vinda
Os fatos não parecem indicar nenhum desvio mais importante na política econômica canônica que vimos usando com o necessário pragmatismo imposto pelas mudanças da realidade nacional e mundial. Um magnífico artigo de dois sofisticados economistas do nosso Banco Central (Sales, A.S. - Barroso, J.B.R. - "Coping with a Complex Global Enviroment", W.P. 292, Oct. 2012) é leitura obrigatória sobre esse assunto.
A crítica à política econômica do governo é bem-vinda. É mesmo uma necessidade. Não é razoável supor que o simples fato de alguém estar eventualmente numa situação de "poder" lhe transfere o benefício da infalibilidade. Nem que, para o poder incumbente, a eleição por uma maioria eventual lhe confira a "onisciência" que exija a sua "onipresença". Mas a crítica há de ser objetiva e honesta sobre a qualidade e eficiência dos instrumentos utilizados para atingir os fins que levaram os eleitores a escolhê-lo. A crítica "aos fins" termina na campanha eleitoral. A minoria há de conformar-se, por exemplo, quando a sociedade exagera na escolha de mais "inclusão" do que "crescimento" ou "estabilidade monetária", o que - os economistas sabem - pode levar, no prazo médio, à perdição dos três! Nesse caso resta ao poder incumbente trocar o pneumático com o carro andando, ou ser dispensado na próxima eleição...
Antonio Delfim Netto é professor emérito da FEA-USP, ex-ministro da Fazenda, Agricultura e Planejamento. Escreve às terças-feiras

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Problema tecnológico básico

Autor(es): David Kupfer
Valor Econômico - 12/11/2012
 

A política tecnológica é peça essencial de uma política industrial contemporânea. Isso todos sabem. Mas qual política tecnológica? Essa é uma pergunta de difícil resposta, ainda mais em países como o Brasil, que estão a meio caminho do processo de desenvolvimento.
Existe uma linha de entendimento da questão que coloca ênfase na geração de conhecimento. São os que defendem uma estratégia "science-push", na qual universidades e centros de pesquisa devem exercer a função de âncoras do sistema de ciência, tecnologia e inovação. Se é certo que permita vencer algumas batalhas, é duvidoso que essa estratégia possibilite "ganhar a guerra". Primeiro, devido à grande distância da fronteira que atualmente caracteriza a maioria dos campos de conhecimento no Brasil, trata-se de uma estratégia excessivamente custosa quando contraposta as condições concretas de mobilização de recursos para a sua consecução. Segundo e mais importante, na ausência desses recursos, a massa crítica incipiente torna muito lento o avanço em vista das dificuldades típicas das fases iniciais de aprendizado tecnológico. Devido à óbvia retroalimentação negativa entre custo e prazo, quando avaliada intertemporalmente a estratégia tende a se tornar ainda mais custosa. E mais lenta. À industria caberia tão somente ter paciência para colher os frutos do necessariamente longo processo de acumulação de conhecimentos.
Uma segunda linha centra o enfoque nas necessidades. Nessa estratégia "demand pull" dá-se o oposto. O foco é colocado na indústria, devendo o sistema de C&T ser direcionado exclusivamente para atender as necessidades mais prementes das empresas industriais. Essa estratégia é, certamente, menos custosa. Porém, dado o atraso relativo da indústria brasileira, causa e consequência de seu padrão de especialização, o "velho novo" ofusca o "novo novo", condenando-a a graus muito baixos de efetividade. O fato relevante aqui é que a fronteira tecnológica se move e, para complicar, em direções nem sempre corretamente antecipadas. Por isso, o direcionamento do esforço de inovação exclusivamente para as necessidades do sistema produtivo pode significar um enorme dispêndio de energia para atingir capacitações em vias de se tornarem obsoletas. Ao invés do "catching-up", o risco real é de se pavimentar o caminho para o "falling behind".
No estágio intermediário de desenvolvimento industrial e tecnológico a virtude está igualmente no meio
No estágio intermediário de desenvolvimento industrial e tecnológico a virtude está igualmente no meio. É preciso promover as necessárias ligações entre o sistema de C&T e o sistema produtivo, mas não apenas como uma iniciativa genérica de aproximação entre universidades e empresas. A essência do problema não parece ser a existência de conhecimento nas universidades que, por estar lá represado, não fica acessível para a utilização industrial. O cerne do problema está na ausência de massa crítica, para cuja formação se requer uma maior seletividade e uma menor dispersão de recursos voltados para a construção das capacitações requeridas.
Por isso, o fomento à inovação deve pautar-se por grande dose de seletividade, mirando alvos muito claros e bem definidos, expressos em objetivos específicos que deem margem à construção de indicadores de acompanhamento e possam ser revistos periodicamente. Nesse sentido, é preciso identificar "sistemas setoriais de inovação" (agronegócios, pré-sal, saúde, etc.), o que, por sua vez, impõe um grande desafio associado à institucionalidade da política tecnológica: além de fazer as escolhas, é necessário legitimá-las.
Se não bastasse a complexidade que cerca a definição da estratégia da política tecnológica, é também necessário um avanço compatível na superação dos problemas concretos que dificultam a sua implementação. O Brasil avançou com a segunda geração de políticas de inovação que, hoje, vai muito além do apoio à instalação de infraestrutura física de P&D. Não há dúvida de que a última década presenciou um aumento significativo do volume de recursos destinado a essas atividades. Há pouco mais de dez anos, esses recursos limitavam-se aos programas de crédito reembolsável e não reembolsável operados pelo MCT e aos incentivos fiscais muito limitados dos programas PDTI e PDTA ou muito específicos da Lei de Informática.
Desde então, foi colocado à disposição das empresas brasileiras um verdadeiro arsenal de estímulos para realizar atividades inovativas, sejam incentivos fiscais à P&D automáticos, semelhantes aos principais países do mundo; subvenção a projetos pré-selecionados; apoio a fixação de pesquisadores nas empresas, variados programas de financiamento ao empreendedorismo tecnológico, etc. Cabe destacar ainda a construção de um arcabouço legal muito mais propício com a Lei da Inovação de 2005, ou mais recentemente, margens de preferência nas compras públicas, regimes tributários especiais, requisitos de conteúdo local, dentre outras políticas de demanda.
Então, onde está o problema? O problema tecnológico básico é simples de identificar, embora, reconheça-se, bastante difícil de resolver: o governo constrói políticas de inovação voltadas para uma clientela com um determinado perfil e os clientes, por sua vez, esperam do governo políticas de perfil diferente. Cabe aqui uma analogia, possivelmente tola mas, quem sabe, justificável em nome da economia de espaço. O governo está oferecendo um supermercado (prateleiras repletas de ingredientes). As empresas querem um restaurante (cardápio com pratos já montados).
David Kupfer é professor e pesquisador licenciado do Grupo de Indústria e Competitividade do Instituto de Economia da UFRJ (GIC-IE/UFRJ) e assessor da presidência do BNDES. Escreve mensalmente às segundas-feiras. E-mail: gic@ie.ufrj.br/ www.ie.ufrj.br/gic. As opiniões expressas são do autor e não necessariamente refletem posições do BNDES.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

As gerações perdidas

Autor(es): Jeffrey D. Sachs
Valor Econômico - 30/10/2012
 

O sucesso econômico de um país depende do ensino, capacitação e saúde de sua população. Quando a população jovem é saudável e dispõe de boas escolas, pode encontrar emprego, dignidade e ser bem-sucedida na adaptação às flutuações do mercado de trabalho mundial. As empresas investem mais, sabendo que seus funcionários serão produtivos. Muitas sociedades pelo mundo, no entanto, não cumprem a tarefa de assegurar assistência médica básica e ensino satisfatório para cada nova geração de crianças que surge.
Por que essa tarefa de proporcionar ensino não é cumprida em tantos países? Alguns, simplesmente, são pobres demais para oferecer escolas razoáveis. Os próprios pais podem não ter gozado do ensino adequado, o que os deixa incapazes de ajudar os filhos além do primeiro ou segundo ano de escolaridade, de forma que o analfabetismo e falta de conhecimento matemático básico são transmitidos de uma geração à outra. A situação é mais complicada em grandes famílias (de seis ou sete filhos), porque os pais investem pouco na saúde, nutrição e ensino de cada filho.
Os países ricos, no entanto, também fracassam na tarefa. Os Estados Unidos, por exemplo, permitem cruelmente o sofrimento das crianças mais pobres. As populações pobres vivem em bairro pobres, com escolas pobres. Os pais frequentemente estão desempregados, doentes, divorciados ou até presos. As crianças ficam presas em um contínuo ciclo geracional de pobreza, apesar da afluência da sociedade em geral. Com demasiada frequência, as crianças que crescem na pobreza acabam tornando-se adultos também pobres.
Os EUA estão quase com o pior grau de mobilidade social entre os países de alta renda. As crianças pobres provavelmente continuarão pobres; as crianças nascidas ricas provavelmente serão adultos ricos. Essa imobilidade equivale a um profundo desperdício de talentos humanos.
Um notável novo documentário, "The House I Live In" (a casa onde moro, em inglês), mostra que a história dos EUA, em consequência de políticas desastrosas, é ainda mais triste e cruel do que essa. Há cerca de 40 anos os políticos americanos declararam uma "guerra às drogas", aparentemente para combater o uso de cocaína e outras drogas causadoras de dependência. Como o filme mostra claramente, contudo, a guerra às drogas tornou-se uma guerra contra os pobres, especialmente os de grupos minoritários pobres.
De fato, a guerra contra as drogas levou ao aprisionamento em massa da população jovem, masculina e pertencente a minorias. Atualmente, há 2,3 milhões de pessoas presas* nos EUA, sendo que um número substancial é de pobres que foram presos por vender drogas para sustentar seu próprio vício. Como resultado, os EUA possuem o maior índice de aprisionamento - alarmantes 743 presos para cada 100 mil pessoas!
O filme descreve um mundo de pesadelo, em que a pobreza de uma geração é passada para a seguinte, com a cruel, dispendiosa e ineficiente "guerra às drogas" facilitando o processo. Pessoas pobres, frequentemente afro-americanas, não conseguem encontrar empregos ou voltam do serviço militar sem capacitação ou contatos profissionais. Caem na pobreza e voltam-se para as drogas.
Em vez de receber assistência social e médica, são presos e transformados em criminosos. A partir daí, passam a entrar e sair do sistema prisional e têm poucas chances de alguma vez vir a conseguir um emprego legal que lhes permita sair da pobreza. Suas crianças crescem sem um pai em casa - e sem esperança e apoio. As crianças de usuários de drogas muitas vezes também se transformam, elas próprias, em usuárias; elas também frequentemente acabam na cadeia ou sofrem violências ou mortes precoces.
O mais insano em tudo isso é que os EUA não perceberam o óbvio - e por 40 anos. Para quebrar o ciclo de pobreza, um país precisa investir no futuro das crianças, não na prisão de 2,3 milhões de pessoas, muitas por crimes não violentos, sintomas de pobreza.
Muitos políticos são cúmplices dessa insanidade. Brincam com os medos da classe média, especialmente com o medo da classe média diante de grupos minoritários, para perpetuar esse mau direcionamento dos esforços sociais e dos gastos governamentais.
O ponto central é o seguinte: os governos têm um papel singular a desempenhar para assegurar que todos os jovens de uma geração - tanto as crianças pobres como as ricas - tenham oportunidades. Uma criança pobre dificilmente sairá da pobreza vivida por seu pai ou mãe sem programas governamentais fortes e eficientes que apoiem um ensino de alta qualidade, assistência médica e nutrição satisfatória.
Essa é a genialidade da "social-democracia", filosofia em que Escandinávia foi pioneira, mas que também foi adotada em muitos países em desenvolvimento, como a Costa Rica. A ideia é simples e forte: todas as pessoas merecem uma oportunidade e a sociedade precisa ajudar todos a ter essa oportunidade. Ainda mais importante, as famílias precisam de ajuda para criar crianças saudáveis, bem nutridas e escolarizadas. Os investimentos sociais são altos, financiados por impostos elevados, que os ricos pagam de verdade, em vez de driblá-los.
Esse é o método básico para interromper a transmissão intergeracional de pobreza. Uma criança pobre na Suécia tem benefícios desde o começo. Os pais da criança têm garantia de licença maternidade/paternidade para ajudar a criar o filho. O governo, então, oferece creches de alta qualidade, possibilitando à mãe - sabendo que o filho está em um ambiente seguro - voltar a trabalhar. O governo assegura que todas as crianças tenham vaga em pré-escolas, para que estejam prontas para entrar na escola formal a partir dos seis anos. E a assistência médica é universal, para que a criança possa crescer saudável.
A comparação entre EUA e Suécia é, portanto, reveladora. A partir de dados e definições comparáveis fornecidos pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), os EUA têm um índice de pobreza de 17,3%, quase o dobro do observado na Suécia, de 8,4%. O índice de aprisionamento é dez vezes maior que o da Suécia, de 70 presos a cada 100 mil. Os EUA são mais ricos, na média, do que a Suécia, mas a diferença de renda entre os mais ricos e os mais pobres nos EUA é amplamente maior do que na Suécia. E os EUA tratam seus pobres de forma punitiva, em vez de apoiá-los.
Uma das chocantes realidades dos últimos anos é que os EUA estão quase com o pior grau de mobilidade social entre os países de alta renda. As crianças pobres provavelmente continuarão pobres; as crianças nascidas ricas provavelmente serão adultos ricos.
Essa imobilidade intergeracional equivale a um profundo desperdício de talentos humanos. Os EUA pagarão o preço no longo prazo a menos que mudem de rumo. Investir nas crianças e jovens traz o mais elevado dos retornos que uma sociedade pode almejar, tanto em termos econômicos como humanos. (Tradução de Sabino Ahumada)
* 1.usa.gov/TQelyy
Jeffrey D. Sachs é professor de economia e diretor do Instituto Terra, da Columbia University. É também assessor especial do secretário-geral das Nações Unidas no tema das Metas de Desenvolvimento do Milênio.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Emergentes precisam derrubar tabus

Autor(es): Manoj Pradhan
Valor Econômico - 25/10/2012
 

Mesmo com todo o mistério que a atual transição política da China está revelando ser, a nuvem de incerteza sobre o rumo da sua economia é ainda mais intrigante. A necessidade de reequilíbrio agora é algo conhecido universalmente. As necessidades de crescimento da China1 precisam ser guiadas pelo consumo. De fato, o crescimento dos países emergentes em geral precisa vir de fontes mais sustentáveis (e, portanto, domésticas). Bem menos conhecidos, são os três dilemas que esse reequilíbrio levantará.
Primeiro, o dilema que a China enfrentará: essa orientação ao consumo2 poderia aumentar o custo do capital para investimentos, em um momento no qual o investimento é necessário para a urbanização e para lidar com as mudanças demográficas. Por quê? Um consumo maior significa que as famílias terão de economizar menos. A poupança das famílias chinesas, no entanto, representa uma fonte cativa e barata de capital, graças aos juros dos bancos comerciais, que em termos reais giram em torno a zero.
Para encontrar um melhor retorno sobre o investimento, o capital terá de mover-se para o interior da China, que é a chave para a próxima fase de crescimento da China. Caso uma parte da mão de obra que migrou para a China litorânea siga o capital e volte ao interior, o resultado vai ser uma pressão prolongada de alta nos salários no litoral - boas notícias para o consumo, más notícias para o investimento. À medida que os fatores demográficos mudarem, vai ser necessário um maior investimento em tecnologias que economizem mão de obra, para produzir mais com menos funcionários e para sustentar um número crescente de dependentes.
Segundo, o dilema que os países emergentes enfrentarão: provavelmente há uma relação de troca entre incentivar o crescimento no curto prazo e buscar as reformas que incentivarão o crescimento de longo prazo. A maioria das economias de países emergentes3 tem espaço para afrouxamento monetário e a maioria também tem espaço de manobra fiscal. Valer-se de um afrouxamento generalizado, no entanto, tende a (temporariamente) revigorar o modelo atual. Em 2009, a China elevou os investimentos, a Índia elevou seu consumo e os exportadores de commodities tornaram-se ainda mais dependentes das commodities - o que deixou essas economias em desequilíbrio ainda maior. Os países emergentes precisam resistir a esse impulso.
Terceiro, o dilema que o modelo de crescimento dos países emergentes vai enfrentar: que não haja disponibilidade de demanda externa, com a ressalva de que adotar uma estratégia voltada à demanda doméstica também traz riscos, como explicado em artigo de Dani Rodrik, de Harvard. O setor industrial em uma economia de mercado emergente, mostra o professor Rodrik, é justamente o setor que pode convergir em direção a seu homólogo4 em economias avançadas. Se o crescimento baseado em exportações é coisa do passado, então, é improvável que o setor industrial cresça rapidamente, o que deixa em risco a equiparação com as economias avançadas. Os países emergentes, então, se veem presos entre a incerteza em torno da demanda externa e entre o risco à convergência do setor industrial, decorrente do crescimento baseado na demanda doméstica.
Há alguma solução para restaurar o crescimento? Pode haver. Para levá-la adiante, no entanto, as autoridades dos países emergentes precisarão derrubar alguns de seus tabus. Primeiro, a política industrial, não a política macroeconômica, precisa ser a pedra angular da iniciativa de reequilíbrio. A macroeconômica pode beneficiar todos, mas não pode redirecionar recursos dentro de uma economia com a eficiência que a política industrial teria. A limitação é que a política industrial depende da capacidade das autoridades para escolher os investimentos "certos".
Segundo, as oportunidades geradas pela política industrial deveriam ser financiadas, em sua forma ideal, via déficits em conta corrente. Captar dinheiro das economias avançadas para financiar investimentos com os altos retornos que só as economias de países emergentes podem oferecer é algo natural; exportar o excesso de poupança para as economias avançadas em troca de retornos parcos, não.
Por fim, esses déficits em conta corrente (se tolerados pelos motivos corretos) não deveriam ser vistos como fator de agravamento da estabilidade macroeconômica. O que parece ligar a vulnerabilidade macroeconômica aos atuais déficits em conta corrente é apenas a experiência passada. Essa é uma visão muito simplista, em um mundo no qual as economias com déficits em conta corrente possuem reservas internacionais substanciais, enquanto economias superavitárias possuem necessidades de captação externa considerável. A macroestabilidade5 decorre do crescimento sustentado - nem mais nem menos.
Nem tudo, no entanto, é pessimista. Há garantia de certo otimismo moderado. As reformas da Índia e México, algumas reformas no Brasil e a rejeição de um orçamento insuficientemente reformista do presidente Vladimir Putin na Rússia são bons sinais, embora a aplicação de fato dessas mudanças continue sendo uma preocupação-chave. Além disso, o que o modelo do professor Rodrik não captura é motor de longo prazo de equiparação com as economias avançadas - as melhorias socioeconômicas. Por essa métrica, ainda há espaço de sobra para convergência, mas os países emergentes vão precisar, primeiramente, destrinchar os empecilhos a seu crescimento, para que esses programas de melhoria socioeconômica possam ser financiados. Tudo isso, entretanto, será de pouco alívio até que o mistério em torno da transição política e econômica da China seja esclarecido. (Tradução de Sabino Ahumada).
Manoj Pradhan é economista especializado em países emergentes no Morgan Stanley.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Crescimento sem mudança estrutural?

Autor(es): José Luis Oreiro
Valor Econômico - 23/10/2012
 

Nos últimos dois meses se observou um certo aumento, ainda que tímido, do otimismo com respeito à perspectiva de crescimento da economia para o ano de 2013. Com efeito, os dados mais recentes parecem sugerir uma retomada do crescimento da produção industrial, condição sine qua non para a obtenção de taxas de crescimento mais robustas para o Produto Interno Bruto (PIB).
A partir dos dados da média móvel dos últimos 12 meses da produção física da indústria de transformação (figura), a tendência polinomial (ordem 6) da série de tempo sugere que o ciclo mais recente de queda da produção industrial está se esgotando, e o cenário mais provável para os próximos meses é de expansão do quantum produzido.
A equipe econômica do governo tem utilizado os dados mais recentes da produção industrial para alardear o retorno da economia brasileira a uma trajetória de crescimento acelerado a partir de 2013. Comenta-se que a economia brasileira voltará a crescer a uma taxa entre 4% a 4,5% ao ano de forma sustentada e sem pressões inflacionárias relevantes. Sendo assim, o Brasil retornaria ao padrão de crescimento vigente durante a "era Lula", afastando assim o risco de um retorno ao padrão de crescimento do tipo "voo da galinha", vigente durante o período FHC.
Ciclo de queda da produção industrial está se esgotando. Expansão é o cenário para os próximos meses
Não compartilho do otimismo da equipe econômica do governo. Isso porque a obtenção de uma taxa de crescimento entre 4% a 4,5% ao ano de forma sustentada, sem a ciclotimia do "stop-and-go", requer não apenas a adoção de medidas anticíclicas como tem sido feito pela equipe econômica, mas a adoção de um conjunto de medidas de política econômica que permitam a ocorrência de uma mudança estrutural na economia brasileira. Mais especificamente, o crescimento acelerado e sustentado do PIB exige a reindustrialização da economia brasileira.
No início do governo Lula em 2003, a economia brasileira apresentava uma taxa de desemprego próxima a 12% da força de trabalho. Nessas condições, o PIB pode crescer durante vários anos a uma taxa superior ao limite dado pela soma da taxa de crescimento da população e a taxa de crescimento da produtividade do trabalho, soma esta denominada de "taxa natural de crescimento" pelo economista britânico R. F. Harrod. Enquanto existir um "exército industrial de reserva", o crescimento do PIB a uma taxa superior a natural não irá pressionar o mercado de trabalho a ponto de induzir o surgimento da espiral salários-preços. Nesse contexto, a economia poderá crescer de forma acelerada, sem pressões inflacionárias relevantes.
Entre 2003 e 2010, a taxa de desemprego caiu de 12% para cerca de 5% da força de trabalho enquanto o crescimento da economia se acelerava de 2,5% ao ano (média FHC) para cerca de 4% ao ano (média Lula). A redução do desemprego acompanhada por aceleração do crescimento é sinal claro que, durante a era Lula, a taxa de crescimento do PIB foi maior do que a natural.
Mas qual seria o valor da taxa natural de crescimento da economia brasileira? A taxa de crescimento da população encontra-se atualmente em torno de 1,3% ao ano. Essa taxa pode ser considerada como uma variável exógena e, dentro de certos limites, independente da performance da economia. A taxa de crescimento da produtividade do trabalho na economia como um todo é uma variável endógena que depende, em grande medida, da taxa de crescimento da produtividade do trabalho no setor industrial. Esta, por sua vez, depende da taxa de crescimento da produção industrial com base na assim chamada "lei de Kaldor-Verdoorn". Segundo estimativas de Nassif, Feijó e Araujo (2012)1 o coeficiente de KV para a indústria brasileira no período 1990-2010 é 0,521. Sendo assim, se considerarmos um cenário no qual a participação da indústria no PIB se mantém constante ao longo do tempo - de tal forma que a taxa de crescimento do PIB seja igual a taxa de crescimento da produção da indústria - e que a taxa de crescimento da produtividade do trabalho no setor não industrial é igual a taxa de crescimento da produtividade do trabalho na indústria; então a taxa natural de crescimento (g) será dada por g = 0,0272, ou seja, 2,7% ao ano!!!
Esses números apontam para a ideia de que um crescimento sustentado a taxas robustas da economia brasileira não é possível sem mudança estrutural. Em outras palavras, a produção física da indústria terá que crescer a uma taxa maior do que o PIB (ou seja, a participação da indústria no PIB deverá aumentar) para que a aceleração resultante do ritmo de crescimento da produtividade do trabalho, na indústria e fora dela, viabilize um aumento da taxa natural de crescimento da economia brasileira.
Em suma, a retomada do crescimento a taxas robustas e de forma sustentada ao longo do tempo exige um aumento da participação da indústria no PIB, ou seja, a reindustrialização da economia brasileira. Sem mudança estrutural a economia brasileira estará condenada a repetir a ciclotimia do "voo da galinha" vigente durante a era FHC.
1 Nassif, A; Feijó, C; Araujo, E. (2012). "Structural Change and Economic Development: is Brazil catching up or falling behind?". Anais do V Encontro Internacional da Associação Keynesiana Brasileira.

domingo, 21 de outubro de 2012

O que REALMENTE acontece quando mais de 50% dos votos são nulos!!!

Município de Sergipe pode ter nova eleição para prefeito

A eleição para prefeito em aproximadamente 90 cidades não terminou com a coleta e contagem de votos em 7 de outubro.
Levantamento do Congresso em Foco, com base em dados divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), aponta que pelo menos 87 municípios, espalhados por 23 estados, correm o risco de ter um novo pleito. Isso por causa do alto número de votos anulados na corrida para as prefeituras.
Em Sergipe, o município de Aquidabã pode ter nova eleição.
No município, foram anulados 51,04% dos votos.
O resultado final ainda depende de julgamento no Tribunal Superior Eleitoral.

por NE NOTÍCIAS, da redação

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

O cachimbo que entorta a boca

Autor(es): Miguel Jorge
Valor Econômico - 15/10/2012

A propósito da política de proteção da indústria brasileira, que a presidente Dilma Rousseff acaba de defender em discurso na ONU, algumas considerações parecem, no mínimo, oportunas. À parte a discussão sobre se o Brasil é protecionista ou pratica "iniciativas legítimas de defesa comercial", como definiu a presidente, a questão central é que nossa indústria tem baixa competitividade.
Isso, não somente por questões cambiais, mas por fatores estruturais, entre os quais estão, de um lado, a alta carga tributária, a péssima qualidade da infraestrutura, a baixa produtividade da mão de obra e os custos do trabalho e de financiamento. São os explosivos ingredientes do chamado "custo Brasil", que torna nossa produção mais cara do que em outros países e potencializa os problemas de baixa competitividade.
Mas, de outro lado, é preciso não perder de vista o fato de que o setor tem uma péssima herança dos tempos de mercado fechado e protegido. Dos anos 1970 até 1990, era proibido importar tudo e esse gigantesco protecionismo garantiu à indústria uma enorme zona de conforto, que não exigiu modernização, uma vez que não havia concorrência externa e se dispunha de um grande mercado interno.
Quando o protecionismo prevalece, as indústrias tendem a se acomodar e deixam de investir em modernização
Desse período, o país herdou uma indústria automotiva sucateada até os anos 1990, o atraso tecnológico decorrente da Política Nacional de Informática dos anos 1970 e um passado de hiperinflação, até hoje na memória da população adulta. Resumindo: as restrições impostas aos produtos importados na fase protecionista retardaram o desenvolvimento empresarial no Brasil.
A partir do fortalecimento do real e da abertura da economia às importações, ficaram evidentes as graves deficiências produtivas de uma relevante parcela das indústrias. A abertura econômica teve impacto modernizante em alguns setores, que registraram importantes avanços tecnológicos, mas grande parte das indústrias ficou menos competitiva por várias razões e uma delas decorre, exatamente, da zona de conforto gerada pelo excesso de protecionismo.
Não por acaso, costuma-se dizer que o uso do cachimbo entorta a boca.
Quando o protecionismo prevalece, as indústrias tendem a se acomodar e deixam de investir em modernização, tecnologia e produtividade. Em vez de oferecer produtos de qualidade internacional, trabalham com custos altos e produtos ruins, comparativamente aos internacionais. Resultado: ineficiência em vez de produtividade, conspirando contra o crescimento do país.
A verdade é que continuamos pouco afeitos à competição e o governo, ao trilhar o caminho do protecionismo (ou das "iniciativas legítimas de defesa comercial", como diz a presidente), pouco tem feito para reverter este cenário.
Vale lembrar algumas das medidas mais recentes, voltando há pouco mais de um ano, quando foi anunciado o decreto que aumentou em 30 pontos percentuais o IPI sobre veículos importados - e olhe que, isso para proteger uma indústria, toda multinacional, de importações de apenas 5,9% do total do mercado de automóveis!
De lá para cá, foram sobretaxados os tênis asiáticos de alta performance, impostos limites ao desembarque de carros mexicanos e continuam em análise pedidos de salvaguarda a diversos setores, como o têxtil e o de vinhos.
No início de setembro, o governo brasileiro anunciou a elevação das tarifas de importação de 100 produtos, entre eles pneus, químicos, móveis, petroquímicos e material de construção. A tarifa média de 12%, já bem acima da média mundial, passou para 25%. E outra lista, com mais uma centena de produtos, está sendo preparada para outubro.
Os aumentos ficam abaixo do teto de 35% estabelecido junto à OMC, mas em vários casos a restrição é duplicada, porque a "iniciativa legítima de defesa comercial" vale também para mercadorias já protegidas por medidas antidumping.
A curto prazo, a restrição aos importados funciona às mil maravilhas para os setores protegidos, mas prejudica os consumidores, pois a concorrência reduz o poder de monopólio das empresas locais, e por extensão, os preços. Em um prazo mais longo, no entanto, a proteção contra a competição dos importados desestimula a economia brasileira como um todo, além de reduzir a eficiência e a competitividade do país.
Não nos enganemos: a queda na produtividade reduz a capacidade de as empresas de absorverem aumentos de custos sem repassá-los aos preços. Se os salários aumentam mais que a inflação, como vem acontecendo, fica mais evidente ainda a necessidade de se aumentar a produtividade e a competitividade da indústria.
Para isso, não basta desvalorizar o real, baixar os juros ou adotar "iniciativas legítimas de defesa comercial", porque o crescimento da produtividade não se dá em um passe de mágica. Ao contrário, é uma construção realizada passo a passo, ao longo do tempo.
Essa construção exige investimentos em novas máquinas e equipamentos, que não apresentam cenário de retorno vantajoso no curto prazo, e na formação e treinamento da mão de obra, e exige redução dos vários impostos que estrangulam a produção. Também exige grandes investimentos em pesquisa tecnológica e em inovação.
A exposição à concorrência externa obriga nossas empresas a reduzirem custos, investir no processo de inovação e realizar alianças estratégicas. Essa busca de adequação aos padrões internacionais gera ganhos de qualidade e de produtividade, com reflexos na queda do nível geral de preços dos produtos. A concorrência internacional incentiva o desenvolvimento das empresas, gerando um nova dinâmica nas relações empresariais.
Veja-se o exemplo de nossa agricultura. Na última década, sua produtividade cresceu o dobro da média mundial, ou quatro por cento ao ano, segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O rendimento de algumas culturas, como milho, arroz e trigo, aumentou bem mais do que em países produtores tradicionais, como Estados Unidos, Canadá, Japão e Rússia.
A soja, por exemplo, é um caso de absoluto sucesso. Começou a se espalhar pelo Brasil, a partir do sul, ao longo dos anos 60, e hoje, graças a um forte avanço tecnológico, caminhamos para produzir oitenta milhões de toneladas e ser o maior exportador mundial.
O setor não se acomoda: seu desafio continua sendo explorar novos limites para garantir mais produtividade e sustentabilidade. E a indústria?
Miguel Jorge, jornalista, foi ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior no governo Lula (2007-2010).

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Proibido no Brasil, New Fiesta diesel vence maratona de economia de combustível

Legislação brasileira não permite o uso de motores a diesel em carros de passeio

Por Fabiana Pimentel 


SÃO PAULO - Um Ford New Fiesta acaba de vencer uma maratona de economia de combustível. O modelo é equipado com motor ECOnetic 1.6 TDCi a diesel.
De acordo com o resultado da "ALD Automotive/Shell FuelSave MPG Marathon", realizada na Inglaterra, o veículo atingiu a marca de 46,25 km/l em um percurso de 600 km.
Ford-Fiesta-Facelift_Salao de Paris O veículo venceu por uma diferença de 2,5 km/h em relação ao segundo colocado. O evento é realizado anualmente com a intenção de testar o consumo dos veículos de produção.
Resultado
O carro sofreu algumas alterações para ficar econômico, entre elas, melhorias na calibração, nas relações de transmissão e no sistema inteligente de recarga da bateria.
Outro fator que também contribuiu para a vitória do New Fiesta foi o sistema Start-Stop, que desliga o motor quando o carro está parado no trânsito e religa automaticamente quando o motorista tira o pé do freio.
Para a Ford, o resultado destaca a eficiência do motor diesel e como mostra a influência do modo de dirigir no rendimento de combustível. Em comparação com o consumo oficial de 36,39 km/l, no decorrer da prova o Fiesta ECOnetic teve um desempenho 27% mais econômico

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Eleições 2012 - João e Armando, Os Cavaleiros das Trevas Ressurgem - II

Com um pequeno atraso chega a coluna complementar sobre os eleitos das capitais do Estado.
Nesse post falaremos dos pontos que aproximam e dos que afastam Armando Batalha de João Alves.
Imagino que o 1º ponto e principal é a questão da "limpeza": Armando é "ficha-suja", enquanto João possui passe livre politicamente. São 2 carreiras conturbadas, mas a de Armando não se compara a de João.
O namorado da futura gestora de São Cristóvão possui uma história pra lá de conturbada. Reza a lenda que o mesmo chegou à velha cap sem nenhuma posse e lá trilhou um caminho de sucesso político e financeiro. Vereador, conseguiu alçar-se ao cargo de prefeito e lá permaneceu por 2 mandatos. Foi nessa época também, coincidência ou não, que seu patrimônio foi alavancado. Saiu do nada para virar um grande empresário. Segundo uma ex-esposa em entrevista a grande jornal grande parte de suas posses estão em nome de "testas-de-ferro", entre terrenos, aptos, casas, veículos, fazenda, pousada, postos de gasolina, entre outros bens difíceis de mapear. Tornou-se Deputado, mas não conseguiu concorrer a reeleição por conta de centenas de processos da época de prefeito. Muitas ações de improbidade administrativa, escandalos com relação a leilões, dinheiro da educação, saúde, licitações e mais uma boa quantidade de processos diversos por mau uso do erário. Curiosamente possui apenas, segundo declaração à justiça eleitoral, 2 casas e 1 veículo modelo Veraneio. Pobrezinho...
A seu favor muitos apontam sua capacidade política e um bom 1º mandato como prefeito. Resta apenas torcer para outro bom mandato, através da sua namorada.
João Alves possui uma história um pouco menos conturbada. É conhecido por muitos por ser um grande gestor e homem de trabalho. Engenheiro renomado, publicou diversos livros e na política esteve aliado fortemente a ditadura militar. Foi prefeito biônico de Aracaju e Governador do Estado por 3 mandatos, além de ter sido Ministro do Interior de José Sarney. Pesa contra ele algumas acusações de privilegiar sua construtora enquanto ocupante de cargo público, de mau uso do dinheiro público em obras "faraônicas" e projetos duvidosos no interior do Estado (Chapéu de Couro entre outros) característica notadamente da Ditadura e de problemas afins que desembocaram na prisão de parentes próximos pela Polícia Federal.
Como pontos positivos é reconhecido por ser um grande administrador público, com destaque na área de segurança e infraestrutura.
Mais um que vale torcer para que faça uma boa gestão.
É esperar para ver.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Favoritos ao Nobel de economia 2012

Os Favoritos para ganhar o Nobel de economia deste ano, que sai segunda próxima são:

Sir
Anthony B. Atkinson
Professor Pesquisador do Departamento de Economia
Universidade de Oxford,
Oxford, Inglaterra R.U.
Por estudos de desigualdade de renda e contribuições para o estado do bem-estar e economia do setor público
-e-
Angus Deaton S.
Professor de Relações Internacionais da
Dwight D. Eisenhower e professor de Economia e Assuntos Internacionais
Escola Woodrow Wilson
Princeton University
Princeton, New Jersey, EUA
Pela a pesquisa empírica sobre renda, consumo e poupança, pobreza e saúde e bem-estar.


Stephen A. Ross
Professor da
Franco Modigliani de Economia Financeira e Professor de Finanças
O MIT Sloan School of Management
Massachusetts Institute of Technology
Cambridge, Massachusetts, EUA
Por sua teoria de precificação de arbitragem e outras contribuições fundamentais para o financiamento.

Robert J. Shiller
Professor de Economia da Arthur M. Okun, da

Fundação para a Pesquisa em Economia
Cowles e Professor de Finanças
O Centro Internacional de Finanças
Universidade de Yale
New Haven, Connecticut, EUA
Por contribuições pioneiras à volatilidade do mercado financeiro e da dinâmica de preços de ativos.


Reuters, 2012 

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Eleições 2012 - João e Armando, Os Cavaleiros das Trevas Ressurgem

As eleições desse ano foram marcadas pela volta de velhas lideranças ao poder em 2 dos principais municípios de Sergipe. A 1º capital do Estado viu a esperta articulação de Armando Batalha, vencedor das eleições através de sua mulher, posta de última hora em seu lugar na candidatura, Rivanda Farias. João Alves venceu ainda no 1º turno em AracajuTown e retorna, como Armando, para sua 5º passagem em cargo eletivo.
Aparentemente 2 casos diferentes mas que no detalhe tem muito em comum.
No interior Armando aproveitou-se da falta de aliança adversária. Três candidatdos aparentemente dividiram o mesmo eleitorado (Wanderlê, Carlos Vilão e Betinho) e o fator que muitos apontavam como decisivo para a derrota dele no pleito anterior, o adversário único, dessa vez (a falta desse) o levou a vitória. A isso aliou-se a administração medíocre do prefeito atual. Na capital João aproveitou-se da falta de peso político do jovem Valadares. Faltou alguém mais cascudo para disputar com o octagenário político.
Em comum com Armando, além das 4 passagens por cargos eletivos, algo que deveria ser proibido diga-se de passagem, João também parece polarizar os votos de uma população desiludida. O eleitorado, nos parece, comporta-se como em um jogo de ping-pong, de um lado para o outro, polarizando a disputa entre a suposta esquerda de inclinações centristas representada por Marcelo Déda e a direita tradicional, encabeçada por João. Nesse momento as pessoas acusaram o insusesso do PT em Aju, trazendo João, um político historicamente rejeitado no interior, mas com boa aceitação na capital. Com Armando a coisa é parecida na questão mais geral: também ele foi beneficiado pelo insatisfação da população com o atual gestor municipal, que havia vencido o último pleito, justamente o qual Armando saiu derrotado, mas que desta vez soube capitalizar isso em seu favor.
Ou seja, o que se vê é o povo votando na oposição ciclicamente, seja ela quem for, alternando "velhas lideranças ultrapassadas" ou famílias no poder com apostas em "tábuas de salvação" quando as velhas lideranças se mostram desgastadas. Como dificilmente os gestores vão suprir as expectativas o povo então retorna frustado a opção anterior, trazendo mais do mesmo para a administração, até que surja alguém que seja carismático suficiente para ser catapultado ao status de liderança municipal ou mais, como foi o caso do atual governador.


Amanhã os ponto específicos que aproximam e afastam os candidatos vencedores de Aracaju e de São Cristóvão.

See you

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Defesa da Tese de Mestrado

A quem interessar possa: Defesa da tese de Mestrado "A Crise do Subprime, o Efeito-Contágio e os Mercados Imobiliários do Brasil e dos Estados Unidos". Terá lugar no NUPEC - UFS em frente a DiD. I e é aberto a comunidade, começando hoje às 20:30 hs.

Irracionalidade financeira: por que fazemos o que sabemos que é errado?

Especialistas explicam porque, apesar de conhecer a teoria, muitos não conseguem fazer o planejamento financeiro funcionar

Por Equipe InfoMoney 
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SÃO PAULO - Gastar menos do que ganha, evitar pagar contas em atraso, olhar taxas de juro, poupar, investir... Na teoria, falar de planejamento financeiro é bem fácil. No entanto, na prática nem sempre é assim.
Apesar de comprometido em elaborar um orçamento que pudesse ajudá-lo a entender melhor os seus gastos e, eventualmente, auxiliar no equilíbrio das contas, o jornalista Fernando Borri, de 22 anos, passou a organizar o seu orçamento com um planejamento financeiro em meados do ano passado. Apesar de colocar tudo no papel, as contas nunca fecham no final do mês.
irracionalidade financeira “O planejamento não funciona por minha causa mesmo”, se culpa Borri. “Preciso aprender a controlar melhor os gastos e a diferenciar vontades de necessidades”, completa.
O analista de sistemas Rubens Yokomizo, de 29 anos, sente a mesma dificuldade em planejar as finanças e culpa, principalmente, o consumismo exagerado e as compras sem planejamento. “Acredito que muitos dos meus erros sejam fruto do consumismo e do imediatismo em adquirir um produto sem planejamento. Isso deve afetar diretamente minhas contas”.
Não planejar compras e não controlar gastos são, de fato, algumas das causas do fracasso de um planejamento financeiro. Mas, se eles sabem exatamente onde está o problema, por que não conseguem corrigir o erro e rever os hábitos em prol da saúde financeira? 
Razão x Emoção
De acordo com Tahira Hira, especialista em finanças pessoais e professora da Universidade de Iowa, nos Estados Unidos, apesar de ser correto afirmar que, quanto mais sabemos sobre determinado assunto, melhores são as nossas decisões a respeito, quando se trata de dinheiro, muitas pessoas não usam todo o conhecimento para conter determinados comportamentos. “Muitas forças sociais e psicológicas influenciam nossas atitudes e muitas decisões são tomadas sob essas influências”, revela.
A psicanalista Vera Rita de Mello Ferreira, autora de livros como “A Cabeça do Investidor” e “Psicologia Econômica – estudo do comportamento econômico e da tomada de decisão”, completa afirmando que a decisão de planejar é baseada na razão, mas o que interfere no dia a dia da organização das finanças é a emoção.
“O planejamento é feito pelo lado racional, mas o que interfere é o lado emocional, o lado impulsivo, de fazer as coisas sem pensar”, argumenta. “O planejamento financeiro é furado pelas ações do momento, impulsivas, que enxergam outro pedaço da situação, da realidade, do quadro. Assim, fica muito fácil esquecer qualquer tipo de planejamento feito anteriormente”, finaliza.
Segundo a psicanalista, o planejamento é baseado no longo prazo, enquanto as “furadas” têm como objetivo o curto prazo. “E como a gente está sempre presente no curto prazo, porque é agora que a vida acontece, a probabilidade de fazer coisas que contemplem o curto prazo sempre é maior”, explica. “Assim, se a pessoa conseguisse perceber a diferença dos prazos e das necessidades, respirasse fundo antes de tomar qualquer atitude e mirasse no futuro, conseguiria conter ações impulsivas”, ensina. “Mas isso é difícil, são poucas as pessoas que conseguem”, pondera.
Por outro lado, segundo o especialista em economia comportamental Dan Ariely, autor dos livros “Previsivelmente irracional” e “O lado bom da irracionalidade”, é possível usar a emoção sem destruir o orçamento. “Apesar de a emoção levar, normalmente, a ações impensadas quando o assunto é planejamento financeiro, ela tem o lado bom de colocar a pessoa para imaginar o futuro, o que pode motivar ações mais planejadas”, opina. Segundo ele, essa é uma maneira de usar o lado racional e o emocional juntos em prol do planejamento.
Armadilhas
Se você tiver mais informações sobre o jeito que a sua cabeça funciona, reconhecendo determinadas ciladas, fica mais fácil identificar certas atitudes que influenciam, negativamente, no sucesso do planejamento financeiro. “Com informações você tem um pouco mais de possibilidade de ‘se pegar no pulo’”, explica Vira Rita.
Entre as armadilhas está o que se chama, na psicologia econômica, de contas mentais.
De acordo com essa teoria, do economista comportamental Richard Thaler, costumamos separar nosso dinheiro em contas distintas (corrente, de investimentos, gastos futuros) e, muitas vezes, imaginamos que a nossa renda é suficiente para muito mais gastos do que ela realmente comporta.
Segundo Vera Rita, existem diversas situações do nosso dia a dia que nos levam a realizar contas mentais, como basear o planejamento no salário bruto e não líquido e superestimar o limite do cartão de crédito.
No primeiro caso, por exemplo, a pessoa que tem um ganho bruto - antes dos descontos - de R$ 5.000; na hora de preparar o orçamento, utiliza esse valor como base, sem levar em conta que, na realidade, receberá, líquido, pouco mais de R$ 4.000 - descontando INSS e IR. Essa diferença pode causar um grande estrago nas contas.
Com relação ao cartão de crédito, por conta da possibilidade de comprar em diversas parcelas, muitas vezes sem juros, o consumidor se perde nas contas, realizando cálculos inexistentes. O grande erro, nessa hora, é sempre considerar o limite como valor disponível, sem calcular as parcelas que estão pendentes e subtraí-las do total.
Outra armadilha é, segundo a psicanalista, a falácia dos custos irrecuperáveis. Como ela mesma exemplifica, é o famoso “já que...”.
“A pessoa fura um pouco o planejamento e isso a deixa superdesconfortável. É tão chato ter esse sentimento que ela pode incorrer na falácia do ‘já que eu já me descontrolei, então vou continuar gastando’”, afirma. “É igual a dieta: ‘já que comi um bombom, vou comer a caixa inteira de chocolate’”, compara.
De acordo com a psicanalista, muitas vezes essas atitudes são tomadas de forma inconsciente. No entanto, tendo ciência de que as armadilhas existem, fica mais fácil tomar cuidado na hora de planejar e calcular, tornando o seu orçamento o mais real possível.
 Driblando o emocional“Uma das minhas crenças fundamentais sobre dinheiro é que tudo se resume a autocontrole: fazer as coisas certas e prevenir-se de fazer as coisas erradas”. A frase é do planejador financeiro Robert Brokamp, conselheiro do The Motley Fool, companhia americana de soluções financeiras.
Mas como driblar o emocional e exercitar esse autocontrole em prol do sucesso do planejamento financeiro? A resposta pode estar na força de vontade!
De acordo com Brokamp, o professor de psicologia da Florida State University, Dr. Roy Baumeister, defende que a força de vontade pode ser aprimorada e exercitada com o objetivo de melhorar as finanças pessoais. “Ela funciona como um músculo, ou seja, quando exercitada, se torna mais forte”, revela. Baumeister é coautor do livro “Willpower: rediscovering the greatest human strength (Força de vontade: redescobrindo a maior força das pessoas). Em entrevista publicada no GetRichSlowly.org, Baumeister disse que, para aumentar a força de vontade e o autocontrole, é importante trabalhar sobre os hábitos, e começar pelos mais fáceis.
Tahira Hira completa: “Devemos conhecer a nós mesmos, nossas forças, nossas fraquezas e, principalmente, como elas interferem em nossas finanças. A partir daí, devemos tomar medidas específicas para combater as fraquezas e complementar as forças”, ensina.
Nessa mesma linha, Vera Rita de Mello Ferreira e Dan Ariely dão algumas dicas:
  • Deixe cartões e talões de cheque em casa – “Na hora que apenas o lado emocional estiver dominando, não terá o que fazer, porque não terá dinheiro para comprar”, diz Vera Rita.
  • Coloque um recado na carteira com o seu objetivo – Lembre da viagem para a Europa no final do ano, da reforma da casa, do carro novo etc. “Você se cutuca para ver se foca no longo prazo e deixa de lado os desejos de curto prazo”, afirma a psicanalista.
  • Compartilhe planos e objetivos – “Quando alguém de fora está de olho, fica mais fácil atingir determinados objetivos”, provoca.
  • Conte até cem ou saia da loja e dê uma volta antes de comprar - “O adiamento tira o quente da jogada e dá uma chance de pensar de novo”, aconselha Vera Rita.
  • Torne o planejamento prazeroso – “Poupe para gastar e não para fazer o dinheiro crescer”, ensina Ariely. “Aprendendo a gastar e se permitindo isso, fica mais fácil pensar no futuro”, completa. 
“A ideia aqui é primeiro criar uma estrutura para controlar o comportamento. Depois de um tempo, ficará mais fácil se comportar de forma responsável”, conclui Tahira.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Stanley Fischer, economista

Antonio Delfim Netto
Valor Econômico - 25/09/2012
 

No Brasil um grande número de analistas condena até um encontro casual num elevador, do ministro da Fazenda e o presidente do Banco Central. Isso revela que entendem mal o exercício da política monetária e o da política fiscal. Exigir que o presidente do BC e o ministro da Fazenda se ignorem, não passa de pura ignorância!
Para comprovar isso, nada melhor do que um anúncio conjunto de meia página no "The Economist" de 15 de setembro de 2012 pelo Tesouro Inglês (His Majesty Treasury) e do Banco Central inglês (Bank of England) no qual convidam, para um concurso público, candidatos ao cargo de presidente do banco. Em junho de 2013 deverá vencer o mandato do atual, sir Mervyn King.
E como o feliz vencedor vai trabalhar? O mesmo anúncio informa: "O presidente (the governor) trabalhará intimamente com o ministro da Fazenda (chanceller of the Exchequer) e com o Tesouro (His Majesty Treasury) que é responsável pelo estabelecimento das diretrizes dentro das quais o banco deve operar". Se encontrarmos num "pub" tomando "Guinness" e confraternizando os três ilustres personagens, não devemos suspeitar que o "eleito" perdeu a sua "independência" como acontece em Pindorama...
Fischer combina o conhecimento da Academia e do mundo
Falando de política monetária, Stanley Fischer, presidente do Banco Central de Israel desde 2005, comentou um magnífico trabalho (Cagliarini, A.-Kent, C.-Stevens, G. - "Fifty Years of Monetary Policy: What Have We Learned?"). À sua excelência acadêmica ele soma agora a experiência prática de dirigir um banco central, o que lhe dá muito mais responsabilidade de quando vice-chairman do Citi (1988-1990) e posteriormente, managing director do International Monetary Fund (1994-2001).
Talvez não haja no mundo outro economista que tenha atingido a excelência na Academia, metido as mãos nas entranhas do sistema financeiro privado, aproveitado o poder arrogante do FMI e, no fim, castigado com a presidência de um banco central num país onde as dificuldades políticas e econômicas são notáveis. É por isso que o que ele fala deve ser levado muito a sério.
Depois de mostrar que um sistema de metas de inflação relativamente "flexível", no qual o banco central usa cuidadosa política monetária que leva em conta seus efeitos sobre o nível de atividade para decidir se a velocidade de retorno à meta é capaz de produzir o resultado esperado de estabilizar a expectativa de inflação no longo prazo, ele tece algumas considerações extremamente úteis que derivam de sua longa e variada experiência. Divide-as em quatro itens:
1) o problema de um único instrumento com dois objetivos;
2) o "trade off" nulo no longo prazo entre inflação e crescimento que toma a mesma forma no curto prazo;
3) o problema da taxa de câmbio para as pequenas economias abertas e;
4) os problemas dos preços dos ativos, da estabilidade financeira e da supervisão macroprudencial.
Com relação ao primeiro, ele mostra a inutilidade do famoso teorema que exige um número de instrumentos igual ao número de objetivos, porque esse supõe a independência dos instrumentos e dos objetivos. E conclui: "Portanto, não é geralmente verdade que por que o banco central tem apenas um instrumento (a taxa de juros) ele pode influenciar apenas um objetivo, a menos que o instrumento não tenha nenhum efeito sobre os outros objetivos." No fundo trata-se de um problema prático: de como chegar no entorno, ou seja, não precisamente nos dois objetivos, usando um só instrumento.
Com relação ao segundo, sugere que a não existência de "trade-off" entre inflação e variação do PIB no longo prazo, não é verdadeira no curto prazo. Tal hipótese decorre da aceitação da teoria das expectativas racionais que em geral é incorreta. A verdade, conclui Fischer "é que o longo prazo é uma sucessão de curtos prazos e que em todo momento o banco central tem de levar em conta esse "trade-off"" (no curto prazo).
Com relação à terceira questão, Fischer é categórico (uma mudança de 180 graus com relação à Academia, à prática do mercado financeiro e ao FMI de então): "Nenhuma pequena economia pode ser indiferente ao comportamento de sua taxa de câmbio, que compete com a taxa de juros pelo papel de ser o mais importante preço relativo da economia (certamente a palavra "real" poderia ser inserida duas vezes nessa frase)". E acrescenta, do alto de sua experiência: "Os livros-texto dizem que a política fiscal pode ser apertada para reduzir a taxa de juro e, assim, reduzir os incentivos para a entrada de capitais. Essa é uma boa história e é válida em certas circunstâncias. Usualmente, porém, a política fiscal já tem problemas suficientes para administrar as despesas do governo e seu financiamento sem ter que assumir a responsabilidade pela política cambial. Dessa forma o problema volta ao banco central e a outros instrumentos que não a política fiscal." Ele reconhece as dificuldades do controle de capital, mas adverte que "um banqueiro central nunca deve dizer que nunca"... vai utilizá-lo!
Com relação ao quarto item, resume a questão à de como enfrentar "bolhas". O problema não é decidir se o banco central deve furá-las, mas sim se ele deve levar em conta o estado dos mercados de ativos na formulação da política monetária. A resposta de Fischer é simples e direta: "Sim".
A vida ensinou-lhe a necessária humildade na combinação do conhecimento acadêmico e o mundo real. Alguns de nossos arrogantes analistas que se pensam portadores da "verdadeira ciência monetária" fariam muito bem em tentar imitá-lo.
Antonio Delfim Netto é professor emérito da FEA-USP, ex-ministro da Fazenda, Agricultura e Planejamento.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

O problemático mercado imobiliário!

Reclamação dos EUA ao protecionismo do Brasil é absurda, diz Mantega

COMENTÁRIOS DO BLOGUEIRO: Os EUA históricamente sempre mantiveram uma posição protecionista. Ainda hoje é fácil ver a enorme quantidade de subsídios que os agricultores estadunidenses recebem, numa situação extremamente favorável ante o mercado internacional. 
Os liberalistas muito dizem, mas os países que fizeram abertura inicialmente se fecharam e fizeram uma competição interna, colocaram suas economias em ritmo de globalização e atingirem as fronteiras tecnológicas, ou seja, uma abertura interna, para somente então, bem preparadas, efetivarem a abertura econômica, que agora sim, trará boas consequencias. Mas mesmo após a abertura países como os EUA mantém diversas medidas protecionistas e as expandem se assim perceberem necessário.
Querer reclamar agora é fácil demais né?!



RODRIGO RUSSO

DE LONDRES 

21/09/2012 - 09h06

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que vê como um "absurdo" as acusações do governo americano de que o Brasil estaria adotando medidas protecionistas e distorcendo o comércio entre os dois países.
Após abrir o segundo dia de uma conferência promovida pelo grupo Economist em Londres sobre mercados de alto crescimento, Mantega usou dados da Global Trade Alert para justificar que o Brasil adota muito menos medidas protecionistas que os Estados Unidos.

Brasil e EUA sobem o tom de reclamações contra protecionismo

Medidas do governo Dilma podem ser 'tiro no pé', afirma economista


EUA pedem que Brasil não eleve tarifas de importação


"Além de medidas diretas de protecionismo, ainda temos o "quantitative easing" [injeção de recursos na economia pelo Fed, o banco central dos EUA], que é uma forma indireta de protecionismo, porque desvaloriza a moeda local, reduz o valor do dólar, e um dos objetivos disso é poder aumentar as exportações americanas", afirmou Mantega.
Anteontem, o governo americano encaminhou carta ao Itamaraty alertando que sucessivos aumentos de tarifas sobre importações poderão manchar a relação comercial entre os dois países e que isso pode levar a contrapartidas americanas.
"Pelo contrário, nós até temos feito medidas de liberalização da atividade comercial brasileira", destacou o ministro, que também participou de um breve encontro com o ministro das Finanças britânico, George Osborne.
Durante sua exposição na conferência da revista "Economist", de cerca de 30 minutos, Mantega pediu para protestar contra as críticas ao protecionismo de Brasília. "Nós perdemos de longe da maioria dos países, e inclusive somos o segundo que mais adotou medidas liberalizantes", afirmou.
O ministro considera que, caso os efeitos da política americana cheguem ao Brasil, o governo poderá atuar no mercado comprando dólares, para evitar a valorização do real, e não descarta o aumento da tributação, como do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), sobre operações de caráter especulativo.



Editoria de arte/folhapress

O COMÉRCIO DO BRASIL COM OS ESTADOS UNIDOS
O COMÉRCIO DO BRASIL COM OS ESTADOS UNIDOS

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Liga Europa - Totenham e Lazio

Futebol.

Totenham e Lazio fizeram um bom jogo em Londres pelo início da Liga Europa.

O time de Vilas Boas já dá mostras de já ter incorporado alguma coisa da sua filosofia de jogo. No 1º tempo manteve grande posse de bola, teve boas chances e conseguiu anular as principais peças ofensivas do time italiano, Hernanes, que esteve discreto e Klose. O time inglês conseguia pressionar com Bale e Lennon e compactava e sufocava a equipe adversária rapidamente quando sem a bola, com vários em seu campo de ataque. Outro que jogou bem
 A Lazio só conseguiu sair da teia depois dos 30 do 1º tempo, quando conseguiu marcar um pouco mais a frente e mesmo com o domínio dos Spurs, a equipe italiana teve a chance mais incisiva e nas poucas vezes que se apresentou levou perigo e ao final da 1º etapa ensaiou uma blitz. A 2º etapa foi mais equilibrada, Hernanes caiu mais pela direita e esperava a linha de meio campo encurralar a defesa dos Spurs para ver se conseguia articular, enquanto sua equipe continuava a perder bolas na sua intermediária. No final o empate sem gols ficou de bom tamanho.
São as 2 prováveis maiores forças dessa competição. Os ingleses contam com bom elenco
e a Lazio conta com um time bem montado.

Lições de uma década singular

Autor(es): José Graziano da Silva
Valor Econômico - 20/09/2012
 

A superação da pobreza e da fome não pode desperdiçar tempo nem escalas. Há premência de iniciativas públicas e privadas; não se prescinde da agricultura familiar, tampouco do chamado agronegócio. Cabe aos governos e à cooperação internacional harmonizar esse mutirão ecumênico para que os ganhos da oferta se traduzam na redução da carência.
Destinos humanos estão em jogo. A forma como uma sociedade enfrenta esse desafio define não apenas a sorte dos que vivem do lado de fora da cidadania. Ela ajuda a ordenar o padrão do desenvolvimento e influencia as relações entre mercado, Estado e Democracia. Não são opções teóricas nem ideológicas que nos devem guiar nessas decisões.
O melhor critério de avaliação dessas escolhas é ouvir a voz da experiência. A América Latina tem um campo de provas avançado da necessária convivência entre grandes e pequenos agricultores. Dez anos de políticas sociais e produtivas em ambiente de expansão econômica formam um repertório singular na trajetória regional.
Até que ponto esse impulso combinado gerou a aderência estrutural desejada para desmontar o ciclo de reprodução da pobreza? A pergunta e a resposta interessam à agenda mundial da luta contra a fome e a miséria.
Nos anos 80, o fim de um ciclo de liquidez internacional escancarou a fragilidade do modelo latinoamericano de crescimento. Nos anos 90, a adesão ao cânone da autossuficiência dos mercados expôs as economias regionais a sucessivos episódios de colapso financeiro e desmentiram a existência dos contrapesos autorreguláveis prometidos pelo laissez-faire. O custo social foi devastador: 31 milhões de latinoamericanos caíram na miséria nos anos 90.
A contabilidade das perdas e danos abriu espaço a políticas retificadoras, progressivamente incorporadas à agenda regional do desenvolvimento. Um dado resume a abrangência desse novo marco: um em cada cinco habitantes da América Latina e do Caribe, cerca de 113 milhões de pessoas, participa de programas de transferências condicionadas de renda.
Embora inconclusa, essa travessia teve um efeito amortecedor nos impactos da crise mundial iniciada em 2007.
O PIB regional per capita recuou 3% em 2009. Ao contrário do que ocorreu em outras crises, desta vez o saldo dos avanços não se esfarelou: 41 milhões de pessoas deixaram a pobreza e 26 milhões escaparam do torniquete da miséria na região desde 2002; nove milhões retrocederam aos degraus que haviam superado.
Persistem todavia fragilidades estruturais. Elas favorecem recidivas de miséria e fome, sobretudo no espaço que concentra o núcleo duro da exclusão regional: o universo rural.
O contingente dos que vivem na miséria representa hoje cerca de 13% da população regional: 35 milhões no espaço rural; 35 milhões nas cidades.
A simetria aparente é enganosa. A indigência rural equivale a uma fatia de 30% dos habitantes do campo, uma intensidade quase quatro vezes maior que a urbana (8%), segundo a Cepal. Os dados radiografam uma realidade que desautoriza ilusões na eficácia de automatismos econômicos para corrigir a iniquidade social.
Entre 1980 e 2010, mas sobretudo na primeira década deste século, as exportações agrícolas da região foram catapultadas por recordes sucessivos de preços e volumes, puxados pela demanda mundial de commodities.
Em meio a este ciclo, porém, a pobreza rural exibiu um recuo pífio na América Latina e Caribe: de 60%, em 1980, caiu para 53% em 2010. É o que mostra o "Boom Agrícola e a Persistência da Pobreza Rural na América Latina e Caribe", estudo conjunto da Cepal, FAO e OIT.
O fato de que mais da metade da população residente no campo continue miserável, coloca-nos diante de dois registros. E ambos verdadeiros. Primeiro, oferta abundante não garante segurança alimentar nem aos que vivem no seu entorno físico. Segundo, o grande negócio agrícola veio para ficar, ocupa papel estratégico na geração de divisas de países em desenvolvimento e é imprescindível no abastecimento mundial.
Mas na América Latina e Caribe ele mostrou mais uma vez que oferta não é sinônimo de acesso. A fome pode conviver perversamente com a abundância.
O paradoxo evidencia a relevância de se consolidar uma terceira perna para harmonizar o conjunto. Esse apanágio pertence às políticas públicas. Cabe a elas consolidar direitos trabalhistas no campo, erradicar a precariedade, respeitar a posse dos pequenos, realizar e incentivar investimentos que promovam a segurança alimentar dos vulneráveis, derrubar barreiras de gênero, fomentar a produção familiar, cooperativizar a escala miúda, elevar a produtividade para gerar excedente, renda e abastecimento no mercado interno.
A coagulação da pobreza e da fome no campo latinoamericano e caribenho não é um ponto fora da curva, razão pela qual as lições da experiência da região tem abrangência mais ampla. Das quase 900 milhões de pessoas atingidas pela fome no planeta, 75% vivem na zona rural. Mas a vulnerabilidade de quem gravita em torno da terra é maior. Um terço da população mundial é formado por pequenos agricultores que cultivam menos de 10 hectares: apenas 2% são tecnificados, mais de 70% tem apenas a força de seus músculos como ferramenta. No século XXI, a agricultura ainda é o maior empregador do mundo, 40% da humanidade gravitam em torno dela.
A agenda latinoamericana de combate à fome e à pobreza, portanto, ecoa carências transcontinentais. O mesmo se pode dizer do requisito das políticas públicas para estender direitos trabalhistas, fomento e cidadania ao campo.
José Graziano da Silva é diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO)