quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Taxa natural de desemprego e a política monetária

Coluna com assertivas bem razoáveis, porém o final é controverso.

Autor(es): Tony Volpon
Valor Econômico - 29/02/2012
A iniciativa do Banco Central (BC) de pesquisar junto ao mercado estimativas para a taxa neutra de juros e a taxa natural de desemprego (Nairu) oferece uma oportunidade de rever duas importantes variáveis para pautar o debate sobre a política monetária.
No nosso trabalho para responder o BC, os resultados mais interessantes vieram na estimativa da taxa natural de desemprego. Isso porque, enquanto há pouco debate sobre o fato de que a taxa neutra de juros no Brasil vem caindo, no caso da taxa de desemprego, há uma aparente dificuldade em explicar porque o nível de emprego continua a subir apesar da recente forte desaceleração da economia.
BC deveria reconhecer o atual choque de demanda e aumentar o centro da meta de inflação para 5,5%
Uma queda no nível de desemprego, apesar das oscilações da atividade, sugere que a taxa natural de desemprego vem caindo, o que deve nos levar a explorar o que pode estar causando isso. Uma possibilidade seria o crescimento mais intensivo do setor de serviços. Olhando para o crescimento dos serviços dentro do Produto Interno Bruto (PIB), verificamos que a taxa média trimestral desde 2004 tem sido de 4,4% ao ano, contra 3,7% para a indústria e 3,3% para a agricultura. O crescimento maior do setor de serviço, por ser mais intenso em mão de obra, levaria naturalmente a uma queda na taxa de desemprego.
Para tentar capturar esse efeito, criamos uma variável usando dados da Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) que mede o crescimento de empregos no setor de serviços, além do crescimento esperado do setor dado a expansão do mercado de trabalho como um todo. Verificamos que, na média, desde 2006, o setor de serviços tem criado mais de 5 mil vagas por mês acima do que seria de se esperar, e que hoje esse número está acima de 15 mil empregos por mês.
A inclusão dessa variável, o hiato do produto, e o nível da taxa de juros real possibilitam explicar o desempenho da taxa de desemprego. Podemos, anulando o efeito do hiato do produto, calcular que a taxa natural de desemprego para a economia brasileira estaria hoje ao redor de 7,2%, portanto 1,7% acima do nível de 5,5% verificado no final do ano passado.
Esse resultado confirma a impressão que o mercado de trabalho vem afetando negativamente a inflação, mas é importante entender por quê. Podemos verificar que no fim do ano passado o hiato do produto se encontrava em território levemente negativo, em função da desaceleração em curso, elevando a taxa de desemprego em 0,2%. Mas, ao mesmo tempo, o crescimento relativo de empregos no setor de serviços estava levando a taxa de desemprego a cair 1,6% do seu nível de equilíbrio. Isto é, a causa do mercado de trabalho aquecido não vem de uma política monetária excessivamente frouxa por parte do BC (o que geraria um hiato positivo) mas de um choque de demanda concentrado no setor de serviços.
Somos acostumados a pensar em "choques de oferta", como grandes movimentos nos preços de commodities, mas nada impede que a economia também sofra choques exógenos de demanda. Nos últimos anos é inegável a crescente demanda por serviços no Brasil, provavelmente devido a uma combinação de crescimento da renda com mudanças de hábitos de consumo devido a mudanças de classe social. Independentemente das razões, acreditamos que o Brasil hoje sofre um choque específico de demanda por serviços que tem no mercado de trabalho o principal mecanismo de transmissão para o resto da economia, elevando o custo de trabalho até em setores como a indústria, que sofrem situação bastante adversa.
Podemos ver isso também no comportamento da inflação de serviços subindo acima de 9%. O Brasil tem hoje muito mais um problema de inflação de serviços do que um problema com a inflação, e isso também é sintomático do choque pelo qual passamos.
A boa notícia é que esse choque não vai durar para sempre. Podemos ver a atual inflação de serviços como o "sinal" correto microeconômico dado pelo sistema de preços para puxar recursos para este setor e aumentar a sua oferta ao longo do tempo. Diferentemente de bens comercializáveis, que podem ser importados, a oferta da maioria dos serviços tem origem local e resposta de oferta menos elástica. Mas gradualmente essa oferta vai surgir, fechando o descompasso com a demanda.
Nossa análise permite uma interpretação nova da recente condução da política monetária pelo BC. Podemos interpretar a surpreendente decisão do Banco Central de cortar a taxa Selic em agosto e suas subsequentes decisões como uma escolha de acomodar o choque de demanda do setor de serviços e privilegiar o choque negativo causado pela crise europeia, um choque que já levou a inflação de bens comercializáveis para 4,01% ao ano em janeiro, abaixo do centro da meta. Enfrentando uma economia rodando a duas velocidades distintas, o BC fez sua opção.
Sabemos que só um aperto monetário draconiano levaria a inflação de serviços para a meta. Está claro que não há nenhum apoio na sociedade para isso. Mas, ao mesmo tempo, a insistência do BC que está perseguindo o centro da meta em um horizonte curto carece de plausibilidade: nos níveis atuais, com serviços sendo 25% do IPCA, a inflação de bens comercializáveis tem que rodar em deflação de 1,3% para a inflação cheia chegar ao centro da meta. Isso pode chegar a acontecer temporariamente, mas qualquer normalização nos componentes comercializáveis elevaria a inflação cheia de novo para acima, mais uma vez levando o mercado a questionar a credibilidade do sistema.
A nosso ver seria mais eficaz e transparente o BC reconhecer a existência do atual choque de demanda, que contribui hoje mais ou menos um por cento a inflação cheia, aumentando o centro da meta de inflação temporariamente para 5,5%. Isso já foi feito no passado quando enfrentamos choques de oferta, e não há razão prática ou teórica para não adotar igual estratégia frente a um choque exógeno de demanda. Haveria um ganho importante de transparência, alinhamento de expectativas e, quando o choque dissipar, ampla oportunidade para baixar a meta para níveis menores, preferencialmente abaixo dos 4,5%.
Tony Volpon é diretor do Nomura Securities International, Inc.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Jogo da Rodada II

Complemento do jogo da rodada foi o fiasco que a equipe do Roma fez em partida válida pelo Calccio.
O Atalanta se postou, como era de se esperar, na defesa, apostando no que se mostraram mortíferos contragolpes, contando com dia inspirado de German Denis, nome do jogo com 3 gols e passe para o gol do também destaque da partida Marilungo.
A defesa romanista batia cabeça. O fato mais interessante é que Luís Enrique colocou sua equipe como um arremedo do Barcelona, num 4-3-3 quando atacava, ou ao menos no papel, e num 4-1-4-1 quando defendia. Ocorre que jogar liberando os jogadores do meio campo junto com os dois laterais e três atacantes se mostrou suicídio. Não vou nem elencar aqui os fatores que faz a Roma não conseguir sequer assemelhar seu estilo de jogar ao do Barça, se não faria um jornal. O fato é que a defesa ficou desguarnecida em vários momentos, mesmo que Juan não atravesse a melhor de suas fases e Heize não seja lá um melhor zagueiro do mundo, mas mano a mano fica difícil para qualquer defensor.
Além disso o time pouco produzia em termos ofensivos, não tinha criatividade, sem contar o desperdício de Fernando Gago preso como 1º volante, Taddei como lateral esquerdo, Marquinho como volante/meia pela esquerda...
 Talvez mais interessante seria um 4-2-3-1, tentar Heinze como lateral pela esquerda quase como 3º zagueiro, já que se ele subir ao ataque desconfio que só voltará de taxi, Cassetti na direita, Gago e  De Rossi como volantes (difícil sacar o Taddei do time), Marquinho pela esquerda, Bojan pela direita e Francesco Totti por dentro com Osvaldo no ataque.
O plantel melhorou muito na Roma, mas tem que aproveitar melhor nomes como o de Bojan, ou Marquinho e principalmente quem pode ser o cérebro do time, Fernando Gago!
O inverso do time do Milan, já que o 4-3-3 de Luís Enrique não marca, não tem criatividade, ataca desordenadamente e aniquila as individualidades.

Keynes e os juros

O texto nos revela a elegância a qual o mandatário do BC brasileiro está trabalhando a política monetária. Usando boa parte das idéias de Keynes, está jogando com o psicológico do mercado, algo genial, mas que não deixa de ser um blefe.
O mais interessante é que finalmente o BC toma a rédea da situação, vai para o comando e deixa de lado a estratégia de combinar e alinhar suas percepções com as do mercado para agora ditar as direções.
Se isso fosse um jogo de pôquer Tombini ganharia o jogo sem sequer mostrar as cartas!


Autor(es): José L. Oreiro
Valor Econômico - 28/02/2012
Recentemente o Banco Central (BC) solicitou às instituições financeiras estimativas a respeito do valor da taxa de juros neutra para a economia brasileira, ou seja, o valor da taxa real de juros para o qual a demanda agregada é igual ao produto potencial de forma que a inflação seja mantida constante ao longo do tempo. Essas estimativas apontam para uma taxa neutra em torno de 5,5% ao ano, o que significa uma redução de 1,25 ponto percentual desde novembro de 2010, quando uma consulta indicou a taxa neutra em torno de 6,75%. A redução observada na taxa neutra seria o resultado de "mudanças estruturais significativas na economia brasileira", segundo a ata do Copom, não tendo nenhuma relação com a condução da política monetária.
Uma reflexão um pouco mais aprofundada sobre quais seriam essas mudanças estruturais significativas, contudo, não aponta para nenhuma mudança em particular. De fato, a condução da política fiscal continua basicamente a mesma do segundo mandato do presidente Lula, a poupança pública não apresentou nenhuma melhoria significativa, o crédito doméstico continua se expandindo a taxas elevadas, o grau de indexação formal da economia brasileira ainda é alto e os títulos pós-fixados mantêm uma participação expressiva na dívida pública. Daqui se segue que não há nenhuma razão concreta para se acreditar que tenha ocorrido nos últimos anos um aumento da eficácia da política monetária e/ou uma redução da taxa de juros de "equilíbrio". Sendo assim, como explicar a mudança nas expectativas do mercado a respeito da taxa de juros neutra?
Na sua Teoria Geral do Emprego, Keynes criou o conceito de taxa de juros segura, ou seja, o valor da taxa de juros que o público acredita que irá prevalecer no longo prazo. A taxa de juros segura nada mais é do que uma convenção social, ou seja, uma crença compartilhada entre os agentes econômicos a respeito do valor em torno do qual a taxa de juros flutua ao longo do tempo. Essa convenção não está baseada em "fatores objetivos" como pensa a teoria neoclássica. Em particular, a taxa de juros segura não é equivalente ao conceito de taxa natural de juros dos modelos Dynamic Stochastic General Equilibrium (DSGE) tão em voga atualmente. A taxa natural de juros é tida, nesses modelos, como independente da política monetária, sendo determinada pela produtividade do capital e pelas preferências intertemporais das famílias.
Do ponto de vista keynesiano, o conceito de taxa natural de juros é um completo nonsense porque pressupõe a independência entre o produto potencial e a demanda agregada. Isso porque, em função da existência generalizada de economias de escala e de equilíbrios múltiplos gerados a partir de efeitos de histerese no mercado de trabalho, o produto potencial não é uma variável exógena, mas é dependente da trajetória seguida pelo produto efetivo (e, portanto, pela demanda agregada) ao longo do tempo.
Voltando à taxa de juros segura, Keynes afirma na sua Teoria Geral que: "A autoridade monetária controla, com facilidade, a taxa de juros a curto prazo, não só pelo fato de não ser difícil criar a convicção de que sua política não mudará sensivelmente em um futuro muito próximo, como também em virtude de a possível perda ser pequena, quando comparada com o rendimento corrente (a não ser que este chegue a ponto de ser quase nulo). Mas a taxa a longo prazo pode mostrar-se mais recalcitrante no momento em que caia a um nível que, com base na experiência passada e nas expectativas correntes da política monetária futura, a opinião abalizada considera "inseguro".
Isso não quer dizer, obviamente, que o Banco Central não seja capaz de influenciar a taxa de juros de longo prazo. Ele poderá fazê-lo desde que consiga induzir uma mudança nas expectativas que os agentes econômicos formulam a respeito da taxa segura de juros. Em outras palavras, uma redução da taxa de juros de longo prazo envolve necessariamente a mudança da convenção prevalecente no mercado financeiro sobre o valor da taxa segura. Se o BC não for capaz de produzir uma mudança nas convenções sobre a taxa de juros segura, então a redução da taxa de juros de longo prazo resultante da redução do valor corrente da taxa de juros de curto prazo irá induzir uma expectativa de elevação da taxa longa no futuro próximo. Em função disso, as expectativas a respeito dos valores futuros da taxa de juros serão reajustadas para cima, produzindo o realinhamento do valor corrente da taxa longa na direção da taxa de juros segura.
Daqui se segue que uma condição fundamental para que o BC seja capaz de influenciar a taxa de juros de longo prazo é que a política monetária tenha credibilidade. Credibilidade não significa o compromisso único e exclusivo da autoridade monetária com uma taxa de inflação baixa, como entendem os economistas neoclássicos; mas deriva-se do entendimento por parte dos agentes econômicos de que a política monetária é compatível com o interesse público, sendo conduzida com convicção por parte de uma autoridade monetária, que não corra o risco de ser suplantada. Sendo assim, "uma política monetária que a opinião pública considere experimental em sua natureza e facilmente sujeita a mudanças pode falhar no seu objetivo de reduzir consideravelmente a taxa de juros a longo prazo".
Nesse contexto, as convenções prevalecentes a respeito do valor da taxa de juros segura podem ser alteradas se o público perceber que a política monetária é conduzida de maneira lógica e firme por parte do BC. Via de regra, isso exige mudanças moderadas e graduais na taxa de juros de curto prazo, dando tempo para que o público se acostume com patamares mais baixos de taxas de juros.
Com base nesse arrazoado, uma explicação possível para a redução observada das estimativas da taxa neutra é que nos últimos anos o BC tem sinalizado de forma clara e consistente seu desejo de reduzir gradualmente o patamar dos juros. Como essa sinalização é vista pelo mercado como baseada no julgamento técnico da autoridade monetária, e não como resultado de ingerência política no BC, segue-se que a mesma é vista como compatível com o interesse público e, portanto, crível. Mantidas essas condições, o BC poderá obter uma redução ainda maior da taxa de juros se persistir com sua política gradualista.
José Luis Oreiro é professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB).

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Jogo da Rodada


Dois jogos do campeonato italiano serviram como uma espécie de paradoxo de acontecimentos. O Milan, de Maximiliano Alegri enfrentou a Juve de Conti, enquanto no domingo A Roma foi jogar contra o Atalanta em seus domínios. Em comum entre os romanistas e os milaneses só o esquema, ao menos no papel, 4-3-3.

O Milan consegue ter liga em sua tática de jogo. Quando o time defende o ataque posiciona-se imediatamente atrás da linha de meio campo ou no máximo na intermediária de seu campo, enquanto que a sua defesa espreme seus jogadores de meio campo ficando a frente da grande área, formando um time compacto e difícil de transpor. Um elenco envelhecido (Seedorf, Van Bommel, etc) e de jogadores contestados como Abate, Nocerino, Robinho, Ambosini, Emmanuelson, entre outros é a base da equipe. Ocorre que Allegri conseguiu dar liga a equipe e extrai o melhor tática e tecnicamente de seus jogadores. Robinho, melhor jogador da partida contra a Juventus, cai pelos dois lados de campo, faz as vezes de armador em alguns momentos e ainda volta pra ajudar a marcação. Boateng, que ontem não jogou por lesão, atravessa fase espetacular jogando pela direita do ataque rossonero e Ibra, suspenso no sábado, dispensa comentários.

A formação de defesa deixa apenas o comando de ataque sem função de marcação, no último jogo Pato, geralmente Ibra, e os 2 atacantes restantes, Robinho e Boateng (sábado Emmanuelson) são velocistas para puxar contra-ataques fulminantes, ao tempo que marcam e posicionam-se na intermediária de sua equipe para efetuar a tarefa. Para completar, o técnico da “vechia senhora” escalou mal a equipe, sem o matador Matri e sem Pepe, e para completar Andreas Pirlo, homem da saída de bola da Juve não conseguiu jogar, fortemente marcado.

No final o saldo de 1x1 foi muito bom para Juve, que foi dominada durante ¾ do jogo e teve um gol contra sua meta não assinalado, o que deixaria o Milan com 2 tentos de vantagem. Como a equipe milanista cansou no final o resultado também não ficou de todo ruim, apesar de não ter sido bom, pois o pessoal de Turim continua na ponta da tabela.

Já já o complemento com o fiasco da Roma de Luís Enrique frente ao Atalanta e o cruzamento das informações de Roma e Milan.

Bolsas no mundo todo perdem US$ 50 tri em quatro anos de crise

Segundo pesquisa do Instituto Assaf, queda das ações no período foi de 12%. Apesar da alta nos emergentes, Brasil amarga perda de 12,55%

27 de fevereiro de 2012 | 7h 49
Yolanda Fordelone, do Economia & Negócios
SÃO PAULO - O prejuízo dos mercados financeiros com a crise nos últimos quatro anos não foi pouco. Segundo um estudo do Instituto Assaf, entre 2008 e 2011 a crise deixou um rastro de perdas de US$ 50,4 trilhões nas bolsas de todo o mundo. Em média, o valor das bolsas mundiais em dezembro de 2011 ficou 12% inferior em relação a 2007.
"Apesar das altas em 2009 e 2010, as perdas em 2008, com o subprime, e no ano passado, com as incertezas na Europa e Grécia, foram muito fortes", diz o professor Fabiano Lima, pesquisador do Instituto Assaf. O desempenho durante 2011 arrastou a média anual das bolsas para uma perda de 3% por ano nesse período.
Se compararmos os valores de mercado de 2007 com os valores de 2011, os EUA apresentam queda significativa de 53%; a Europa, perda de 42%. A Austrália, Nova Zelândia e Canadá apresentam alta de 3%; o Japão, de 9% e os mercados emergentes, de 22,6%. Apesar de não representarem numericamente a maioria das bolsas, os mercados americanos e europeus puxam para baixo a média mundial, já que possuem a maior parte dos volumes financeiros movimentados.
Nesse mesmo período, no Brasil, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) desvalorizou-se US$ 175,6 bilhões ou 12,55%.
"Os emergentes continuam com a economia doméstica crescendo, apesar de o ritmo estar um pouco mais lento", comenta o economista da Souza Barros, Clodoir Vieira, ao dizer que ainda há espaço para crescer. "No começo da crise, houve quem dissesse que a recuperação se daria em sete anos. Acredito que será mais rápida", diz.
Vieira calcula que a Bovespa deva fechar o ano em cerca de 78 mil pontos, patamar levemente acima da pontuação máxima alcançada em 2007 (73.920 pontos). Até agora, o Ibovespa acumula alta de mais de 16% em 2012.
A opinião é compartilhada pelo pesquisador. "O ponto é escolher as melhores ações que ainda têm espaço para crescer. As empresas não estão ruins, mas a volatilidade forte deixa todo o mundo temeroso", afirma.

PS.: Veja gráfico setorizado das perdas em http://economia.estadao.com.br/noticias/economia%20brasil,bolsas-no-mundo-todo-perdem-us-50-tri-em-quatro-anos-de-crise,104131,0.htm

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Europa diz adeus à solidariedade

Autor(es): Philip Stephens
Valor Econômico - 24/02/2012
Algumas palavras são propriedade dos europeus continentais. Não costumamos ouvir muitos britânicos ou americanos falando sobre "solidariedade". A expressão pertence ao "meloso" (para as mentes anglo-saxãs) consensualismo de capitalismo de mercado social e aos profetas da unidade europeia. O que aconteceu recentemente é que a solidariedade se dissolveu. Isso explica por que o euro, e a União Europeia, estão emaranhados em tantos problemas.
Nova semana, mais um curativo. O acordo para dar sustentação à Grécia comprou mais algum tempo. O importante - ou assim somos levados a crer - é que a ferida foi cauterizada. Mais uma vez. No entanto, deve ser ululantemente óbvio para todos que, no grande esquema de coisas, a mais recente operação de salvamento é um evento secundário.
Duas coisas são necessárias para que a Grécia evite um catastrófico colapso econômico e social. Elas são relevantes tanto se os gregos continuarem usando ou deixarem de usar o euro. A primeira é vontade política suficiente na própria Grécia para reformar radicalmente o Estado e a economia; a segunda é uma disposição recíproca dos outros europeus para pagar uma conta considerável pelas falhas e fraudes de recentes governos gregos.
A questão pertinente é saber se tal barganha é possível. Os sinais não são encorajadores. Por trás dos xingamentos que marcam a relação da Grécia com os seus parceiros da zona do euro há um colapso total de confiança. Muitos europeus - e não estou falando apenas de alemães - não acreditam que os políticos em Atenas cumprirão suas promessas; muitos gregos pensam que a austeridade draconiana cobrada como preço do alívio da dívida foi calculada para punir, em vez de reabilitar. Um observador imparcial provavelmente diria que ambos os lados têm alguma razão.
Em determinado nível, a Grécia pode ser vista como exceção. A Grécia é pequena e diferente. Em maior ou menor grau, os outros países na periferia da zona do euro aproveitaram a oportunidade apresentada pela UE para se tornarem modernos Estados europeus. A Irlanda, apesar de todos os seus problemas atuais, floresceu como nação autoconfiante libertada de uma obsessão histórica com o Reino Unido. A Espanha abraçou a modernidade com entusiasmo. Os políticos gregos nunca realmente se importaram. Do ponto de vista ateniense, a atividade da UE foi uma fonte de dinheiro, em vez de inspiração política.
Portugal tem se modernizado com lentidão. Sua economia, como a da Grécia, é uma bela bagunça. Mas seus políticos demonstram uma vontade comprovável de recuperação. Portanto, o reservatório de confiança não foi esgotado. As autoridades econômicas em Bruxelas e Berlim colocam Grécia e Portugal em categorias bem distintas.
Estabelecer essa linha divisória não é tão fácil quanto gostariam esses políticos e autoridades. A razão pela qual a Grécia assumiu tal importância - afinal, os gregos respondem por apenas alguns pontos percentuais do PIB da zona do euro -, é porque as autoridades econômicas permitiram que os gregos fizessem declarações grandiosas sobre o futuro da zona do euro. O contágio não é um fato econômico, mas um produto da política.
Se os mercados tivessem sido persuadidos de que a Grécia é realmente uma exceção, os gregos poderiam ter sido postos em quarentena já há algum tempo. Em vez disso, a Grécia passou a ser vista como um teste mais amplo de intenção política - um teste, se quiser o leitor, da solidariedade na zona do euro.
Há dois tipos de solidariedade, como um ilustrativo estudo do Notre Europe, um think-tank parisiense, observou recentemente. Há o simples arranjo transacional - uma apólice de seguro comum contra a possibilidade dessa ou aquela calamidade - e há o autointeresse esclarecido que leva governos a identificarem objetivos nacionais numa estratégia compartilhada e sustentada de integração.
A União Europeia foi construída com base no segundo tipo. Foi relativamente fácil, uns 60 anos atrás. Os horrores de duas guerras mundiais, a ameaça comum da União Soviética e a insistência dos EUA proveram uma lógica irresistível ao que os pais fundadores denominaram processo de construção europeia.
Solidariedade não era a noção sentimental de sonhadores federalistas. Era parte do cálculo objetivo de interesses. Esse conceito permitiu que a França reivindicasse liderança política e a Alemanha reconstruísse sua economia e mantivesse viva a perspectiva de reunificação, ao passo que a Itália poderia aspirar à modernidade e Estados menores poderiam ter voz nos assuntos do Continente. Claro, solidariedade também pôde dizer respeito a um altruísmo elevado que fez as pessoas sentirem-se bem com si mesmas - mas, na raiz, tudo tinha a ver com autointeresse.
A moeda única era a expressão máxima desse casamento de interesses nacionais e mútuos - a crença em que o futuro econômico e político de seus membros eram tão inextrincavelmente interligados que valia a pena estabelecer uma "conta conjunta" inédita de soberania. O enorme infortúnio do projeto foi ser inaugurado apenas quando a maioria dos outros impulsos de solidariedade - memórias da Segunda Guerra Mundial, a ameaça existencial do comunismo, uma Alemanha dividida - estavam se desvanecendo.
Há ainda uma abundância de razões pelas quais seria vantajoso que as nações europeias operassem em conjunto. A mais evidente é a necessidade de uma voz num mundo que pertence cada vez mais a outro. Alemanha, França, Reino Unido, todos são pequenos demais para esse mundo. Entretanto, por mais importantes que sejam, nenhuma dessas ambições - moldar regras comerciais, combater alterações climáticas, assegurar suprimentos energéticos ou promover democracia e estabilidade parecem tão necessários ou urgentes quanto a preservação da paz europeia.
Até onde ficou evidenciada solidariedade na crise do euro, foi do tipo transacional, de soma zero: os países credores só farão X se os devedores fizerem Y. Pode-se dizer que isso é melhor que nada. Até agora, isso manteve o espetáculo em cartaz. Mas nunca explicará adequadamente por que os contribuintes setentrionais devem pagar as dívidas dos meridionais, ou por que os sulistas deveriam encarar as reformas dolorosas como oportunidade e não punição. Isso exige um outro tipo de solidariedade. (Tradução de Sergio Blum)
Philip Stephens é editor e comentarista político do FT.

Montadoras fazem malabarismo para ter carros 65% brasileiros

Severos problemas atribulam o setor automotivo brasileiro. Por exemplo, a redução do IPI pode ser acompanhada com uma linha de raciocínio bastante razoavel: qualquer mínimo problema com a margem de lucro das empresas ou com a desova dos seus estoques elas imediatamente deflagram indícios de demissões, que são reduções nas horas extras, horas trabalhadas, turnos, até chegar nas férias coletivas.
Ocorre a pressão e o lobby sobre o governo, a ameaça de demissões e o governo solta alguma medida vertical que acalma o setor.
Via de regra isso se traduz em dois problemas que se arrastam a anos, estruturalmente gerados, que são a inibição da competição por preços e por inovação. Essas competições se dão por via dos importados que chegam com pacotes robustos de equipamentos de tecnologias difundidas na Europa/EUA e ainda consideradas de luxo no Brasil, como ABS e Air Bag, além de diversos outros mimos, sem que isso resulte em preço maior desses veículos. Pelo mesmo turno, além da competição via preços esse veículos podem sugestionar os fabricantes brasileiros e investir na tecnologia para redução de custos e aprimoramento das carroças daqui, equipando os veículos com mais e melhores tecnologia. O problema é que isso redunda em redução das margens de lucros, uma vez que é preciso reinvestir os lucros, e somas cada vez maiores, para aprimorar a tecnologia e em muitos casos sem repasse dos custos ao consumidor, a depender da elasticidade do mercado claro.
A pancada mais recente foi a introdução do IPI para importados, com a desculpa, ao que parece demagógicamente oportuna, da questão do câmbio, desindustrialização e adereços. Ocorre que se suprime mais uma ótima oportunidade de excitar a competição no mercado automotivo nacional. Podemos dizer que esse aumento abortou a feroz briga que haveria com a chegada do interessante Kia Picanto, ou com a chegada dos veículos da JAC, que ainda aguarda definição de como ficará a questão do imposto, e alguns demais que incomodariam bastante seus nichos de mercado.
Para que se tenha uma longa históra há que se ter um começo e para o caso da história da guinada da indústria automotiva brasileira mais uma vez esse começo foi abortado.
A matéria abaixo revela o mote do momento, o do grau da nacionalização. Mais uma pataquada do governo, passando a nacionalização das montadoras brasileiras "nas coxas", de qualquer jeito, para manter o setor com as maiores taxas de lucro do planeta.
Depois reclama quando o ruído aumenta e o pessoal diz que o preço dos veículos é culpa dos impostos. Bem empregado!!!!
Segue link da reportagem:
http://carros.uol.com.br/ultnot/2012/02/23/montadoras-fazem-malabarismo-para-ter-carros-65-brasileiros.jhtm

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Déficit em conta corrente em janeiro é o maior em 65 anos

No mês passado, País registrou déficit de US$ 7,086 bi; gastos com juros somaram US$ 1,627 bi e contribuíram com resultado ruim

AE | 23/02/2012 11:37

O Brasil registrou déficit de US$ 7,086 bilhões em janeiro na conta corrente, uma das mais importantes contas do balanço de pagamentos, informou nesta quinta-feira o Banco Central (BC). O resultado negativo é o maior de toda a série histórica, iniciada em 1947. O déficit ficou dentro da estimativa de analistas que esperavam resultado negativo entre US$ 6,2 bilhões e US$ 7,8 bilhões. O rombo foi maior do que a mediana das projeções, de déficit de US$ 6,9 bilhões.

A balança comercial apresentou resultado negativo de US$ 1,292 bilhão no mês. A conta de serviços registrou déficit de US$ 3,397 bilhões e as remessas de rendas somaram US$ 2,575 bilhões.
Os gastos com juros somaram US$ 1,627 bilhão em janeiro e contribuíram para o déficit recorde nas transações correntes no mês passado. Pesaram ainda remessas de lucros e dividendos no valor de US$ 981 milhões e gastos com viagens internacionais de US$ 1,335 bilhão no mês passado.
A dívida externa total estimada pelo BC passou de US$ 297,349 bilhões em dezembro para US$ 300,285 bilhões em janeiro. Se for descontado da dívida o valor das reservas internacionais e de créditos do Brasil, além dos haveres de bancos no exterior, o País continua credor internacional, no valor de US$ 79,282 bilhões.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Giro do futebol

O giro sobre futebol de hoje vai falar sobre jogos de quarta e de quinta no Brasil e no mundo. Começando na quarta o Santos abusou de perder gols contra o The Estrongest e foi castigado no final: 2x1 para a equipe estrangeira.
O Santos joga com muita proteção a sua fraca e lenta zaga, com 3 volantes, também por ter na frente um poderoso trio ofensivo (Ganso - Neymar - Borges). Se Muricy fizer Neymar ser mais objetivo e ficar de pé vai ser quase impossível para o menino. Outro ponto muito importante é a qualidade de Paulo Henrique Ganso, mesmo quando não joga bem vira e mexe tira um coelho da cartola em forma de passes para deixar os companheiros em condições de finalizar. Esse ano pode ser o dele.
O Flamengo sofreu com a falta de qualidade do seu elenco, jogando com 4 volantes, para empatar com o fraco mas esofrçado Lanús. O time esteve sem criatividade a maior parte do jogo e, unindo-se a isso, tivemos a pouca participação do Ronaldinho Gaúcho durante a partida, único elo de ligação no esquema adotado por Joel Santana, o 4-4-2 à inglesa. Destaque para os laterais, sobretudo Léo Moura, que, após um ano irregular, parece que volta para retomar o posto que foi seu por praticamente 5 anos, de melhor lateral direito do Brasil.
No exterior tivemos o Milan passeando em cima do Arsenal com direito a 2 gols de Robinho e show particular de Zlatan Ibrahimovic no total de 4 tentos a zero. O técnico do Milan montou seu time algo muito semelhante, salvaguardada as proporções, com o time do Santos, protegendo bem sua agora muito bem composta zaga com o possivelmente melhor zagueiro do mundo Thiago Silva em companhia de Mexes, e ensaiando um ataque interessante com Boateng em fase sensacional, Robinho e Ibra, e por vezes Pato.
Por fim vou destacar o Atlético de Madri, equipe que apostei no início da temporada, que venceu por 3 gols a 1 a equipe da Lazio. Falcão Garcia ditou o tom com 2 dos gols, mostrando que não perdeu seu faro de artilheiro. Radamel aliais é o recordista de gols numa só edição da Europa League, 17.

Recesso "carnavalino" galera, voltamos possivelmente na quinta-feira.
Brinquem com parcimônia.
Grande abraço!!!

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Intrincado juro imaginário

Autor(es): Maria Clara R. M. do Prado
Valor Econômico - 16/02/2012
A administração do presidente Alexandre Tombini tem tudo para entrar na história como aquela que ousou desafiar o pensamento monolítico sobre as supostas ações do Banco Central (BC) que até então predominavam no mercado financeiro brasileiro.
Como parte do arsenal de "surpresas" que vez por outra são introduzidas nas atas e relatórios do BC, Tombini lançou ao mercado - alguns, diriam, às feras - a árdua tarefa de definir a taxa de juro real neutra da economia. Árdua e impossível, o que leva a imaginar que a atual administração do BC vale-se cada vez mais da sua prerrogativa de autoridade monetária para guiar as expectativas relativas aos juros básicos em direção a patamares mais baixos. Pela primeira vez em muitos anos, o BC não se deixa guiar pelo mercado. Tem trabalhado para impor uma mudança no paradigma que, apesar dos resultados do Plano Real, caracteriza-se por imputar a taxas de juros absurdamente elevadas, a função divina de manter a estabilidade de preços no país.
A dificuldade na definição da taxa neutra de juros - ou taxa natural ou taxa de equilíbrio - é facilmente observável pela gritante divergência de opiniões que tem sido captada pela mídia junto aos analistas de bancos e outras instituições. E o Banco Central? Será que sabe em que ponto encontra-se a taxa de juro real neutra?
O tema sempre levanta controvérsias, menos pela fundamentação da sua importância e mais pelas complicações em definir uma taxa imaginária, não observável nem a curto e nem a médio prazo. A ideia do juro neutro, que ganhou terreno nos anos 90, é tão antiga quanto a era em que o padrão-ouro ainda primava como a principal referência de intercâmbio entre as diferentes moedas. Foi motivada pelos escritos de Knut Wicksell, um economista sueco (1851-1926) que já em 1898 chamava a atenção para o papel fundamental da taxa de juros como instrumento de controle monetário. Mas não apenas isso: sua grande contribuição está na elaboração do conceito da taxa de juros neutra.
"Existe uma certa taxa de juros dos empréstimos bancários que é neutra com relação aos preços das commodities e tende a não aumentá-los e nem a baixá-los. Necessariamente, é a mesma taxa de juros que seria determinada pela oferta e pela demanda se nenhum uso foi feito do dinheiro e se todos os empréstimos fossem efetuados sob a forma de bens de capital. Isso é o mesmo que descrevê-la como valor corrente da taxa de juros natural do capital", escreveu Wicksell, no fim do século XIX.
Significa supor o funcionamento de uma economia em plena capacidade e que, a esse nível de atividade, a demanda estaria plenamente satisfeita, sem pressões para mais ou para menos no nível dos preços. Como se pode facilmente perceber, a hipótese não pode ser comprovada, apenas inferida. O próprio Wicksell em "paper" que apresentou em 1907, sob o título "The Influence of the Rate of Interest on Prices" (A Influência da Taxa de Juros nos Preços), destaca o caráter abstrato da sua tese - ver www.econlib.org/library/Essays/wcksInt1.html
Na década de 90, com o abandono definitivo do regime das metas monetárias e sua substituição pela meta de inflação, a taxa de juros ganhou extrema relevância como o principal instrumento de controle do comportamento dos preços. A tese de Wicksell foi revisitada e muito tem sido escrito desde então sobre taxa de juros neutra.
Em 1998, Alan Blinder, ex-vice-presidente do Fed (o banco central dos Estados Unidos), lançou um pequeno livro sobre questões monetárias, publicado no Brasil pela Editora 34 sob o título "Bancos Centrais: Teoria e Prática". Nele, Blinder (pág. 53) tenta definir o conceito de taxa de juros real neutra. "Em qualquer momento, dados os determinantes da demanda agregada - incluindo a política fiscal, a taxa de juros e as propensões de consumo dos consumidores e investidores - a economia tem uma curva IS (I de investimento e S de poupança - saving em inglês) de estado estacionário. Com isso quero dizer a curva IS que irá prevalecer quando as defasagens tiverem sido superadas e contanto que todos os choques aleatórios sejam zero", escreve ele, destacando que a taxa de juro real neutra não é um número fixo, é difícil de estimar e impossível de saber com precisão. Trata-se de um conceito operacional, melhor apurado ex-post, como média de um longo período histórico. Diante das dificuldades, Blinder sugere que os bancos centrais estimem a taxa de juros real neutra regularmente em termos de uma faixa de taxas (e não de pontos específicos) e usem esta estimativa como o ponto zero da política monetária.
Mas, atenção, para lá das limitações de mensuração das diferentes variáveis econômicas que influenciam a neutralidade e que podem induzir a erros, é importante reter que o juro neutro, mesmo que hipotético, tem a função de orientar os bancos centrais nos ajustes da taxa nominal de juros. Portanto, equívocos na definição da taxa neutra podem redundar tanto em altas desnecessárias quanto em baixas perigosamente inflacionárias da taxa nominal de juros.
Maria Clara R. M. do Prado, jornalista, é sócia diretora da Cin - Comunicação Inteligente e autora do livro "A Real História do Real". Escreve mensalmente, às quintas-feiras.

Queda anunciada

Autor(es): Marcos Paulo Lima
Correio Braziliense - 16/02/2012
Amigos aconselham Ricardo Teixeira a se licenciar da CBF, mas três de cinco fontes consultadas pelo Correio confirmam para hoje o anúncio da renúncia. Saiba quem pode assumir. Federações exigem eleiçãoNotíciaGráfico

Há 11 anos, no auge da CPI do Futebol, o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, chegou ao Congresso Nacional com uma carta de renúncia pronta. No entanto, um conselho do senador José Sarney teria feito o cartola arquivar o documento. "Não renuncie. No cargo, você tem muito poder. Fora dele, está morto." Mais de uma década depois, o texto pode sair do baú em forma de nota no site da CBF. Nos últimos dias, o cartola, no cargo há 23 anos, e com mandato até 2015, consultou amigos sobre qual seria a melhor tática a usar no xadrez que se tornou a sua administração. As opções são três: renunciar à presidência da CBF e/ou do COL, se afastar por 90 dias das duas funções ou ouvir os ecos de Sarney e tentar novamente resistir bravamente até o fim.
A tendência, no entanto, é que desta vez Ricardo Teixeira sofra um xeque-mate. De cinco fontes ouvidas pelo Correio, o presidente da Federação Gaúcha, Francisco Noveletto, foi o única que não pediu anonimato. E bancou. "Ele vai renunciar. Falei com uma pessoa que esteve com ele e a decisão já está tomada." Segundo Noveletto, uma reviravolta, tal como em 2001, só ocorrerá se ele ouvir os conselheiros. Um deles conversou com o dirigente neste ano e sugeriu que não renuncie, mas se licencie. O argumento usado para tentar convencê-lo é a falta de um vice-presidente pronto e "à altura" para sucedê-lo.
Ricardo Teixeira tem cinco nomes abaixo dele no organograma da CBF, um por região do país: Fábio Marcel Nogueira (Sul), Fernando José Macieira Sarney (Norte), José Maria Marin (Sudeste), Marco Antônio Ferreira (Nordeste) e o ex-presidente da Federação Brasiliense Weber Magalhães (Centro-Oeste). Pelo estatuto da CBF, tanto em caso de licença quanto de renúncia, o cargo passa às mãos do vice mais velho. O trono seria de José Maria Marin, de 79 anos. Por sinal, Ricardo Teixeira não fez nenhuma reunião com todos os vices desde a reeleição. "Ele só despacha com o José Marin", diz uma terceira fonte, em mais um indicativo de que o cartola já vem preparando há um bom tempo a transição de poder.
Além do despreparo e da idade avançada de José Maria Marin, um dos conselheiros lembrou a Ricardo Teixeira que a fragilidade do virtual interino ou sucessor aumentaria ainda mais a crise na CBF. O consultado destacou que o ex-político tem o seu passado ligado ao ex-governador e prefeito de São Paulo, Paulo Maluf. E citou até o furto da medalha na final da Copa São Paulo de Futebol Júnior deste ano como armas para a opinião pública derrubá-lo a fim de forçar a convocação de eleições.
Desânimo
Apesar do esforço, um "passarinho" que buzinou no ouvido de Ricardo Teixeira pelo afastamento disse não ter sido convincente. O dirigente saiu do divã convicto da renúncia. Dias depois da consulta, o mandatário da CBF deu mais uma pista sobre a sua decisão, ao demitir o tio, Marco Antônio Teixeira, da função de secretário-geral da entidade. Ao Correio, o conselheiro chegou a jogar a toalha ao dizer que, ao cortar na própria carne, Ricardo Teixeira antecipou a sua saída definitiva da CBF.
Influente, o conselheiro do dirigente chegou a apontar dois possíveis candidatos à sucessão em caso de renúncia e convocação de eleição: Marco Polo del Nero, presidente da Federação Paulista de Futebol e muito ligado a José Maria Marin; e Marcelo Campos Pinto, diretor da Globo Esportes e favorito à eleição de 2015. Em 2011, o executivo negociou direto com os clubes a renovação das cotas de televisão.
Outros três nomes estão atentos ao comunicado de Ricardo Teixeira. Os presidentes da Federação Gaúcha, Francisco Noveletto; e da Carioca, Rubens Lopes, o Rubinho. O terceiro elemento seria Andrés Sanchez. Questionado sobre a possibilidade de o diretor de Seleções se candidatar, um dos amigos de Ricardo Teixeira menosprezou uma virtual candidatura do ex-presidente do Corinthians às gargalhadas.
A novela promete um capítulo final para hoje, mas independentemente do veredicto, haverá cenas dos próximos capítulos na guerra pela sucessão. E a decisão do personagem principal Ricardo Teixeira é vai determinar aquele que vai rir por último no tabuleiro de xadrez do futebol brasileiro.
Saiba mais
Entenda o processo eleitoral
Em caso de convocação para um pleito a fim de apontar um novo presidente para a CBF, são 47 votos em jogo: 27 das federações e 20 dos clubes integrantes da Série A no ano da eleição. O próximo pleito só será em 2015, a menos que Ricardo Teixeira renuncie e os cinco vices não aceitem ocupar o cargo.
Weber Magalhães entre os cotadosPara alguns presidentes de Federação ouvidos pelo Correio, Weber Magalhães seria o melhor nome para ocupar a vaga deixada por Ricardo Teixeria. No entanto, pela idade, o presidente da Federação Brasiliense de 1996 a 2004 é a terceira opção. De São Paulo, onde comemora o aniversário de 91 anos do pai, o vice pela Região Centro-Oeste falou à reportagem sobre a possibilidade. "Eu sempre recebi muito bem os presidentes de federação em Brasília", lembrou. Para que Weber tome a frente de José Marin, 79 anos, e Fernando Sarney, 57, as federações teriam de convocar uma assembleia. Vontade não falta. "Vocês de Brasília sabem que o futebol está na minha veia há mais de três décadas", afirmou.

Dados sugerem que Europa entrou em nova recessão

Autor(es): Por Assis Moreira | De Genebra
Valor Econômico - 15/02/2012

A queda da produção industrial na zona do euro e a forte contração do PIB da Grécia e de Portugal reforçaram as evidências de que a Europa está entrando de novo em recessão. A combinação de aperto fiscal e desalavancagem dos bancos amplia as dificuldades da economia europeia.
Nos 17 países da zona do euro, a produção industrial caiu 1,1% em dezembro, a terceira queda em quatro meses. No quarto trimestre como um todo, a produção diminuiu 1,8%, após alta de 0,4% no trimestre anterior.
Apesar de indicações positivas recentes no sentimento e na atividade industrial, analistas duvidam que a desaceleração tenha chegado ao fim. O Índice PMI (gerente de compras) na área industrial aponta para mais queda da produção neste começo de 2012.
A zona do euro continuará caracterizada por condições de crescimento divergentes entre os países. Dados da Grécia e de Portugal confirmaram ontem a que ponto as duas economias estão afundadas na recessão. A produção de bens e serviços na Grécia declinou 7% no quarto trimestre de 2011, em relação ao período do ano anterior. No ano, a queda do PIB deve ficar em 6,8%, pior que os 6% previstos pelo Fundo Monetário Internacional em dezembro.
Para certos analistas, isso amplia o risco de que mais ajuda financeira será necessária para a Grécia cumprir os critérios econômicos impostos pelo FMI. Ou seja, o pacote que os ministros de finanças europeus deveriam discutir na reunião de hoje (que acabou cancelada) poderá estar caduco dentro de algum tempo. E a implementação de mais aperto fiscal continuará a ser o principal desafio para a Grécia diante do tamanho de sua recessão.
Em Portugal, a queda do PIB foi de 2,7% no último trimestre de 2011. No ano, a retração econômica do país foi de 1,5%, pior que a contração de 0,6% do ano anterior. Como o declínio se acelerou no último trimestre, o pior ainda pode estar por vir.
Portugal é visto como uma "questão aberta", porque agora parece pouco plausível que o país seja capaz de retornar ao mercado financeiro, como previsto no seu atual programa econômico com o FMI. Isso significa que a UE pode ser forçada até o fim do ano a decidir entre demanda para credores privados reduzirem a dívida portuguesa, como ocorre com a Grécia, ou outro pacote de socorro politicamente intragável.
A expectativa é que a União Europeia anuncie hoje retração de 0,4% a 0,5% no PIB da zona do euro no quarto trimestre. Será a primeira contração do PIB na união monetária desde o segundo trimestre de 2009, indicando o fim da recuperação pós-Lehamn Brothers. "A recuperação de 2009-2011 terá sido a mais curta da economia europeia desde o ciclo entre 1980-82 da dupla recessão provocada por Volker [ex-presidente do Fed, o banco central americano]", conforme disseram analistas do Deutsche Bank.
Para o banco alemão, uma "mild recession", ou recessão suave, continua a ser a melhor previsão para a zona do euro em 2012. Além do aperto fiscal e da desalavancagem dos bancos, o desempenho por país pode reforçar a ameaça de mais riscos para a periferia, especialmente se os resultados da Itália no primeiro trimestre forem bem abaixo das expectativas já modestas.
A contração no fluxo de crédito no quarto trimestre na zona do euro mostra a importância da nova política de liquidez do Banco Central Europeu (BCE). A esperança é que as condições de crédito se estabilizem no segundo trimestre e melhorem no fim do ano.
Na enxurrada de indicadores, a nota positiva ontem foi a alta do índice ZEW na Alemanha, de -21,6 para +5,4, indicando que uma maioria de investidores agora acha que a situação econômica da maior economia do Velho Continente vai melhorar nos próximos seis meses. É a primeira vez desde maio de 2011 que esse dado é tão positivo e alimenta expectativas de que a Alemanha evite no primeiro trimestre uma recessão técnica (dois trimestres consecutivos de queda do PIB).
No entanto, a OCDE (entidade que reúne os países ricos) previu ontem que a economia alemã vai crescer apenas 0,5% neste ano, depois de expansão de 3% em 2010. Ou seja, dificilmente seu crescimento será suficientemente forte para estimular a recuperação econômica do restante da zona do euro..

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Ricardo Teixeira tropeçou, será que ele cai?


Nosso bom samaritano Ricardo Teixeira está à beira do precipício. Desde fins da semana passada, ou um pouquinho antes, é noticiado de forma cada vez mais veemente, a renúncia do mandatário da CBF.
Os escandalos existem e o desgaste também. O caso de propina da ISL e a rixa com Joseph Blatter, a não sucessão da FIFA, que se encaminha para Michel Platini, o desgaste com a Copa no Brasil e os protestos gerados são alguns dos fatores que espremem Teixeira. Junta-se a isso o bombardeio da mídia nesses últimos dias e a denúncia contra o superfaturamento do amistoso da seleção em Brasília, tudo na esteira dos últimos acontecimentos, colaboram para o prenúncio do julgamento final!
Muito burburinho entre os bem informados blogueiros e abelhudos de plantão, caso dos nossos ilústríssimos e muito competentes  Juca Kfouri, Quesada, PVC, entre outros, e entre esses há quem sopre sutilmente a derrocada do rapaz, como também há quem afirme que ele não renuncia de jeito nenhum!
Teve gente que disse até que é mais fácil o Tiririca "paçar" no exame da OAB do que o Ricardo sair da CBF!!!! Claro que não foi nenhum dos nossos mencionados blogueiros...
O fato é que o desgaste após quase 25 anos de poder, multiplicação do patrimônio e diversos escândalos é quase insuportável. Casos como a ligação do manda chuva da CBF com o ex-presidente da Nike do Brasil e atual presidente barcelonista Sandro Rosell sempre enevoaram o ambiente da seleção brasileira, gerando questionamentos a diversas convocações, como por exemplo a do lateral esquerdo Adriano do próprio Barcelona, que pouco atua na equipe e que, mesmo quando atua, a muito não desempenha a função de lateral.
Talvez o Ricardo tente sair "à francesa" como fez no caso da CPI da Nike e do Futebol, indo refurgiar-se na sexy e ensolarada Miami, até a poeira assentar. Dica do nosso nada ilustre Caixa D'água, esse mesmo, homem forte da federação carioca.
O fatídico dia está marcado para amanhã, resta-no agora só esperar. O estatuto da CBF aponta o vice presidente mais velho, Marin, mas não está descartado que nomes como Andrés Sanches, Marco Polo Del Nero, Joana Havelange (filha de Ricardo).

Vamos pagar para ver.

Monti revoluciona a política italiana e pode continuar além de 2013

Autor(es): Por Barry Moody | Reuters
Valor Econômico - 15/02/2012

O notável sucesso do primeiro-ministro Mario Monti criou tamanha desordem na desacreditada classe política da Itália que analistas já preveem mudanças radicais no cenário político do país ao longo do próximo ano.
Para alguns observadores, o impacto do governo de Monti deflagrará uma revolução política comparável à operação Mãos Limpas - uma ampla investigação sobre corrupção que completa 20 anos nesta semana. A Mãos Limpas dizimou a velha ordem, enviando centenas de políticos para a cadeia e forçando Bettino Craxi, a figura dominante da política italiana de então, a um exílio na Tunísia, onde morreu.
"Todo o sistema italiano está em transição, ligado ao sucesso de Monti e ao panorama europeu. Há uma crise nos partidos", disse um importante político de centro-esquerda que pediu para não ser identificado.
"Não é possível para os partidos atuais voltar ao poder. É por isso que eles estão preocupados", afirmou uma alta autoridade do governo de Monti. "Não creio que nenhum veículo [político] velho vá ser um veículo no futuro."
Quando Monti foi nomeado em novembro para chefiar um governo tecnocrata, com a Itália à beira de uma catástrofe econômica que provavelmente teria matado o euro, houve quem previsse que os políticos lhe dariam apenas uns poucos meses para acalmar os mercados antes de forçar a realização de eleições antecipadas. Políticos de direita falavam em "puxar o fio da tomada".
Tudo isso é passado. Agora, quase ninguém acredita que as eleições acontecerão antes do prazo programado, no segundo trimestre de 2013 - incluindo Silvio Berlusconi, o desacreditado antecessor de Monti.
Os políticos estão lutando para formar novos grupos e encontrar alguém com credibilidade suficiente para substituir Monti. O seu ministro da Indústria, Corrado Passera, ex-presidente do banco Intesa Sanpaolo, vem recebendo muitas menções.
O centrista UDC e outros partidos até mesmo já sugeriram que o próprio Monti deve prosseguir na tarefa de arrumar a economia após 2013, apesar de sua promessa de deixar o cargo. Há, ainda, muitas previsões de que ele se tornará chefe de Estado quando o presidente Giorgio Napolitano - o arquiteto do governo tecnocrata - encerrar o seu mandato, no ano que vem.
Apesar de obrigar os italianos a engolir amargos remédios de austeridade com um grande conjunto de medidas, Monti, que foi recebido como um novo tipo de líder eficaz, justo e prático, mantém uma boa popularidade, com índices de aprovação ao redor de 60%.
Políticos, banqueiros e autoridades dizem que o prestígio intelectual de Monti como ex-comissário europeu colocou Roma de volta ao centro da zona do euro, ao lado de Alemanha e França. Sua estatura permite-lhe proteger os interesses da Itália de uma maneira não desfrutada por Berlusconi.
Tudo isso gera um enorme problema para a velha ordem política, que já tinha um grande desprezo por boa parte da população desde antes de Monti tomar posse, sendo considerada uma "casta" que atuava em interesse próprio. Uma pesquisa coloca a taxa de aprovação da classe política em 12%, com uma onda de recentes escândalos de corrupção agravando o desdém dos italianos.
A ascensão de Monti impõe aos políticos a necessidade de mudanças dramáticas no futuro. "Os italianos não vão tolerar que tudo continue como antes. A combinação de incompetência e corrupção desacreditou toda a classe política", avalia James Walston, professor da Universidade Americana em Roma.
"Creio que, depois de Monti, tudo será diferente", afirmou um político próximo a Berlusconi.
Para responder a essa crise a tempo das eleições do ano que vem, os políticos, tanto da direita como da esquerda, estão divididos e desordenados e procuram manobrar para apresentar um novo rosto aos eleitores.
Fontes próximas a Berlusconi dizem que ele gostaria de formar uma ampla aliança de centro incorporando grupos do seu próprio Povo da Liberdade - que analistas esperam vir a se fragmentar - e do Partido Democrata, de centro-esquerda, cuja facção à direita estaria desconfortável em relação à esquerda descendente do Partido Comunista.
"Após Monti, os partidos precisam apresentar caras novas e, talvez, novas organizações para relegitimar a política, que hoje encontra-se deslegitimada e que poderia ficar ainda mais pelo sucesso de Monti", disse o político próximo a Berlusconi.
A eleição de prefeitos não pertencentes aos principais partidos em Milão e Nápoles e outros acontecimentos políticos locais são vistos como sinais de que haverá grandes mudanças. Alguns políticos sugerem que, além de Passera, outros ministros do gabinete de Monti podem emergir em 2013 como candidatos a primeiro-ministro.

O papel construtivo das crises

Autor(es): Pedro Cavalcanti Ferreira
Valor Econômico - 15/02/2012
A crise das dívidas europeias ilustra como as democracias necessitam de crises para tomar decisões impopulares. Itália e Espanha estão aprovando cortes estruturais de despesas, bem como enfrentando lobbies que emperram o funcionamento de muitos setores. Portugal segue lentamente na mesma direção. Até a Grécia inicia um movimento, embora a gravidade de seu problema sugira que talvez já seja tarde demais.
A principal fonte de desequilíbrios fiscais na Europa são os generosos programas sociais criados no pós-guerra, quando a indústria mundial, então concentrada na Europa e nos EUA, podia arcar com a alta carga tributária requerida para sustentá-los. Atualmente, as populosas economias asiáticas empregam na indústria exportadora uma mão de obra de baixíssima remuneração, o que implica custos de produção muito inferiores aos europeus. Para sobreviver aos novos competidores, a carga tributária sobre a indústria europeia teria que cair. Mas isso exigiria a redução do custo dos programas sociais. O enfrentamento do problema foi adiado por sucessivos governos, provocando aumento das dívidas. A crise atual resulta da incapacidade dos políticos europeus em negociar uma adaptação realista aos novos tempos.
Mas a crise embute a própria solução dos problemas que ela traz à tona. A acumulação de uma gigantesca dívida pública em tempo de paz decorre das dificuldades de ação coletiva inerentes a regimes democráticos onde há acirrada divergência política. Enquanto os partidos à esquerda não aceitam reduções de gastos, os à direita não permitem aumentos de impostos. Ambos sabem o que precisa ser feito para evitar a crise fiscal futura, pois enfrentam as mesmas dificuldades quando se revezam no poder. Mas o jogo político estimula os governos - tanto à esquerda quanto à direita - a adiar medidas dolorosas. Se o partido que está no poder implantar medidas corretivas estruturais, necessariamente penosas no curto prazo, perderá as próximas eleições. Pior, o mesmo ajuste que o afastará do poder permitirá à oposição vitoriosa receber um país preparado para o crescimento, assim colhendo os frutos plantados por quem perdeu as eleições - no Brasil, os ajustes estruturais implantados durante o segundo governo FHC deram três mandatos presidenciais ao PT.
Proximidade do abismo catalisa o consenso político necessário para a aprovação dos ajustes longamente adiados
O jogo de empurra chega a um impasse quando os mercados começam a desconfiar que, sem reformas, a dívida tornar-se-á impagável, passando a exigir taxas de juros exorbitantes para a rolagem dos títulos públicos. A proximidade do abismo catalisa o consenso político necessário para a aprovação dos ajustes longamente adiados. Os políticos dos dois grupos acabam votando medidas estruturais, pois podem salvar a face perante o eleitorado jogando a culpa da decisão sobre um ator externo, seja o mercado, o Fundo Monetário Internacional (FMI), ou o líder de um país estrangeiro como Angela Merkel.
Mas há quem aprenda com a própria experiência. A Alemanha, país derrotado em duas guerras no intervalo de 30 anos, e divido em dois por outros 45 anos de Guerra Fria, desenvolveu instrumentos políticos de coordenação que permitem a tomada de decisões preventivamente. Após a criação do euro, conscientes da rigidez nominal imposta pelo câmbio fixo em relação a seus principais parceiros comerciais, os líderes alemães coordenaram as disputas salariais de modo a preservar a competitividade da indústria, bem como adaptaram seus programas sociais à nova realidade internacional. Hoje colhem os frutos dessa sábia decisão. A Grécia, ao contrário, aumentou salários e o emprego público, e ampliou benefícios sociais cuja conta está sendo cobrada agora.
No Brasil, após a maxidesvalorização cambial de 1999, o espectro da volta da inflação permitiu a FHC aprovar a Lei de Responsabilidade Fiscal, bem como executar à risca os acordos de renegociação das dívidas estaduais - a moratória mineira deixou à míngua o governador Itamar Franco. Em 2003, sofrendo a desconfiança dos mercados, Lula incrustou na Constituição o financiamento das aposentadorias dos servidores por meio de fundos de pensão geridos em regime de contribuição definida - projeto bombardeado pelos sindicatos durante o governo FHC.
Após o advento do "mensalão", entretanto, um Lula enfraquecido buscou apoio político em sua velha base sindical, abandonando seu ímpeto reformista - a regulamentação dos fundos de pensão dos servidores ainda está no Congresso. A partir de 2004, a bonança proporcionada pela disparada dos preços das commodities enterrou de vez as reformas.
A recente decisão do governo Dilma de transferir à iniciativa privada a gestão dos três maiores aeroportos do país não foge à regra. Desta vez o catalisador das mudanças não foi uma crise econômica, mas o temor de um grande vexame internacional durante a Copa do Mundo e a Olimpíada. O pragmatismo de Dilma abandonou os dogmas petistas que interromperam as privatizações durante os dois mandatos de Lula. A necessidade está levando o PT a se parecer, cada vez mais, com seus rivais.
Pedro Cavalcanti Ferreira e Renato Fragelli Cardoso são professores do pós graduação da Escola de Economia da Fundação Getulio Vargas (EPGE-FGV)

Muito barulho a respeito da Grécia

Por que a Grécia - um país com pouco mais de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) da região do euro - causa tantas dores de cabeça? Diariamente, pessoas em lugares tão distantes como Pequim e Washington leem notícias sobre promessas não cumpridas e condições não honradas. Não seria melhor, devem se perguntar essas pessoas, deixar que a Grécia fique inadimplente e saia da região do euro, em vez de continuar dispensando tanta atenção às suas mazelas, em grande parte provocadas pela própria Grécia?
Que a Grécia possa, de fato, sair da região do euro, agora é algo que está longe de ser inimaginável. Em informe divulgado na semana passada com coautoria de Willem Buiter, o economista-chefe do Citigroup e ardoroso defensor do projeto do euro julga que a probabilidade de uma saída da Grécia nos próximos 18 meses é de até 50%. "Isso principalmente porque consideramos ter ocorrido uma queda considerável na disposição dos credores da região do euro de continuar fornecendo mais apoio à Grécia, apesar do país não ter cumprido o programa de condicionalidade." Os autores também acreditam que os custos para a região do euro com uma saída da Grécia são menores agora do que antes. A probabilidade de que se permita essa saída, sugerem, aumentou de forma correspondente.
Vamos levar em consideração as questões que qualquer pessoa sensata deveria se perguntar sobre as tensas negociações com a Grécia.
Um pequeno país, economicamente frágil e cronicamente mal administrado, causou tantas dificuldades. A Grécia é o sinal de alerta, o canário que foge ao sentir perigo na mina. O motivo para tantas dificuldades é que as falhas do país são extremas, mas não exclusivas.
Primeira, será que a Grécia pode chegar a um acordo com os credores sobre a reestruturação das dívidas ou o "envolvimento do setor privado"; a um acordo com a "troica" - a Comissão Europeia, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Central Europeu (BCE) - sobre a participação deste último; e a um acordo com os credores governamentais e multilaterais sobre um segundo resgate financeiro? Será que tudo isso pode dar-se antes do próximo resgate de bônus, em 20 de março?
A probabilidade é de que sim. Caso positivo, uma inadimplência desordenada seria, no mínimo, adiada. É possível identificar três motivos para esse desfecho: apesar da ira popular, os políticos gregos concordam de forma esmagadora na vantagem de continuar dentro da região do euro; apesar da desconfiança, a esta altura, generalizada, os detentores do poder na região do euro temem um calote desordenado e o provável abandono da moeda pelo país; e, por fim, o FMI acredita que um programa baseado em reformas estruturais profundas - e não em mais retração fiscal maciça ou privatizações precipitadas - possa funcionar, pelo menos, na teoria.
Segunda pergunta, há probabilidade de que um programa assim funcione bem de alguma maneira? A resposta é "não", como destacou o informe do Citigroup. "Isso porque, primeiro, é muito improvável que qualquer reestruturação acertada leve a um endividamento geral do governo da Grécia de 120% do PIB - objetivo declarado do segundo pacote de resgate da Grécia - e, segundo, porque mesmo se por algum milagre, o governo da Grécia conseguisse endividamento geral de 120% do PIB até 2020, isso seria um [...] encargo pesado demais para a Grécia carregar." É quase certo, então, que seria necessária uma redução ainda maior do endividamento nos próximos anos, mesmo se tudo saísse perfeitamente bem. E não sairá.
A Grécia teve progressos desde o início da crise, embora em grande parte como resultado da austeridade. Seu déficit fiscal primário (sem contar pagamentos de juros) encolheu de 10,6% do PIB em 2009 para uma estimativa de apenas 2,4% em 2011. É um grande declínio, dada a escala da recessão. O governo grego agora está perto do ponto em que precisará captar empréstimos apenas para rolar e cobrir o serviço das dívidas, mas isso não é suficiente. A Grécia também ainda precisa de entradas substanciais de moedas, para cobrir seu déficit em conta corrente, mesmo se não levarmos em conta os juros externos sobre suas dívidas governamentais. Em 2011, por exemplo, o déficit em conta corrente, sem contar os juros sobre as dívidas do governo, ainda era de 4,6% do PIB, apesar da profunda retração.
Será que as reformas estruturais vislumbradas vão gerar uma economia suficientemente dinâmica e, acima de tudo, a melhora nas exportações líquidas necessária para financiar as importações necessárias em uma situação próxima ao emprego pleno? A resposta, apesar das melhoras na competitividade, é: não rapidamente, mesmo se isso puder ser feito de alguma forma.
Terceira, o programa é de interesse da Grécia? A elite política grega acredita que sim. A alternativa - um calote desordenado e a provável saída da região do euro - seria dar um passo rumo ao desconhecido. O país teria de adotar e, então, operar controles cambiais pelo menos temporários. Teria de lidar com uma enorme depreciação de um novo dracma e, então, uma disparada da inflação. Teria de renegociar sua posição dentro da União Europeia. E, por fim, sofreria grandes declínios no PIB e na renda real. Será que tudo isso seria melhor do que resistindo? Provavelmente não, mas como saber?
Quarta, será que o programa adicional grego seria de interesse do resto da região do euro e do mundo? A resposta é: provavelmente sim, mas não certamente. Os argumentos a favor são de que a inadimplência desordenada da Grécia, combinada ao abandono do euro, ainda poderia gerar pânico em outros países da região do euro e que os custos para se evitar isso, ajudando a Grécia, não são grandes, em comparação aos custos que seriam decorrentes de tal desordem. Os argumentos contra essa posição são de que a região do euro tem os meios para impedir a disseminação de pânico mesmo depois de um desmoronamento da Grécia, particularmente se o BCE e os governos estiverem dispostos a agir de forma decisiva em resposta a qualquer corrida aos bancos, ou governos, em outros países. Outro argumento contrário, que não deve ser muito negligenciado, é que seria melhor acabar com a pretensão de que os programas da Grécia funcionarão e, portanto, deixar claro que os fracassos têm consequências.
Por fim, o que o épico grego nos diz sobre a região do euro? A Grécia por si só, embora um importante agente perturbador, não pode ser decisiva para o futuro da área cambial. Porém, o fato de que um pequeno país economicamente frágil e cronicamente mal administrado possa ter causado tantas dificuldades também indica a debilidade de toda a estrutura. A Grécia é o sinal de alerta, o canário que foge ao sentir perigo na mina. O motivo para ter provocado tantas dificuldades é as falhas do país são extremas, mas não exclusivas. Seus transtornos mostram que a região do euro ainda busca uma mistura viável de flexibilidade, disciplina e solidariedade.
A região do euro é uma espécie de limbo: não tem uma integração tão profunda a ponto de uma separação ser inconcebível, nem tão superficial a ponto de uma separação ser tolerável. Na verdade, a garantia mais forte de sua sobrevivência é o custo que uma separação teria. Talvez isso prove ser suficiente. Se a região do euro, no entanto, quiser ser mais do que um casamento infeliz mantido pelos custos assustadores de separar ativos e passivos, precisa desenvolver algo muito mais positivo. Tendo em vista as divergências econômicas e fricções políticas reveladas de forma tão incisiva por esta crise, será que isso agora é possível? Essa é a pergunta mais difícil de todas. (Tradução de Sabino Ahumada)
Martin Wolf é editor e principal comentarista econômico do FT.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Futebol - Giro nacional



Começando pelo Sul, as 2 principais forças impressionam pelos times.
O Internacional já a alguns anos vem mantendo-se na elite do futebol em termos de posições nos campeonatos que participa e também na gestão/organização do clube. O elenco recheados de argentinos-craques como o ídolo Guiñazu, o habilidoso e instável D'Alessandro, Mario Bolatti e agora Jesus Dátolo. São muitas opções num qualificadíssimo elenco que ainda conta com Leandro Damião, Gilberto, Jô, Oscar, Tinga, Kleber... é muita gente boa, captaneados pelo não menos competente Dorival Júnior. O Dorival vem tentando implantar um esquema em que o time ataque e defenda em bloco, no moderno 4-2-3-1.
O grande problema é se o alto investimento, sobretudo nos meias argentinos, trarão o resultado esperado e se D'Ale conseguirá liderar o time para essa conquista. Cancha com craques problemáticos o Dorival tem.
O Grêmio esse ano não quis ficar por baixo. A direção da equipe resolveu tentar tirar o time da mediocridade dos últimos tempos abrindo os cofres. E não gastou pouco não: foram 18  milhões de reais até agora, sendo uma das equipes que mais investiu em 2012.
A lista de reforços é longa e inclui desde nomes consegrados como Kleber "Gradiador" e Marcelo Moreno, ótimo dupla de avantes, passando por "revelações" como Marco Antonio (Port.-SP) e Léo Gago (Coritiba) até chegar a nomes menos badalados como o zagueiro Sorondo, ex Internacional.
O técnico da equipe é o super inteligente mas "frágil" Caio Júnior. Sua forma de comandar, oferecendo um maior grau de liberdade aos jogadores do que a maioria dos técnicos já lhe custou alguns empregos e tantos outros constrangimentos. Contudo, isso não seria necessariamente um defeito e seus times jogam quase empre um futebol vistoso, qualificado e ofensivo.
O problema atual é a urgência que assola a equipe. O imediatismo pode, como de regra, atrapalhar o possível ótimo trabalho que pode ser desenvolvido com a equipe. Um time não funciona como por passe de mágica, colocou os 11 em campo é pronto. Treino, entrosamento, ritmo de jogo, enfim, muitos fatores.
Vamos aguardar para ver se a diretoria consegue sustentar seu técnico que vive as voltas com a imprensa gaúcha e vê crescer no retrovisor a figura de Vanderlei Luxemburgo.

Breve falo do pessoal ligeiramente acima, Atlético MG, Cruzeiro, Coritiba.
Abraço galera

Interregno hegemônico

Autor(es): Yoshiaki Nakano
Valor Econômico - 14/02/2012
A crise financeira de 2008, desencadeada pela crise do subprime em 2007, tem o seu foco nos EUA e na Europa. Os países emergentes e, particularmente, os Brics revelaram-se extremamente resistentes e transformaram-se hoje no polo do crescimento da economia global. É uma crise do próprio centro do sistema global de poder com todas as suas implicações. As suas consequências também deverão ser profundas e persistentes.
O que está em jogo é uma variedade de capitalismo e a globalização liberalizante que chegaram ao seu limite e a provável ascensão de um novo tipo de capitalismo e de globalização. A ascensão da plutocracia financeira ao poder com Reagan/Thatcher, desde 1980, significou a retração do Estado-nação na sua função reguladora e controladora, com domínio de doutrinas como a de "mercado eficiente", sempre em equilíbrio, e capaz de se autorregular. O mercado se transformou no princípio de organização da economia capitalista, em contraposição ao Estado-nação. Mas, se não fosse a massiva intervenção e o socorro prestado pelo Estado, o mercado financeiro desregulado teria adquirido um poder autodestrutivo tão grande que o sistema financeiro teria praticamente desaparecido. Por razões de sobrevivência do próprio capitalismo, o Estado-nação está retomando a sua função reguladora e controladora dos mercados num processo adaptativo.
A China aparece como um candidato natural para se tornar, gradualmente, o paradigma econômico dominante nas próximas décadas. Se apresenta como um novo capitalismo de Estado, em substituição modelo da liberalização global. Se isso acontecer, o mercado livre será substituído pelo Estado-nacional como princípio dominante de organização e de controle das economias nacionais, e da nova a fase da globalização. Em países em que a liberalização avançou excessivamente e em crise financeira, o Estado ampliará seu foco de regulação e controle sobre os mercados. Nos países onde o poder do Estado é o agente organizador e controlador da economia, como na China, o mercado, enquanto princípio organizador, deverá ser ampliado.
Esse processo adaptativo entre mercado e Estado será longo e complexo, pois a plutocracia financeira é ainda o poder hegemônico e resistirá ao avanço da regulação. Mas quanto maior for a resistência e quanto maior for o período de dominância do mercado livre, maior será a crise necessária para que o princípio adaptativo funcione.
Vamos viver nas próximas décadas um longo interregno, com o declínio dos Estados Unidos e Europa e ascensão da China e dos países emergentes. Tanto os Estados Unidos como a Europa terão que concentrar suas energias para recuperar e revitalizar suas economias, num contexto de crescente oposição e polarização política doméstica, abrindo espaço para a emergência de novos estados-nacionais com atores políticos, a exemplo do G-20. Somente com a ascensão de nova coalizão global de forças políticas é que será construída uma nova ordem internacional, com a imposição de um novo pensamento econômico, o que deverá levar décadas. Nesse interregno hegemônico, será perfeitamente possível que conceitos como soberania, Estado-nação e nacionalismo venham adquirir força política e movimentem as massas, pois serão alimentados pelo crescente protecionismo, em pleno andamento, e pelo fato do problema de desemprego ser sempre um problema nacional.
Há uma similaridade histórica com o que aconteceu depois da Grande Depressão de 1890 até o fim da Grande Depressão de 1929 a 1939, foi um longo interregno marcado pelo declínio da hegemonia global inglesa e a ascensão americana, que se consolidou na segunda guerra mundial. Neste interregno, assistimos ao gradual declínio da plutocracia financeira inglesa e a ascensão do poder industrial americano. Fazendo paralelo histórico, poderemos ter, desta vez, o declínio da plutocracia financeira americana e a ascensão do poder industrial asiático.
Com redistribuição de poder e liderança na economia mundial, mais o declínio de um paradigma econômico que prevaleceu nas últimas três décadas, vamos viver um longo período de vácuo de poder dominante, com degelo da sua ideologia, seu pensamento econômico e dos consensos de políticas. Novas regras do jogo deverão emergir, mas nada disso tem uma evolução continua e linear.
Um interregno abre brechas e, países como o Brasil poderão agir estrategicamente para alcançar seus objetivos. Para países dependentes e com forte herança colonial, a globalização implicou num deslocamento deliberado para o exterior do dinamismo da economia e aumento da sua importância relativa do setor externo (fluxo de capitais) vis-à-vis setor interno da economia. Esta importância relativa não se refere apenas às condições econômicas e financeiras, mas principalmente ideológicas e dominância do pensamento econômico hegemônico. Com o interregno, a autonomia com que países podem perseguir objetivos nacionais de política econômica mudará substancialmente. É nesse panorama que cabe colocar se a Grande Recessão é uma ameaça ou oportunidade para o desenvolvimento brasileiro? Que futuro podemos conjecturar para o Brasil?
Yoshiaki Nakano, ex-secretário da Fazenda do governo Mário Covas (SP), professor e diretor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas - FGV/EESP

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Egito perde metade das suas reservas e volta a olhar ao FMI

Autor(es): Heba Saleh | Financial Times, do Cairo
Valor Econômico - 13/02/2012

O Egito necessita de um acordo imediato com o Fundo Monetário Internacional para reverter a atual crise monetária depois que reservas internacionais do país recuaram pela metade, alertaram economistas. Dados mostram que o estoque de reservas do país baixou para o perigoso patamar de US$ 16,4 bilhões no fim de janeiro - queda de 53% sobre o mesmo período do ano passado. Em discussão estaria um empréstimo de US$ 3,2 bilhões ao longo de 18 meses.
As turbulências políticas que culminaram com a saída do presidente Hosni Mubarak, em fevereiro de 2011, desequilibraram a economia egípcia ao afugentar investidores e turistas estrangeiros, o que retirou fontes vitais de receita. Até agora, o banco central vinha conseguindo segurar uma desvalorização acentuada da libra, que já perdeu mais de 4% em relação ao dólar. Mas essas intervenções, por outro lado, também contribuíram para secar ainda mais as reservas.
"A situação é muito séria", disse Mohamed Abu Basha, economista da EFG-Hermes, um banco de investimentos regional. "Um acordo com o FMI é a maior esperança para escapar de uma desvalorização significativa. Se houver acordo, podemos pensar mais para uma depreciação controlada do que para uma depreciação de 10% a 20%".
Economistas defendem um empréstimo o mais rápido possível. Isso porque, à medida que o nível de reservas cai, o BC terá menos meios de sustentar a atual política cambial em defesa da libra egípcia. No ano passado, o conselho militar que assumiu interinamente o país declinou um empréstimo do FMI alegando que não gostaria de deixar um legado de dívidas.

O desafio é a competitividade

Autor(es): agência o globo:Raul Velloso
O Globo - 13/02/2012
Passado o carnaval, caberá repassar os grandes desafios econômicos à frente do país, começando pelo processo de desindustrialização em curso e pela suposta sobrevalorização da taxa de câmbio. A queda de metade do peso da indústria de transformação no PIB vem, na verdade, desde o final dos anos oitenta. Na raiz estão a baixa qualidade da educação, a rigidez da legislação trabalhista, a altíssima carga tributária — que esconde gastos públicos correntes muito elevados —, as elevadas taxas de juros, a cara e insuficiente infraestrutura, e o baixo desenvolvimento tecnológico. Todos sabem disso, mas pouco se fez. Houve até abertura comercial, só que sem ajuste compensatório nesses fatores.
A emergência da China como potência industrial de grande peso no mundo e a consolidação da posição do Brasil como seu maior supridor de produtos agrícolas e minerais deram novo ímpeto ao mesmo processo. Diante do objetivo chinês de se tornar o maior exportador mundial de produtos industrializados, a indústria brasileira — e, de resto, a do mundo inteiro — passaram a sofrer a dura concorrência de produtos de qualidade crescente e preços progressivamente mais baixos.
O Brasil só não ficou pior, por ter se firmado como um dos maiores exportadores mundiais de commodities agrícolas e minerais, especialmente para a própria China, mercê, ainda, de ganhos de produtividade e expansão das áreas respectivas. E se beneficiou, assim, do forte aumento nos preços internacionais de commodities desde 2002.
Dado o crescimento da demanda agregada via consumo e a insuficiência de investimentos em serviços de infraestrutura e outros itens não comercializáveis com o exterior, sobem os preços relativos destes em relação aos demais, especialmente da indústria.
Ocorre, assim, uma pressão próapreciação real da taxa de câmbio, que vem se acentuando, diante da receita adicional de divisas derivada da subida dos preços de exportação de commodities e também do forte ingresso de capitais, seja pelos juros altos, seja pelas reformas macroeconômicas de curto prazo.
Sem medidas compensatórias, não haveria como evitar a tendência à migração de parcela dos recursos investidos nos setores perdedores — indústria — para os ganhadores (serviços e commodities). O encolhimento da indústria resulta, assim, da combinação dos fatores que elevam o custo de se operar no país, incluindo os gargalos nos serviços de infraestrutura, com os resultados da implementação do modelo chinês de dominação industrial, sem falar na abundância mundial de divisas.
Outra questão relevante na agenda é a fiscal, com sérias repercussões sobre a rentabilidade da indústria.
Mesmo com a obtenção de controle sobre a dívida pública, a implementação do modelo de crescimento dos gastos correntes, em vigor, retira recursos que poderiam ser direcionados à infraestrutura de transportes, e requer alta extração de tributos, sufocando o setor privado. Cria-se maior demanda corrente, mas se deixa de investir na ampliação da capacidade de produção do país, criando gargalos.
A retomada das concessões na área de infraestrutura é um sinal positivo, ao atrair recursos e gestão privada para onde o setor público tem baixa disponibilidade e ineficiência. Resta saber se as novas concessões de aeroportos ficarão efetivamente em pé.
Finalmente, temos que enfrentar a crise das hipotecas de baixa qualidade, que começou nos Estados Unidos, se alastrou pela Europa e se transformou numa inédita crise bancária e de endividamento público em todo o mundo desenvolvido. Por trás, estão duas dificuldades centrais: a baixa competitividade dos países periféricos em relação especialmente à Alemanha, e a resistência à adoção de medidas impopulares de ajuste fiscal por parte dos governos locais.
Como, por definição, as taxas de câmbio são fixas entre os países da União Europeia, inexiste a hipótese de depreciação cambial interna para aumentar a competitividade dos periféricos.
Para se tornarem competitivos, resta ajustar fatores de ineficiência, como os acima elencados, ou rezar pela depreciação da moeda de toda a área, ou seja, do euro frente ao dólar, algo difícil de ocorrer, diante da brutal expansão monetária americana.
Parte do sucesso da Alemanha até o momento se deve exatamente às reformas e ajustes estruturais que tem posto em prática. Assim, tanto lá como cá a palavra de ordem é se tornar competitivo.
Um recado final para Portugal e Grécia é que, em 1999, conseguimos aumentar o superávit fiscal da União em quase dois pontos de porcentagem do PIB, com menos dor explícita, e mesmo com a economia completamente estagnada. Na raiz da explicação estão a maxidesvalorização do real na virada para 1999 e a elevada inflação resultante, que explodiram receitas indexadas indiretamente ao dólar e corroeram despesas e a dívida pública. Ou seja, sem muita ajuda externa, só com ajustes explícitos nas contas públicas e nos fatores que minam a competitividade é que os países periféricos se viabilizarão dentro da união monetária.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

BC acena com mais regulação e menos juros

Autor(es): Claudia Safatle
Valor Econômico - 10/02/2012

Novos e fortes sinais emitidos pelo Banco Central levaram os mercados a uma reviravolta nos últimos dias. O mais incisivo indício de mudança de "paradigma" da política monetária consta da apresentação feita pelo diretor do BC, Luiz Awazu Pereira, no encontro da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi), no sábado, dia 4, na ilha de Comandatuba, na Bahia.
O diretor de Regulação do Sistema Financeiro fez, ali, um alerta importante aos economistas e analistas de mercado: a experiência de 2011, quando o BC usou a combinação de medidas macroprudenciais e juros para buscar a estabilidade econômica e financeira, foi muito bem-sucedida e veio para ficar.
A "caixa de ferramentas" do Banco Central se mostrou mais poderosa do que o BC imaginava e mais célere do que a própria taxa de juros para esfriar a demanda e, consequentemente, conter a inflação. Mirando esse raio de ação ampliado e já testado, Pereira reiterou o compromisso do BC com o centro da meta de inflação de 4,5% para o fim deste ano, que o mercado considera inalcançável.
Objetivo é buscar a taxa neutra de juros
A desaceleração da economia, no segundo semestre de 2011, foi mais acentuada do que previa o BC; há mudanças estruturais na economia que evidenciam uma taxa de juros neutra mais baixa (na casa dos 4%); e a situação internacional é desinflacionária.
Soma-se a esse conjunto um elemento novo: a enorme liquidez internacional que se avizinha. Tudo junto ampliou a margem de manobra para a redução dos juros a um dígito este ano.
"Há espaço para uma política de afrouxamento monetário no Brasil, com elevada probabilidade à concretização de um cenário que contempla a taxa de juros se deslocando para patamares de um dígito, sem comprometer o nosso objetivo de trazer a inflação para o centro da meta de 4,5% em 2012", disse ele.
No mundo com baixo crescimento e farta liquidez, a tendência é que se intensifique, e muito, o fluxo de capitais para o Brasil. Entre janeiro e os primeiros dias de fevereiro, houve um ingresso de US$ 11 bilhões.
A esperada avalanche de recursos pode inflar o crédito doméstico e comprometer a política de controle da inflação. Numa situação dessa natureza, elevar os juros aumentaria os ganhos de arbitragem e alimentaria ainda mais o ingresso de moeda estrangeira, com efeitos dramáticos sobre a taxa de câmbio.
A equação que a autoridade monetária colocou na mesa, sem prazos nem datas, é, se preciso for, usar a política de taxa de juros e as ações macroprudenciais em direções contrárias, de forma calibrada e pragmática.
A gênese da diferença entre o Relatório de Inflação de dezembro e a ata do Copom de janeiro é exatamente a abundância de liquidez, a partir das ações mais recentes do Federal Reserve Bank (Fed), nos Estados Unidos, e do Banco Central Europeu (BCE). Algo em torno de US$ 4 trilhões ou mais serão injetados nos mercados e essa enxurrada de dinheiro encontra o Brasil atrativo para o investidor estrangeiro.
A interpretação da palestra de Pereira pelos agentes do mercado foi rápida: a Selic deve cair para a casa dos 8% este ano e não mais para os 9% que imaginaram após a divulgação da ata da última reunião do Copom. O que leva à necessidade de mudança nas regras de indexação da caderneta de poupança ainda no primeiro semestre.
Outra leitura do texto de Pereira: o Brasil optou pelo modelo da Turquia. O governo turco também adotou uma abordagem "multidimensional" da política monetária, mas o resultado tem sido desastroso: a inflação subiu de cerca de 4% para uma taxa próxima a 11% ao ano em menos de 12 meses.
Fontes oficiais rechaçaram veementemente essa conclusão. Até porque as condições objetivas da Turquia diferem bastante das brasileiras, argumentam. Exemplo: o déficit em conta corrente do balanço de pagamentos lá chega a 10% do PIB, a taxa de juros (equivalente à Selic) é de 5%, fortemente negativa; e há uma banda de juros para as operações de overnight entre 5% e 12%, manuseada com o intuito de evitar saídas de capitais, já que as reservas turcas são modestas.
"Não é uma aventura. É pé no chão. Não é uma quebra do regime de metas para a inflação, é um avanço", disse Luiz Fernando Figueiredo, da Mauá Sekular Investimentos e ex-diretor do BC, após ler o texto. "Há uma atuação combinada das políticas fiscal e monetária e um BC que usa mais instrumentos para chegar ao mesmo objetivo", comentou, para concluir: "O BC não está simplesmente fazendo uma aposta, uma jogada de alto risco. Há uma lógica".
Na palestra, Pereira fez uma avaliação da crise de 2008 para cá, suas lições e as implicações para a economia brasileira. Um dos desdobramentos da crise, disse ele, é exatamente a atualização teórica e prática do debate sobre a melhor maneira de garantir simultaneamente a estabilidade macroeconômica e financeira.
Antes, parecia simples: a administração dos juros garantia o controle da inflação; e medidas microprudenciais asseguravam, individualmente, a estabilidade do sistema financeiro.
A realidade mostra que não era bem assim. " Podemos sempre e tempestivamente decidir, sabendo agora da sua eficácia e complementaridade, sobre o mix de medidas micro e macroprudenciais conjuntamente com a calibragem das condições monetárias, para atingir os objetivos de estabilidade macroeconômica e financeira", escreveu Pereira.
Outra lição da crise financeira internacional é que " prevenir é melhor que curar", disse, apontando a importância da regulação e da supervisão do sistema financeiro. Mesmo já regulado, é preciso, segundo ele, um reforço nos bancos com a implementação do acordo de Basileia 3.
Falta, agora, o governo mostrar qual o tamanho do esforço fiscal para compor o quadro de 2012.

Sobre o mito da baixa poupança

Autor(es): Samuel Pessoa
Valor Econômico - 10/02/2012
Se um empresário endividar-se junto a uma instituição financeira para construir uma nova planta produtiva, o investimento ocorrerá. O poder de compra liberado pela instituição bancária gerou o recurso monetário que financiou o investimento. O investimento gerou a sua própria poupança. Esse princípio, chamado de princípio da demanda efetiva, foi estabelecido por Keynes em 1936 e pertence ao conhecimento padrão da economia.
Todos os complexos modelos "dinâmicos e estocásticos de equilíbrio geral" que os bancos centrais utilizam para auxiliar na formulação da política monetária empregam o princípio da demanda efetiva. Assim, estou ciente que a causalidade é da poupança para o investimento.
A questão é sabermos como que a decisão do empresário em tomar recursos financeiros para investir será solucionada macroeconomicamente. Há três possíveis formas. Primeiro, se houver desocupação de fatores de produção, a decisão do empresário mobilizará parcela desses recursos ociosos e o aumento da produção possível com a mobilização desses recursos gera a poupança que financia o investimento. Segundo, se não houver ociosidade e houver condições de aumentar a oferta de bens importados, o excesso de demanda produzido pela decisão empresarial de investir gerará excesso de demanda por bens e serviços que será coberto por elevação das importações. Finalmente, se não houver ociosidade nem possibilidade de elevar a absorção de poupança externa, o espírito animal do empresário terá produzido a elevação do investimento e da inflação que corta o consumo e produz poupança forçada.
Apesar de positivas, reduções da Selic não gerarão mais do que 1 ponto do PIB de elevação da poupança
Não parece haver na economia brasileira ociosidade generalizada de fatores produtivos. Desta forma, se quisermos acelerar a taxa de crescimento da economia para 4,5% ou 5%, teremos que criar condições para que o aumento do investimento seja acompanhado de aumento da poupança.
A experiência recente mostrou que não tem ocorrido desta forma. De 2004 até 2008, a taxa de investimento subiu quase 5 pontos percentuais do PIB. A taxa de crescimento do produto também se acelerou bastante. No entanto, a poupança não veio atrás.
Todo o aumento do investimento foi financiado pela expansão da absorção de poupança externa. Saímos de um superávit externo de 2,5 para um déficit de 2,5 pontos percentuais do PIB. Ou seja, o espírito animal do empresário funcionou, o investimento elevou-se, o crescimento econômico veio, mas a poupança não acompanhou. Este período não foi o primeiro. No governo Geisel, o investimento deu um grande salto, mas a poupança também não acompanhou. Fomos obrigados a recorrer à poupança externa. No período JK, o aumento do investimento gerou fortíssima aceleração da inflação.
Há espaço para esperarmos aumento da taxa de poupança doméstica? Para respondermos olhamos cada um dos componentes da poupança: a das famílias, das empresas e do setor público. Tanto no Brasil quanto nos EUA, a poupança das famílias é da ordem de 5% do PIB. Nos países europeus continentais está acima de 10% do PIB e nos asiático pode chegar ao valor extremo, na China, de mais de 20%!
A poupança das famílias depende da rede de seguro social que mitiga riscos que os cidadãos se deparam no dia a dia de uma economia de mercado: desemprego, saúde, perda da capacidade laboral com a idade, etc. O Brasil é o país da sua faixa de renda que mais gasta com seguro social. Somente com aposentadoria por tempo de serviço, por idade, por invalidez, rural e pensão por morte gastamos 12% do PIB, o triplo do gasto de economias com o mesmo perfil etário que o nosso. A baixa poupança das famílias é a contrapartida do bem-estar produzido pela abrangente rede de proteção social.
Enquanto continuar o processo de construção e aprofundamento da rede de proteção social, não devemos esperar elevação na poupança das famílias.
Com relação à poupança das empresas, ela, no Brasil, representa 15% do PIB. Mais baixa, mas não muito distante dos 22% da poupança das empresas na China. A poupança das empresas é formada por lucros retidos.
Sua elevação requer que mudemos as instituições trabalhistas e de regulação dos mercados de forma a elevar o poder de barganha do capital na divisão do faturamento das empresas entre lucros e salários e, ou, permitir a elevação da margem de lucro na venda ao consumidor. Não parece que a sociedade aceitaria medidas nesta direção. Assim, não há espaço para elevar a poupança das empresas, que, como vimos, é relativamente elevada.
Finalmente, a elevação da poupança do setor público requer redução do gasto público em custeio e transferências ou elevação da carga tributária. Esta última já se encontra em nível muito elevada. A queda do custeio depende de contração dos salários dos funcionários e redução do custeio administrativo, que, ao contrário do que se acredita, tem sido reduzido nos últimos anos.
queda das transferências públicas depende da redução dos gastos com a rede de seguridade social ou com os juros pagos. A redução dos juros deve abrir algum espaço para elevação da poupança pública. No entanto, este espaço é muito menor do que os 5% do PIB que o Tesouro anualmente gasta com o pagamento de juros. Pouco mais de metade deste montante refere-se à correção monetária da dívida pública, aos impostos que o governo arrecada com os juros que paga e a dividendos que os banco públicos pagam ao Tesouro em função do lucro que auferem do carregamento de parcela da dívida pública. Assim, apesar de muito positiva, a redução da taxa Selic a níveis civilizados não gerará muito mais do que 1 ponto do PIB de elevação da poupança pública.
Ou seja, teremos que encontrar formas de crescer sem grandes elevações da poupança doméstica. A agenda de crescimento passa por melhoria da qualidade da educação, da elevação da produtividade e da criação de uma institucionalidade que permita que o país absorva, de forma sustentável, níveis maiores de poupança externa, como, por exemplo, faz a Austrália. Não digo que este é o melhor modelo de desenvolvimento para o país. Digo que a sociedade, por meio de suas escolhas, decidiu que este é o melhor para o país.
Samuel Pessoa é sócio da Tendências Consultoria Integrada e pesquisador associado do Ibre-FGV.