quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Queda anunciada

Autor(es): Marcos Paulo Lima
Correio Braziliense - 16/02/2012
Amigos aconselham Ricardo Teixeira a se licenciar da CBF, mas três de cinco fontes consultadas pelo Correio confirmam para hoje o anúncio da renúncia. Saiba quem pode assumir. Federações exigem eleiçãoNotíciaGráfico

Há 11 anos, no auge da CPI do Futebol, o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, chegou ao Congresso Nacional com uma carta de renúncia pronta. No entanto, um conselho do senador José Sarney teria feito o cartola arquivar o documento. "Não renuncie. No cargo, você tem muito poder. Fora dele, está morto." Mais de uma década depois, o texto pode sair do baú em forma de nota no site da CBF. Nos últimos dias, o cartola, no cargo há 23 anos, e com mandato até 2015, consultou amigos sobre qual seria a melhor tática a usar no xadrez que se tornou a sua administração. As opções são três: renunciar à presidência da CBF e/ou do COL, se afastar por 90 dias das duas funções ou ouvir os ecos de Sarney e tentar novamente resistir bravamente até o fim.
A tendência, no entanto, é que desta vez Ricardo Teixeira sofra um xeque-mate. De cinco fontes ouvidas pelo Correio, o presidente da Federação Gaúcha, Francisco Noveletto, foi o única que não pediu anonimato. E bancou. "Ele vai renunciar. Falei com uma pessoa que esteve com ele e a decisão já está tomada." Segundo Noveletto, uma reviravolta, tal como em 2001, só ocorrerá se ele ouvir os conselheiros. Um deles conversou com o dirigente neste ano e sugeriu que não renuncie, mas se licencie. O argumento usado para tentar convencê-lo é a falta de um vice-presidente pronto e "à altura" para sucedê-lo.
Ricardo Teixeira tem cinco nomes abaixo dele no organograma da CBF, um por região do país: Fábio Marcel Nogueira (Sul), Fernando José Macieira Sarney (Norte), José Maria Marin (Sudeste), Marco Antônio Ferreira (Nordeste) e o ex-presidente da Federação Brasiliense Weber Magalhães (Centro-Oeste). Pelo estatuto da CBF, tanto em caso de licença quanto de renúncia, o cargo passa às mãos do vice mais velho. O trono seria de José Maria Marin, de 79 anos. Por sinal, Ricardo Teixeira não fez nenhuma reunião com todos os vices desde a reeleição. "Ele só despacha com o José Marin", diz uma terceira fonte, em mais um indicativo de que o cartola já vem preparando há um bom tempo a transição de poder.
Além do despreparo e da idade avançada de José Maria Marin, um dos conselheiros lembrou a Ricardo Teixeira que a fragilidade do virtual interino ou sucessor aumentaria ainda mais a crise na CBF. O consultado destacou que o ex-político tem o seu passado ligado ao ex-governador e prefeito de São Paulo, Paulo Maluf. E citou até o furto da medalha na final da Copa São Paulo de Futebol Júnior deste ano como armas para a opinião pública derrubá-lo a fim de forçar a convocação de eleições.
Desânimo
Apesar do esforço, um "passarinho" que buzinou no ouvido de Ricardo Teixeira pelo afastamento disse não ter sido convincente. O dirigente saiu do divã convicto da renúncia. Dias depois da consulta, o mandatário da CBF deu mais uma pista sobre a sua decisão, ao demitir o tio, Marco Antônio Teixeira, da função de secretário-geral da entidade. Ao Correio, o conselheiro chegou a jogar a toalha ao dizer que, ao cortar na própria carne, Ricardo Teixeira antecipou a sua saída definitiva da CBF.
Influente, o conselheiro do dirigente chegou a apontar dois possíveis candidatos à sucessão em caso de renúncia e convocação de eleição: Marco Polo del Nero, presidente da Federação Paulista de Futebol e muito ligado a José Maria Marin; e Marcelo Campos Pinto, diretor da Globo Esportes e favorito à eleição de 2015. Em 2011, o executivo negociou direto com os clubes a renovação das cotas de televisão.
Outros três nomes estão atentos ao comunicado de Ricardo Teixeira. Os presidentes da Federação Gaúcha, Francisco Noveletto; e da Carioca, Rubens Lopes, o Rubinho. O terceiro elemento seria Andrés Sanchez. Questionado sobre a possibilidade de o diretor de Seleções se candidatar, um dos amigos de Ricardo Teixeira menosprezou uma virtual candidatura do ex-presidente do Corinthians às gargalhadas.
A novela promete um capítulo final para hoje, mas independentemente do veredicto, haverá cenas dos próximos capítulos na guerra pela sucessão. E a decisão do personagem principal Ricardo Teixeira é vai determinar aquele que vai rir por último no tabuleiro de xadrez do futebol brasileiro.
Saiba mais
Entenda o processo eleitoral
Em caso de convocação para um pleito a fim de apontar um novo presidente para a CBF, são 47 votos em jogo: 27 das federações e 20 dos clubes integrantes da Série A no ano da eleição. O próximo pleito só será em 2015, a menos que Ricardo Teixeira renuncie e os cinco vices não aceitem ocupar o cargo.
Weber Magalhães entre os cotadosPara alguns presidentes de Federação ouvidos pelo Correio, Weber Magalhães seria o melhor nome para ocupar a vaga deixada por Ricardo Teixeria. No entanto, pela idade, o presidente da Federação Brasiliense de 1996 a 2004 é a terceira opção. De São Paulo, onde comemora o aniversário de 91 anos do pai, o vice pela Região Centro-Oeste falou à reportagem sobre a possibilidade. "Eu sempre recebi muito bem os presidentes de federação em Brasília", lembrou. Para que Weber tome a frente de José Marin, 79 anos, e Fernando Sarney, 57, as federações teriam de convocar uma assembleia. Vontade não falta. "Vocês de Brasília sabem que o futebol está na minha veia há mais de três décadas", afirmou.

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