quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Monti revoluciona a política italiana e pode continuar além de 2013

Autor(es): Por Barry Moody | Reuters
Valor Econômico - 15/02/2012

O notável sucesso do primeiro-ministro Mario Monti criou tamanha desordem na desacreditada classe política da Itália que analistas já preveem mudanças radicais no cenário político do país ao longo do próximo ano.
Para alguns observadores, o impacto do governo de Monti deflagrará uma revolução política comparável à operação Mãos Limpas - uma ampla investigação sobre corrupção que completa 20 anos nesta semana. A Mãos Limpas dizimou a velha ordem, enviando centenas de políticos para a cadeia e forçando Bettino Craxi, a figura dominante da política italiana de então, a um exílio na Tunísia, onde morreu.
"Todo o sistema italiano está em transição, ligado ao sucesso de Monti e ao panorama europeu. Há uma crise nos partidos", disse um importante político de centro-esquerda que pediu para não ser identificado.
"Não é possível para os partidos atuais voltar ao poder. É por isso que eles estão preocupados", afirmou uma alta autoridade do governo de Monti. "Não creio que nenhum veículo [político] velho vá ser um veículo no futuro."
Quando Monti foi nomeado em novembro para chefiar um governo tecnocrata, com a Itália à beira de uma catástrofe econômica que provavelmente teria matado o euro, houve quem previsse que os políticos lhe dariam apenas uns poucos meses para acalmar os mercados antes de forçar a realização de eleições antecipadas. Políticos de direita falavam em "puxar o fio da tomada".
Tudo isso é passado. Agora, quase ninguém acredita que as eleições acontecerão antes do prazo programado, no segundo trimestre de 2013 - incluindo Silvio Berlusconi, o desacreditado antecessor de Monti.
Os políticos estão lutando para formar novos grupos e encontrar alguém com credibilidade suficiente para substituir Monti. O seu ministro da Indústria, Corrado Passera, ex-presidente do banco Intesa Sanpaolo, vem recebendo muitas menções.
O centrista UDC e outros partidos até mesmo já sugeriram que o próprio Monti deve prosseguir na tarefa de arrumar a economia após 2013, apesar de sua promessa de deixar o cargo. Há, ainda, muitas previsões de que ele se tornará chefe de Estado quando o presidente Giorgio Napolitano - o arquiteto do governo tecnocrata - encerrar o seu mandato, no ano que vem.
Apesar de obrigar os italianos a engolir amargos remédios de austeridade com um grande conjunto de medidas, Monti, que foi recebido como um novo tipo de líder eficaz, justo e prático, mantém uma boa popularidade, com índices de aprovação ao redor de 60%.
Políticos, banqueiros e autoridades dizem que o prestígio intelectual de Monti como ex-comissário europeu colocou Roma de volta ao centro da zona do euro, ao lado de Alemanha e França. Sua estatura permite-lhe proteger os interesses da Itália de uma maneira não desfrutada por Berlusconi.
Tudo isso gera um enorme problema para a velha ordem política, que já tinha um grande desprezo por boa parte da população desde antes de Monti tomar posse, sendo considerada uma "casta" que atuava em interesse próprio. Uma pesquisa coloca a taxa de aprovação da classe política em 12%, com uma onda de recentes escândalos de corrupção agravando o desdém dos italianos.
A ascensão de Monti impõe aos políticos a necessidade de mudanças dramáticas no futuro. "Os italianos não vão tolerar que tudo continue como antes. A combinação de incompetência e corrupção desacreditou toda a classe política", avalia James Walston, professor da Universidade Americana em Roma.
"Creio que, depois de Monti, tudo será diferente", afirmou um político próximo a Berlusconi.
Para responder a essa crise a tempo das eleições do ano que vem, os políticos, tanto da direita como da esquerda, estão divididos e desordenados e procuram manobrar para apresentar um novo rosto aos eleitores.
Fontes próximas a Berlusconi dizem que ele gostaria de formar uma ampla aliança de centro incorporando grupos do seu próprio Povo da Liberdade - que analistas esperam vir a se fragmentar - e do Partido Democrata, de centro-esquerda, cuja facção à direita estaria desconfortável em relação à esquerda descendente do Partido Comunista.
"Após Monti, os partidos precisam apresentar caras novas e, talvez, novas organizações para relegitimar a política, que hoje encontra-se deslegitimada e que poderia ficar ainda mais pelo sucesso de Monti", disse o político próximo a Berlusconi.
A eleição de prefeitos não pertencentes aos principais partidos em Milão e Nápoles e outros acontecimentos políticos locais são vistos como sinais de que haverá grandes mudanças. Alguns políticos sugerem que, além de Passera, outros ministros do gabinete de Monti podem emergir em 2013 como candidatos a primeiro-ministro.

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