quarta-feira, 18 de julho de 2012

Eurocéticos têm melhores argumentos

Autor(es): Wolfgang Münchau
Valor Econômico - 17/07/2012
Existem paralelos assustadores entre os debates sobre o euro feitos no Reino Unido no fim dos anos 90 e os feitos hoje no norte da região do euro. Naquela época, o grupo dos antieuro no Reino Unido ressaltava as deficiências na construção da região da nova moeda - uma análise que acabou se revelando acertada - e também previa corretamente que a união monetária exigiria também uma união política para ser bem-sucedida no longo prazo. Também havia questões emocionais, como a figura da rainha estampada nas notas de dinheiro. Foi, no entanto, uma posição com coerência interna.
Não compartilho dessa ideia, mas lembro-me de admitir na época que se não se aceitasse uma união política, logicamente não se deveria aceitar o euro. Nunca houve uma justificativa puramente econômica para a moeda.
A ideia de que se pode resolver a crise da região do euro sem transferências de qualquer tipo é ilusória. Como o sistema bancário alemão é relativamente mais forte que o espanhol, uma união bancária, naturalmente, implicaria perdas para a Alemanha.
A campanha favorável ao euro no Reino Unido, em contraste, foi patética. Era baseada na noção de que a campanha contrária ao euro era exagerada e que uma moeda única não era algo tão complicado assim. De qualquer forma, argumentavam os partidários do euro, era de interesse da Grã-Bretanha continuar no centro da Europa, seja lá o que for que isso significasse. Contestei um jovem parlamentar pró-euro na época. Sua resposta foi que defender uma união política na Grã-Bretanha era algo impossível; portanto, uma campanha para minimizar a importância das implicações seria a melhor opção.
Avance 13 anos. Na semana passada, mais de 200 economistas assinaram petição organizada por Hans-Werner Sinn, diretor do instituto alemão de pesquisas econômicas Ifo e maior voz eurocética entre os economistas do país. Ele ainda não defendeu a saída do euro, mas suas recomendações não são consistentes com a continuidade da região do euro em sua forma atual. A petição concentrou-se na união bancária e em por que isso abriria a porta para a união fiscal e o compartilhamento dos encargos fiscais em larga escala.
Outros economistas, então, lançaram uma contrapetição argumentando que uma união bancária é um prolongamento lógico de uma união monetária. Isso, por si só, está correto. Assim como os partidários pró-euro no Reino Unido na década de 90, no entanto, eles minimizaram a importância das implicações. Dizem que uma união bancária não é nada a se temer; não haverá transferências; não se trata de uma questão de a Alemanha vir a assumir as dívidas bancárias dos outros.
Discordo das opiniões do professor Sinn e de seu grupo. Tenho de admitir, contudo, que sua posição tem coerência interna. Opõe-se a transferências e, em última análise, aceita o desmembramento da região do erro.
A posição do assim chamado movimento pró-euro, entretanto, é bem menos coerente. Uma união bancária estruturada adequadamente implicaria, é claro, transferências permanentes, da mesma forma que uma união fiscal bem definida. A ideia de que se pode resolver a crise da região do euro sem transferências de qualquer tipo é ilusória. Como o sistema bancário alemão é relativamente mais forte que o espanhol, uma união bancária, naturalmente, implicaria perdas para a Alemanha. Se houver garantia conjunta para os depósitos e uma recapitalização bancária conjunta, certamente haverá transferências - da mesma forma como ocorre hoje dentro dos próprios países.
Assim como no Reino Unido há 13 anos, os que agora fazem campanha pró-Europa na Alemanha, fingem ser pragmáticos. É por isso que concordam com a rejeição, pela primeira-ministra alemã, Angela Merkel, a bônus conjuntos da região do euro. A ideia não é uma proposição possível de ser vendida na Alemanha, dizem. Da mesma forma, concordam que o ajuste econômico da região do euro não pode ser simétrico, também sob o argumento que não é uma proposição vendível. Pelo mesmo motivo, apoiam todas as regras para os déficits, apesar do fato de nunca terem funcionado. Também rejeitam mudanças nos poderes do Banco Central Europeu (BCE). Com pró-europeus como esses, quem precisa de eurocéticos? De forma hilária, muitos professores assinaram ambos os documentos.
A proposta do conselho alemão de assessores econômicos para o chamado fundo para resgatar dívidas cai na mesma categoria. É outro tributo ao santuário do pragmatismo. Parece ser pró-europeu, mas olhando de perto, não vai resolver a crise das dívidas. Um fundo de resgate de dívidas é um instrumento para agrupar uma porção dos títulos de cada país em troca da emissão de um bônus conjunto da região do euro. A ideia, no entanto, é que as dívidas sejam pagas, portanto, a emissão de bônus teria de ser honrada no vencimento. Isso pode funcionar para valores relativamente baixos, mas a dívida em "excesso" da Itália gira em torno a €1 trilhão. A ideia de que Roma possa pagar suas dívidas em excesso em 25 anos é insana, a menos que se presuma uma milagrosa recuperação sustentável no crescimento econômico.
Como no Reino Unido dos anos 90, os pró-europeus de hoje são incapazes de defender a ideia de que uma união monetária exige uma união bancária, uma união fiscal minimamente suficiente com poderes para elevar impostos e uma união política com mandato legislativo independente dos países-membros. Os eurocéticos estão dizendo que não querem nada disso. Os pró-europeus querem obscurecer a situação.
Embora odeie admitir, o grupo do professor Sinn é intelectualmente mais consistente do que o grupo cujos objetivos principais compartilho. (Tradução do Sabino Ahumada).
Wolfgang Münchau é editor do FT, especialista em União Europeia.

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